sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dois artigos censurados de D. Bergonzini.

Como parece que a CNBB agora está com o péssimo hábito de retirar de seu site artigos que não se encaixam no ideário que por lá dá as cartas, achei por bem reproduzir abaixo um outro artigo de D. Luiz Gonzaga Bergonzini sobre o aborto e o PT, o partido do aborto, e que foi publicado originalmente na Folha Diocesana, jornal da Diocese de Guarulhos e que consta no site da CNBB Regional Sul I. Dom Bergonzini, ao contrário de alguns de seus irmãos no episcopado nacional, não tem papas na língua para denunciar o abortismo do PT ou de outros candidatos. E nem adianta a CNBB retirar ou censurar artigos dos bispos, pois o que não vai faltar é blog para publicar artigos como o abaixo.

O PT e o aborto.

No site do PT (http://www.pt.org.br/site/secretarias) pode-se ler a moção apresentada pela Secretaria Nacional de Mulheres e aprovada pela maioria dos delegados e delegadas do 13° Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores (08-05-06). Se é justo que todos tenhamos um "posicionamento firme contra todas as injustiças e discriminações a que estão submetidas às mulheres na sociedade", o que corresponde também às exigências de justiça do Evangelho, fazer disso um pretexto para levantar a bandeira da descriminalização do aborto é absurdo, incoerente e não corresponde à realidade. Absurdo, porque, em nome da defesa da vida das mulheres que morrem por causa do aborto clandestino, se esquece completamente que o feto e o embrião, sacrificados no aborto, são também indivíduos humanos merecedores de todo o nosso respeito a começar pelo respeito à vida. Todas as vidas têm igual valor. Não existem vidas mais dignas e menos dignas. Aceitar esta distinção seria aceitar uma tremenda discriminação, contra a qual justamente o movimento feminista se insurge.

Incoerente, por dois motivos.

O primeiro: pelo fato que fetos e embriões são também homens e mulheres já sexualmente definidos e a metade dos fetos e embriões abortados são de mulheres. Daí a incoerência desta moção que em nome do feminismo vai contra as próprias mulheres, a não ser que segundo as feministas, mulher é só quem seja adulta e sexualmente ativa, introduzindo assim uma discriminação a mais, que elas dizem combater.

Segundo motivo: em nome da liberdade de decisão da mulher prejudica-se as próprias mulheres que praticam o aborto. O aborto, mesmo em caso de violência sexual e praticado nas melhores condições de assistência médica, é sempre prejudicial para a saúde psíquica da mulher, constituindo-se numa derrota de sua auto-estima, e ela carregará este trauma pelo resto da vida. Estatísticas de atestados de óbito mostram como, dentro do prazo de um ano do parto ou do aborto provocado, o número de suicídios das mulheres que provocaram o aborto é sete vezes maior do que o número de suicídios de mulheres que deram à luz. Que ajuda é esta que as feministas querem dar às mulheres, quando a própria psiquiatria moderna, alemã e italiana, aconselha para o bem estar psíquico da mulher a não interromper a gravidez, mesmo em caso de violência sexual?

Não corresponde à verdade. De fato se fala de milhares de mulheres que morrem em conseqüência do aborto mal feito, quando o Ministério da Saúde registrou nos últimos anos uma diminuição constante destas mortes, de 198 em 1995 descendo para 115 em 2002 [Nota do Blog: http://contra-o-aborto.blogspot.com/2010/07/muitos-aplausos-e-uma-correcao.html]. Não é verdade que a descriminalização do aborto é causa direta da diminuição das mortes maternas. Causa direta desta diminuição é a assistência à gravidez ao parto e ao puerpério. De fato, Chile, Costa Rica e Uruguai, onde o aborto é proibido, tem uma mortalidade materna inferior à de Cuba, onde morrem 33 mulheres a cada 100.000 nascidos vivos e onde o aborto é legalizado há mais de trinta anos. Assim também Portugal, Irlanda e Polônia, onde o aborto é proibido, tem mortalidade materna inferior à dos EUA e da Inglaterra, onde o aborto é legalizado há muitos anos.

Mas a parte pior da moção em questão é que se exige que os parlamentares do PT (ao todo 14), que integram a Frente Parlamentar em Defesa da Vida - Contra o Aborto, retirem seu nome desse movimento. Aí aparece o rosto autoritário do PT, que respeita a liberdade de consciência quando esta não vai contra os planos do partido (pode-se votar contra o aborto quando o voto não muda os projetos do partido mas nunca quando este voto poderia prejudicar os planos partidários).

De fato, nenhum membro do PT ousou apresentar, até hoje, um projeto de lei que proíba o aborto ou que fortaleça a família. Concluindo, fazemos nossas as considerações que apareceram num estudo publicado em 2002 no site do Provida Família de Brasília: abortistas encontramos em todos os partidos da direita e da esquerda.

A diferença é que os demais partidos têm abortistas, enquanto o PT é abortista.

Sendo esta a posição do PT, é bom lembrar a recomendação do Apocalipse aos cristãos que moravam em Babilônia (ou seja em Roma):

"Saí dela (no nosso caso dele), ó meu povo, para que não sejais cúmplices dos seus pecados (no nosso caso do desrespeito à vida e aos direitos humanos fundamentais, entre os quais o respeito à liberdade de consciência)" (Ap 18,4).

Fazemos votos que, em se tratando de uma moção, a direção do partido corrija os absurdos nela contidos e, de qualquer forma, parabenizamos os 14 deputados petistas, que integram a Frente Parlamentar em Defesa da Vida e Contra o Aborto, pela sua coerência e coragem.

Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
(Publicado na segunda-feira 19 de julho, no site da CNBB, mas retirado do ar).

Com esta frase Jesus definiu bem a autonomia e o respeito, que deve haver entre a política (César) e a religião (Deus). Por isto a Igreja não se posiciona nem faz campanha a favor de nenhum partido ou candidato, mas faz parte da sua missão zelar para que o que é de "Deus" não seja manipulado ou usurpado por "César" e vice-versa.

Quando acontece essa usurpação ou manipulação é dever da Igreja intervir convidando a não votar em partido ou candidato que torne perigosa a liberdade religiosa e de consciência ou desrespeito à vida humana e aos valores da família, pois tudo isso é de Deus e não de César. Vice-versa extrapola da missão da Igreja querer dominar ou substituir-se ao estado, pois neste caso ela estaria usurpando o que é de César e não de Deus. Já na campanha eleitoral de 1996, denunciei um candidato que ofendeu pública e comprovadamente a Igreja, pois esta atitude foi uma usurpação por parte de César daquilo que é de Deus, ou seja o respeito à liberdade religiosa.

Na atual conjuntura política o Partido dos Trabalhadores (PT) através de seu IIIº e IVº Congressos Nacionais (2007 e 2010 respectivamente), ratificando o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) através da punição dos deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, por serem defensores da vida, se posicionou pública e abertamente a favor da legalização do aborto, contra os valores da família e contra a liberdade de consciência.

Na condição de Bispo Diocesano, como responsável pela defesa da fé, da moral e dos princípios fundamentais da lei natural que - por serem naturais procedem do próprio Deus e por isso atingem a todos os homens - denunciamos e condenamos como contrárias às leis de Deus todas as formas de atentado contra a vida, dom de Deus, como o suicídio, o homicídio assim como o aborto pelo qual, criminosa e covardemente, tira-se a vida de um ser humano, completamente incapaz de se defender.

A liberação do aborto que vem sendo discutida e aprovada por alguns políticos não pode ser aceita por quem se diz cristão ou católico. Já afirmamos muitas vezes e agora repetimos: não temos partido político, mas não podemos deixar de condenar a legalização do aborto. (confira-se Ex. 20,13; MT 5,21).

Isto posto, recomendamos a todos verdadeiros cristãos e verdadeiros católicos a que não dêem seu voto à Senhora Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam tais "liberações", independentemente do partido a que pertençam.

Evangelizar é nossa responsabilidade, o que implica anunciar a verdade e denunciar o erro, procurando, dentro desses princípios, o melhor para o Brasil e nossos irmãos brasileiros e não é contrariando o Evangelho que podemos contar com as bênçãos de Deus e proteção de nossa Mãe e Padroeira, a Imaculada Conceição.

