sábado, 31 de janeiro de 2009

A fé que move os jovens

Quem são os que reaquecem as vocações católicas no Brasil

Há um mês, o paulistano Tiery Esteves deixou de ser Tiery Esteves – o jovem de 20 anos, fã de heavy metal e peladeiro de fim de semana.
Ele agora é o irmão Basílio.
Noviço no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, ouve cantos religiosos e dedica-se com afinco ao estudo da liturgia.
Em cinco anos, irmão Basílio se sagrará monge e levará uma vida de clausura.
De família de classe média, quando era criança ia à missa de vez em quando, sempre levado pela mãe.
Num domingo, aos 16 anos, o rapaz prestou pela primeira vez atenção ao que o padre dizia. "Minha identificação com o Evangelho foi imediata", lembra.

"Aquelas palavras me deram uma paz interior inexplicável.
Era como se tivessem sido escritas para mim."

Pouco a pouco ele foi se envolvendo com a religião.
Quando se deu conta, estava em um caminho sem volta:
"Vi que minha missão era servir a Deus".

O jovem noviço compõe o retrato da nova geração de candidatos à vida religiosa.
Atualmente quem opta por se dedicar à Igreja o faz movido apenas pela fé e pela oportunidade de viver plenamente a espiritualidade.
É uma motivação diferente da que atraiu os atuais padres e bispos brasileiros nos anos 70.

Boa parte deles se interessou pela Teologia da Libertação, que adaptava conceitos marxistas à doutrina católica.( http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=80860901)
Para muitos foi apenas uma forma nova de engajamento político.

"A Igreja tem muito a ganhar com a nova geração de vocações", diz Afonso Soares, presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
"A convicção na fé é um primeiro passo para que esses jovens, no futuro, consigam conquistar fiéis com extrema persuasão."
A outra boa notícia é que, depois de um período de queda no número de candidatos, desde a década passada registra-se um reaquecimento das vocações pastorais no Brasil – um aumento de cerca de 40% no contingente de homens e mulheres que se preparam para ingressar na vida sacerdotal e religiosa.

"Aos 17 anos, entrei para um grupo de jovens da Igreja. Isso foi ótimo para mim, eu era muito tímido. Passei a sair, a namorar. Fui tocando minha vida até chegar à faculdade. Mas as palavras do Evangelho não saíam da minha cabeça. Um dia, um padre me telefonou. Era um convite para participar de um encontro de vocações. Aceitei no ato e nunca mais saí. Minha missão agora é me tornar padre e fazer com que as pessoas tenham intimidade com Deus."Luis Alberto dos Santos, 25 anos."

Os primeiros representantes dessa nova leva de vocações começaram a chegar à Igreja nos anos 90, levados pela Renovação Carismática.

Surgidos nos Estados Unidos na década de 60, os carismáticos cultivam a espiritualidade por meio de grupos de oração, missas coreografadas, cenas de transe e sessões de exorcismo, com direito a aplausos, lágrimas e gritos de aleluia.

"A última década foi marcada literalmente pelo espetáculo da fé", diz a socióloga Silvia Fernandes, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialista em estudos da religião.
O estilo expansivo dos carismáticos continua a atrair vocações, mas com menos apelo.
Agora, o fervor tende a ser bem mais discreto.

"A poeira dos últimos anos está baixando e as novas vocações estão olhando mais para dentro da Igreja", diz o padre Reginaldo Lima, assessor da Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Além de mais sóbrio, o perfil de quem hoje decide entrar na Igreja está mais alinhado aos mandamentos do Vaticano.
A nova tendência vocacional tem provocado a expansão dos movimentos católicos tradicionalistas , como a Fraternidade de Aliança Toca de Assis e o Opus Dei , única organização com status de ser prelazia pessoal do papa.
Esses grupos começaram a proliferar durante o papado de João Paulo II e hoje, com as bênçãos de Bento XVI , continuam a arrebanhar vocações, sem proselitismo declarado.
Para se ter uma idéia, o número de integrantes do movimento carismatico na Comunidade de Vida Canção Nova, de contornos carismáticos, pulou de 200 em 2000 para 1.110 em 2007 – um aumento de cinco vezes e meia.

"Esses movimentos têm uma fórmula: oferecem a seus integrantes uma identificação espiritual imediata e extremamente prática", diz o teólogo Afonso Soares.

A sensação de viver a doutrina católica no dia-a-dia fez com que a estudante de administração Verônica Sabrina Barbosa, de 20 anos, fosse morar há um ano num dos centros do Opus Dei, em São Paulo.
"Eu sinto a presença de Deus no ordinário. Estou convicta de que minha felicidade é aqui e quero passar esse sentimento de plenitude e felicidade para as pessoas", diz.
Outra característica dos atuais candidatos à vida religiosa é a idade com que fazem a sua escolha. Eles nunca foram tão velhos. Têm em média 22 anos – nove a mais do que nos anos 60.
A notícia é bem recebida pela Igreja.
"Queremos que a escolha vocacional seja um passo a mais na vida do candidato – e não a sua única opção", diz o padre Reginaldo Lima.
"Para isso, é sempre melhor que ele esteja mais amadurecido, que tenha tido experiência profissional e sentimental." Luis Alberto dos Santos tem 25 anos.
Há três, ele abandonou a faculdade de informática e a namorada para entrar num seminário camiliano, em São Paulo.

