domingo, 30 de maio de 2010

Deputada, cuja mãe optou por não abortar, hoje se dedica à defesa da vida.‏

A Deputada Fátima Pelaes durante reunião que aprovou o Estatuto do Nascituro na Comissão de Seguridade e família na última quarta-feira, 19, comoveu os deputados na Comissão de Seguridade e Família que aprovou o texto substitutivo deste projeto ao compartilhar que ela mesma foi concebida depois de um estupro e ainda assim sua mãe optou por não abortá-la.
Por isso, hoje Fátima luta pelo direito à vida desde a concepção, seja qual for a circunstância em que esta seja ocasionada. O projeto define o direito à vida desde a concepção e protege o nascituro contra qualquer forma de discriminação que venha privá-lo do seu direito a nascer.A deputada conta que veio à luz num presídio misto e viveu aí por três anos após um ato de violência sexual sofrido por sua mãe.

Fátima Pelaes, deputada pelo Estado do Amapá, militante pelas causas das mulheres, das crianças e dos adolescentes foi quem relatou a CPI sobre o extermínio de crianças e adolescentes (1992), presidiu a CPI que investigou a mortalidade materna no Brasil (2000/2001) e criou a lei, de 2002, que estendeu a licença-maternidade para mães adotivas.Ontem, durante a sessão da Comissão de Seguridade e Família na Câmara dos Deputados em Brasília, quando ainda estava em pauta o Estatuto do Nascituro, Fátima tomou do microfone e contou ser fruto de um estupro realizado dentro da prisão.

Sua mãe quis abortá-la, a princípio, mas decidiu por sua vida e para isto ela nasceu: para que sua história pudesse salvar a história de muitos outros, muitas outras.

“Nasci depois de um estupro. Não posso ser a favor do aborto." relatou.

Quando ela acabou de falar, todos estavam chorando, emocionados. O deputado Arnaldo Faria de Sá tomou o microfone e convocou uma resposta à altura do depoimento de Fátima:

“Senhores, depois deste testemunho como não ser a favor da vida dos nascituros?”

Os deputados pró-vida defenderam a urgência da aprovação do projeto durante a acalorada votação. Os deputados abortistas denunciavam falsamente que o Estatuto do Nascituro tinha por objetivo criminalizar as mulheres e revogar o Artigo 128 do Código Penal, que autoriza o aborto praticado por médico em casos de estupro e de risco de vida para a mãe. Mesmo assim, depois de quatro horas de discussão foi finalmente aprovado, por esta comissão, o texto substitutivo do Estatuto do Nascituro.
O projeto define o direito à vida desde a concepção e protege o nascituro contra qualquer forma de discriminação que venha privá-lo do seu direito a nascer, mesmo em razão de deficiência física ou mental, ou ainda por causa de delitos cometidos por seus genitores.
Agora o projeto de lei inicialmente formulado pelos deputados Luiz Bassuma e Miguel Martini segue para a Comissão de Finanças e Tributação e depois para a Comissão de Constituição.
Sendo aprovado por lá o projeto será encaminhado para votação no plenário e por último é entregue para a sanção do presidente da república. Fontes do Movimento Defesa da Vida de Porto Alegre contam o voto da relatora do projeto, a deputada Solange Almeida na sessão de ontem:

“Portanto, o projeto de lei em exame, com os aperfeiçoamentos constantes do presente substitutivo, pretende tornar realidade esses relevantes objetivos, quais sejam, os de proteção e promoção da pessoa humana em sua fase de vida anterior ao nascimento, quando é designada pelo termo “nascituro”, com todas as benéficas repercussões para o futuro de sua vida. Isso interessa não só ao indivíduo e sua família, mas também à nação. Parece evidente, pois, sua plena compatibilidade com os objetivos fundamentais da República, nos termos estabelecidos no art. 3º, itens I a IV, da Constituição Federal”.

Apesar desta primeira vitória pró-vida os membros do MDV encorajam a seguir a mobilização dos deputados e parlamentares que votarão o projeto nas seguintes sessões.

Cinco anos depois, Bento XVI continua surpreendendo.

Ainda são muitos os aspectos a serem descobertos pela opinião pública sobre o pensamento de Bento XVI, como explica, nesta entrevista concedida a ZENIT, Ramiro Pellitero, sacerdote e médico, professor da Faculdade de Teologia e do Instituto Superior de Ciências Religiosas, e capelão da Clínica da Universidade de Navarra.

Coincidindo com a celebração do quinto aniversário do pontífice, acaba de publicar um livro intitulado À linha de um pontificado: o grande 'sim' de Deus (Ed. Eunsa, 2010).

-Entre as perguntas que nossos leitores querem fazer, há uma primeira que talvez esteja relacionada ao título do livro: Bento XVI tem repetido ao longo de seu pontificado que o cristianismo não é um conjunto de "nãos", principalmente de caráter ético, mas um grande "sim". Mas isso continua sem ser compreendido. Por quê?

Ramiro Pellitero: Penso que isso vem de longa data e tem causas diversas. Aponto duas que me parecem importantes. De um lado, ao explicar a fé cristã nos últimos séculos, certo moralismo - que Bento XVI mostrou em mais de uma ocasião - colocava o dever antes da verdade. Mas quando se ama a Deus e ao próximo, nossos deveres não são um peso nem uma negação, mas uma libertação e uma plena realização da própria personalidade.
Ao mesmo tempo, parece que nas notícias e na mídia há uma pressão "interessada" em silenciar esse grande "sim" que é o Evangelho a tudo o que é bom, belo e nobre: ao amor humano, ao verdadeiro progresso, à vida em todas suas fases, à razão e às mais valiosas experiências da humanidade. Isto é silenciado, enquanto se põe em primeiro lugar só as negações que são deduzidas daquele grande "sim". Certamente, o sim ao verdadeiro progresso não pode deixar de ser um não ao que escraviza as pessoas, as destrói ou pelo menos as prejudica: não ao egoísmo das injustas desigualdades sociais, às ameaças à vida, à falta de liberdade religiosa etc. Quem pode ter esse interesse em manipular o que disse o Evangelho, calando o "sim" e permitindo ouvir somente o "não", de maneira que se dê impressão triste e retrógrada do cristianismo? Esta pergunta eu faria, em especial, aos que trabalham a serviço da opinião pública.