Bispo de Guarulhos manifesta que os católicos não deveriam votar por Dilma Roussef‏.

O bispo de Guarulhos (SP), Dom Luiz Gonzaga Bergonzini afirmou que não recuará e levará sua manifestação de veto à presidenciável às missas e celebrações das 37 paróquias da cidade em uma recente entrevista ao jornal A Folha de São Paulo. Dom Bergonzini considera o PT favorável à descriminalização do aborto (e é) e divulgou um artigo recomendando que os católicos não votem pela candidata petista.

Na sua entrevista à Folha, o bispo de 74 anos, diz não ter nada pessoal contra a candidata, que negou que ela ou o presidente Lula sejam a favor do aborto. Abaixo reproduzimos os trechos mais destacados da entrevista feita à Folha.

Folha - Mesmo com a recomendação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pela neutralidade na campanha, o senhor decidiu explicitar sua posição contrária à candidata Dilma Rousseff. Por quê?

D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Em primeiro ligar, que recomendação é essa? A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre os bispos. Eu segui a voz da minha consciência. Sou cristão de verdade e defendo o mandamento "não matarás". Não tem esse negócio de "meio termo".

Folha - A candidata afirma que não defende a descriminalização do aborto. Mesmo assim, o senhor cita o nome dela no artigo.

D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Ela [Dilma] segue o partido, ela é a candidata. Então eu vou matar a cobra na cabeça. Pessoalmente não tenho nada contra ela. Mas o direito à vida é o maior direito humano. O aborto é atitude covarde e criminosa. Eu não arredo o pé, não.

Folha - Como o senhor concluiu que ela tem essa posição?

Isso nunca ficou claro e ela nega. É o terceiro plano de governo que ela adota. Como percebeu que havia reação, foi mudando. Não vou recuar.

Folha - O senhor pretende levar ao conhecimento dos fiéis da diocese essa recomendação de não votar na candidata Dilma?

D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Os padres devem notificar ao povo a orientação do bispo. Eu não vou arredar o pé, não importa as consequências que eu venha sofrer, mas o que importa é minha consciência e seguir o Evangelho. Eu não tenho medo. O que pode acontecer? Deus saberá.

Folha - Inclusive nas missas, os padres vão tratar do tema? Vão citar o nome da candidata?

D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Tratar do tema, não. Podem citar o nome dela, porque vou mandar uma carta para os padres notificarem as pessoas da minha recomendação nas missas. Como cidadão, tenho direito de expressar minha opinião e, como bispo, tenho a obrigação de orientar os fiéis.

Folha - O senhor teme algum tipo de retaliação ou reação negativa, seja por parte da CNBB ou de partidários da candidata Dilma?

D. Luiz Gonzaga Bergonzini - Sempre tem alguma coisa. Tenho recebido muitos e-mails. Não sei se são ameaças, mas contestando. Mas posso te dizer que muitos de apoio. As pessoas dizem: "finalmente alguém que usa calça comprida resolveu reagir".

Os três inimigos do homem.

O evangelho de hoje quer nos relatar o que é o dia a dia da vida cristã, neste mundo que precisamos combater com o mal. De onde veio o mal, esta maldade toda que vemos no mundo? Jesus na primeira frase esclarece “O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo." (Mateus 13,24). O mundo que Deus criou é bom. Deus semeou bondade, nós vemos na primeira página de Gênesis, Deus viu que era bom, Deus olhou para o homem e viu que era muito bom. Somos bons, criados por Deus, mas Jesus não para por ai “Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora.”(Mateus 13,25), o mal entra enquanto dormimos.

O inimigo do homem são três: o inimigo, o mundo e a carne.

O homem veio e semeou o joio e o dono do campo, disse deixa crescer juntos. Não temos ideia, pois nosso país cria muito pouco o trigo. O joio é um vegetal parecido com o trigo, são muitos parecidos, mas um determinado momento eles se diferenciam, o trigo tem um grão pesado e ele se dobra, o joio não, fica sempre em pé. O trigo é um pouco marrom e o joio é preto, e então percebemos a diferença. O joio tem uma semente que é tóxica, se o agricultor coloca os dois para fazer a farinha, quem consome, pode diversas reações. Jesus sabia de agricultura e estava falando com quem tinha conhecimento disso e usou desta parábola, e Jesus fala que só devemos separar o joio quando eles tiverem grande, quando conseguirmos perceber a diferença.
Durante toda a sua vida, você terá que conviver com o joio, não existe nenhuma forma de extirparmos a maldade do mundo, antes da vitória de Deus, no juízo final. Até isso teremos que aprender a conviver, lutando contra ela, sem querer eliminá-la, pois não tem como separar antes do juízo final. Temos que lutar contra o mal, sabendo que ele existirá sempre.

O nazismo queria acabar com o mal, eles identificava que a maldade estava nos judeus, e em quem seguia suas ideologias por isso Hitler mandou milhões de judeus e cristãos para o campo de concentração, ele queria extirpar o mal e por isso matou muitos.

O comunismo, matou muito mais que Hitler. Mais ou menos 100 milhões de pessoas, que a loucura do comunismo matou, com a desculpa de acabar com o mal, de fazer uma sociedade perfeita.

Nós cristãos sabemos que não podemos esperar o mundo perfeito.

O papa Bento XVI diz: “neste mundo o que podemos esperar é de termos força para acabar com o mal dentro de nós até os últimos dias”.

Os revolucionários querem fazer um mundo sem males, e matam milhões. As nossas democracias matam 46 milhões de crianças todos os anos. Que Deus afaste esta desgraça que é o aborto do nosso país. Esta é a mentalidade revolucionária para acabar com o mal: basta matar. O conforto vale mais que uma vida, por isso abortam crianças. Não estou dizendo isso para incriminar pessoas, mas para levá-las a conversão.

Nós cristãos acreditamos que o combate do mal acontece sobretudo dentro de nós. Os revolucionários acham que o mal é o sistema, é a ideologia da Igreja Católica, dos judeus. Nós cremos que o mal está sobretudo dentro de nós, e é dentro de mim, que devo combater o mal, a maldade e não querer mudar o mundo e continuar sendo egoísta.

O inimigo que semeia o joio é diabo, o mundo e a carne, segundo São João da Cruz. O diabo é espírito, mas as pessoas colocaram na cabeça que a Igreja Católica é contra o corpo, não somos contra o corpo, o mal é uma realidade espiritual em primeiro lugar. Quem inventou o mal é um espírito puro, o diabo, e seduziu nossos primeiros pais para o mal. Saiba que nós somos a única criatura que caminha no planeta terra, que é capaz de desobedecer a Deus, a vaca, as árvores não são capazes de desobedecer a Deus. Deus nos deu essa capacidade pois queria filhos livres para amá-lo. Nós somos livres para amá-Lo e desobedecê-Lo. É uma alegria ver a liberdade de um jovem que ama a Deus, que se entrega a Deus. No início essa entrega é cheia de flores, mas é na fidelidade que vamos caminhando para Deus. É uma alegria vermos como a fidelidade com que monsenhor Jonas se entrega a Deus, e como ele milhares de sacerdotes vivem essa entrega, mas os meios de comunicação só se lembram dos judas, dos infelizes gatos pingados que traíram a Deus e a Igreja.

O segundo inimigo: é o mundo, que na na linguagem da bíblia é a parte que rejeitaram a Deus, um mundo não criado por Deus.

O terceiro inimigo: é a carne, na linguagem da bíblia, a carne não é o corpo, o corpo não é mal, é bom, é criação de Deus, carne é o homem que se afastou de Deus. Dentro de você existe carne, existe uma pessoa que não está convertida, dentro de nós ainda há território de missão, que precisa ser evangelizada, e essa luta existirá enquanto tivermos vida. Por isso Jesus diz: “não arranque o joio”, as coisas ainda não estão decididas enquanto não se decide.