"Antes dos 20 anos, não teria maturidade suficiente para tomar uma decisão tão drástica. Sei bem o que estou deixando para trás", diz o seminarista.
"Sempre procurei por algo que me preenchesse. Com 16 anos tive a idéia de fazer trabalho voluntário. Uma amiga, então, me levou à comunidade de uma favela de São Paulo. Fiquei absolutamente encantada com a dedicação daqueles voluntários do Opus Dei. Fui me envolvendo e hoje não os deixo por nada deste mundo. Aqui, aprendi o que é praticar a fé e a ser feliz." Verônica Sabrina Barbosa, 20 anos

O novo perfil de vocações tem tudo para agradar ao papa Bento XVI.
Em três anos de papado, o pontífice deixou clara sua preocupação em atrair para a Igreja representantes bem preparados, conscientes de sua vocação.
Para o 45º Dia Mundial de Orações pelas Vocações, que será comemorado no próximo dia 13, Bento XVI elaborou uma das mensagens mais pungentes já proferidas para a data:
"Somente num terreno espiritualmente bem cultivado brotam as vocações para a vida consagrada", lê-se no texto.
Por "terreno espiritualmente bem cultivado" entenda-se não só a devoção espiritual do candidato, mas também a sua formação intelectual.
No último quesito, os brasileiros precisam melhorar – e muito.

Não bastasse a degradação da qualidade do ensino no país, a formação intelectual de nossos padres foi massacrada com o desatino ideológico da Teologia da Libertação. http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=80860901

"Nos anos 70, em vez de se dedicar ao estudo de teologia e às orações, o seminarista aprendia a cantar o hino da revolução da Nicarágua" (rs !) diz o padre Élio Vigo, coordenador do Centro Vocacional da Arquidiocese de São Paulo.
O resultado não poderia ser outro.
"Os ateus hoje em dia têm mais interesse em estudar teologia do que o padre", diz o professor Afonso Soares.
Que fique a lição para os que acabam de entrar: um bom religioso se faz com fé – e com (muita) devoção aos estudos.

Verdadeira crise de nosso tempo é espiritual

Afirma Salvatore Martinez , presidente da Renovação Carismática Italiana

A autêntica crise que a sociedade ocidental está vivendo é, antes de tudo , de natureza espiritual , de falta de confiança no triunfo final do bem sobre o mal: assim explicou o presidente da Renovação Carismática Católica Italiana (RCI), Salvatore Martínez, em declarações concedidas à agência Zenit.
Martínez é também presidente do Polo de Excelência Luigi Sturzo, instituição dedicada à promoção e ligada à família do famoso sacerdote , falecido em 1959 , fundador do Partido Popular na Itália , antecedente direto da Democracia Cristã , em processo de canonização desde 3 de maio de 2002.
Precisamente este ano em que se completa o cinquentenário da morte de Sturzo, Salvatore Martínez recorda esta eminente figura italiana do século XX , e algumas de suas grandes intuições sobre o declive do Ocidente.
Todas as épocas históricas têm suas crises, afirma Martinez; portanto, a atual situação «não é nova».
A questão está em perceber a «origem espiritual» da atual, baseada em uma consciência «cada vez mais errônea, decadente, rendida ao mal e a todas as suas canonizações éticas, jurídicas e científicas».
Segundo Sturzo, «o erro moderno consiste em separar e contrapor o cristianismo ao humanismo: do humanismo se fez uma entidade divina, enquanto da religião cristã se fez um assunto privado».
Martínez recorda uma intervenção do então cardeal Joseph Ratzinger no senado italiano (maio de 2004), na qual, de forma profética, ele dizia sobre a crise: «A Europa, precisamente agora na hora de seu maior êxito, parece estar vazia por dentro, como paralisada por uma crise circulatória, uma crise que põe sua vida em risco, confiando-a a transplantes que apagam sua identidade. À cessão das forças espirituais que a conduzem se acrescenta um ocaso étnico crescente. Há uma estranha falta de vontade de futuro».
Para Sturzo, que viveu também uma época de forte crise (teve de exilar-se em Londres, perseguido pelo fascismo), «a verdadeira revolução começa com uma negação espiritual do mal e uma afirmação espiritual do bem».
O presidente da RCI adverte sobre «as novas formas de democracia individualista e inumana que nossa sociedade européia está produzindo, em nome da igualdade de todos os homens», o que «impõe uma séria reflexão».
Para Martínez, «não haverá uma verdadeira consciência social se as regras do jogo democrático se basearem em uma soma de eus’ autônomos, dirigidos cada vez mais claramente pelos interesses dos lobbies.
Assim se acabaria por tornar o homem prisioneiro de si mesmo, incapaz de alteridade; uma espécie de homem incompleto ou decaído, estranho a toda implicação civil na construção do bem comum , no fundo, a inquietude moral de nosso tempo já é o advento de uma nova esperança.
A degeneração moral já é parto de um novo estilo de vida.
O mal que impera já é vitória da misericórdia e da verdade», conclui

