sábado, 6 de dezembro de 2008

Artigos sobre a Bíblia Sagrada

Os livros deuterocanônicos fazem parte da Bíblia?

O texto abaixo é um debate promovido pelo site "Agnus Dei", defendendo o canôn bíblico definido pela Igreja Católica. As partes escritas em azul mostram as argumentações de um irmão sobre a visão protestantes do canôn bíblico. As respostas à todas estas argumentações são mostradas logo abaixo, nos textos escritos em preto.

Caro, irmão:
Achei este texto de ataque ao cânon católico. Quando possível, gostaria de receber observações suas sobre o texto.

Prezado Fabiano,
Vamos lá...

"No que diferem as Bíblias Católicas das Protestantes"

De fato, existem diferenças entre as Bíblias Católicas e as Bíblias Protestantes...

Nas Católicas há os livros chamados Apócrifos. Apócrifo antigamente no tempo dos Persas tinha um sentido esotérico, depois passou a significar Coisas Escondidas, Ocultas ou Secretas. Mais tarde esse termo foi sendo aplicado a livros de autenticidade incerta e hoje se aplica a livros religiosos não inspirados tais como esses que encontramos nas Bíblias Católicas;

Há uma meia verdade neste parágrafo. Realmente o termo "apócrifo" tem significado pejorativo, desde meados do séc IV dC, indicando autenticidade incerta. Porém, o termo não se aplica aos livros e acréscimos indicados pelo autor deste artigo no parágrafo seguinte, mas sim aos livros que não foram considerados inspirados pela Igreja primitiva (ex.: Evangelho de Tomé; Apocalipse de Paulo; 3Macabeus; etc.) - veja uma lista bem mais completa dos livros apócrifos no artigo "Quais são os livros apócrifos?"
São chamados mais apropriadamente de "deuterocanônicos" por se tratar de livros que não se encontram na Bíblia Palestinense (definida pelos judeus da Palestina em 90 dC), mas na Bíblia Alexandrina (dos judeus que habitavam nesta cidade do Egito). Os livros que coincidiam nas duas Bíblias são chamados de "protocanônicos".
Foi Lutero quem começou a chamar estes livros de apócrifos no séc XVI dC e, para complicar mais ainda, passaram a chamar de "pseudoepígrafos" aqueles livros de autenticidade evidentemente falsa, que nós, católicos (e também ortodoxos), chamamos de "apócrifos". O motivo disso é que os protestantes têm certas dificuldades teológicas se admitirem a autenticidade destes livros, pois apresentam de forma bem clara certas doutrinas refutadas por eles, como, por exemplo, o purgatório, a oração em favor dos mortos e a intercessão dos santos.

Os livros apócrifos são: Tobias, Judite, Sabedoria de Jesus ben Sirach ou Eclesiástico, Sabedoria de Salomão, Baruque, I Macabeus, II Macabeus, Acréscimos a Daniel, Acréscimos a Ester.

A informação aqui está correta com a única ressalva de que não são livros e acréscimos apócrifos, mas sim deuterocanônicos...

O grande desejo do mundo grego de conhecer os escritos dos judeus.


Esta afirmação parece-me um tanto quanto esvaziada, porque o mundo grego, na verdade, desprezava o conhecimento dos hebreus, pois não contavam com filósofos. É justamente por essa razão que São Paulo fala das vãs filosofias (Col 2,8) e diz que pregar a cruz de Cristo é escândalo para os judeus (já que o Messias seria o libertador de Israel) e loucura para os gregos (porque é contrário à filosofia); entretanto, o próprio São Paulo não abre mão da razão (=filosofia) para pregar o Evangelho pelo mundo grego (v. Atos dos Apóstolos)...
Em outras palavras: não eram os gregos que tinham interesse de conhecer os escritos judaicos, mas eram os judeus - e mais tarde também os cristãos - que tinham o interesse de propagar a Palavra de Deus; os judeus por puro proselitismo; os cristãos, pela Salvação de toda criatura humana.


Data 200 A.C. até 100 A.C. foram eles escritos.


A crítica moderna (inclusive protestante) sugere as seguintes datas de composição para os livros em debate:
Tobias: 200 aC (em hebraico ou aramaico)
Judite: 150 aC (em hebraico ou aramaico)
1Macabeus: 100 aC (em hebraico ou aramaico)
2Macabeus: 100 aC (em grego)
Eclesiástico: 200 (em hebraico) e 130 (tradução grega)
Sabedoria: 100 aC (em grego)
Baruc: 200 aC (em grego, talvez tradução do hebraico)
acréscimos a Ester: 160 aC (em grego)
acréscimos a Daniel: 100 aC (em grego)
Entretanto, o fato de terem sido os últimos livros a serem escritos no Antigo Testamento, de forma alguma reduz-lhes o valor. Também o fato de alguns terem sido escritos fora do território da Palestina não significa que não sejam inspirados porque, ainda assim, foram escitos por representantes legítimos do Povo de Deus!