A Igreja nunca canonizou uma pessoa viva, pois a santidade consiste em santificação, é uma luta a vida do homem na terra, vamos lutar todos os dias, por isso existe PHN, vamos dizendo todos os dias por hoje não, é uma luta diária. Nenhum dos santos deixaram de lutar, até o último momento eles lutaram.

Neste mundo temos que esperar ter força moral, para lutarmos contra o mal dentro de nós. Em nós existe uma bondade que vem Deus, mas existe também o mal.

O mundo com suas ideologias vê que você está insatisfeito com o mal. Sabemos que existe o mal, o problema não está em constatar o mal, mas saber qual é a raiz do mal. Tem gente que fala que o Brasil é mal porque é católico demais, não é isso. O mundo é mal, porque existe uma maldade dentro de mim, que precisa ser combatida. Nós temos uma tendência enorme em olhar para causa das maldades fora de nós.

Dentro de nós existe um filho de Deus e um “filho da mãe”.

Enquanto tivermos neste mundo, temos que conviver com os dois, lutando para que este “filho da mãe” morra. Na linguagem bíblica, é o homem novo e o homem velho, mas este homem velho tem um saúde de ferro, por isso prefiro chamar de “filho da mãe”.
Dentro de nós cresce o trigo e o joio, mas só no final poderemos falar o que somos, se somos trigo ou joio, não se precipite. Enquanto tivermos o hoje, precisamos lutar, peça para Deus a força. Te daremos um método bem simples para você viver o PHN, existe uma escola, confissão e comunhão diária e no meio delas tem a adoração. Essa é a escola. O caminho que precisamos trilhar de santificação não é com nossas pernas, não dizemos PHN porque temos a força. Não temos a força, temos a graça de Deus. Eu tenho a graça de me ajoelhar diante do meu confessor, é uma graça ouvir, eu te absolvo dos teus pecados. É uma graça termos padres. Nós amamos os padres, pois sabemos que não podemos viver sem ter sacerdotes, sem ter a Eucaristia. É natural do cristão amar os padres.

Transcrição e adaptação: Regiane Calixto

Padre Paulo Ricardo
http://www.padrepauloricardo.org/

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Governo Lula propõe despenalizar aborto na América Latina.

O Movimento em Defesa da Vida (MDV) no Brasil, denunciou a intenção do Governo Lula de propor a despenalização do aborto em todos os países da América Latina, através de um documento chamado "Consenso de Brasília".

"No mais completo silêncio midiático, o governo brasileiro, em conjunto com a ONU, acaba de desfechar um novo e duro golpe contra o direito fundamental à vida", indicam fontes do MDV.

Através da Secretaria de Políticas para as Mulheres, encabeçada pela Ministra Nilcéia Freire, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acaba de assinar um documento, no âmbito do direito internacional, que propõe para todos os governos da América Latina, inclusive o Brasil, a completa legalização do aborto.

O documento foi aprovado na sexta feira, dia 16 de julho de 2010, em Brasília, por ocasião da conclusão da XI Conferencia Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, promovida pela CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe da ONU) em conjunto com a Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo Lula, e realizada em Brasília entre 12 e 16 de julho de 2010.

Ante isso, as fontes pró-vida criticaram que o documento se chame "Consenso de Brasília", pois o texto não representa nenhum consenso "a não ser o das organizações que promovem o aborto e que dominaram completamente o desenrolar do evento, graças a um trabalho cuidadosamente planejado e patrocinado pela Fundação Ford de Nova York, iniciado nos anos 90 e descrito mais adiante no terceiro item desta mensagem. O MDV recordou que a maioria dos brasileiros, assim como os países latino-americanos, são contrários à legalização do aborto".

O "Consenso da Brasilia", indicou o movimento pró-vida, "é também ilegal porque o Brasil, assim como diversos outros países latino americanos, estão comprometidos em virtude de vários tratados internacionais, de caráter vinculante, a reconhecer a personalidade jurídica desde a concepção e a defender a vida humana desde antes do nascimento".

OBS: Os politicos querem por que querem empurrar guela a baixo essa falácia de "saúde publica" para descriminalizar o aborto. É como diz Pe Paulo Ricardo em sua homilia "os revolucionários querem fazer um mundo sem males, e matam milhões. As nossas democracias matam 46 milhões de crianças todos os anos. Que Deus afaste esta desgraça que é o aborto do nosso país. Esta é a mentalidade revolucionária para acabar com o mal: basta matar. O conforto vale mais que uma vida, por isso abortam crianças. Não estou dizendo isso para incriminar pessoas, mas para levá-las a conversão."

No caso de pessoas do mesmo sexo, não temos nenhum "casamento"‏.

Tratando-se de pessoas do mesmo sexo, antes de tudo, não se deveria falar de "casamento".
É o que afirma o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, ao comentar sobre a recente aprovação do “casamento” gay na Argentina, em entrevista ao jornal O São Paulo, dia 20 de junho.

Este conceito, casamento – afirma o arcebispo –, “é consagrado na linguagem e na cultura para indicar a união e o compromisso estável de duas pessoas de sexos diferentes; além disso, ‘casamento’ também tem inquestionável conotação religiosa na linguagem corrente”.

“No caso de pessoas do mesmo sexo, não temos nenhum ‘casamento’. Trata-se de outro tipo de união, acordo ou contrato”, explica o arcebispo.

Segundo Dom Odilo, se deveria falar, “de maneira mais apropriada, de ‘uniões civis’, ou de ‘reconhecimento legal’ de uniões de pessoas do mesmo sexo”.

“Essas uniões não podem ser equiparadas ao casamento entre pessoas de sexos diferentes, do qual decorre uma verdadeira família e também nascem filhos.”

O casamento “tem uma função antropológica e social muito diversa da união de pessoas do mesmo sexo”, afirma o cardeal.

Dom Odilo considera que a maneira como a questão vem sendo tratada “na legislação e nas atitudes culturais que daí decorrem certamente são uma ameaça ao casamento e à família, que deveriam merecer tratamento diferenciado por parte da sociedade e do Estado”.

A família, no sentido tradicional, precisa ser protegida, promovida e favorecida, pois cumpre uma função social e antropológica inquestionável e insubstituível. Sem falar da função religiosa”, afirma.

Cardeal Rivera explica significado de cada linha do Pai Nosso‏.

Primaz do México, Cardeal Norberto Rivera Carreira, refletiu com paroquianos mexicanos sobre a importância de rezar e explicou linha por linha o Pai Nosso. Desde a Catedral Metropolitana, o Cardeal assinalou que "a confiança singela e fiel, e a segurança humilde e alegre, são as disposições próprias de quem reza o Pai Nosso. Orar a Deus nosso Pai deve fazer crescer em nós a consciência de que somos filhos de Deus, deve fazer crescer em nós o desejo de parecer-nos mais ao nosso Pai, deve fortalecer em nós o sentido de fraternidade".

Também explicou que cada um pode dirigir ao céu diversas orações, segundo suas necessidades, mas sem esquecer os conteúdos da oração que Jesus nos ensinou. O Cardeal assinalou que a frase "Pai Nosso" contém a imagem do Pai que tanto amou o mundo e deu o seu único filho e "quando à invocação de Pai, acrescentamos "nosso", estamos saindo de nosso individualismo, estamos reconhecendo em todo homem a mesma dignidade de que nos glorificamos, de sermos filhos de Deus", referiu.

O Arcebispo acrescentou que a expressão "Que está no céu" evoca a "a morada do nosso Pai, o céu, é nossa pátria, nosso destino, porque o Filho desceu do céu para nos fazer subir com Ele, por meio de sua cruz e sua ressurreição".

Assinalou que quando dizemos "Santificado seja o vosso nome" pedimos a Deus "que sua santidade se manifeste nos homens, que vença o pecado do mundo, que sua luz dissipe as trevas do mal e seu esplendor apareça com maior claridade para que todos os homens o reconheçam".

Sobre a prece "Venha a nós o vosso Reino", o Cardeal Rivera recordou que "o Reino de Deus é Justiça e paz e gozo no Espírito Santo" e que os cristãos estão comprometidos a trabalhar intensamente para que os valores do Reino de Deus sejam vividos no mundo.