Projeto do Executivo descriminaliza transmissão sem licença

No início do penúltimo ano do governo Lula, a equipe do presidente por fim mostra-se disposta a dar o primeiro passo para um processo de revisão das regras que impedem o crescimento das rádios comunitárias.
Foi publicada hoje (15) no Diário Oficial da União mensagem do Executivo ao Congresso Nacional enviando projeto de lei que visa descriminalizar o ato de operar serviço de radiodifusão sem autorização do poder concedente.
A iniciativa responde a uma das históricas demandas dos ativistas da mídia comunitária.
A perseguição dos órgãos reguladores e da polícia às rádios comunitárias é uma das principais reclamações das entidades representativas do setor, que inclusive denunciam um acirramento desta ao longo do governo Lula.
A versão final do PL só será divulgada após o seu acolhimento pelo Congresso, mas o texto que está sendo trabalho pelo Ministério da Justiça, com apoio da Casa Civil, altera o Artigo 183 da Lei Geral de Telecomunicações, excetuando de sanção penal a transmissão clandestina de telecomunicações que seja identificada como radiodifusão.
O texto também revoga o Artigo 70 do Código Brasileiro de Telecomunicações, que criminalizaa instalação ou utilização de telecomunicações, sem observância do disposto nesta Lei e nos regulamentos”, estabelecendo pena de um a dois anos, ampliada se houver dano a terceiros.
Os dois artigos modificados pela proposta são os dispositivos utilizados para justificar a prisão e abertura de processo criminal contra os responsáveis pelas emissoras comunitárias.
Caso sejam aprovadas as modificações, quem colocar uma rádio no ar antes de receber a autorização do Ministério das Comunicações não poderá mais ser preso ou julgado por varas criminais. A transmissão, no entanto, segue sendo considerada um ilícito civil.
O projeto não faz distinção em relação à natureza da programação veiculada ou da organização responsável pela emissora considerada não-autorizada. Ou seja, seriam abarcadas por estas modificações tanto rádios comunitárias, como rádios e mesmo TVs de caráter comercial que operem sem licença apropriada.
Segundo o secretário de assuntos legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay, o PL reflete a posição do governo, apoiada em resolução Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, de mudar a concepção atual da legislação. “Deve ser crime o que atenta contra os bens jurídicos da humanidade. A emissão de onda sonora em desacordo com legislação não afeta nenhum bem jurídico relevante, nada que possa privar a pessoa da liberdade. O mero funcionamento de uma rádio não pode ser considerado crime”, argumenta.
Seguindo esta lógica, a proposta do governo inclui no Código Penal o crime de operação de estação de serviços de radiodifusão que coloquem pessoas em risco de vida ou saúde ao atrapalhar ou inviabilizar o funcionamento de “serviços de telecomunicações de emergência, de segurança pública ou de fins exclusivamente militares” ou de “equipamentos médico-hospitalares”.
Neste caso, também poderiam ser enquadradas emissoras autorizadas que provoquem interferências consideradas danosas.

Punições mais duras

O aspecto positivo do projeto – retirar da esfera penal a atividade de radiodifusão não-autorizada – pode ser ofuscado pelo endurecimentos das punições civis previsto na proposta.
Para quem for pego transmitindo sem autorização, o texto propõe como sanções a apreensão dos equipamentos, multa e suspensão do processo de autorização da outorga ou a proibição de que aquela associação possa se habilitar para um novo processo até o pagamento da multa.
Além de prever esta punição à operação sem licença, o projeto aprofunda a rigidez das punições administrativas para as rádios comunitárias autorizadas em relação a outras infrações, divididas em três categorias: as regulares, graves e gravíssimas.

No primeiro grupo, está a veiculação de publicidade e propaganda fora dos limites estabelecidos e o descumprimento de qualquer artigo da Lei 9.612 de 1998 , que regulamenta o serviço. Atualmente uma emissora comunitária só pode receber recursos mediante patrocínio, na forma de apoio cultural, de estabelecimentos situados na área atendida.
A pena para esta categoria é multa e a suspensão do funcionamento por 30 dias.

Já no grupo das infrações graves foram incluídos a operação dos equipamentos fora das especificações, que atinge aquelas estações que utilizam transmissores mais potentes do que o permitido, e a permanência por mais de 30 dias sem funcionamento sem motivo justificável.
A pena prevista é multa e, em caso de reincidência, lacração do equipamento até a correção dos problemas.

Dentre as infrações gravíssimas constam a transferência da execução do serviço a terceiros e a realização de proselitisimo de qualquer natureza.
A sanção para tais infrações é a cassação da autorização e a lacração dos equipamentos.

De acordo com Pedro Abramovay, a maior rigidez foi inserida na proposta seguindo a lógica de que o tratamento do desrespeito à legislação deve ser feita sob uma abordagem administrativa “Atualmente, estas punições estão baseadas no fato de que estávamos lidando com conduta criminosa. Agora, a Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações] tem que ter poder de coercitividade para fazer valer a regra. Só achamos que este poder não pode ser a polícia, a cadeia”, explica.
O secretário de assuntos legislativos do MJ afirma que o projeto será uma prioridade do órgão neste ano. “Sabemos que o PL sofrerá resistências, mas o Executivo vai tratá-lo como prioridade”, diz.
Esta proposta deve aumentar a polêmica em torno de reformas na legislação das rádios comunitárias no Congresso , já instalada por conta do debate sobre o substitutivo da deputada Maria do Carmo Lara (PT-MG) que reformula a Lei 9612/1998, em trâmite na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCTCI) da Câmara dos Deputados.
A CCTCI, no entanto, demonstrou no fim do ano que pelo menos a questão da descriminalização encontra apoio entre os parlamentares.
A comissão aprovou por unanimidade o substitutivo do deputado Walter Pinheiro (PT-BA) a projeto que tramitava na Câmara desde 1998 sobre a anistia de rádios comunitárias que estejam sendo processadas por operarem sem autorização.
No novo texto, Pinheiro incluiu ainda a descriminalização da transmissão feita por rádios eminentemente comunitárias com potência de até 250W, modificando exatamente os mesmos artigos do CBT e da LGT revistos no projeto do Executivo.

