quinta-feira, 22 de abril de 2010

Padres pedófilos e a Pedofilia: ponderações.

Caro Leitor, em algumas partes do mundo - também no nosso País - têm surgido escândalos provocados por padres pedófilos (há também outros vários escândalos ligados à vida sexual dos sacerdotes). Na Europa, sobretudo, a imprensa e certos ambientes da Igreja ditos progressistas vêm procurando associar esses tristes e inaceitáveis casos ao celibato. Eis algumas ponderações que gostaria de fazer:

1. Há, sim, na Igreja, pedófilos sacerdotes. É triste, é vergonhoso, mas é verdade. Eles não estão nela porque a Igreja os promove e os acolhe. Há sacerdotes pedófilos, como há pastores evangélicos pedófilos, pais de família pedófilos, professores pedófilos, juízes pedófilos, médicos, psicólogos, militares e jornalistas pedófilos. Nem mais nem menos! Aliás, como já acenei neste blog, a grande maioria dos abusos de menores dá-se no recinto do próprio lar. Quando era padre acompanhei muitos desses dramas dolorosos e de difícil resolução. Então, por que aparecem muito mais os casos de padres pedófilos?

Por vários motivos. Eis alguns:

1 - É muito mais difícil para um sacerdote se esconder;
2 - os casos com padres são mais divulgados pelo potencial de escândalo e de atrair atenção;
3 - há o contato de muitos padres com jovens coroinhas e jovens educandos nas escolas católicas;
4 - em alguns países há uma indústria mafiosa para arrancar dinheiro da Igreja com casos de pedofilia verdadeiros ou forjados.

2. Associar a pedofilia ao celibato é pura má fé! Uma coisa é totalmente independente da outra. Um pedófilo pode mascarar-se por baixo do ministério sacerdotal como pode encapar-se num casamento! E são tantos! O celibato é um dom de Deus para a Igreja e, que fique bem claro: não há nenhuma propensão do Papa e do episcopado de suspender a disciplina atual, que exige o celibato dos sacerdotes! A crise de vocação não é motivada pelo celibato, como também a crise de fidelidade não tem no celibato sua causa! A crise é de fé, não de celibato!

3. É preciso deixar claro o seguinte: o atual processo de secularização, de banalização do sagrado, da redução do sacerdócio a uma profissão e do padre a um fazedor de pastoral - esquecendo a ontologia mesma do sacerdócio, isto é, a essência, o ser mais profundo do padre, que pelo sacramento da Ordem torna-se um homem de Deus, um outro Cristo, um homem inteiramente consagrado "às coisas de Deus" -, é isto, precisamente, que leva ao relaxamento e ao enfraquecimento da vida moral de tantos padres. Há uma tendência, até mesmo em certos setores da Igreja, de ver o padre de modo secularizado, tirando-lhe todo o sentido sagrado e místico. Até na nomenclatura, quantas vezes, em tantos ambientes teologicamente doutros, evita-se chamar o padre de sacerdote para denominar-lhe simplesmente presbítero é de fé católica e é indispensável recordar: o padre deve ser um homem de Deus, um homem sagrado e consagrado, um homem cujo modo de ser e de viver deve trazer claramente as marcas do Eterno!

4. Nunca esqueçamos: somos pecadores! O padre, como qualquer outro ser humano, é membro de uma humanidade ferida, com falhas, com más tendências, com fraquezas. Os padres são assim, os casados são assim, a humanidade toda é assim! O cristianismo ensina claramente que todos somos marcados pela ferida do pecado original. Não somos certinhos, bonzinhos, cheirosinhos! Somos lavados por Cristo, salvos por Cristo, recuperados, curados pela cruz de Cristo! Não é por acaso e não é jogo de cena que ao início de toda Missa comecemos por bater no peito pedindo perdão. O pecado é uma realidade concreta, forte, próxima, presente na nossa existência. Contra o pecado é necessária a vigilância, a oração, a mortificação, uma profunda adesão ao Senhor. Nunca nos deveríamos assustar com o pecado, mas olhar para o remédio, que é Cristo, e dele fazer uso!

Sempre houve padres com más tendências na área sexual-afetiva. Muitos desses conseguiram superar e integrar suas misérias com uma vida espiritual séria e devota. Com a oração, a sincera busca da direção espiritual, a confissão e os demais meios que a Igreja nos oferece para buscar a santidade, é possível ir superando as feridas e quedas e ser um santo sacerdote, um verdadeiro homem de Deus.

O padre, o cristão não são uns impecáveis, mas pessoas a caminho no seguimento de Cristo, olhando para ele, nele colocando a esperança, nele procurando o perdão e nele crescendo dia por dia, até o Dia eterno.