-Quais são os aspectos do pensamento de Bento XVI que a opinião pública ainda não descobriu?

Ramiro Pellitero: Penso que é necessário uma atenção maior, por parte da opinião pública, em torno dos núcleos deste pontificado: a validez da razão e ao mesmo tempo sua necessidade de se abrir à transcendência; a "revolução" do amor e a aprendizagem de uma esperança que compromete todos, principalmente a favor dos mais pobres e fracos. Entre os cristãos, o Papa promoveu um redescobrimento da Eucaristia e da Palavra de Deus, como fontes de uma vida cheia de sentido no dia a dia. Quem dá por lógico que estes pontos pertencem ao "já ouvido" ou "já vivido", como se já não merecessem atenção, comete um erro. Todos e cada um - e, no caso dos cristãos, também como Igreja - estamos sendo convidados por Bento XVI a perceber nossa responsabilidade.

-É interessante que um dos capítulos de seu livro fale de "evangelização e comunicação", enquanto nos últimos dois anos o Papa teve de confrontar sérias crises de comunicação. O que significa a comunicação para Bento XVI?

Ramiro Pellitero: Entendo que para Bento XVI, como intelectual de seu tempo e agora Pastor supremo da Igreja, a comunicação é um valor muito importante. Mas é necessário, acima de tudo, ter clara a mensagem que se irá comunicar. Neste caso, trata-se de nada menos que do Evangelho, com toda sua riqueza, força e capacidade transformadora do homem e da história. Talvez o Papa avalie os elementos da comunicação em uma ordem e proporção diferentes se comparados ao que fazem alguns profissionais da comunicação. Penso que, para ele, a coisa mais importante é a verdade e o bem, antes de outros valores legítimos, mas secundários, como a mera atualidade, a utilidade ou a dialética. Estes aspectos podem ser, à primeira vista, mais atraentes, enquanto geram mais "notícia"; mas deveriam se colocar ao serviço das pessoas, ao serviço da verdade e do bem, da justiça e da paz.

- Aproveitando a resposta da pergunta anterior, Joseph Ratzinger tem sido realmente um teólogo notável. Ele deixou de sê-lo agora como Papa, para transformar-se em um Pastor?

Ramiro Pellitero: Eu não acho que ele tenha deixado de se manifestar como teólogo, embora agora se veja mais claramente o que considera propósito da teologia: o conhecimento e, mais ainda, a participação no amor de Deus que transforma o mundo. Isso comporta a abertura do humanismo para a transcendência, a ampliação da racionalidade além do empírico (para as dimensões da verdade e do bem), a verdadeira sabedoria que leva à civilização do amor.
Em outras palavras, a teologia esboça e abre o senso da realidade para a vida das pessoas. Nesta medida, provê um marco de referência para a pedagogia da fé e do apostolado cristão. Como o Papa mesmo disse antes da Comissão Teológica Internacional, em dezembro de 2009, o verdadeiro teólogo é aquele que, tornando-se pequeno diante de Deus, permite que Ele lhe toque o coração e a existência, para colocar-se a serviço do Evangelho. Com efeito, tal é o horizonte da teologia, que hoje - e sempre - pode iluminar a cultura contemporânea; e que, no caso do Papa, está totalmente ao serviço de seu ministério pastoral.

-A quem se dirige seu livro e qual seria sua principal mensagem?

Ramiro Pellitero: O texto se dirige a um público amplo, com espírito jovem e humor aberto; com certo gosto pela leitura, mas principalmente com capacidade de surpreender-se e rebelar-se ante uma existência monótona ou aburguesada, trocando-a por uma vida plenamente vivida, se vale a redundância. Sem dúvida, são os jovens - de todas as idades - os que têm melhor disposição para captar e realizar este projeto. O livro convida a prestar uma atenção maior ao Papa. Seus gestos e palavras nos confirmam, como cristãos, na perene atualidade do Evangelho. Convidam-nos a mudar tantas coisas que devem ser mudadas, como consequência do amor a Deus e ao próximo. Um amor que necessariamente passa pela cruz, e que, também necessariamente, leva à felicidade.

Como o aborto é promovido na América Latina?

Primeiro se cria uma polêmica sobre um caso humano dramático de uma criança estuprada; depois se propõe uma lei geral de legalização do aborto. Este processo, adotado em outros continentes, está sendo aplicado na América Latina, como explica a ZENIT nesta entrevista Carlos Polo Samaniego, peruano, antropólogo e diretor do escritório para a América Latina do Population Research Institute desde 2001.
Este consultor de várias organizações na América Latina sobre política familiar analisa dois casos muito parecidos, que levantaram muitos artigos e debates radiofônicos e televisivos nas últimas semanas.
Um foi uma denúncia aos meios de comunicação, em Quintana Roo (México), no início de abril, provocando um debate regional em relação a uma menina de dez anos grávida do padrasto que a estuprou. A menina, que se encontrava em um estado avançado de gestação, não foi submetida ao aborto.
Em 12 de abril, a imprensa brasileira explicava que uma criança de 10 anos havia feito um aborto, com a aprovação de um juiz, em Recife, após ter sido estuprada diversas vezes por seu padrasto.

- Em ambos os casos, algumas organizações solicitavam o aborto para salvar a vida das mães; não é coincidência o fato de irem à imprensa os dois casos ao mesmo tempo?