Ao refletir sobre o "Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu" o Cardeal disse que "nós somos radicalmente impotentes para cumprir a vontade do Pai, por isso devemos pedir ao nosso Pai que una nossa vontade à de seu Filho para poder cumprir seus intuitos. Unidos a Jesus e com o poder de seu Espírito poderemos fazer a vontade do Pai".

Ao chegar à parte onde Jesus diz "dai-nos hoje o nosso pão de cada dia", o Arcebispo Primaz do México, denunciou o drama da fome no mundo e chamou os cristãos a uma responsabilidade efetiva para seus irmãos.

O prelado recordou que ao dizer "perdoai-nos as nossas ofensas como também nós perdoamos aos que nos ofendem", o cristão deve recordar que a misericórdia não pode penetrar em nosso coração até que tenhamos perdoado os que nos ofenderam e que ao negar-se a perdoar os nossos irmãos e irmãs, o coração se fecha, sua dureza o faz impermeável ao amor misericordioso do Pai.

Sobre a petição de "não nos deixeis cair em tentação", o arcebispo assinalou que a vitória sobre a tentação só é possível mediante a oração e da última petição "Mas livrai-nos do mal", explicou que designa a uma pessoa: "Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus" por quem o pecado e a morte entraram em mundo e asseverou que só poderemos assegurar a vitória sobre ele "se nos unirmos em Jesus Cristo" porque Ele venceu definitivamente o Inimigo com sua morte e ressurreição.

Cardeal Norberto Rivera Carreira
Arcebispo Primaz do México

terça-feira, 27 de julho de 2010

Juíza argentina se nega a casar gays mesmo que "custe sua prória vida".

Uma juíza de paz argentina afirmou nesta sexta-feira que jamais realizará o casamento de casais homossexuais, um dia depois de o Senado aprovar uma lei que autoriza essas uniões.

"Que me acusem do que quiser. Deus me diz uma coisa e eu vou obedecer com todo rigor, mesmo que custe meu posto, e mesmo que me custe a vida, porque primeiro está o que Deus me diz", afirmou Marta Covella, juíza de paz da cidade de General Pico.

"Fui criada lendo a Bíblia e sei o que Deus pensa. Deus ama a todos, mas não aprova as coisas ruins que as pessoas fazem. E uma relação entre homossexuais é uma coisa ruim diante dos olhos de Deus", assinalou ainda.

A Argentina se converteu na madrugada de quinta-feira no primeiro país da América Latina a autorizar o casamento entre homossexuais, com uma histórica e longa votação no Senado.

A lei foi aprovada com 33 votos a favor, 27 contra e 3 abstenções, depois de uma sessão que durou mais de 13 horas e apesar da oposição da Igreja católica, que liderou uma intensa mobilização social para impedir a aprovação do projeto.A iniciativa, apoiada pelo governo peronista da presidente Cristina Kirchner, acabou por aprovar a lei que autoriza os "casamentos" gays, fazendo com que a Argentina se converta no décimo país a aprovar este tipo de lei no mundo, depois da Holanda, Bélgica, Espanha, Canadá, África do Sul, Noruega, Suécia, Portugal e Islândia. A nova legislação visa a reformar o Código Civil mudando a fórmula de "marido e mulher" pelo termo "contraentes" e prevê igualar os direitos dos casais homossexuais com os dos heterossexuais, incluindo os direitos de adoção, herança e benefícios sociais. A Igreja, por sua vez, lançou na última semana uma forte ofensiva contra a lei e mobilizou na terça-feira milhares de seus fieis para pressionar contra sua aprovação.

A Santa Missa é muito mais que uma reunião fraterna.

Quando a Liturgia se corrompe, toda a vida cristã corre perigo de se corromper.

A Liturgia é a oração oficial da Igreja, do povo de Deus, do Corpo Místico de Cristo.

Nela [Liturgia], é o próprio Jesus, junto com todos os que estão unidos a Ele pelos laços da fé, do batismo e do Espírito Santo, que se apresenta ao Pai em sacrifício de salvação do mundo inteiro; que ora ao Pai, que lhe oferece louvor, adoração, agradecimento, pedido de perdão, pedido de ajuda…

O centro da Liturgia é JESUS. Ela não é – não pode ser! – propriedade particular de nenhum celebrante, de nenhuma comunidade, de nenhum grupo de fiéis, de ninguém: cabe à Igreja – e só à Igreja – organizá-la, modificá-la, aperfeiçoá-la.

Infelizmente, em nome de uma criatividade mal entendida (e de um Concílio Vaticano II mal interpretado), a Liturgia tem sido, muitas vezes, manipulada a bel-prazer. Indo muito além da liberdade de ação que ela própria permite, tem-se visto de tudo em algumas celebrações litúrgicas. O fato é que quando as pessoas se permitem certas liberdades no campo da Liturgia, violando suas normas e seus limites, as mesmas atitudes, aos poucos, vão sendo permitidas em outros campos da vida cristã, ou seja, na moral, nos mandamentos, na doutrina e por aí afora. Dessa forma, tudo fica relativo, isto é, tudo depende do ponto de vista de cada um e cada um faz “do jeito que gosta”.

Corrompida a Liturgia, corrompe-se também a vida cristã e eclesial.

Sem entrar em detalhes, a Liturgia – sempre! – deve pôr em seu centro JESUS, Sua Vida, Sua Palavra, Sua morte, Sua Ressurreição, Sua Presença no meio de nós. Nesse sentido, não é a comunidade o centro da Liturgia, menos ainda o celebrante. A comunidade e o celebrante se reúnem em torno do Senhor. É a Ele que deve ser orientada a participação da comunidade e a ação do celebrante, e este deve ter a consciência e a humildade de não pretender ser o centro das atenções; deve rejeitar todo tipo de exibicionismo. Pelo contrário, a fé e a devoção do celebrante devem dar o tom da celebração. A comunidade precisa ser informada e formada para que sua participação não se torne um festival, no qual há muita alegria e participação, mas onde falta o silêncio, a concentração, a atenção à Palavra de Deus, o respeito pelo Corpo e Sangue de Cristo. Sobre este ponto, no dia 15 de abril de 2010, ao receber em audiência os bispos do Regional Norte 2 da CNBB, o Papa Bento XVI dirigiu-lhes palavras muito oportunas. É bom que você conheça as passagens principais e compreenda sua importância para que uma Celebração Eucarística seja autêntica.

“Sinto que o centro e a fonte permanente do ministério do Papa estão na Eucaristia, coração da vida cristã, fonte e vértice da missão evangelizadora da Igreja. Podeis assim compreender a preocupação do Sucessor de Pedro por tudo o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica: hoje Jesus Cristo continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice consagrados. Uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor”.

“Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber. É óbvio que, neste caso, receber não significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá acontece, mas cooperar – porque tornados capazes de o fazer pela graça de Deus – segundo «a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (Const. Sacrosanctum Concilium, 2)”.

“Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora. Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)”!

“O mistério eucarístico é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambiguidades e reduções», particularmente quando, «despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa» (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10).

“O culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. «A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» (Exort. ap. Sacramentum caritatis, 14). A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro”.

Até aqui foram as palavras de Bento XVI. Reflita um pouco sobre elas. Pelo que depender de você, ponha no centro da Liturgia, em particular da Eucaristia, o próprio Jesus e, junto com sua comunidade, volte-se para Ele e permita que Ele tome conta de sua vida. Não faça da Liturgia um laboratório de experiências, que só na aparência seriam pastorais.

Respeite a Liturgia tal como a Igreja propõe: respeitar a Liturgia, em particular a Eucaristia, é respeitar a oração do próprio Jesus.

Faça da Eucaristia, celebrada e participada com fé, devoção e respeito, como o “fogo da lareira” que aquece toda a sua vida de discípulo/a de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sem Eucaristia, o mundo iria de mal a pior, pois a Eucaristia é Jesus. E Jesus é o único que pode salvar o mundo.

Dom Hilário Moser, SDB
Bispo emérito da Diocese de Tubarão (SC). Doutor em Teologia Dogmática pela Pontificia Università Salesiana, de Roma, lecionou por vários anos no Instituto Teológico Pio XI, de São Paulo. Foi membro da Comisão Episcopal de doutrina da CNBB.