O problema é que com a secularização e o relativismo atuais, tudo parece permitido, tudo é jogado na conta da misericórdia de Deus, tudo é resolvido psicologicamente! Penso que um dos maiores problemas para uma verdadeira e leal vivência do celibato dos padres é, precisamente, a secularização, isto é, a mundanização, a perda da consciência e dos sinais de uma clara identidade que mostra que o sacerdote é um homem de Deus.

Muitos na Igreja alegam que os sinais de uma identidade (no agir, no rezar, no modo de viver, no vestir, no modo de se divertir) são uma capa para esconder insegurança e vida dupla. Não concordo de modo algum! Há, realmente, aqueles, que se prendem de modo exagerado e patológico a sinais externos, como as vestes eclesiásticas e paramentos, descuidando-se de outros aspectos importantes e até mesmo do cultivo de uma piedade profunda, madura e integrada, de um zelo pastoral verdadeiro, de uma simplicidade de vida, sem ostentações ou luxos e sem excessivas preocupações materiais.

Mas, daí, a se afirmar, como é costume hoje em muitos meios da Igreja, que valorizar o sagrado do sacerdócio é sinal e sintoma de hipocrisia, de carreirismo, de exibicionismo, de autoafirmação e mascaramento, é realmente um passo muito comprido e serve somente para justificar o outro extremo: a secularização, a vida sem piedade, uma compreensão do sacerdócio de modo simplesmente humano, funcional e mesmo profissional.

5. Vivemos num mundo complexo, paganizado, em crise de valores. Os jovens que entram no seminário não vêm do céu, mas do mundo. É fácil tirar o menino do "mundo", mas tirar o "mundo" do menino, como é difícil. Aqui a urgência de uma formação seminarística que dê mística sacerdotal sólida, madura e profunda aos candidatos ao sacerdócio, também a necessidade de conhecer a dinâmica afetiva dos seminaristas.

É preciso ter bem claro: um rapaz que não consiga ser casto no celibato não pode, de modo algum, ser padre! Um rapaz com tendências pedófilas tem que ser imediatamente mandado embora do seminário. Do mesmo modo, um sacerdote que se mostra incapaz de viver seu celibato deve ser aconselhado a deixar o exercício do ministério e, no caso de pedofilia, deve ser realmente excluído do exercício do sacerdócio: deve ser demitido do estado clerical. Quanto à tão propalada condescendência de Igreja com padres pedófilos no passado, é bom não esquecer que não se tinha nem de longe ideia da extensão e da gravidade da situação dessas pessoas pedófilas. O problema da pedofilia na sociedade é uma realidade que emergiu há poucas décadas atrás e ainda nos surpreende a todos!

6. É bom também que se saiba que na Igreja há o Direito Canônico: ninguém pode ser condenado sem uma acusação formal, sem ser antes advertido, sem o direito de defender-se. Não é justiça e é contra a caridade promover pura e simplesmente uma caça às bruxas. Como também é pecado grave de omissão por parte da autoridade eclesiástica simplesmente fechar os olhos para os escândalos e delitos dos sacerdotes: é necessário tomar corajosamente as medidas cabíveis!

7. Uma coisa importante: a infidelidade de muitos não pode deixar na sombra a fidelidade heróica e silenciosa de muitos e muitos tantos que, no dia-a-dia, sem aparecer em jornais, dão um esplêndido testemunho de amor a Cristo e aos irmãos. Que ninguém duvide: a grande maioria de nossos padres vive com alegria e amor a Cristo o seu celibato e é digna de todo o respeito e toda a confiança de nossa parte!

Os católicos devem ter muito cuidado com uma imprensa em geral anticristã e sensacionalista, preocupada não com a verdade, mas com o escândalo. Quanto já se tentou incriminar o Santo Padre dos mais variados modos! Quanto já se deturpou atitudes e palavras do Papa! Que inferno fizeram os meios de comunicação com o caso da menina do aborto de Alagoinha, em Pernambuco.

Até quando seremos ingênuos, achando que os meios de comunicação transmitem a mais pura verdade, sem escusos interesses por trás da notícia?

8. Uma última observação: nos momentos de glória e beleza da vida da Igreja (como, por exemplo, no sepultamento de João Paulo II) é fácil estufar o peito e declarar-se católico.
O católico verdadeiro, o verdadeiro filho da Igreja, é aquele que nos momentos de dor e de escândalo, quando a Igreja é apedrejada, chora com sua Mãe católica, crava os olhos em Cristo, reza e permanece fiel. Para este, vale a palavra do Salvador: "Fostes vós que permanecestes comigo em todas as minhas tribulações!" Nunca esqueçamos: o mundo não está preocupado com o bem da Igreja ou das vítimas da pedofilia, mas com o escândalo, o sensacionalismo e a imposição hipócrita do politicamente correto. É só!