Carlos Polo: Tudo parece indicar que não. O escritório da América Latina de Population Research Institute vem fazendo monitoração de casos como estes há alguns anos. Analisamos as iniciativas e publicações das principais organizações abortistas na América Latina e detectamos padrões comuns. Os de Quintana Roo e Recife pertencem a uma grande lista de casos similares "fabricados" para legalizar o aborto na América Latina. Argentina, Peru, Colômbia, Nicarágua e Honduras são alguns dos lugares escolhidos por esses grupos que não buscam o bem-estar das meninas, mas sim impulsionar sua agenda, apelando aos sentimentos de compaixão para implementar confusão na opinião pública. Podemos dizer que buscam semear confusão mesmo dentro da Igreja.

- Em que se baseia para afirmar que os casos são "fabricados"?

Carlos Polo: Temos que dizer que o drama das meninas grávidas é real e sumamente doloroso. O que se fabrica e manipula é a repercussão midiática e a insistência de que o aborto é a única solução. Sobre esta realidade, são montadas campanhas que apresentam o aborto para aqueles que procuram outras saídas fora do aborto como um povo sensível, desumano e incompreensível. Os bispos, sacerdotes e leigos comprometidos, usualmente os primeiros defensores da vida dessas criaturas que estão por nascer, são muitas vezes alvos de ataque. A pressão chega a ser muito forte, como se a tensão estivesse situada no nosso senso de humanidade ao extremo. Mas é tudo parte de uma falácia, de uma grande mentira baseada num drama humano: muitas vezes essas meninas nem correm perigo nem querem abortar. E o pior, depois sofrem as consequências de fazê-lo.

- Esta acusação é muito grave. O senhor está em condições de mantê-la?

Carlos Polo: Cada vez temos mais evidências. Durante muito tempo, suspeitamos que isso acontecia mais ou menos da forma como agora conhecemos bem. Mas foi necessário um grande número de leigos, profissionais em diferentes áreas; nós nos organizamos e trocamos eficientes informações e experiências para que pudéssemos descrever todo o circuito, encontrando os padrões de "fabricação" de casos dos quais se falava antes. Agora, cada vez que é gerado um destes "casos", surgem voluntários para socorrer as meninas e seus pais. Por exemplo, graças a Deus, em Quintana Roo se pôde resgatar a menina e salvar seu bebê.

- E o que lhes revelou o caso de Quintana Roo?

Carlos Polo: O que suspeitamos: que um grupo inescrupuloso havia isolado esta família, ocultando seu paradeiro. Pressionaram a mãe até que concordasse a dar seu consentimento ao aborto, ainda que em sua consciência existia uma insatisfação e uma luta muito grande. Na menor oportunidade de fazer algo diferente, essa mãe e essa menina optaram com alegria pela vida. Mas, lamentavelmente, nem sempre chegamos a tempo. Ficam na memória casos como os de Recife (o primeiro de gêmeos há um ano e agora, mais recentemente, outro). O de "Amélia", na Nicarágua, sobre o qual publicamos uma ampla pesquisa há pouco. Amélia tinha câncer no ovário. Diversas organizações católicas ofereceram ajuda para o tratamento do câncer. Mas as organizações feministas que a mantinham oculta e pediam o "aborto terapêutico" não permitiram que ela recebesse a ajuda. Quando a pessoa vê que a prioridade é o cumprimento da agenda política abortista, então é claro que Amélia, como pessoa, não lhes interessa realmente. Não se trata do aborto para que faça bem à Amélia, mas simplesmente de usar aAmélia para que "faça bem" ao aborto.

- Qual é a origem desta estratégia abortista?

Carlos Polo: De fato, há muitas pistas. Uma delas nos coloca em um documento que, em janeiro de 2003, o Center for Reproductive Rights publicou com o título What Role Can International Litigation Play in the Promotion and Advancement of Reproductive Rights in Latin America? (Qual o papel dos conflitos internacionais na promoção e desenvolvimento dos direitos reprodutivos na América Latina?). Suas autoras, Mônica Roa, Luisa Cabal e Lilian Sepúlveda, são membros destacados desta organização de Nova York que promove o aborto legal e o manifesta abertamente. Nesse documento, dizem claramente: "Os tribunais podem ser um fórum excelente para produzir a mudança". Também afirmam que, nesta estratégia de litígios, sua última oponente é a Igreja Católica. E afirmam que tudo isso se inicia por "examinar o processo de identificação de temas e casos". Abertamente, o Center for Reproductive Rights expõe como sua própria equipe de advogados e suas organizações associadas apresentaram os quatro "casos" citados no documento. Um deles, o da peruana Karen Llantoy, foi utilizado anos depois como argumento por Mônica Roa na sentença que legalizou o aborto na Colômbia.

- Voltando aos casos de Quintana Roo e de Recife. Conte-nos brevemente o que aconteceu em cada um destes "casos".