O segredo do professor Ratzinger‏.

Como leitura para os momentos de descanso, escolhi “Ratzinger professor”, de Gianni Valente. Um texto verdadeiramente interessante para conhecer o Papa Joseph Ratzinger em seus anos de juventude, e assim compreeender melhor seu pontificado hoje. Seria impossível sintetizar em um espaço tão reduzido toda a riqueza desta reconstrução da juventude e maturidade do homem que o Senhor Jesus escolheu como seu Vigário na terra para nosso tempo. Mas gostaria de destacar apenas dois pontos que evidenciam a coerência de Joseph Ratzinger, desde os tempos de sua juventude quando estudante e sacerdote até os dias de hoje, como Pontífice da Igreja universal.

Primeiramente:

A lectio magistralis proferida em 24 de junho de 1959, no início de sua carreira como docente na Universidade de Bonn, tinha por título O Deus da fé e o Deus dos filósofos. A “questão urgente” apresentada pelo jovem professor de 32 anos referia-se ao divórcio moderno entre fé e razão, entre uma religião confinada ao campo pessoal e privado, ínitimo e sentimental, e a busca racional que, desede Kant, renega toda possibilidade de conhecer ou ter acesso a Deus.
Citando São Tomás, Ratzinger afirma que é possível superar toda contraposição deletéria entre a linguagem da fé e a linguagem da razão. O Deus que gradualmente se manifesta no Antigo e no Novo Testamento coincide, ao menos em parte, com o “Deus dos filósofos”, isto é, com a concepção que os homens têm de Deus. O problema é de linguagem. Os Padres da Igreja fizeram uma notável síntese da fé bíblica e do espírito helênico. Do mesmo modo, escreve o jovem Raztinger, “se (hoje) é essencial, para a mensagem cristã, ser não uma doutrina esotérica em busca de iniciados, mas a mensagem de Deus dirigida a todos, então é essencial, para tal, traduzi-la também na linguagem comum da razão humana”. O jovem sacerdote e professor alemão não se permitia iludir. Em um artigo publicado em 1958, Ratzinger escreve que considerar a Europa um continente “predominantemente cristão” é um “erro estatístico”:

“Esta Europa, cristã no nome, é berço há mais de 400 anos de um novo paganismo, que cresce sem encontrar oposição no próprio coração da Igreja, e ameaça demoli-la de dentro”.

A Igreja Católica do pós-guerra parece ter se tornado “cada vez mais, e de uma maneira totalmente nova, Igreja de pagãos. Não mais, como em outros tempos, Igreja de pagãos tornados cristãos, mas sim a Igreja de pagãos que se dizem ainda cristãos, mas que na verdade se tornaram pagãos”.

O segundo ponto:

É a profundidade de penasmento aliada à clareza do professor Ratzinger ao ensinar teologia, que o torna muito popular entre os estudantes. Em tempos em que os “barões das cátedras” com frequência falavam em linguagem difícil e não se preocupavam em se fazer compreender pelos estudantes, Ratzinger introduzia uma nova maneira de lecionar: “Lia as aulas na cozinha para sua irmã Maria, pessoa inteligente mas que jamais havia estudado teologia. Se sua irmã manifestava aprovação, era sinal de que aula estava boa”, conta o biógrafo em seu livro.

E um estudante daquele tempo acrescenta:

“A sala estava sempre lotada, os estudantes o adoravam. Tinha uma linguagem bela e simples. A linguagem de um fiel. Ratzinger não fazia exibições de erudição acadêmica nem usava o tom oratório habitual da época. Expunha sua lições de modo claro, com uma linguagem de límpida simplicidade, mesmo ao abordar as questões mais complexas."

Muitos anos mais tarde, o próprio Ratzinger explicava o segredo do sucesso de suas aulas:

“Nunca tentei criar um sistema meu, uma teologia minha particular. Falando mais especificamente, trata-se simplesmente do fato de que eu me propunha a pensar com a Igreja, e isto significa, principalmente, com os grandes pensadores da fé”.

Os estudantes precebiam, através de suas lições, que não estavam apenas a receber noções de conhecimentos acadêmicos, mas que entravam em contato com algo realmente grande, com o âmago da fé cristã. Era este o segredo do jovem professor de teologia, que tanto atraía os estudantes.

Pe. Piero Gheddo - www.gheddopiero.it - Editor de Mondo e Missione e Italia Missionaria, é um dos fundadores da agência Asia News (1986). Como missionário, esteve em todos os continentes e é autor de mais de 80 livros. Foi diretor do Departamento Histórico do Pime em Roma e postulador de diversas causas de canonização. Hoje vive em Milão.

O Ano Sacerdotal e a batalha.

Creio na Igreja Católica...

Quando em 2009 o Papa Bento XVI proclamou o Ano Sacerdotal, exortando a todos os fieis que orassem pela santificação dos sacerdotes, estava declarando uma verdadeira guerra ao Inferno. Afinal, foi o próprio Senhor Jesus quem recordou ao primeiro Papa que as forças do inferno não poderão vencer a Igreja (cf. Mt 16, 18). Se esta certeza da vitória final da Igreja nos enche o coração de esperança, também nos serve de alerta. Enquanto estivermos neste mundo haverá combate. E neste combate é importante compreendermos a estratégia do inimigo. Digo isto porque, o Inimigo não é estúpido. Muito pelo contrário, é inteligente e utiliza a sua inteligência e todas as suas forças para seu objetivo principal que é destruir a Igreja. E isto já estava previsto na profecia: "porei inimizade entre ti e a mulher" (Gn 3, 15). Mas é bom lembrar que, quando se trata de uma luta de vida e morte, todo lutador procura atingir o adversário em um de seus pontos vitais. Se existe a possibilidade de se atingir o inimigo com um tiro na cabeça ou no coração, porque desperdiçar munição atirando em seus pés? Ora, Satanás sabe perfeitamente qual é o ponto vital da Igreja: a Eucaristia. A Igreja vive da Eucaristia - Ecclesia de Eucharistia. Se é assim, compreende-se imediatamente a importância vital do sacerdócio. Tentando destruir o sacerdócio católico e declarando guerra aberta aos nossos padres, o demônio está tentando destruir a Igreja, atingindo-lhe o coração. Sem sacerdotes não há Eucaristia, sem Eucaristia não há Igreja.Não nos deixemos enganar. A guerra midiática travada contra a Igreja ao redor dos escândalos sexuais de alguns sacerdotes não é uma batalha pela moralidade, nem uma preocupação com a castidade dos menores envolvidos. Em toda esta crise é o Santo Padre que tem manifestado enfaticamente a sua solidariedade às vítimas de abusos sexuais e tem dado orientações claras de que não devemos encobrir estes pecados vergonhosos. É extremamente significativo que as mesmas pessoas que rasgam as vestes diante dos escândalos sexuais de padres, não façam nada para tutelar a pureza dos menores. Mas, ao contrário, apoiam a distribuição gratuita de camisinhas e lubrificantes sexuais aos nossos filhos, nas escolas públicas e em postos de saúde. Trata-se da mesma corja que patrocina programas de deseducação sexual em tvs abertas e alardeia como "direitos sexuais" as depravações da moda. Não posso crer que estes lobos ferozes, que em sua maioria leva uma vida muito distante da castidade cristã, tenham se transformado milagrosa e repentinamente em uma legião de anjos da guarda, que zelam pela pureza de nossos filhos. Diria que mais se parecem com aqueles abutres que rodeiam um animal ferido e que fazem o possível para lhe abreviar a agonia para tirar proveito, o quanto antes, de sua carcaça. E a vítima, quem é? Um punhado de padres pedófilos? Não, mas sim o sacerdócio católico. Não nos iludamos. Esta reação em massa não se explica apenas como um empreendimento humano. São Paulo nos lembra que não é contra a carne e contra o sangue que lutamos, mas contra espíritos malignos espalhados pelo espaço (cf. Ef 6, 12). A raiz do problema é portanto espiritual. E, se é assim, qual deve ser a nossa reação espiritual? Precisamos crer mais fortemente no sacerdócio católico; rezar e oferecer sacrifícios pela conversão e santificação dos sacerdotes, não somente neste ano sacerdotal, mas sempre. Precisamos nos dar conta da grandeza do sacerdócio e da fragilidade de nossos sacerdotes. A grandeza do sacerdócio nos leva a considerar humildemente o quanto dependemos destes ministros do Senhor. Sem eles não temos as duas coisas mais importantes que podemos fazer em nossa vida espiritual: receber o perdão dos pecados e a eucaristia. Esta grandeza do sacerdócio me leva a ser ousado e a professar minha fé neste grande dom de Deus. Já disse várias vezes, e algumas pessoas se escandalizaram com isto, que se na hora de minha morte eu tivesse de escolher entre ter ao meu lado a Virgem Imaculada e um sacerdote imundo e criminoso, eu preferiria ter o sacerdote. E a razão é muito simples. Nossa Senhora é maior e mais santa do que aquele padre miserável, mas não sendo sacerdote, ela não pode me dar os últimos sacramentos e o perdão de meus pecados.
O sacerdote pode. Por felicidade nossa, porém, nós católicos não precisamos fazer esta escolha. Podemos ter em nosso leito de morte, ao mesmo tempo, nossa Mãe santíssima e um sacerdote que, esperemos, esteja trilhando o caminho da santidade e da virtude. Como uma arma neste combate, Deus nos presenteou com o Papa certo, na hora certa. Ele não é apenas um grande teólogo, mas também um homem espiritual que sabe com que armas a Igreja pode lutar. A Igreja não vive de reuniões, marketing e estratégias. A Igreja vive da Eucaristia. E os sacerdotes são os instrumentos de Deus que nos fazem entrar nesta vida. Ao convocar um ano sacerdotal para a santificação dos sacerdotes, o Santo Padre o Papa se colocou na linha de frente de uma grande batalha espiritual. Por isto, recordemo-nos também de rezar e oferecer sacrifícios por este grande homem de Deus, o Papa Bento XVI. Que o Senhor o conforte nesta grande batalha espiritual e lhe dê a certeza de que não está sozinho, mas cercado de uma multidão de irmãos (cf. Rm 8,29).