Escrito por Dom Henrique

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Muito mais que pedofilia.

POR CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER

As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca. A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de São Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.

As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.

O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!”
Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.

Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!
Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?

As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse São Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!

A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.

E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.

Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!

Cardeal Odilo Pedro Scherer é Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo/SP.

Fonte: Artigo publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. 11. 04.2010.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Perita denuncia "novo regime do terror" que busca destruir força moral da Igreja.

Elizabeth Lev é uma historiadora americana que atualmente trabalha em Roma e que rechaça a campanha da mídia atual contra sacerdotes e religiosos.
Ela a compara àquela do final do século XVIII na França quando os escândalos se magnificavam para fazer as pessoas acreditarem que isto era endêmico no clero, o que levaria anos mais tarde ao assassinato de muitos presbíteros.
A partir da perspectiva de um analista protestante inglês dessa época, a perita explica que a intenção dos ataques é destruir a força moral da Igreja Católica.
Em um artigo titulado "Em defesa do clero católico (ou queremos outro reino do terror?)" publicado no site Web Politics Daily, Lev se refere ao clima triunfalista em 1790 na França com a revolução e à postura de Edmund Burke, um protestante membro do Estado inglês, que nesse ano criticava a campanha anticlerical dos franceses que desenterravam escândalos de décadas e inclusive, séculos antes.

"Vendo o estilo geral das últimas publicações, as pessoas poderiam pensar que o clero da França são uma espécie de monstros, uma horrível composição de superstição, ignorância, preguiça, fraude, avareza e tirania. Mas, é certo isto?", questionava-se Burke.

Depois de perguntar-se sobre o que Burke teria opinado ante as tentativas da mídia atual de vincular, a qualquer preço, o Papa com qualquer escândalo de pedofilia, Lev assinala que o protestante inglês comentava naquele tempo que "não escuto com muita credibilidade a quem fala do mal daqueles a quem vão saquear. Suspeito, ao invés, que os vícios aos que se referem são fingidos ou exagerados quando se busca apenas proveito no castigo que planejam".

Quando Burke escrevia isto, diz Lev, "os revolucionários franceses estavam preparando-se para a confisco massivo das propriedades da Igreja".

Atualmente, escreve a historiadora, "os luxuriosos informes sobre os abusos sexuais do clero (como se estivessem limitados somente ao clero católico) foram colocados por cima dos massacres de cristãos na Índia e Iraque. Além disso, a frase ‘abuso sexual do clero’ se equipara erroneamente com ‘pedofilia’ para avivar ainda mais a indignação. Não consideram a perspicácia política de um Edmund Burke que se pergunta por que a Igreja Católica é escolhida para ser tratada assim".

Logo depois de reconhecer que efetivamente é muito grave o mal produzido por uma pequeníssima minoria de sacerdotes católicos contra menores, Lev recorda que são muitíssimos mais os que "vivem santamente em suas paróquias, atendendo os seus paroquianos. Estes bons homens foram manchados pela mesma tinta venenosa" de muitos meios.

Seguidamente assinala que nos Estados Unidos os abusos sexuais de clérigos não chegam ao 2 por cento e que este dado foi apresentado pelo New York Times. Mas ao "ler os jornais, pareceria que o clero católico tem um monopólio em acusações a menores".

"Se Burke estivesse vivo hoje em dia, talvez teria discernido outro motivo atrás dos ataques ao clero católico, além das propriedades da Igreja: principalmente destruir a credibilidade de uma voz moral capitalista no debate público" que se fez evidente, por exemplo, na reforma de saúde nos Estados Unidos.

Ante a posição pró-vida dos prelados, precisa Lev, "e para silenciar a voz moral da Igreja, a opção preferida foi a de desacreditar a seus ministros".

"A três anos das reflexões do Burke, suas predições provaram ser corretas. O Regime do Terror chegou em 1793, levando centenas de sacerdotes à guilhotina e forçando o resto a jurar lealdade ao Estado por cima da Igreja. Para Burke estava claro que a campanha anticlerical de 1790 era apenas temporal e preparatória para a abolição última da religião cristã ao levar a seus ministros ao desprezo universal", prossegue a historiadora.

"Espera-se que os americanos tenham o suficiente sentido comum para mudar de curso muito antes que cheguemos a este ponto", conclui.

domingo, 18 de abril de 2010

LEIA DISCURSO DO PAPA AOS BISPOS DO PARÁ E AMAPÁ.

Leia a seguir, na íntegra, o discurso de Bento XVI aos bispos do Pará e Amapá, seguido da saudação do Presidente do Regional Norte 2, Dom Jesus Maria Cizaurre, Bispo Prelado de Cametá.