Observatório do Direito à Comunicação

sábado, 24 de janeiro de 2009

Afastado da Igreja há um ano , noticias do Padre Zeca

A batina está guardada.
Um ano depois de ter pedido licença à Arquidiocese do Rio de Janeiro e se afastado das funções sacerdotais , José Luiz Jansen de Mello Neto , o padre Zeca , parece perfeitamente adaptado à vida de solteiro. O criador do movimento Deus É Dez , que arrastava milhares de jovens para shows religiosos na Praia de Ipanema nos anos 90, agora circula com desenvoltura pela noite carioca.
Zeca, de 37 anos, freqüenta o Bar Jobi , no Leblon , gosta de dançar no Carioca da Gema , badalado endereço de samba na Lapa , e marca presença nas festas de amigos , nas quais namora em público. O padre-surfista , como ficou conhecido , roda a cidade a bordo de uma Scooter – não tem carro.
Nos fins de semana , bate ponto nas areias do Leblon , perto da Rua Rainha Guilhermina.
Ali passa horas com seu atual rebanho , jovens de classe média alta da Zona Sul.
Enfim , leva a vida de qualquer homem livre , leve e solto da sua idade.
Em janeiro de 2007 , quando deixou oficialmente a Paróquia da Ressurreição , no Arpoador , foi divulgado que estava se licenciando por um ano , para estudar fora do país.
O afastamento do pároco , grande aposta da Igreja Católica no Rio , provocou surpresa entre fiéis e muito tititi. Pouco depois , Zeca foi visto circulando com a empresária Maria Rita Magalhães Pinto, dona da grife A-Teen.
"Ele é uma pessoa muito querida, amigo da minha família", diz ela.
"Como estávamos solteiros e saíamos muito, as pessoas falavam. Não namoramos."
Em seguida , teve como par constante uma advogada e agora assume para os próximos o relacionamento com uma mulher recém-separada que estudou gastronomia em Londres.
Para a Cúria Metropolitana, o mais jovem padre diocesano ordenado no país (tinha 25 anos em 1995) está só afastado.
Segundo a assessoria de imprensa da arquidiocese , seu futuro depende do acordo feito com o cardeal-arcebispo dom Eusébio Scheid , cujos detalhes não são revelados.
Em 2006 , Zeca havia deixado o departamento de teologia da PUC , onde coordenava a seção de cultura religiosa e dava aulas. Procurado por Veja Rio, Zeca foi lacônico.
"Estou me adaptando à nova vida", limitou-se a dizer, como se tivesse feito voto de silêncio.
"Não me sinto pronto para falar."
O garotão criado no Alto Leblon, que estudou em boas escolas como o antigo Gimk, no Leblon, e entrou no seminário aos 18 anos , hoje mora num apartamento em Ipanema e cursa um MBA. Suas aulas de gestão empresarial são às sextas-feiras , no Instituto de Pós-Graduação em Administração de Empresas (Coppead) da UFRJ.
Tema bem diferente do doutorado que fez na Pontifícia Universidade Gregoriana , em Roma , sobre Santo Agostinho.
Na Igreja da Ressurreição , a ausência do padre jovem e bonitão , que demonstrava uma disposição esfuziante no altar, é sentida.
"Até hoje tem gente que o procura", conta uma funcionária.
Zeca, que lançou os CDs Deus É Dez e Quero Paz, é da geração de padres-cantores.
Seu ex-companheiro num programa da Rádio Catedral , padre Jorjão , evita polêmica.
"É um grande sacerdote", diz.
"Converso muito com ele , nunca soube que queira se casar."
Mas é certo que Zeca gosta de companhia – é do tipo que anda em grupo.
"Ele vem muito aqui à noite e depois da praia nos fins de semana, sempre com uma turma", confirma Antônio Marques Pires, gerente do Jobi.
Seus amigos o protegem numa cortina de discrição.
"Se ele não fala, não fico confortável para comentar", esquiva-se o deputado estadual Alessandro Molon (PT).
Os dois participam da ONG Instituto Carioca de Idéias, criada para formular projetos para o Rio. "Ele nunca comentou o que o levou a pedir a licença", desconversa o subsecretário estadual de Turismo, Esporte e Lazer, Antônio Pedro Figueira de Mello.
"Conheci o Zeca garoto. Fazia tudo que um jovem faz, saía, namorava", lembra Eduardo Paes, secretário estadual de Turismo. "Escolheu uma vocação e está revendo o curso da vida."

OBS : Esse blog , traz essa materia , para trazer noticia de um homem que fez da evangelização uma forma clara e concisa com uma linguagem que atraiu muitos jovens com animadas missas , musicas , oracoes e eventos.
Não sabendo a verdade , pois há dois lados na materia na suposição e oficialmente a IGREJA , a verdade é que ele fez o correto , primeiro pediu licença a Arquidiocese e assim como diz a meteria se posiciona : "Estou me adaptando à nova vida , não me sinto pronto para falar."
Que os lados possam se posicionar.
Shalon !

domingo, 18 de janeiro de 2009

Igreja não se escandaliza com sexualidade

Ao contrário do que se pensa e diz nos âmbitos seculares, a Igreja não evita falar da dimensão corporal do homem e da mulher, particularmente da sexualidade. Foi assim que se expressou a Dra. Helen Alvaré, catedrática da Universidade George Mason em sua conferência durante a 3ª sessão do Congresso Teológico Pastoral, dentro da VI Encontro Mundial das Famílias.