Pe Paulo Ricardo de Azevedo Jr - Vigário Júdicical da Aquidiocese de Cuiabá / MT e membro do COINCAT (Conselho Internacional para a Catequese do Vaticano).

terça-feira, 6 de julho de 2010

PAPA: "ORAÇÃO NÃO ALIENA, MAS LIBERTA".

Após a missa presidida na praça “Garibaldi” de Sulmona, o Pontífice visitou o centro pastoral diocesano que abriga a “Casa sacerdotal”, estrutura para sacerdotes doentes e anciãos recém-reformada e inaugurada hoje por Bento XVI, de quem recebe o nome.
Nesta residência, o Papa almoçou com os bispos do regional Abruzos-Molise.
Ali também saudou os membros do comitê organizador da visita e se encontrou com uma comitiva de guardas e detentos do cárcere de Sulmona, acompanhados pelo diretor e o capelão. Logo após, às 17h, Bento XVI foi a Catedral de São Pânfilo, Bispo de Sulmona no século VII, padroeiro da cidade, para um encontro com os jovens da diocese. Chegando ao templo, o Papa se deteve em adoração diante do Santíssimo Sacramento.
O Bispo Angelo Spina fez um discurso, e sucessivamente, dois jovens saudaram o Pontífice em nome do grupo. Bento XVI agradeceu e elogiou a memória dos jovens, que lhe falaram dos 25 anos da Jornada Mundial da Juventude e da atualidade de São Celestino V.

Das palavras proferidas pelos jovens, o Papa ressaltou um aspecto positivo e outro negativo:

O primeiro - é a sua visão cristã da vida, resultado da educação recebida da família e dos educadores.

O negativo - são as sombras que escurecem seu horizonte: problemas concretos que dificultam as perspectivas de um futuro sereno e otimista; assim como falsos valores e modelos ilusórios que ao invés de preencher a vida, a esvaziam.

Para encorajá-los, Bento XVI usou uma expressão jovem, dizendo-lhes que têm “uma marcha a mais”, por conservarem fortes suas raízes históricas e fazerem delas a sua “mestra de vida”.

“O cristão – disse o papa – tem boa memória, ama a história e quer conhecê-la”.

Em seguida, o tema do discurso verteu para o chamado de Deus, a vocação.
Para o Papa, é preciso ensinar o nosso coração a reconhecer o Senhor, a ouvi-lo como pessoa que nos está próxima e nos escuta. Se aprendermos a ouvir esta voz e a segui-la com generosidade, não teremos medo de nada, pois saberemos que Deus é Amigo, Pai e Irmão. Em síntese: o segredo da vocação é a relação com Deus, a oração.

O diálogo com Deus é garantia de verdade e liberdade, e não distrai ninguém da realidade; não aliena, mas defende do orgulho e da presunção, das modas e do conformismo.

“Quem segue Ele, não tem medo de renunciar a si mesmo, pois “a quem tem Deus, nada falta” – como dizia Santa Tereza d’Avila. O Papa convidou os jovens a adentrarem-se no caminho da santidade, que os fará mais criativos ao resolver os problemas da vida, pois o cristão não é individualista. Até a vida solitária de oração e penitência é sempre ao serviço da comunidade, jamais se contrapõe a ela.

“Eremitérios e mosteiros são oásis, fontes de vida espiritual – explicou – e os monges não vivem para si, mas para os outros, para que a Igreja e a sociedade sejam sempre irrigadas de novas energias, de ações do Senhor”.

Enfim, Bento XVI citou Santo Agostinho, que por tanto tempo procurou algo que saciasse sua sede de verdade e felicidade, e no final, entendeu que nosso coração não tem paz até encontrar Deus e nEle repousar. Concluindo, o Papa disse que deixava Sulmona contente, como um pai tranqüilo que vê que seus filhos estão crescendo bem. Pediu-lhes que continuem a amar a Igreja, nos trilhos do Evangelho, e a serem humildes e generosos. Antes de deixar o templo, o Papa desceu à cripta para venerar as relíquias de São Pânfilo e São Celestino V. Da Catedral, Bento XVI se dirigiu ao estádio municipal, de onde partiu de helicóptero rumo à Cidade do Vaticano. Por ocasião da visita de Bento XVI à cidade e à Diocese de Sulmona-Valva, e como expressão concreta de comunhão e afeto, as paróquias, institutos religiosos, movimentos e associações locais promoveram uma coleta com a finalidade de oferecer ao Papa um hospital na África.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Bento XVI aos sacerdotes: celibato antecipa o céu.

O sentido profundo do celibato em um sacerdote é que antecipa a vida plena da ressurreição. Assim respondeu o Papa Bento XVI, no último dia 10 de junho, à pergunta que o eslovaco Karol Miklosko lhe dirigiu em nome dos sacerdotes da Europa. Durante a vigília de encerramento do Ano Sacerdotal, realizada na Praça de São Pedro, o Papa explicou aos milhares de sacerdotes presentes que o celibato sacerdotal, hoje tão questionado, supõe uma consequência da união do "eu" do sacerdote com Cristo.

Isso, afirmou, significa que o sacerdote "é ‘atraído' também à sua realidade de ressuscitado, que seguimos adiante rumo à vida plena da ressurreição, da qual Jesus fala aos saduceus no capítulo 22 de São Mateus: é uma vida ‘nova', na qual já estamos muito além do matrimônio".
"É importante que nos deixemos penetrar novamente por esta identificação do ‘eu' de Cristo conosco, desse ser ‘tirados' e conduzidos ao mundo da ressurreição - prosseguiu.
Neste sentido, o celibato é uma antecipação" do céu.

O problema da cristandade no mundo de hoje, sublinhou o Papa, "é que já não se pensa no futuro de Deus: parece suficiente somente o presente deste mundo. Queremos ter somente este mundo, viver só neste mundo. Assim, fechamos as portas à verdadeira grandeza da nossa existência".