Amados Irmãos no Episcopado
A vossa visita ad Limina tem lugar no clima de louvor e júbilo pascal que envolve a Igreja inteira, adornada com os fulgores da luz de Cristo Ressuscitado. Nele, a humanidade ultrapassou a morte e completou a última etapa do seu crescimento penetrando nos Céus (cf. Ef 2, 6). Agora Jesus pode livremente retornar sobre os seus passos e encontrar-Se como, quando e onde quiser com seus irmãos. Em seu nome, apraz-me acolher-vos, devotados pastores da Igreja de Deus peregrina no Regional Norte 2 do Brasil, com a saudação feita pelo Senhor quando se apresentou vivo aos Apóstolos e companheiros: «A paz esteja convosco» (Lc 24,36). A vossa presença aqui tem um sabor familiar, parecendo reproduzir o final da história dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 33-35): viestes narrar o que se passou no caminho feito com Jesus pelas vossas dioceses disseminadas na imensidão da região amazônica, com as suas paróquias e outras realidades que as compõe como os movimentos e novas comunidades e as comunidades eclesiais de base em comunhão com o seu bispo (cf. Documento de Aparecida, 179). Nada poderia alegrar-me mais do que saber-vos em Cristo e com Cristo, como testemunham os relatórios diocesanos que me enviastes e que vos agradeço. Reconhecido estou de modo particular a Dom Jesus Maria pelas palavras que acaba de me dirigir em nome vosso e do povo de Deus a vós confiado, sublinhando a sua fidelidade e adesão a Pedro. No regresso, assegurai-o da minha gratidão por tais sentimentos e da minha Bênção, acrescentando: «Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão» (Lc 24,34).
Nesta aparição, palavras - se as houve - diluíram-se na surpresa de ver o Mestre redivivo, cuja presença diz tudo: Estive morto, mas agora vivo e vós vivereis por Mim (cf. Ap 1,18). E, por estar vivo e ressuscitado, Cristo pode tornar-Se «pão vivo» (Jo 6, 51) para a humanidade. Por isso sinto que o centro e a fonte permanente do ministério petrino estão na Eucaristia, coração da vida cristã, fonte e vértice da missão evangelizadora da Igreja.

Podeis assim compreender a preocupação do Sucessor de Pedro por tudo o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica: hoje Jesus Cristo continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice consagrados. Uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor.

Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber.

É óbvio que, neste caso, receber não significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá acontece, mas cooperar – porque tornados capazes de o fazer pela graça de Deus – segundo «a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (Const. Sacrosanctum Concilium, 2).

Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora. Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)!

O mistério eucarístico é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambigüidades e reduções», particularmente quando, «despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa» (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10).

Subjacente a várias das motivações aduzidas, está uma mentalidade incapaz de aceitar a possibilidade duma real intervenção divina neste mundo em socorro do homem. Este, porém, «descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo: cada um sente-se como que preso com cadeias» (Const. Gaudium et spes, 13).

A confissão duma intervenção redentora de Deus para mudar esta situação de alienação e de pecado é vista por quantos partilham a visão deísta como integralista, e o mesmo juízo é feito a propósito de um sinal sacramental que torna presente o sacrifício redentor. Mais aceitável, a seus olhos, seria a celebração de um sinal que corresponda a um vago sentimento de comunidade.

Mas o culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. «A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» (Exort. ap. Sacramentum caritatis, 14).

A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro. «Fica conosco, Senhor!» (cf. Lc 24, 29): estão rezando os filhos e filhas do Brasil a caminho do XVI Congresso Eucarístico Nacional, daqui a um mês em Brasília, que deste modo verá o jubileu áureo da sua fundação enriquecido com o “ouro” da eternidade presente no tempo: Jesus Eucaristia.

Que Ele seja verdadeiramente o coração do Brasil, donde venha a força para todos homens e mulheres brasileiros se reconhecerem e ajudarem como irmãos, como membros do Cristo total. Quem quiser viver, tem onde viver, tem de que viver. Aproxime-se, creia, entre a fazer parte do Corpo de Cristo e será vivificado!

Hoje e aqui, tudo isto desejo à esperançosa parcela deste Corpo que é o Regional Norte 2, ao conceder a cada um de vós, extensiva a quantos convosco colaboram e a todos os fiéis cristãos, a Bênção Apostólica.

Papa adverte contra sincretismo na liturgia.

Bento XVI advertiu nessa quinta-feira que aqueles que, em nome da inculturação, decaem no sincretismo estão distantes da verdadeira liturgia cristã. O Papa falou a bispos do norte do Brasil (Estados do Pará e Amapá), recebidos em audiência no contexto da visita ad Limina Apostolorum.

Em seu discurso, Bento XVI enfatizou sua preocupação “por tudo o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica: hoje Jesus Cristo continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice consagrados”.