A principal razão que permite à Igreja valorizar a dimensão corporal radica em que no cristianismo, de uma forma muito rica, «expressa seus mistérios através da corporeidade, como no caso da Encarnação e da Ressurreição», indicou a especialista.
E lembrou que este valor adquire toda a sua profundidade quando «os fiéis têm a consciência de pertencer ao Corpo Místico de Cristo através da sua própria pessoa».
A catedrática, proveniente dos Estados Unidos, afirmou que para entender o valor da vida humana não se deve evadir o tema da sexualidade. Disse também que a Igreja deve aproveitar seu profundo conhecimento sobre a corporeidade humana para falar e manifestar sua posição sobre o tema.
A também assessora do Conselho Episcopal dos Estados Unidos destacou que o exercício e a experiência da própria sexualidade não estão limitados ao âmbito físico, mas encontram sua razão e propósito divino através da vida espiritual e da fé.
A Dra. Alvaré expressou que «o corpo humano não está carente de significado, ainda quando falamos da criança não nascida ou do homem e da mulher e sua relação de intimidade. Toda a informação ética, testemunhal e científica nos indica que temos de respeitar o corpo não como um mero determinismo biológico. Simplesmente não podemos contradizer tão violentamente o corpo humano».
E disse que um dos aspectos mais interessantes da Igreja Católica é seu entendimento tão profundo do físico:
«não nos dá medo nem vergonha falar sobre a sexualidade humana; isso é, pelo contrário, uma bênção».
A estudiosa do tema da família assinalou que quando o Santo Padre fala do matrimônio como o lugar onde encontramos Jesus Cristo nos cônjuges, podemos chegar a imaginar que esta realidade vive em cada pessoa, na vida de cada casal.
«Nem todo o mundo se casa, mas a maioria das pessoas sim, e por isso esta teologia é muito digna de consideração», indicou.
Para exemplificar a cotidianidade e importância da corporeidade na vida religiosa dos fiéis, a Dra. Alvaré fez um elenco de ritos e práticas que implicam manifestações físicas: «tocamos as relíquias, beijamos as estátuas, tocamos nossos terços, damos a mão. Isso fala de dar uma mensagem importante, de que cada pessoa é um indivíduo importante. O Corpo de Cristo não está formado, nós temos de formá-lo e devemos começar com o que temos».

É a família que deve educar sexualidade dos filhos, segundo especialista

Educar a sexualidade é educar na castidade, e isso é tarefa fundamentalmente da família, onde se dá um «clima favorável» frente a «uma cultura fortemente condicionada pelos efeitos da onda de longo alcance da revolução sexual».
Assim afirmou a doutora italiana Maria Luisa Di Pietro, professora associada de Bioética na Universidade Católica do Sagrado Coração de Roma e presidente da associação Scienza & Vita (Ciência e Vida), durante sua intervenção desta quinta-feira no Congresso Mundial das Famílias que está acontecendo no México.
Antes de tudo, é necessário, argumentou, «esclarecer o conceito de castidade», que é a «energia espiritual, que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da agressividade, e sabe promovê-lo à sua plena realização».
«A redução da sexualidade a uma mera dimensão do instinto favoreceu também, em suas manifestações mais extremas e ínfimas, a difusão da pornografia e da violência sexual», acrescentou.
É urgente, portanto – explicou –, que as famílias assumam o papel primordial que têm na formação afetiva e moral de seus filhos.
«A pressa por pular etapas está tornando cada vez mais difícil o amadurecimento afetivo dos jovens e está pondo em risco inclusive sua saúde», afirmou.
Segundo a doutora Di Pietro, a educação da sexualidade «deve ter como principal objetivo indicar e motivar a que se alcancem grandes metas», entre elas «a afirmação do eu, da autoestima, do senso de dignidade própria, da capacidade de autoposse e autodomínio, da abertura de projeto, da coerência e equilíbrio interior; a aquisição de uma grande atenção para os valores da procriação, da vida e da família».
«É necessária uma verdadeira formação dirigida à educação da vontade, dos sentimentos e das emoções – acrescentou. Conhecer-se equivale a ter um motivo a mais para aceitar com serenidade a própria realidade de homem ou de mulher e para exigir maior respeito e consideração por si mesmo e pelos demais.»
Os pais têm «a obrigação moral de educar a pessoa em sua masculinidade e feminilidade, em sua dimensão afetiva e de relação: educar a sexualidade como dom de si mesmos no amor, esse amor verdadeiro que sabe custodiar a vida».
Os pilares de toda educação baseada no amor à pessoa, segundo a doutora, são: por um lado, «que idéia se tem do homem», e por outro, «que projeto de homem se pretende realizar».
«Quando se renuncia à verdade sobre o homem (ao amor pela verdade), corre-se o risco de comprometer justamente a obra educativa. Se a liberdade não se introduz e arraiga em uma verdade integral da pessoa, pode conduzir o próprio homem a condutas e escolhas que reduzem o humano, ou pode converter-se em instrumento de prevaricação e de puro arbítrio ou levar a atitudes de resignação e perigoso ceticismo».
Neste sentido, acrescentou que é necessário educar a afetividade ao mesmo tempo que o sentimento moral, ou, o que é o mesmo, a «educação para a liberdade».
«A pessoa só se forma quando é capaz de responder à pergunta sobre qual pessoa deveria eu ser. O compromisso deve ser, então, o de ajudar o sujeito a crescer como pessoa virtuosa, ou seja, a adquirir uma aptidão permanente para fazer o bem e para fazê-lo bem.»
Os pais, especialmente durante a adolescência, devem «ajudar seus filhos a discernirem sua vocação pessoal, a descobrir o projeto que Deus tem para eles», acrescentou.
Devem também ser conscientes de que o dever de educar moralmente os filhos é «inalienável» e que não pode ser «nem totalmente delegado a outros nem usurpado por outros».
«De fato, não oferecer aos filhos um ambiente familiar que possa permitir uma adequada formação ao amor e à castidade significa faltar a um dever preciso», acrescentou.

Esclarecimento do cardeal Antonelli sobre homossexualidade

Publicamos a nota esclarecedora sobre a homossexualidade emitida em nome do cardeal Ennio Antonelli, presidente do Conselho Pontifício para a Família, pelo sacerdote Carlos Simón Vázquez, subsecretário desse dicastério vaticano.