"O sentido do celibato como antecipação do futuro é precisamente abrir estas portas, tornar o mundo maior, mostrar a realidade do futuro que é vivido por nós já como presente. Viver, portanto, como um testemunho da fé: cremos realmente que Deus existe, que Deus tem a ver com a minha vida, que posso fundar minha vida sobre Cristo, sobre a vida futura."

Celibato e matrimônio

Bento XVI reconheceu que, "para o mundo agnóstico, o mundo com o qual Deus não tem nada a ver, o celibato é um grande escândalo, porque mostra precisamente que Deus é considerado e vivido como realidade".

"Com a vida escatológica do celibato, o mundo futuro de Deus entra nas realidades do nosso tempo. E isso deveria desaparecer!"

De certa forma, "pode surpreender esta crítica permanente contra o celibato, em uma época em que está cada vez mais de moda não se casar".

No entanto, "este não se casar é algo total e fundamentalmente diferente do celibato, porque o não se casar se baseia na vontade de viver só para si mesmos, de não aceitar nenhum vínculo definitivo, de ter a vida em todo momento em uma autonomia plena, decidir em cada momento o que fazer, o que aproveitar da vida".

Este "celibato moderno" é um "não" ao vínculo, um "não" à definitividade, "um ter a vida só para si mesmo. Por outro lado, o celibato é precisamente o contrário: é um ‘sim' definitivo, é um deixar-se conduzir por Deus, entregar-se nas mãos do Senhor".

O celibato em um sacerdote "é um ato de fidelidade e de confiança, um ato que supõe também a fidelidade do matrimônio; é precisamente o contrário desse ‘não', dessa autonomia que não quer obrigar-se, que não quer entrar em um vínculo; é precisamente o ‘sim' definitivo que supõe e confirma o ‘sim' definitivo do matrimônio".

Por isso, acrescentou, "o celibato confirma o ‘sim' do matrimônio com seu ‘sim' ao mundo futuro, e assim queremos seguir adiante e tornar presente este escândalo de uma fé que coloca toda a sua existência em Deus".

Este "escândalo da fé", concluiu o Papa, não deve ficar escurecido pelos "escândalos secundários" provocados pelas fraquezas dos sacerdotes.

"O celibato - são precisamente as críticas que mostram isso - é um grande sinal de fé, da presença de Deus no mundo."

A maior de todas as virtudes é a caridade.

Entrevista com o padre Giorgio Maria Carbone, docente de teologia moral.

Para muitos, a ideia de caridade não vai muito além da ação de distribuir esmolas.
Não há dúvida de que toda boa ação de doação para o próximo é meritória, mas, para o cristianismo, a caridade tem um significado muito mais profundo, e deve ser praticada para além da filantropia.

De fato, para a religião cristã, a caridade está intimamente ligada ao amor, à tomada de responsabilidade nas relações com os demais, que implica num comportamento fraterno.
Talvez por essa razão São Paulo tenha indicado a caridade como “a maior e todas” as virtudes.
Tratando deste tema, o padre Giorgio Maria Carbone, frei dominicano e sacerdote, doutor em jurisprudência e teologia, docente de teologia moral junto à Faculdade de Teologia dell’Emilia Romagna, publicou recentemente um livro intitulado Ma la più grande di tutte è la carità (“Mas a maior das virtudes é a caridade” - Edizioni Studio Domenicano).

1 - O que é a caridade?

Padre Carbone: A caridade é, em primeiro lugar, a própria identidade de Deus. É o que nos ensina João: “Deus é amor” (1 Jo 4,16). Nesta passagem, o apóstolo usa a palavra grega ágape, que significa amor gratuito de benevolência. A caridade, assim, significa o amor com qual Deus ama a si próprio, isto é, o amor com qual o Pai ama o Filho, e este amor é o próprio Espírito Santo. A caridade significa também o amor com que Deus ama cada um de nós: e Deus nos ama com o mesmo Amor com o qual se ama, isto é, nos ama no Espírito Santo. É este o significado da oração que Jesus dirige ao Pai antes de ser preso (Jo 17,26): “Manifestei-lhes o teu nome, e ainda hei de lho manifestar, para que o amor com que me amaste [que é o próprio Espírito Santo] esteja neles, e eu neles”. Enfim, a caridade significa também o amor com o qual nós amamos a Deus, a nós mesmos, e ao nosso próximo. Este último é, assim, um amor de resultados, que depende do fato de que Deus é amor e de que Deus nos ama.

2 - O que distingue a caridade cristã do conceito de solidariedade e de outras formas de altruísmo secularizado?

Padre Carbone: O elemento característico que faz a diferença está em sua origem, na fonte e na consciência desta origem. A caridade é a própria natureza de Deus, é o fato de que Deus me ama com o mesmo amor com o qual ama a si mesmo. É justamente o fato de Deus me amar e me envolver em sua dinâmica do amor, que me torno capaz de amar com o mesmo amor: esta é a caridade cristã.
É uma espécie de habilitação que Deus opera em nós: Jesus Cristo, amando-nos, nos faz capazes de também amar com seu coração e seu impulso, com suas motivações e seus fins. Este é o desígnio de salvação pelo qual todo homem e toda mulher é chamado a participar ativamente: um desígnio de amor salvífico que se realiza mediante o amor voluntário, isto é, do amor que se faz doação. É o que diz São Paulo em sua carta aos Efésios. Assim, a caridade encontra sua origem no próprio Deus e nos coloca em conformidade com a vida de Cristo.
A solidariedade, o altruísmo, a benevolência genérica constituem boas disposições do ânimo humano, isto é, constituem autênticas virtudes e podem compelir aos mesmos gestos que nos conduz a caridade. Mas as origens e as metas da solidariedade e do altruísmo são diferentes daqueles da caridade: de fato, a solidariedade nasce da consciência de se pertencer a uma mesma comunidade, partilhando interesses e fins comuns.

3 - Em seu livro, o senhor sustenta que a caridade é a forma de todas as virtudes. Porquê?

Padre Carbone: Dizer que a caridade seja a forma de todas significa que conduz todas as virtudes à mais alta perfeição. Mas é preciso entender bem. Cada virtude humana, como as virtudes cardeais da prudência ou da justiça, aperfeiçoa o homem relativamente a algum aspecto de sua vida. Por exemplo, a virtude da justiça aperfeiçoa minha vontade porque me torna capaz reconhecer e realizar o bem comum e o direito do próximo. Assim, me aperfeiçoa no que se refere às minhas relações sociais interpessoais. A caridade, por sua vez, me relaciona me primeiro lugar com Deus, porque é uma resposta de um amor recebido de Deus; depois, me relaciona comigo mesmo e com meu próximo, pois me torna capaz de amar a mim mesmo e a ele com o mesmo coração e a mesma vontade de Jesus Cristo; e, enfim, me orienta não tanto a buscar algum fim próximo, e sim o fim último e definitivo, que é o próprio Deus.

4 - A fé católica indica a caridade como uma das virtudes teologais. São Paulo sustenta que a caridade é a maior de todas as virtudes. Qual razão desta posição privilegiada?

Padre Carbone: Em parte devido aos motivos que já discutimos, e em parte devido a outras razões que podem ser inferidas a partir da comparação entre as virtudes da caridade e aquelas da fé. Ambas são virtudes teologais, no sentido de que ambas têm Deus como origem: apenas Deus é causa eficiente da fé e da caridade, ninguém pode causá-las em si mesmo; podemos nos dispor a receber estas virtudes, mediante a oração, pela prática da humildade, recebendo os sacramentos, mas não somos nós que damos origem a tais virtudes: é Deus que as doa.
São teologais também porque Deus é seu objeto: com a fé nós conhecemos a Deus e aquilo que Deus diz de si mesmo e da criação; e com a caridade nós amamos a Deus e por Ele somos amados. Mas a diferença é a seguinte: a fé aperfeiçoa a inteligência humana e nos leva a conhecer o próprio Deus. Este processo de conhecer faz uso da linguagem e dos conceitos humanos, e, portanto, de conceitos limitados, finitos, que são, por sua própria natureza, redutores da realidade ilimitada que é Deus. Assim, a fé, enquanto aperfeiçoa a inteligência, tem um limite objetivo: reduz Deus aos limites finitos de nossos conceitos, ainda que possam ser ideias e conceitos contidos na revelação histórico-bíblica. A caridade, ao contrário, aperfeiçoa a vontade, e esta vontade é dirigida à pessoa amada como nela própria. O amor e a vontade comportam um movimento da pessoa que ama à pessoa amada para alcançar esta pessoa em sua própria identidade real, e não por ideias ou conceitos que dela fazemos. Por essa razão, a caridade é também mais excelente que a fé: leva a alegrar-se e amar a Deus por aquilo que é em si mesmo.