O pontífice reconheceu que “uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério”.

Isso “sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor”.


“Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber… É óbvio que, neste caso, receber não significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá acontece, mas cooperar”, disse o Papa.

Bento XVI enfatizou que “se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora”.

“Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa”, disse.

O Papa assinalou, citando João Paulo II, que o mistério eucarístico “é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções, particularmente quando, despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa”.

Bento XVI considera que uma das razões dessa descaracterização está numa “mentalidade incapaz de aceitar a possibilidade duma real intervenção divina neste mundo em socorro do homem”.

“A confissão duma intervenção redentora de Deus para mudar esta situação de alienação e de pecado é vista por quantos partilham a visão deísta como integralista, e o mesmo juízo é feito a propósito de um sinal sacramental que torna presente o sacrifício redentor. Mais aceitável, a seus olhos, seria a celebração de um sinal que corresponda a um vago sentimento de comunidade.”

Mas –prossegue o Papa – o culto “não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo”.

“A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz. A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro”, afirmou o pontífice.

CEN

O Papa ainda enviou uma saudação a todos que estão rezando e preparando o XVI Congresso Eucarístico Nacional (CEN), que, daqui a um mês em Brasília, “verá o jubileu áureo da sua fundação enriquecido com o ‘ouro da eternidade presente no tempo: Jesus Eucaristia”.

“Que Ele seja verdadeiramente o coração do Brasil, donde venha a força para todos homens e mulheres brasileiros se reconhecerem e ajudarem como irmãos, como membros do Cristo total. Quem quiser viver, tem onde viver, tem de que viver”, disse.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Desfazendo mitos sobre pedofilia envolvendo sacerdotes.

1 - É provável que os padres católicos sejam mais pedófilos do que qualquer outro grupo masculino.

Isto é simplesmente falso. Não existe absolutamente nenhuma evidência de que haja mais probabilidade de padres violentarem as crianças do que qualquer outro grupo de homens. O uso e abuso de crianças como objeto de satisfação sexual de adultos é uma epidemia que atinge todas as classes, profissões, religiões e comunidades étnicas espalhadas pelo mundo todo, como indicam claramente as estatísticas em pornografia infantil, incesto e prostituição infantil.

A pedofilia (o abuso sexual de uma criança pré-adolescente) entre os padres é extremamente rara, afetando 0,3% de todo o clero.

Este número, citado no livro “Pedófilos e Padres” (Pedhofiles and Priests) do escritor não-católico Philip Jenkins, vem do estudo mais completo feito até hoje que descobriu que 2.252 padres pesquisados durante um período de 30 anos apresentavam sintomas de serem atormentados pela pedofilia. No escândalo recente de Boston, quatro dos mais de 80 padres acusados pela mídia de “pedófilos” são na verdade culpados de molestar crianças pequenas.

A Pedofilia é um tipo particular de doença compulsiva sexual na qual um adulto (homem ou mulher) abusa de uma criança pré-adolescente. A grande maioria dos escândalos de abuso sexual no clero que agora vêm a tona não envolvem pedofilia. Pelo contrário, eles envolvem efebofilia – atração homossexual a meninos adolescentes. Mas mesmo que o número total de violentadores sexuais no sacerdócio seja maior do que os culpados de pedofilia, este número é menor do que 2% – quando comparado com os entre os homens casados (Jenkins, “Pedophiles and Priests”).

Em vista da crise atual na Igreja, outras denominações religiosas e instituições não-religiosas admitiram ter problemas parecidos tanto com pedofilia como com efebofilia entre os níveis de seu clero. Não existe nenhuma evidência de que seja mais provável os prelados católicos serem pedófilos do que os ministros protestantes, líderes judeus, médicos, ou qualquer outra instituição na qual os adultos estejam numa posição de autoridade e poder sobre as crianças.

2 - O celibato dos padres os leva à pedofilia.

O celibato não tem nenhuma relação de causa com nenhum tipo de vício sexual, incluindo a pedofilia. Na verdade, homens casados são tão suscetíveis à violência sexual de crianças como os padres celibatários (Jenkins, “Priests and Pedophilia”).

Na população em geral, a maioria dos violentadores são homens heterossexuais reprimidos que violentam sexualmente meninas. Também se encontram mulheres entre os violentadores sexuais. Mesmo sendo difícil obter estatísticas precisas sobre abuso sexual infantil, os padrões característicos do violentador sexual em série de crianças tem sido bem explicados. Os perfis do molestador de crianças jamais incluiu adultos normais que são atraídos eroticamente pelas crianças como resultado de abstinência.
(Fred Berlin, “Compulsive Sexual Behaviors” in Addiction and Compulsion Behaviors [Boston: NCBC, 1998], Patrick J. Carnes, “Sexual Compulsion: Challenge for Church Leaders” in Addiction and Compulsion; O’Leary, “Homosexuality and Abuse”).