Deram-se diversas interpretações à referência à homossexualidade feita pelo cardeal Ennio Antonelli, presidente do Conselho Pontifício para a Família, em seu discurso de abertura do Congresso de Teologia Pastoral do México. O cardeal quis sublinhar três aspectos importantes:

1) A homossexualidade não é um componente necessário da sociedade, como a família. A sociedade se organiza em torno da relação de casal formada por um homem e uma mulher.
Eles se encontram na origem da vida conjugal e da vida familiar.
Neste sentido, o casal e a família entram no campo da vida social e, portanto, da lei civil.
A relação entre duas pessoas do mesmo sexo não é equivalente a uma relação de casal, que se baseia na diferença sexual.
A relação homossexual não entra neste campo social.
É, portanto, uma questão privada. O legislador comete um erro antropológico quando quer organizar socialmente a homossexualidade.
Corre o risco de provocar uma confusão intelectual, de identidade e relacional.
Não se deve esquecer que a confusão favorece frequentemente a insegurança, a instabilidade das relações e a violência quando o legislador não respeita o sentido fundamental das relações humanas.
A família é um bem comum da humanidade que não se encontra à livre disposição do legislador para responder às reivindicações subjetivas e problemáticas da época atual. O desejo individual não pode estar na origem da lei.
Aqui nos encontramos em presença de uma confusão entre o direito, que é de domínio público, e o desejo, que depende do sujeito.

2) Afirmando que a homossexualidade é um fato privado, o presidente do Pontifício Conselho para a Família não pretendeu justificá-la. O cardeal simplesmente sublinhou que a homossexualidade não contribui favoravelmente para a estruturação das pessoas e da sociedade. O exercício da homossexualidade não reflete a verdade da amizade. A amizade é inerente à condição humana, na qual se dão relações de proximidade, apoio e cooperação, em um clima cortês e afável. A amizade deve ser vivida na castidade.

3) A Igreja mantém a preocupação de acolher e acompanhar as pessoas homossexuais. Toda pessoa que tem dificuldade para viver retamente a sexualidade está chamada a encontrar-se com Cristo e a viver, em consequência, de acordo com as exigências da liberdade e a responsabilidade da fé, da esperança e da caridade. Ao contrário, é contrário à verdade da identidade humana e ao desígnio de Deus viver uma experiência homossexual, uma relação deste tipo, e mais ainda pretender reivindicar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. São contrários aos verdadeiros interesses das pessoas e às necessidades da sociedade. Constituem uma transgressão do sentido do amor tal como Deus nos revelou através da mensagem de Cristo, da qual a Igreja é servidora, como expressão da caridade aos homens e mulheres do nosso tempo.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Vaticano 'silencia' expoente da Teologia da Libertação

O Vaticano anunciou nesta quarta-feira uma notificação em que pune o teólogo jesuíta Jon Sobrino, considerado um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação.
Acusado de ressaltar em seus livros a humanidade de Jesus Cristo (e não a sua divindade), Sobrino, um espanhol que vive em El Salvador há mais de 50 anos, já sabia que seria punido.
O processo de investigação contra o teólogo começou em 2001. Com a publicação oficial da notificação, Sobrino passa a ser o primeiro teólogo a ser "silenciado" no papado de Bento 16.
De acordo com o documento da Congregação para a Doutrina da Fé (o antigo Santo Ofício, cuja função é promover e tutelar a doutrina da fé e da moral em todo o mundo católico), foram analisados dois livros de Sobrino: Jesus Cristo Libertador – Leitura Histórico-Teológica de Jesus de Nazaré e A Fé em Jesus Cristo – Ensaio a Partir das Vítimas.
"Optou-se por este procedimento tendo em conta, entre outras razões, a grande difusão que tiveram, sobretudo na América Latina, as obras de Jon Sobrino", diz o documento.
'Imprecisões'
O Vaticano afirma ter encontrado imprecisões na obra do jesuíta, nascido em Bilbao no ano de 1938.
"O padre Sobrino tende a diminuir o valor normativo das afirmações do Novo Testamento e dos grandes Concílios da Igreja antiga", diz a Santa Sé.
"Tais erros de índole metodológica levam a conclusões não-conformes com a fé da Igreja em pontos centrais da mesma: a divindade de Jesus Cristo, a encarnação do Filho de Deus, a relação de Jesus com o Reino de Deus, a sua auto-consciência, o valor salvífico da sua morte."
No último domingo, o arcebispo de San Salvador, monsenhor Fernando Sáenz Lacalle, antecipou a decisão do Vaticano.
"O padre Jon Sobrino será impedido de dar aulas em qualquer escola católica ou publicar livros até que revise as suas conclusões", afirmou.
Na ocasião, o monsenhor pediu a Sobrino, professor e um dos criadores da Universidade Centro-Americana, que apoiasse os ensinamentos da Igreja "para evitar as controvérsias que ainda geram a atividade dos teólogos liberacionistas, especialmente, em função da 5ª Conferência Episcopal Latino-americana", que será aberta pelo papa no dia 13 de maio em Aparecida.

