segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Liberalismo precisa voltar a abrir-se para Deus, adverte Papa

Bento XVI escreveu uma carta ao filósofo e senador italiano Marcello Pera para agradecer a contribuição que oferece em seu último livro, dedicado a expor que o fundamento do liberalismo se encontra na relação da pessoa com Deus.
O volume, que leva por título "Por que temos que dizer-nos cristãos."
O liberalismo, Europa, a ética» («Perché dobbiamo dirci crisiani. Il liberalismo, l'Europa, l'etica», Mondadori, Milão, 2008), será apresentado nesta quinta-feira em Roma.
Após confessar que foi «uma leitura fascinante», o Papa elogia a análise que faz do liberalismo «a partir de seus fundamentos, mostrando que na essência do liberalismo se encontra o enraizamento na imagem cristã de Deus: sua relação com Deus, de quem o homem é imagem e de quem recebemos o dom da liberdade».
Marcello Pera (Lucca, 28 de janeiro de 1943), presidente do Senado italiano na última legislatura, dedicou sua pesquisa acadêmica ao filósofo austríaco Karl Popper, teórico da «sociedade aberta», de quem era amigo pessoal.

«Com uma lógica irrepreensível, você mostra como o liberalismo perde sua base e se destrói se abandona este fundamento», reconhece o bispo de Roma.

O Papa também manifesta sua admiração pela análise que o filósofo faz da liberdade e da multiculturalidade, na qual «mostra a contradição interna deste conceito e, portanto, sua impossibilidade política e cultural».

«É de importância fundamental sua análise sobre o que podem ser a Europa e uma Constituição européia na qual a Europa não se transforme em uma realidade cosmopolita, mas que encontre, a partir de seu fundamento cristão-liberal, sua própria identidade», assinala.

O Santo Padre se detém também na análise do senador sobre os conceitos de diálogo inter-religioso e intercultural.

«Você explica com grande clareza que um diálogo inter-religioso, no sentido estrito da palavra, não é possível, e que é particularmente urgente o diálogo intercultural, que aprofunda nas conseqüências culturais da decisão religiosa de fundo

«Ainda que sobre esta última, um verdadeiro diálogo não é possível sem pôr entre parênteses a própria fé, é necessário enfrentar no debate público as consequências culturais das decisões religiosas de fundo», indica.

O Papa considera que as propostas de Pera são necessárias para superar «a crise contemporânea da ética».
«Você mostra que o liberalismo, sem deixar de ser liberalismo, mas sim, para ser fiel a si mesmo, pode referir-se a uma doutrina do bem, em particular à cristã, que lhe é familiar, oferecendo assim verdadeiramente uma contribuição para superar a crise», indica.

Liberalismo anticristão

Em uma entrevista concedida à Rádio Vaticano (28 de novembro de 2008) , Pera explica os motivos pelos quais o liberalismo em ocasiões se converteu em anticristão.

«No que se refere à Europa, em particular, se dá uma explicação histórica – indica. Muitos se encontraram com freqüência em conflito com a Igreja Católica, e é um fato amargo da história da Europa que não se dá na história dos Estados Unidos

«Alguns estados nacionais – Itália, França... – se constituíram como Estados-nação com uma luta, com uma disputa contra a Igreja Católica», recorda.

«Isso gerou o que é conhecido como o fenômeno do anti-clericalismo, e o anti-clericalismo gerou outro: o que chamo no livro de ‘equação leiga’, ou seja, ‘liberal = não cristão’

«Isso é um erro, pois se pode discutir historicamente sobre os méritos e deméritos da Igreja Católica na Europa nos momentos da fundação dos estados nacionais, mas não se pode discutir a importância da mensagem cristã», indica.

Opta-se pelo anticristianismo, o que Pera chama de «a apostasia do cristianismo»:
«Perdemos as mesmas virtudes, os mesmos fundamentos dessas liberdades e esses direitos sobre os que se fundam nossos estados liberais».

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