3 - O casamento do clero faria a pedofilia e outras formas de má-conduta sexual desaparecer.

Algumas pessoas – incluindo alguns católicos dissidentes – estão explorando esta crise para atrair a atenção do público para suas causas próprias. Alguns estão exigindo a condição de casamento para o clero católico em resposta ao escândalo, como se o casamento fosse fazer com que os homens parassem de machucar as crianças. Isto vai de cara com a estatística mencionada acima de que os homens casados são tão suscetíveis a abusar de crianças quanto qualquer celibatário. (Jenkins, “Pedophilia and Priests”). Já que nem o fato de ser católico nem o de ser celibatário predispõe uma pessoa a desenvolver pedofilia, o casamento do clero não resolveria o problema (“Doctors call for pedophilia research”, The Hartford Courante, March 23). Basta olhar para crises parecidas em outras denominações e profissões para ver isto. É fato concreto que jamais se soube que homens heterossexuais física e psicologicamente saudáveis tenham desenvolvido atrações eróticas por crianças como resultado de abstinência sexual.

4 - Celibato do Clero foi uma invenção medieval.

Errado. Na Igreja Católica Ocidental, o celibato se tornou uma prática universal no século IV, a começar com a adoção de Santo Agostinho pela disciplina monástica para todos os seus sacerdotes. Além das várias razões práticas para esta disciplina – presumia-se que ela desencorajava o nepotismo – o estilo de vida celibatário fazia com que os padres fossem mais independentes e disponíveis.

Este ideal também sensibilizou os padres diocesanos para que vivenciassem o mesmo testemunho de seus irmãos de vida monástica. A Igreja não mudou suas diretrizes sobre o celibato, porque através dos séculos ela percebeu o valor prático e espiritual deste costume (Pope Paulo VI, “On the Celibacy of the Priesthood”, Encyclical letter, 1967).
De fato, até mesmo na Igreja Católica de Rito Oriental – que aceita padres casados – os bispos são escolhidos somente entre os padres solteiros. Cristo revelou o significado e o valor verdadeiro do celibato. Os padres católicos desde São Paulo até hoje imitam-no na auto-doação total a Deus e aos outros como celibatários. Embora Cristo tenha elevado o casamento ao plano de um sacramento que revela o amor e a vida da Trindade, Ele também era testemunha viva da vida no mundo que a de vir.

O sacerdócio celibatário é para nós uma testemunha viva para esta vida na qual a unidade e a alegria do casamento entre um homem e uma mulher é superada na comunhão amorosa perfeita entre homem e Deus. O celibato devidamente compreendido e vivido libera a pessoa para amar e servir os outros como Cristo fez. Durante os últimos quarenta anos, o celibato tem sido uma testemunha ainda mais poderosa para o sacrifício de homens e mulheres que se oferecem a serviço de suas comunidades.

5 - Sacerdócio Feminino ajudaria a resolver o problema.

Não existe simplesmente nenhuma conecção lógica entre o comportamento anormal de uma pequena minoria de padres e a inclusão de mulheres em sua classe. Mesmo sendo verdade que a maioria das estatísticas sobre molestação de crianças mostre que existe uma probabilidade maior de homens violentarem crianças, o fato é que algumas mulheres também são molestadoras. Em 1994, o Centro Nacional de Pesquisa de Opinião (National Opinion Research Center) mostrou que a segunda forma mais comum de abuso sexual de crianças envolviam mulheres violentando meninos. Para cada três violentadores masculinos, havia uma violentadora. Contudo, as estatísticas sobre infratoras sexuais são mais difíceis de se obter porque o crime é mais encoberto (Interview with Dr. Richard Cross, “A Question of Character”, National Opinion Research Center; cf. Carnes). Também, a maioria de suas vítima (meninos) tem menos probabilidade de denunciar o abuso sexual que as meninas, especialmente quando o infrator é uma mulher (O’Leary, “Child Sexual Abuse”). Existem razões do porquê a Igreja não pode ordenar mulheres (conforme o Papa João Paulo II explicou várias vezes). Mas isto está além do problema.

O debate sobre a ordenação de mulheres não tem absolutamente nenhuma relação com o problema da pedofilia e outras formas de má conduta sexual.

6 - A Homossexualidade não está conectada com a pedofilia.