Carlos Polo: Como se diz, em Quintana Roo se atuou a tempo e foi possível salvar a menina e seu bebê. O "caso", como estratégia abortista, fracassou em todos sentidos. Não houve aborto. Nem as autoridades nem a opinião pública ficaram impressionadas. E o bispo de Cancun-Chetumal, Dom Pedro Pablo Elizondo, L.C., esteve muito consciente da assembleia que procurou criar divisão e dúvidas. Em Recife, infelizmente, o "caso" terminou com aborto. Ao contrário do México, no Brasil os hospitais do governo oferecem todas as facilidades para abortar em casos de estupro. Mas poucas mulheres estupradas no Brasil escolhem abortar. Este recente caso em Recife tem um componente adicional que confirma muita de nossas informações com a deturpação que a imprensa fez com relação às declarações do arcebispo, Dom Fernando Saburido, dando a impressão que este aprovava o aborto em certos casos de meninas estupradas, para salvar sua vida. É como se utilizasse "argumento de falsa misericórdia".
O mesmo arcebispo teve de acompanhar essa campanha de desinformação com uma nota em que acusa o Diário de Pernambuco de manipular suas declarações. Segundo refere o arcebispo, o jornalista lhe fez a mesma pergunta em várias ocasiões e de diferentes formas, para depois selecionar aquela resposta entre todas que poderia apresentar a manipulação e falsa interpretação. "Recebeu a comunhão, em todos os sentidos, com a orientação de nossa Santa Igreja, que defende a vida e não admite, sob nenhuma hipótese, que seja eliminada, porque é um dom de Deus e somente a Ele cabe decidir - explicou Mons. Saburido. No caso específico da menina de 10 anos, grávida de quatro meses, vítima de estupro por seu padrasto e submetida a um aborto, estou em desacordo da decisão tomada, que considero anticristã por ter tomado uma vida que poderia perfeitamente ser salva. Não faltaria alguma família disposta a adotar o bebê, oferecendo-lhe afeto e dignidade". Precisamente esse é o ponto chave para começar a derrotar esta estratégia: unidade no interior da Igreja. O testemunho de fé e ação em Quintana Roo ilumina e confirma perfeitamente as palavras do bispo de Recife, e vice-versa. A força do Evangelho da Vida acolhido e testemunhado é mais potente que qualquer vertente abortista.

- Alguns céticos poderiam ainda ter insistido na boa intenção destas organizações ao apresentar estes casos. O que o senhor diz sobre isso?

Carlos Polo: Eu sugeriria que averiguasse como terminam as mulheres concretamente envolvidas nestes "casos". O habitual é o total abandono por parte daqueles que até antes da intervenção eram "seus grandes aliados". Não podemos nos deixar surpreender pela falácia, porque a meia verdade termina sendo uma grande mentira. Qualquer coisa pode ser objeto de uma tentativa de manipulação. O lema institucional do Population Research Institute é "Colocar as pessoas em primeiro lugar", porque é como uma chave para entender quão prejudicial é o aborto e todos os subprodutos da cultura da morte. E nossa ânsia é servir a todas as instâncias da Igreja para detectar e desmascarar estas manobras. Sabemos muito bem que nestes casos devemos exercitar aquilo que somos como membros do Corpo Místico e cooperar, como um órgão específico, para o bem de todos.

- Finalmente, que recomendação o senhor daria para evitar que haja mais danos com esta estratégia?

Carlos Polo: Que sejamos Igreja. Que nos unamos para pensar, orar, entender e agir pro-ativamente a favor da vida. Que nossos pastores não se sintam sós, porque cada vez somos mais leigos e colocamos nossos talentos profissionais ao seu serviço. Que nossos irmãos se animem a aprofundar neste trabalho e a entrar em contato, como uma grande rede. Só assim podemos enfrentar à altura os desafios do mundo de hoje.

GUERRA AO CRISTIANISMO.

Carta de Marcello Pera ao diretor do periódico Corriere della Sera

Estimado diretor:

A questão dos sacerdotes pedófilos ou homossexuais desencadeada ultimamente na Alemanha tem por alvo o Papa. Porém, cometer-se-ia um grave erro se se pensasse que o golpe não irá mais além, dada a enormidade temerária da iniciativa. E se cometeria um erro ainda mais grave se se sustentasse que a questão finalmente se encerrará logo como tantas outras similares. Não é assim. Está em curso uma guerra. Não precisamente contra a pessoa do Papa, já que, nesse terreno, é impossível. Bento XVI tornou-se invulnerável por sua imagem, por sua serenidade, sua clareza, firmeza e doutrina. Basta seu sorriso manso para desbaratar um exército de adversários.

Não, a guerra é entre o laicismo e o cristianismo. Os laicistas sabem bem que, se uma mancha de lodo chegasse à batina branca, se sujaria a Igreja, e se fosse sujada a Igreja seria suja também a religião cristã. Por isso, os laicistas acompanham sua campanha com perguntas do tipo «quem mais levará seus filhos à Igreja?», ou ainda «Quem mais mandará suas crianças a uma escola católica?», ou também ainda «Quem permitirá curar a seus pequenos num hospital ou numa clínica católica?».

Faz poucos dias uma laicista deixou escapar a intencão. Ela escreveu: «A entidade da difusão do abuso sexual de crianças por sacerdotes socava a própria legitimidade da Igreja Católica como garantia de educacão dos menores ». Não importa que essa sentença careça de provas, porque se esconde cuidadosamente «a entidade da difusão»: um por cento de sacerdotes pedófilos?, dez por cento?, todos? Não importa nem sequer que a sentença careça de lógica: bastaria substituir «sacerdotes» por “professores”, ou por «políticos», ou por «jornalistas» para «socavar a legitimidade» da escola pública, do parlamento ou da imprensa. O que importa é a insinuação, inclusive às custas da grosseria do argumento: os sacerdotes são pedófilos, portanto, a Igreja não têm nenhuma autoridade moral, daí, a educação católica é perigosa, logo o cristianismo é um engano e um perigo.

Essa guerra do laicismo contra o cristianismo é uma batalha campal. Deve-se lembrar do nazismo e do comunismo para encontrar uma coisa similar. Mudam os meios, porém o fim é o mesmo: hoje como ontem, o que é necessário é a destruição da religião. Então a Europa, pagou essa fúria destruidora, o preço da própria liberdade. É incrível que, sobretudo a Alemanha, enquanto bate continuamente no peito pela lembrança daquele preço que ela impôs a toda Europa, hoje, quando ela voltou a ser democrática, esqueça e não compreenda que a própria democracia seria perdida se se aniquilasse o cristianismo.