Erros ensinados pelos apócrifos, que estão em contradição com o restante da Bíblia


Alguns desses "erros" foram com certeza retirados de um livretinho de autoria de Jaime Reda, chamado "Assim Diz a Bíblia". Embora não o afirme, o autor certamente é adventista e, como qualquer protestante, tem dificuldade em explicar doutrinas tão claras que se opõem ao que prega a sua seita...
Vamos analisar os "erros" e "refutar a refutação" do autor: primeiro, demonstrando que a Bíblia possui (nos livros que o autor aceita como inspirados, isto é, os "protocanônicos" do Antigo Testamento e todo o Novo Testamento) outros exemplos daquilo que o autor considera errado; segundo, apresentando a contradição do autor com o ensinamento bíblico...

O Ensino do Purgatório
a) Sabedoria 3:1-4 - "Mas as almas dos justo estão nas mãos de Deus; e o tormento da morte não as tocará. Aos olhos dos ignorantes pareciam eles morrer e sua partida foi considerada desgraça. E, sua separação de nós, por uma extrema perda. Mas eles estão em paz. E embora aos olhos dos homens sofram tormentos, sua esperança está plenamente na imortalidade.";b) Isto é a doutrina do Purgatório.


"Em verdade te digo que de maneira nenhuma [sairás] dali enquanto não pagares o último ceitil" (Mt 5,26)
"Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro" (Mt 12,32)
"Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo" (1Cor 3,15).

Razões interessantes
Roma não pode chamar as outras Bíblias de falsas por não conterem os Apócrifos, assim como não pode se chamar uma nota de falsa por não ter ela uns acréscimos que alguém julgue que ela deva ter


Pode sim! Pode porque foi a Igreja que definiu o cânon bíblico no séc. IV, selecionando os livros do Novo Testamento e confirmando todos os livros do Antigo Testamento segundo a versão da Septuaginta, incluindo os 7 livros aqui debatidos, bem como os acréscimos a Ester e Daniel. E a autoridade da Igreja para estabelecer o cânon é indiscutível, pois ela é a "coluna e o fundamento da Verdade" (1Tim 3,15).
E pode também porque a Igreja Católica foi fundada sobre os Apóstolos, que usaram a Septuaginta para escrever o Novo Testamento: das 350 citações do AT, 300 obedecem a versão dos LXX! Se o autor segue a autoridade dos judeus de Jâmnia para definir o seu cânon, deve deixar de lado todos os livros do Novo Testamento; porém, se aceita a autoridade da Igreja, fundada por Cristo, não tem como deixar de lado os livros deuterocanônicos, pois estaria (como de fato está) em contradição.

Em II Macabeus encontramos o autor do livro pedindo perdão pelas suas falhas como escritor. Se crêssemos que estes livros estão no mesmo pé de igualdade com os inspirados, ficaríamos então admirados de ver agora o Espírito Santo pedindo desculpas por algumas falhas, o que é inconcebível;


Não tem nada a ver! Também São Paulo afirma em 1Cor 7,12: "Aos outros sou eu quem digo e não o Senhor: se algum irmão tem uma mulher sem fé e esta consente em habitar com ele, não a repudie". Será que esta passagem também não é inspirada? Se não é, por que ainda se encontra na Bíblia??? Por que não foi simplesmente riscada?? E se fosse riscada, o que impediria de riscar toda a 1Coríntios?

Somente em 8 de Abril de 1546 é que a Igreja Católica se lembrou que esses livros deveriam estar canonizados; Nesse concílio que declarou os Apócrifos como autorizados, não havia nenhuma autoridade entre eles. Havia somente 53 prelados italianos e espanhóis na sua maioria. Nenhum alemão. Era mais um concílio religioso do que ecumênico, portanto não tinha autoridade;


Papo furado! A Igreja Católica usa os deuterocanônicos desde a era apostólica. A definição de sua inspiração já se dera oficialmente em Hipona (393) e Cartago (397 e 418), como vimos acima. Também o concílio ecumênico de Florença (1441) professou solenemente o católogo completo dos livros sagrados, pelo menos 1 século antes de Trento. A Bíblia de Guttemberg, o primeiro livro a ser impresso no mundo por volta de 1450 , também continha os deuterocanônicos.
Foi o herege Martinho Lutero, apenas em 1534, que colocou os referidos livros em apêndice, com o título de apócrifos, em sua tradução alemã da Bíblia. Pelo menos teve a decência de deixá-los por considerá-los bons e de utilidade (segundo palavras usadas pelo próprio "rerformador" no prólogo).

Fonte: Site "Veritatis Splendor" (http://www.bibliacatolica.com.br/historia_biblia/52.php)




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