Mal-entendidos sobre Bento XVI e a crise dos abusos sexuais.

O que Ratzinger fez perante as denúncias.

As revelações de episódios de abusos sexuais por parte de sacerdotes na Igreja Católica estão atraindo uma atenção sem precedentes sobre o papel do Vaticano e, sobretudo, sobre as ações de Bento XVI. Em meio da cascata de reportagens, existe, contudo, o perigo de que os fatos possam ser obscurecidos pela intensidade das opiniões expressadas.
Um exemplo recente é a notícia da capa da revista Time de 7 de junho. Sobre uma foto do Papa com a cabeça virada, o título era: “Por que ser Papa significa nunca dizer perdão”.

Uma rápida olhada à seção do website do Vaticano dedicada aos abusos sexuais revela, pelo contrário, que em repetidas ocasiões Bento XVI expressou seu pesar pelos abusos de crianças e adolescentes. De fato, o parágrafo 6 da carta do Papa aos católicos da Irlanda de 19 de março diz [às vítimas de abusos e suas famílias]: "Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto".

Para ajudar a esclarecer esses temas, Gregory Erlandson e Matthew Bunson acabaram de publicar um livro chamado: Pope Benedict XVI and the Sexual Abuse Crisis (O Papa Bento XVI e a Crise dos Abusos Sexuais) (Our Sunday Visitor). Os autores sabem bastante sobre o tema. Erlandson é o presidente e editor de Our Sunday Visitor Publishing Company e Bunson é o redator chefe do Catholic Almanac e também da revista Catholic Answers.
Começam por destacar que uma das lições dos escândalos de abusos sexuais é não ter medo da verdade.

Temos de enfrentar os fatos, mas também devemos examinar com equilíbrio e honestidade”, observa o prólogo.

As questões sobre o modo de atuar de Bento XVI surgiram com a publicação de reportagens sobre como foi tratado um sacerdote quando o futuro Papa era arcebispo de Munique. Houve outras acusações, sobre as decisões tomadas quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre os casos de abusos nos Estados Unidos.
Os media acusaram o pontífice de negligência, encobrimento e falta de preocupação com as vítimas dos abusos.

Bento XVI difamado

Os autores do livro colocaram estas afirmações como falsas, mas admitem que para a maior parte do público seria difícil chegar a pontos de vista que alcancem uma compreensão mais correta da situação. O resultado é que Bento XVI foi difamado, e também foi pouco abordada a atuação da Igreja Católica nos Estados Unidos. Durante os últimos anos a adoção de novas normas e procedimentos levou a drásticas mudanças na área dos abusos sexuais, esclarece o livro. Ainda assim, a maior parte da cobertura dos media apresenta a situação como se estas mudanças nunca tivessem ocorrido.
Em relação ao papel do pontífice quando presidia a Congregação para a Doutrina da Fé, os autores apresentam dois pontos importantes.

Primeiro: antes de 2001, a responsabilidade de tratar os casos de abusos sexuais estava dividida entre várias secretarias vaticanas, e não foi até a publicação da carta apostólica de 18 de maio daquele ano que todos aqueles sacerdotes acusados de abuso fossem atribuídos à Congregação para a Doutrina da Fé. O então cardeal Joseph Ratzinger assumiu o controle destes casos, imprimiu uma mudança de atitude e teve uma maior noção da gravidade da situação e da necessidade de atuação muito mais dedicada. Isso levou às palavras que escreveu para as meditações das Estações da Via Crucis da Sexta-Feira Santa de 2005, pouco antes da morte de João Paulo II. Na nona estação, clamava:

Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele!”.

Uma vez que a Congregação para a Doutrina da Fé se encarregou de tratar os casos de sacerdotes que tinham cometido abusos sexuais, ele atuou rapidamente para resolvê-los.
Isso foi explicado em uma entrevista concedida por Dom Charles J. Scicluna ao jornal católico italiano Avvenire, em fevereiro deste ano.

Cerca de 60% dos casos não chegaram ao devido julgamento por motivo da idade avançada dos acusados, mas foram submetidos a uma atuação disciplinar e afastados de qualquer ministério público.

Em geral, em um grande número de casos foi permitido aos bispos locais que tomassem medidas disciplinares imediatas, de forma que não atrasassem o processo de andamento destas medidas antes de acontecer os julgamentos.

Algumas das reportagens dos meios de comunicação criticaram a lentidão ou falta de atuação de Roma ao tratar os sacerdotes culpados de abusos. Mas os autores do livro citam várias fontes que demonstram que os atrasos foram em grande parte de responsabilidade dos bispos locais norte-americanos, não de qualquer negligência do cardeal Ratzinger ou dos encarregados em seu departamento de tratar destes assuntos.

De fato, os autores do livro destacam que um dos fatores que agravou os problemas de abusos sexuais foi a falta de aplicação, por parte dos bispos, das leis e normas da Igreja sobre como deveriam se tratar estes casos. Não obstante, não se tratou só de uma falha dos bispos.
Quando muitos destes abusos aconteceram, em ocasiões há várias décadas, os psiquiatras e outros membros da sociedade daquela época não compreenderam a intensidade do mal que estava por trás de tais atos. Ainda que se obteve muito progresso, Erlandson e Bunson também levantaram algumas sugestões sobre medidas adicionais que possam ser adotadas pela Igreja.

Primeiro, é necessário que continue de forma clara a assunção de responsabilidades que estabeleceu Bento XVI, e os infratores devem responder por seus atos.

Segundo, o Vaticano deveria considerar a publicação de algumas normas mundiais, tanto para garantir que se informem as autoridades civis dos casos de abuso sexual como também para garantir que exista uma consistência ao lidar com casos de abusos.

Terceiro, deve ser levada adiante a renovação espiritual do sacerdócio e da vida religiosa.

Papel decisivo

Erlandson e Bunsen concluem seu estudo afirmando que a crise dos absuso sexuais do clero, muito provavelmente defina o pontificado de Bento XVI. Isso não se deverá tanto à quantidade dos escândalos revelados, mas sim ao papel de liderança que tomou.
Antes de ser Papa, deu andamento às atuações decisivas para que a Congregação para a Doutrina da Fé lidasse com os sacerdotes que cometeram tais abusos. Uma vez eleito Papa, encontrou-se com diversas vítimas, repreendeu os sacerdotes culpados e desafiou os bispos. Também esteve na vanguarda das reformas de procedimentos que deram como resultado que a Igreja fosse capaz de responder mais rapidamente ao tratar de abusos sexuais. O livro cita o cardeal Sean O’Malley, de Boston, que afirmou, durante uma década, que o aliado mais forte que os bispos norte-americanos tinham em Roma ao tratar dos abusos sexuais foi o então cardeal Ratzinger.
Uma vez eleito, Bento XVI escolheu como sucessor na Congergação para Doutrina da Fé um norte-americano, cardeal William J. Levada, alguém que era muito consciente do alcance dos escândalos. Em suas mensagens sobre os abusos sexuais, o pontífice falou com transparência e força. Também é consciente da necessidade de uma renovação espiritual, que expressou claramente em sua carta aos católicos irlandeses, observa o livro.
Os autores admitem que, como muitos de sua geração, o atual Papa foi no princípio lento na hora de se dar conta da gravidade, mas mudou até o ponto de “se converter no defensor histórico da reforma e da renovação da Igreja, e ele compreende o significado do problema”.
Em outras palavras, Bento XVI não é um obstáculo para enfrentar com eficiência o problema dos abusos sexuais, mas uma parte vital da solução.