Isto é totalmente falso. Os homossexuais têm uma probabilidade três vezes maior de serem pedófilos do que os heterossexuais. Enquanto a pedofilia exclusiva (atração de um adulto por uma criança pré-adolescente do sexo oposto) seja um fenômeno extremo, um terço dos homens homossexuais sentem atração por meninos adolescentes (Jenkins, “Priests and Pedophilia”). A sedução de um menino adolescente por um homem homossexual é um fenômeno bem documentado. Esta forma de comportamento anormal é o tipo mais comum de abuso clerical e está diretamente conectado com o comportamento homossexual. Como mostra Michael Rose no seu livro “Goodbye! Good Men”, existe uma certa sub-cultura homossexual dentro da Igreja. Isto se deve a vários fatores:

*A confusão da Igreja no início da revolução sexual dos anos 60, o tumulto subseqüente ao Concílio Vaticano II, e a maior aprovação do comportamento homossexual em geral pela sociedade criou um ambiente que fez com que homens homossexuais ativos que aceitaram o celibato fossem admitidos e tolerados no sacerdócio.

*A Igreja também passou a se apoiar em profissões psiquiátricas para examinar candidatos e para tratar aqueles padres identificados como problemáticos. Em 1973, a Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association) mudou a caracterização de homossexualidade para a orientação objetivamente desordenada e removeu-a do Manual de Diagnóstico e Estatística (Diagnostic and Statistic Manual IV (Nicolosi, J., 1991, “Reparative Therapy of Male Homosexuality”, 1991; Diamond, E., et al., “Homosexuality and Hope”, unpublished CMA document)).

*O tratamento dos comportamentos sexuais anormais seguiram o mesmo processo. Contudo, mesmo que o comportamento da Igreja para com aqueles que lutavam contra as atrações homossexuais seja compassivo, ela tem sido consistente em manter a visão de que a homossexualidade é objetivamente desordenada e que o casamento entre um homem e uma mulher é o contexto apropriado para a atividade sexual. Atualmente tem havido maiores esforços da Igreja em não concordar que homens com indícios de homossexualidade sejam aceitos para o sacerdócio.

7 - A hierarquia católica não fez nada para abordar a pedofilia.

Esta acusação, mesmo não sendo percebida, é falsa. Quando o código de Direito Canônico da Igreja foi revisado em 1983, uma passagem importante foi adicionada: “O clérigo que comete qualquer ofensa contra o sexto preceito do Decálogo (sexto mandamento), principalmente se a ofensa foi cometida com violência ou ameaças, publicamente ou com um menor de 16 anos (agora extendido para 18 anos), deve ser punido com punições justas, não excluindo a expulsão do estado clerical” (1395:2).

Mas certamente esta não é a única coisa que a Igreja fez. Os bispos, a começar pelo Papa Paulo VI, em 1967, publicaram uma advertência aos fiéis católicos sobre as conseqüências negativas da revolução sexual.

A encíclica do papa, “Sobre o Celibato dos Sacerdotes” abordou a questão do celibato sacerdotal em face a uma cultura que clamava por uma “liberdade” sexual maior. O papa confirmou o celibato mesmo quando chamou os bispos a serem responsáveis por “colegas padres perturbados por dificuldades que colocavam seriamente em perigo o dom divino que possuíam”. Ele aconselhou os bispos a procurarem ajuda apropriada para estes padres, ou, em casos graves, a dispensarem os padres que não pudessem ser ajudados. Além disso, ele os pressionou para serem mais prudentes aos julgarem a aptidão de candidatos para o sacerdócio.
Em 1975, a Igreja lançou outro documento chamado “Declaração sobre Alguns Pontos de Ética Sexual” (Joseph Ratzinger) que abordou explicitamente, entre outras questões, o problema da homossexualidade entre os padres. Ambos os documentos de 1967 e 1975 abordaram os tipos de anormalidade sexual, incluindo a pedofilia e a efebofilia, que são especialmente prevalescentes entre os homossexuais.
Em 1994, o Comitê Ad Hoc sobre Abuso Sexual publicou as diretrizes para as 191 dioceses do país na época para ajudá-las a desenvolver políticas para lidar com o problema do abuso sexual de menores. Quase todas as dioceses responderam e desenvolveram suas políticas próprias (documento da USCCB: “Guidelines for dealing with Child Sexual Abuse”, 1993-1994).
Nesta época, a pedofilia foi reconhecida como uma doença que não podia ser curada, e um problema que estava se tornando mais prevalescente devido ao aumento da pornografia, sobretudo infantil. Antes de 1994, os bispos pegaram a deixa dos especialistas em psiquiatria que acreditavam que a pedofilia podia ser tratada com sucesso. Os padres culpados de abuso sexual eram mandados para uma das várias clínicas de tratamento espalhadas pelos Estados Unidos. Os bispos confiavam com freqüência na opinião dos especialistas para determinar se os padres estavam aptos para o ministério. Isto não diminuiu a negligência da parte de alguns membros da hierarquia, mas dá uma idéia sobre o caso. Em resposta aos escândalos recentes, algumas dioceses estão cirando comissões especiais em abuso infantil, bem como grupos de defesa das vítimas; e estão reconhecendo oficialmente que qualquer alegação legítima de abuso deve ser tratada imediatamente.