A destruição da religião comportou, nesse momento, a destruição da razão. Hoje não comportará o triúnfo da razão laicista, senão outra barbarie. No plano ético, é a barbarie de quem assassina a um feto porque sua vida prejudicaria a «saúdde psíquica» da mãe. De quem diz que um embrião é um «monte de células» bom para fazer experiências. De quem assassina a um ancião, porque não tem mais uma família que cuide dele.

De quem acelera o final de um filho, porque já não está consciente e é incurável. De quem pensa que «progenitor A» e «progenitor B» é a mesma coisa que «pai» e «mãe». De quem sustenta que a fé é como o cóxis, um órgão que já não participa na evolução, porque o homem não tem mais necessidade do rabo e se mantem de pé por si mesmo.

Ou ainda, para considerar o lado político da guerra dos laicistas ao cristianismo, a barbárie será a destruição da Europa. Porque, abatido o cristianismo, resta o multiculturalismo, que sustenta que cada grupo tem direito à própria cultura. O relativismo, que pensa que cada cultura é tão boa como qualquer outra. O pacifismo que nega que existe o mal.

Esta guerra ao cristianismo não seria tão perigosa se os cristãos soubessem de sua existência. Em troca, muitos deles participam dessa incompreensão. São aqueles teólogos frustrados pela supremacia intelectual de Bento XVI. Aqueles Bispos equívocos que sustentam que entrar em compromissos com a modernidade é o melhor modo de atualizar a mensagem cristã. Aqueles Cardeais em crise de fé que começam a insinuar que o celibato dos sacerdotes não é um dogma e que talvez fosse melhor voltar a pensá-lo. Aqueles intelectuais católicos apoucados que pensam que existe uma «questão feminina» dentro da Igreja e um problema não resolvido entre cristianismo e sexualidade. Aquelas conferências episcopais que se equivocam sobre a ordem do dia e, enquanto desejam a política das fronteiras abertas para todos, não tem coragem de denunciar as agressões que os cristãos sofrem e as humilhações que são obrigados a padecer por ser todos, indiscriminadamente, levados ao banco dos réus. Ou também ainda aqueles embaixadores vindos do Leste, que exibem um ministro do exterior homossexual enquanto atacam o Papa sobre cada argumento ético, ou aqueles nascidos no Ocidente, que pensam que o Ocidente deve ser «laico», isto é, anticristão.

A guerra dos laicistas continuará, entre outros motivos porque um Papa como Bento XVI, que sorri, porém não retrocede um milímetro, a alimenta. Porém, se se compreende por que ele não muda, então se assume a situação e não se espera o próximo golpe. Quem se limita somente a solidarizar-se com ele é um que entrou no jardim das Oliveiras de noite e às escondidas, ou quiçá seja um que não compreendeu porque ele está ali.

Pedófilos, quem?

A imprensa tem reproduzido nos últimos dias, em todo o mundo, notícias veiculadas por grandes jornais dos Estados Unidos e da Europa que associam alguns padres católicos ao repugnante crime da pedofilia. Além disso, a maior parte das notícias se impregna de uma ferocidade cega e avança com insinuações malévolas e acusações infamantes contra a Igreja Católica e o Papa Bento XVI.
O jornalismo, praticado muitas vezes de forma ligeira, preguiçosa e inconseqüente, buscando o sensacionalismo não procura se aprofundar na análise do problema. Casos ocorridos há dez, vinte ou trinta anos são resgatados com fortes cores de escândalo como se fossem ocorrências recentes. Denúncias são tornadas públicas de forma leviana contra o Sumo Pontífice para tentar incriminá-lo, como se fosse ele o responsável por tais atos vergonhosos ou aos culpados oferecesse o apoio da Igreja Católica.

A pedofilia é um crime ignominioso e inaceitável em qualquer circunstância. É uma conduta indesculpável, parta de quem partir ou ocorra onde e quando ocorrer. Mas o que fazem as numerosas reportagens veiculadas nos últimos dias, quando tratam dos crimes trazidos recentemente à tona na Europa se não confundir e vilipendiar o Papa Bento XVI? Quem acompanhou o noticiário ficou com a dolorosa impressão – se católico – de que a Igreja agiu de forma a desculpar e justificar tais atos.

Um jornalismo mais sério e responsável, ao contrário, deveria saudar a atitude do Santo Padre, que não hesitou em escrever uma carta plena de coragem e dignidade ao clero irlandês,
condenando os abusadores naquele país, pedindo perdão às vítimas e esperando que a justiça cumpra o seu papel. A atitude corajosa do Sumo Pontífice nem de longe tem sido acompanhada pela maior parte dos jornalistas e dos críticos, incapazes de separar a histeria anti-católica da verdade criminal.
Para ilustrar esse raciocínio segue um dado interessante, tanto mais que restrito ao país do cardeal Ratzinger. Na Alemanha foi comprovado que houve , desde 1995, 210 mil denúncias de abusos a menores. Dessas 210 mil, 300 envolveram de alguma forma padres católicos. Ou seja, menos de 0,2%. Isso significa que, por serem poucos, esses casos devem ser minimizados? Longe disso. Já disse e repito: um único caso que seja de pedofilia é sempre vergonho e imperdoável.
O problema é que se está procurando partir de casos isolados para engrossar uma campanha de descrédito e de infâmia contra a Igreja Católica e seus dignitários, tornando mais profundo o difuso anti-catolicismo ocidental que já vai se tornando um dos inexplicáveis fenômenos do nosso tempo.
Nos Estados Unidos, onde as estatísticas têm mais credibilidade, já se constatou que a presença de pedófilos, é de duas a dez vezes mais alta entre os pastores protestantes do que entre os padres católicos. De qualquer forma, muito maior que o envolvimento de líderes religiosos (católicos ou protestantes) é, por exemplo, o de professores de ginástica e treinadores de equipes esportivas juvenis, muitos deles casados.
Da mesma forma, relatórios periódicos do governo norte-americano indicam que cerca de dois terços dos abusos sexuais contra crianças não vêm de estranhos ou de educadores, sejam eles padres ou pastores, mas de familiares – padrinhos, tios, primos, irmãos e, infelizmente, até pais, muitos deles também casados.
Esses dados vêm derrubar a opinião de alguns anti-católicos, que tentam atribuir ao celibato a causa do problema. Uma atitude mais séria e responsável recomendaria um estudo mais profundo para lhe descobrir as origens e criar no seio da sociedade os mecanismos capazes de preveni-lo. Exatamente o contrário do que tem sido feito, buscando-se cobrir de desonra a Igreja Católica, cuja doutrina abraça os melhores valores da nossa civilização.