Silêncio obsequioso

Entre 1981 e 2005, o então cardeal Joseph Ratzinger esteve à frente da Congregação para a Doutrina da Fé e puniu com rigor os dissidentes.
Entre eles, o religioso brasileiro Leonardo Boff, um dos mentores da Teologia da Libertação, foi condenado, em 1985, ao "silêncio obsequioso".
Conhecido como um dos principais teóricos da Teologia da Libertação, movimento de caráter religioso, político e social que se desenvolveu rapidamente por toda a América Latina a partir dos anos 1960, Sobrino foi homenageado no último fórum internacional da teologia, realizado em janeiro, em Nairóbi, no Quênia.
O movimento em favor dos pobres e marginalizados ganhou oposição da hierarquia da Igreja Católica desde o início.
Muitos de seus líderes foram silenciados e, nos anos 1990, o papa João Paulo 2º chegou a dizer que a teologia estava morta.
Hoje, a Teologia da Libertação é um movimento "globalizado".
Tem integrantes em todas as partes do mundo, que se reúnem em grupos de feministas, indígenas, ecologistas, afro-descendentes e acadêmicos.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Sim, os judeus comiam criancinhas !

Páscoa de sangue: hebreus da Europa e homicídio ritual causou grande estupor na Itália.
E com razão!
Com mais de trezentas páginas, o erudito trabalho defende que os propostos seqüestros, torturas e crucificações rituais de crianças cristãs praticados por judeus através da Europa, em diversas épocas, que justificaram a perseguição, tortura e morte de multidões de hebreus, não seriam fruto do imaginário anti-semita, mas práticas correntes, ao menos entre uma das comunidades hebraicas européias.
Livro e tese que teriam sido liquidados sumariamente como uma outra esdrúxula construção anti-semita, se o autor não fosse Ariel Toaff, historiador italiano de origem judaica, professor de História da Idade Média e do Renascimento da conservadora universidade confessional israelense de Bar-Ilan, filho de Elio Toaff, ex-grande rabino de Roma.
O enorme putiferio historiográfico que Páscoa de sangue causou no mundo intelectual italiano deve-se sobretudo ao caráter restrito das fontes e à inusitada démarche metodológica nos quais o autor apoiou uma proposta revisionista de tamanhas repercussões culturais, políticas e ideológicas. Nos fatos, a comprovação histórica de sacrifícios rituais sistemáticos de crianças cristãs por comunidades judaicas da Europa Medieval constituiria, se não uma justificação total, ao menos consistente apoio à compreensão, relativização e absolvição parcial do longo rosário de desapiedados atos anti-semitas, praticados, dirigidos e galvanizados pelas autoridades civis e religiosas da Europa cristã.
O livro de Ariel Toaff apóia-se sobretudo na releitura dos célebres sucessos de Trento, quando Simonino, filho de dois anos de um modesto curtidor cristão, após desaparecer na tarde da Sexta-Feira Santa, 23 de março de 1475, reapareceu morto e terrivelmente mutilado, no domingo seguinte, precisamente em canal que passava sob a habitação-sinagoga do rico e invejado Samuel, judeu usurário proveniente de Nuremberg, na Alemanha. O dilaceramento que tomou conta da população local foi solucionado com a pronta acusação dos judeus locais como responsáveis pelo crime, por parte do príncipe e bispo Giovanni Hinderbach, também de origem alemã.
As confissões de judeus, de ambos os sexos, de participação no seqüestro, crucificação e longa tortura ritual do pequenino, para produção, com seu sangue, do pão cerimonial ázimo, consumido na páscoa hebraica, obtidas sob tortura nos calabouços do imponente castelo de Buonconsiglio, resultaram na condenação à morte de quatorze réus e na expulsão sumária de toda a comunidade israelita da região, com os decorrentes confiscos e multas pecuniárias.
O menino, a seguir venerado como são Simonino de Trento, tornou-se um dos patronos da cidade e sustentou o longo e duradouro culto popular de crianças cristãs sacrificados por judeus. Apesar da Igreja ter proibido, apenas em 1965, o culto ao beato Simonino, ainda hoje, em algumas regiões da Europa crianças cristãs martirizadas pelos judeus são veneradas em pequenos crucifixos.

Sequer um documento probatório

Os sucessos de Trento, que contribuíram para a instalação da Inquisição na Espanha, dirigida sobretudo contra os judeus ibéricos, apenas três anos após a morte de Simonino, produziram uma volumosa documentação, na qual Ariel Toaff apoiou suas propostas revisionistas, que não se restringem ao caso italiano, pois defendem que o sacrifício ritual de crianças cristãs, pela carne e sangue, teria sido praticado, nos anos 1100 e 1500, ao menos pelos judeus ashkenazis, ou seja, provenientes da Europa Central e Oriental, com destaque para a atual Alemanha. O que, diga-se de passagem, livra os judeus itálicos, ancestrais do autor, do crime de infanticídio e canibalismo rituais.
Ariel Toaff não apresenta sequer um novo documento probatório de sua interpretação, apoiando-se apenas em releitura da documentação conhecida, em parte segundo a lição do historiador italiano Carlo Ginzburg, que propõe desvelar verdades dos subalternizados incrustadas nos próprios documentos judiciais produzidos pelos dominadores. O autor pretendeu encontrar nos interrogatórios de Trento conhecimentos sabidos apenas pelos judeus e uma homogeneidade lingüística e factual que registrariam a veracidade das confissões obtidas a golpe de tenalhas e ferros incandescentes. A comprovação da veracidade das acusações devido à uniformidade dos depoimentos, através das diversas épocas e países, foi tese tradicional da Igreja.
Com razão, jornalistas e historiadores malharam Ariel Toaff sem piedade pela sua reconstrução do passado, a partir de saltos dedutivos, indutivos e lógico-arbitrários, sem comprovação documental. Se aceitassem a leitura dialógica perneta da documentação proposta pelo autor, os historiadores deveriam aceitar que o Tinhoso, em pessoa, sem ceroulas, teria se metido por entre as cobertas dos milhares de mulheres confessas de satanismo, tamanha a convergência nos depoimentos sobre a cópula diabólica!
Despertou também estupor a proposta de recuperação da subjetividade histórica do hebreu medieval humilhado apresentada por Ariel Toaff em defesa de sua tese estapafúrdia. "Tentei mostrar que também o mundo hebreu da época era violento, entre outras razões porque era golpeado pela violência cristã.”
A historiografia possui estudos confiáveis sobre sacrifícios medievais resultados de crenças nos efeitos mágico-medicinais sobretudo do sangue humano. O conhecimento, concordância e participação, marginal ou simbólica, nesses atos, por parte da comunidade cristã da época, ajudam a compreender a rápida extensão do anátema terrível lançado aos judeus. Porém, tais atos eram transgressões episódicas, praticadas por cristãos, judeus e muçulmanos, à margem dos preceitos das suas respectivas religiões.
A Bíblia, o Talmude e o Corão são terminantes na proibição do sacrifício e do consumo da carne e do sangue humanos.