João Augusto Rodrigues,
Jornal O Liberal - Belém

Da liberdade religiosa ao escândalo da pedofilia.

O escândalo da pedofilia tem levado, como é natural, as pessoas a indagar pela causa do problema. A ignorância ou a má fé leva muitos a atribuir semelhante perversão ao celibato eclesiástico. Basta recordar que tal crime ocorre em todos os setores da sociedade e com maior freqüência no próprio âmbito doméstico para repelir como absolutamente falsa tal explicação do problema.
Estou persuadido de que se podem apontar duas causas ou ao menos duas condições favoráveis à propagação do vício da pedofilia na sociedade moderna. A primeira é a chamada cultura da liberdade. A liberdade, hoje, é idolatrada, é o bem maior, não se subordina a nenhum fim. Em tal cultura da liberdade o direito é considerado apenas como a técnica de conciliar os arbítrios dos “cidadãos livres”. O direito não tem nada que ver com a moral. É apenas um instrumento para garantir a liberdade individual. A moral é só uma questão de cultura. E a ordem pública, assegurada pela lei positiva, consiste apenas na harmonia das relações sociais, sem um fundamento na lei natural.

Ora, essa idolatria da liberdade, que deita raízes no livre exame do protestantismo e se consolidou através do iluminismo e da Revolução Francesa, seduziu muitos espíritos católicos. São os católicos liberais condenados por Gregório XVI e Pio IX. O próprio Vaticano II não ficou imune a tal mentalidade. Queimou incenso à deusa da liberdade na declaração Dignitatis Humanae, dizendo que ninguém pode ser impedido de professar sua religião em privado ou em público, contanto que não seja perturbada a ordem pública. E tal direito à liberdade religiosa assiste igualmente aos ateus em sua profissão pública do ateísmo. E não bastasse isto, houve diversas declarações solenes de altas autoridades eclesiásticas dizendo que o VII teve por fim adaptar a Igreja aos valores do iluminismo e ao mundo nascido da Revolução Francesa.
Tudo isto é um delírio, dizia Gregório XVI. Para entender o problema da liberdade, os tratadistas católicos distinguiam (ao menos, antes do VII) entre liberdade psicológica (livre arbítrio), liberdade física (ausência de coerção) e liberdade moral. Por exemplo, fulano não quer trabalhar. Tem para tanto liberdade psicológica, nada o coage, mas não se pode dizer que tenha o direito de não trabalhar, porque a lei moral o obriga a ganhar o seu próprio sustento.

Pois bem, aplicados esses conceitos ao problema da liberdade de cultos, vê-se com clareza meridiana como é falso o princípio moderno da liberdade religiosa, consagrado pelo direito constitucional moderno e inacreditavelmente canonizado pelo Vaticano II.
No século XIX dois grandes católicos brasileiros tiveram o mérito de tratar da questão com maestria. São eles o bispo do Pará D. Macedo Costa e o filósofo José Soriano de Sousa. Combateram a separação entre a Igreja e o Estado e a liberdade dos cultos, explanando os princípios perenes em que se fundamenta o direito público da Igreja como decorrentes da reta razão que não aceita pôr em pé de igualdade a verdade e o erro. Diz D. Macedo Costa:
“Ora, tal é o catolicismo: religião divina, a única que se demonstra, religião perfeitamente lógica, coerente, harmônica, sujeitando nosso espírito á fé, mas à fé razoável. Logo, a religião católica deve excluir e condenar todas as outras. Logo, o católico não pode admitir a liberdade dos cultos.”
Admiráveis palavras de um bispo realmente católico. Coisa raríssima em nossos dias. No entanto, o mais importante é que D. Macedo Costa explica que o respeito às convicções alheias implica a sua veracidade, não basta a sinceridade.

De maneira que, quando se diz, por exemplo, que a Igreja Católica respeita as religiões da humanidade como respostas, ainda que em graus diversos, ao Deus que quer a salvação de todos os homens, há o grave risco de ter por mais ou menos verdadeiras e boas todas as religiões. O certo, o tradicional, aquilo que a Igreja sempre ensinou, é que, em princípio, o culto público das religiões falsas deve ser reprimido. Por uma questão de prudência, podem-se tolerar os cultos falsos para evitar um mal maior à sociedade, ou por caridade, em deferência à sinceridade das convicções mais íntimas dos seus adeptos, tolerar-lhes o culto privado. Mesmo porque o ato de fé é livre e não se pode forçar ninguém a crer. Mas jamais se pode formular um juízo positivo, “otimista”, sobre as religiões falsas e querer estabelecer com elas uma confraternização para o bem da humanidade. Isto não é católico, é ideal maçônico propagado pela ONU em sua declaração dos direitos humanos e infelizmente presente na Igreja pós-conciliar.
Por sua vez, Soriano de Sousa em seu opúsculo A religião do Estado e a liberdade dos cultos faz ver que a possibilidade de aderir a uma religião falsa não é da essência da liberdade mas defeito. Deus e os anjos são livres e impecáveis. Deve-se distinguir, portanto, a liberdade psicológica de aderir a um culto falso, como conseqüência da imperfeição do livre arbítrio debilitado pelo pecado original, e o direito, como aquilo que é justo e correspondente à verdade e ao bem.

Que tem que ver que ver tudo isso com o escândalo da pedofilia? Tem muito. Por nauseabundo que seja, muito pedófilos reivindicam hoje o seu “direito” dizendo que não perturbam ninguém, que não forçam ninguém, que tudo é uma questão de “cultura”, que um adolescente pode sentir prazer com um adulto. Dizem que muitas vezes são vítimas da extorsão de moleques. Dizem também que, assim como a psiquiatria deixou de considerar a homossexualidade uma patologia, assim no futuro há de considerar a pedofilia como uma opção normal, visto que um adolescente pode sentir tal atração. Quem poderá impedi-los se não perturbam a ordem pública? Sobretudo, se inventarem (ou ressuscitarem) uma religião que os envolva em uma mística orgiástica!
Realmente, do jeito que as coisas caminham, parece que não estamos longe disso. Haverá até psicotrópico para tratar os “intolerantes” que tenham dificuldade de adaptação à cultura da liberdade.

Some-se a tais erros doutrinários de uma falsa noção de direito e liberdade a lama da pornografia e do erotismo invadindo quase todos os ambientes; some-se o elogio da psicanálise nas universidades católicas; acrescente-se ainda a vulgaridade dos costumes, a familiaridade inconveniente nas relações humanas; some-se a omissão dos pais na educação dos seus filhos; mencione-se ainda a indecência dos trajes; recorde-se a nova moral conjugal que nega a hierarquia de fins do matrimônio e ver-se-á então que não poderia haver caldo de cultura melhor para a grassar o vicio até nos recintos mais sagrados. Toda a sociedade está vulnerável, depois de abatidas as muralhas das instituições tradicionais. Em muitas paróquias hoje não há diferença de clima entre Copacabana e as “celebrações”. Careta e hipócrita é quem reclama.

Como se vê, o mundo é perverso e hipócrita atribuindo à Igreja um vício que no fundo ele fomenta e aplaude. Mas para que a Igreja se veja livre dessa nódoa vergonhosa é preciso reconstruir as muralhas da cidade católica, fundada na doutrina do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa
Anápolis, 6 de abril de 2010

Investigação sobre pedofilia na Igreja.

Entrevista com Lorenzo Bertocchi, historiador do Cristianismo.

Quantos casos de pedofilia foram registrados na Igreja Católica? E quantos são verificados na sociedade? Para responder a estas e outras perguntas sobre um tema tão delicado e espinhoso, Francesco Agnoli, Massimo Introvigne, Giuliano Guzzo, Luca Volonté e Lorenzo Bertocchi acabam de publicar um ensaio sobre o assunto. Para aprofundar no tema, ZENIT entrevistou um dos autores do ensaio italiano "Indagine sulla pedofilia nella Chiesa" (edições Fede & Cultura). É Lorenzo Bertocchi, estudioso da história do Cristianismo.

-Quantos são os casos de pedofilia na Igreja?

Bertocchi: Ainda que houvesse um único caso, é óbvio que já seria demasiado e dentro da Igreja quem manifestou idéias muito claras neste respeito é justamente Bento XVI. Dito isto, creio que é útil entender as dimensões do fenômeno e, na primeira parte do livro, Massimo Introvigne nos ajuda a moldar o problema. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo investigações acadêmicas autorizadas, de 1950 a 2002, os sacerdotes acusados de efetiva pedofilia foram 958 de mais de 109.000 sacerdotes, mas as condenações diminuem drasticamente até um número inferior a 100. O padre Lombardi [porta-voz do Vaticano], em uma declaração de 10 de março passado, mencionava o caso da Áustria onde, no mesmo período, as acusações verificadas e atribuídas à Igreja somam 17, enquanto em outras ambientes elas passam de 510. Estes números podem dizer muito ou nada, todavia mostram sim uma tendência que permite esvaziar a hipótese que a respeito da Igreja quereria fazer-se "de toda la hierba un haz" [expressão italiana que significa "generalizar"].

-E na sociedade?

Bertocchi: Lendo os dados parece que a praga da pedofilia está verdadeiramente estendida e é impressionante. Em um relatório da Organização Mundial da Saúde - Estimativas Globais de Conseqüências de Saúde devido à Violência Contra Crianças (Genebra, OMS 2006) - é indicado, por exemplo, que em 2002, no mundo, estima-se que aproximadamente 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos forçados a diversas formas de abuso no âmbito sexual.
Um relatório da ONU, apresentado em 21 de julho de 2009 na Assembléia Geral, centraliza a atenção, por outro lado, na situação da internet: a escala mundial, o número de páginas de natureza pedo-pornográfico aumenta em ritmo vertiginoso; por exemplo, se em 2001 eram 261.653, em 2004 somavam-se 480.000, tendência que também se confirma consultando os relatórios anuais da Associação Meter, do padre Di Noto.

-Que cultura promove a pedofilia?

Bertocchi: No centro da problemática está a "cultura do sexo" que, especialmente a partir da chamada 68, promoveu uma verdadeira revolução destinada a "abolir os tabus". A difusão da pornografia, que de alguma maneira representa a bandeira desta revolução, está à vista de todos. A mentalidade dominante hoje é aquela que justifica a prática de uniões sexuais de todo o tipo, fruto de um pensamento que encontra suas raízes em De Sade, Freud, Fromm, Reich, Marcuse etc, aqueles que poderíamos definir como profetas da exaltação do orgasmo.

-Como, quando e por que a cultura favorável à pedofilia penetrou nos seminários e na Igreja?