As razões da obra e do autor

Talvez as grandes perguntas que nos deixam Páscoa de sangue não se refiram às teses tresloucadas do livro, mas por que e como um historiador de origem judaica, ligado ao hebraísmo, ao se aproximar do nadir de sua carreira acadêmica, deixou-se envolver por aventura revisionista de tamanha dimensão e conseqüências, referentes a questões determinantes de sua vida pessoal e profissional, praticamente sem apoio documental ou metodológico. Para responder essas questões, podemos nos apoiar em fatos e processos culturais consolidados, ma somos, também, obrigados a propor avaliações subjetivas exploratórias.
Não há dúvidas quanto ao como foi empreendida a operação. Atualmente, a subjetivação e reconstrução conservadora da história, a partir de interpretações arbitrárias dos comportamentos culturais descoladas dos fatos sociais e materiais que os determinam, são processos normais e correntes. Nesse sentido, Ariel Toaff realizou, no que se refere à história dos judeus da Idade Média, a mesma operação empreendida, sistematicamente, sob o aplauso e o apoio dos aparatos culturais legitimadores - mídia, editoras, universidades, órgãos públicos, etc. -, no que diz respeito à história do operariado, das mulheres, da luta antifascista, etc.
O revisionismo despudorado do passado com objetivos políticos é hoje moeda corrente.
Em 12 de fevereiro, Jorge Napolitano, presidente da Itália, ex-militante comunista arrependido, foi duramente interpelado pelo presidente da Croácia, Stipe Mesic, que caracterizou como “racismo, revisionismo e revanchismo político” as declarações que proferira no Dia da Memória. Essa celebração foi instituída pelo governo direitista de Berlusconi para homenagear as vítimas italianas da Ístria, Dalmácia, Trieste e Gorícia.
Em 1943 e 1945, sobretudo fascistas foram mortos e lançados em fossos da região pela população e guerrilheiros comunistas iugoslavos, exasperados pelos massacres ocorridos durante a dura ocupação nazi-fascista da Iugoslávia, sobre a qual Napolitano não proferiu palavra.
Na própria historiografia da escravidão brasileira, a mesma proposta de recuperação da subjetividade do trabalhador escravizado, devido à leitura economicista reificante que supostamente escamoteia seu papel histórico, ensejou reconstrução do passado onde o cativo trabalhava pouco, comia muito, apanhava quase nunca, possuía laços familiares sólidos, determinaria a própria arquitetura de seu ergástulo, etc. Tudo devido a acordos e negociações sistêmicas entre escravizados e escravizadores que teriam transformado a escravidão em uma obra do próprio cativo, levando-o, assim, a interessar-se pela própria manutenção da instituição.

Com as costas quentes

O revisionismo do passado é exigência das forças sociais conservadoras do presente. Atualmente, há enorme espaço para igual operação revisionista no relativo ao massacre dos judeus, realidade que pesa duramente sobre a história do passado cristão-ocidental que, nos últimos anos, se propõe à Europa, com singular desenvoltura, como padrão obrigatório civilizacional. Uma obra, porém, emperrada pela inevitável acusação de anti-semitismo que recairia sobre o autor, devido ao caráter macabro assumido pela militância conservadora anti-judaica na Europa medieval e contemporânea.
Uma operação, portanto, a ser realizada, quase necessariamente, por um judeu.
Podemos apenas conjeturar sobre as razões que permitiram que Ariel Toaff, aos 65 anos, após carreira universitária burocrática, fosse seduzido por empresa revisionista que certamente lhe garantiria, a ele e ao seu trabalho, repercussão mundial, como realmente ocorreu.
Operação que, porém, ao contrário das congêneres, certamente lhe causaria também dificuldades, devido às razões assinaladas e ao fato de corresponder apenas às necessidades de uma das vertentes culturais e históricas do pensamento, tradição e civilização conservadora contemporânea - a ocidental-cristã.
A inesperada e dramática decisão de Ariel Toaff de retirar seu livro de circulação, tomada na quarta-feira passada, festejada por seu pai nonagenário como momento de lucidez em longa seqüência de insensatezes históricas do filho, que liquida as expectativas do autor, se não sua carreira profissional, procura certamente limitar o mal já feito. Porém, a serpente já pôs seu ovo maldito. Após Páscoa de sangue, jamais os crimes cometidos contra os judeus na Idade Média e Contemporânea - certamente alguém dirá algo sobre os crimes judeus anti-arianos na Alemanha pré-nazista? - poderão ser anatematizados sem que salte fora a proposta de que, talvez, tenham sido punição ao menos em parte merecida por vítimas promovidas igualmente à situação de algozes.

Mário Maestri, 58, é professor do Programa de Pós-graduação em História da UPF.
E-mail: maestri@via-rs.net.