Bertocchi: A resposta pode vir da carta que Bento XVI escreveu aos católicos da Irlanda onde, além de confrontar o problema de casos de pedofilia no clero irlandês, o Santo Padre procura também as raízes do fenômeno. Em sua argumentação, faz referência para que "o programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II foi as vezes mal entendido". Seguramente há uma alusão àquele período dos anos 60/70 do século passado no qual a chamada "abertura do mundo" conduziu a Igreja a uma debilidade da fé e a uma secularização progressiva.
O ataque social, feito em princípio pela autoridade, com o famoso slogan "proibido proibir", se insinuou na Igreja e, deste modo, nos seminários uma certa interpretação terminou por confundir a disciplina com o diálogo; o resultado foi uma manga mais larga na seleção de candidatos para o sacerdócio.

-Por que a pedofilia organizada e praticada com o turismo sexual não faz barulho e não é possível detê-la?

Bertocchi: A investigação da Universidade de Parma realiada por ECPAT estanelece o perfil do "turista" que não é certamente um mostro: em 90% dos casos, tem entre 20 e 40 anos, cultura de nível meio alto, bom padrão de renda, muito freqüentemente casado. Por outro lado, as vítimas têm idade entre 11 e 15 anos, no caso das meninas, e entre 13 e 18 para os rapazes.
Este tipo de "turismo" é considerado crime em muitos países, mas apesar disto é uma indústria florescente e justo pelo fato de ser "uma indústria" torna-s difícil deter o fenômeno. Mas também há uma razão mais radical investigada naquela "cultura do sexo" da qual falava a pouco; há expressões políticas que são estandartes de temas nascidos naquela "cultura" e que se movem como um verdadeiro lobbby.

-Qual é o limite entre realidade e falso moralismo?

Bertocchi: Por uma espécie de perversão da verdade, hoje nos deparamos com uma confusão ética de taps proporções que a realidade se perde no subjetivismo. Vemos, deste modo, que a condenação do comportamento imoral dos religiosos vem da mesma atmosfera cultural que está disposto a aceitar a toda arbitrariedade do indivíduo. As razões são de tipo ideológico, mas também de tipo econômico, como demonstram esses escritórios de advocacia americanos que têm ganho milhares de milhões de dólares, graças ao uso despreocupado da acusação de pedofilia.

-Como avaliar a linha de tolerância zero adotada pelo Papa Bento XVI?

Bertocchi: A determinação do Santo Padre querendo deixar claro me parece exemplar, mostra uma via de transparência que não só é válida para a Igreja, mas deveria ser para todos os setores da sociedade que tiveram ou tenham haver com este triste fenômeno.
Nas meditações da Via Crucis 2005, o então cardeal Ratzinger mostrou claramente a necessidade de se "fazer limpeza" dentro da Igreja, vontade não justiceira, mas desejo de verdadeira justiça para fazer brilhar cada vez mais a Esposa de Cristo "uma, santa, católica e apostólica".

-De que modo a Igreja Católica poderá será capaz de superar a consternação e a desconfiança disseminada entre as pessoas?

Bertocchi: Eu concordo com as conclusões que Agnoli mostra no ensaio: oração, recuperação do senso de sobrenatural, serviço efetivo do governo da Igreja e, eu acrescento, uma profunda recuperação do senso de pecado.

"O verdadeiro inimigo para temer e combater é o pecado, o mal espiritual que, às vezes, lamentavelmente, contamina também aos membros da Igreja", disse Bento XV após a Regina Caeli de 16 de maio.

Infelizmente, em muitas catequeses, está cada vez menos na moda o tópico "pecado", deslocado por muita psicologia e muita sociologia. Reconhecer-se pecadores, porém, é a via para acolher a Misericórdia de Deus. Caridade na Verdade, não há outro modo para dar esperança aos homens de nosso tempo.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

CARDEAL SARAIVA MARTINS: "EM RELIGIÕES QUE NÃO EXIGEM O CELIBATO HÁ MAIS PEDÓFILOS"

Cardeal José Saraiva Martins afirma em entrevista que o celibato não está correlacionado com os casos de pedofilia na Igreja. O prefeito emérito da Congregação das Causas dos Santos, José Saraiva Martins, está com 78 anos e chegou a Roma aos 17 anos de idade.Entrevistado sobre a existência de uma crise na Igreja, ele respondeu que o que existe "é uma campanha muito bem organizada contra Igreja e o papa".

"Mas a Igreja tem dois mil anos de história e sempre houve campanhas assim: lutas levadas a cabo pelos que não estão de acordo com os valores cristãos. A perseguição existe desde os primeiros tempos e continuará até o fim do mundo" – enfatizou.

Questionado sobre se a Igreja não deveria acompanhar as mudanças das sociedades, o purpurado afirmou que "a Igreja tem de continuar sua missão, que é afirmar os valores do Evangelho".

"Mas não impõe nada a ninguém; expõe e propõe, mas o homem é livre de acreditar ou não. É preciso, todavia, dar liberdade à Igreja" - acrescentou.

Acerca da relação entre os casos de pedofilia e o celibato, o Cardeal Saraiva Martins afirmou:

"Não existe essa correlação. Em outras religiões em que não se exige o celibato, há mais pedófilos; e isso é a prova evidente de que não existe qualquer relação entre uma coisa e outra!"Sobre a dificuldade em manter o voto do celibato, o cardeal disse que "não é difícil quando há uma verdadeira vocação para o sacerdócio".

"Um jovem que se doa totalmente à vocação e a abraça, consegue consagrar-se totalmente àquilo em que acredita. A própria vocação para o casamento ou para a maternidade é um caminho difícil, mas se torna fácil quando há amor genuíno. O padre não é uma pessoa frustrada. Consagrou-se totalmente ao exercício da sua missão" – explicou o purpurado.