8 – O problema real é a doutrina da Igreja sobre Moralidade Sexual, não a pedofilia.

A doutrina da Igreja sobre moralidade sexual está enraizada na dignidade da pessoa humana e no bem da sexualidade humana. Esta doutrina condena o abuso sexual de crianças em todas as suas formas, da mesma forma que condena outros crimes sexuais repreensíveis como o estupro, incesto, pornografia e prostituição, infantil e adulta. Em outras palavras, se esta doutrina fosse vivenciada, não existiria o problema da pedofilia. A noção de que esta doutrina de alguma forma leve à pedofilia é baseada num engano ou numa má-interpretação deliberada da moralidade sexual católica. A Igreja, fundamentada na Palavra, reconhece que a atividade sexual sem o amor e o compromisso encontrado unicamente no matrimônio abala a dignidade da pessoa humana e é por fim destrutivo. Com relação ao celibato, séculos de experiência provaram que homens e mulheres podem se abster de atos sexuais quando vivem uma vida plena, saudável e profunda.

9 - Os jornalistas católicos têm ignorado o problema da pedofilia.

Esta afirmação é completamente falsa. Nossa reportagem de capa de outubro de 2001 apresentava “THE PRICE OF PRIESTLY PEDERASTY”, uma exposição sobre o escândalo que só explodiria na mídia três meses depois. E nós não fomos os únicos a cobrir o problema da pedofilia/pederastia. Charles Sennot, autor do “Broken Covenant”, Rod Dreher da “The National Review” , Ralph MacInercy co-fundador da CRISIS, Maggie Gallagher, Dale O’Leary, a Catholic Medical Association, Michael Novak, Peggy Noonan, Bill Donohue, Dr. Richard Cross, Philip Lawler, Alan Keyes e o Monsenhor George Kelly, todos abordaram a questão com exaustão. Só porque a mídia popular escolheu ignorar nosso trabalho não quer dizer que o trabalho não tenha sido feito.

10 - A exigência do celibato limita o número de homens candidatos ao sacerdócio, resultando num alto número de padres com sexualidade desequilibrada.

Primeiramente, não existe um “alto número de padres com sexualidade desequilibrada”.
Existe sim uma ênfase maliciosa e direcionada da mídia mundial sensacionalista, na exígua minoria (fala-se de 2% no máximo) de clérigos indignos. A grande maioria de padres são normais, saudáveis e fiéis. Todo dia eles se mostram merecedores de crédito e confiança por parte daqueles confiados aos seus cuidados. Em segundo lugar, aqueles que não sentem vocação para a vida celibatária não são chamados ipso facto a serem padres católicos. Na verdade, a maioria dos homens não estão destinados ao celibato. Contudo, alguns estão – e destes alguns são chamados por Deus para o sacerdócio.
A vocação sacerdotal, assim como o matrimônio, exige o consentimento livre e mútuo de ambas as partes. Assim, a Igreja deve discernir se um candidato é de fato merecedor e apto mental, física e espiritualmente ao compromisso de uma vida de serviço sacerdotal. O desejo do candidato para o sacerdócio não constitui uma vocação em si mesmo e por si só. Os diretores espirituais e vocacionais hoje estão afinados com as falhas de caráter que tornam um candidato desqualificado.

terça-feira, 13 de abril de 2010

VATICANO: DIRETRIZES SOBRE ABUSOS CONTRA MENORES.

A Congregação para a Doutrina da Fé publicou, nesta segunda-feira, uma nota onde são explicados os procedimentos canônicos que devem ser adotados nos casos de abusos sexuais contra menores.

A medida a ser aplicada é o Motu Proprio Sacramentorum Sanctitatis tutela de 30 de abril de 2001 junto com o Código de Direito Canônico de 1983.

Na fase preliminar, a diocese indaga sobre qualquer suspeita de abusos sexuais perpetrados por um religioso contra um menor. Se a suspeita for verossímil, o caso deve ser levado à Congregação para a Doutrina da Fé. O bispo local transmite todas as informações necessárias à Congregação para a Doutrina da Fé e expressa sua opinião sobre medidas e procedimentos que devem ser adotados. A lei civil referente à denúncia dos crimes às autoridades apropriadas deve ser sempre aplicada. Nesta fase, o bispo pode impor medidas de precaução para salvaguardar a comunidade e as vítimas. É conferido ao bispo local o poder de tutelar as crianças, limitando as atividades de qualquer sacerdote em sua diocese. A Congregação para a Doutrina da Fé estuda o caso apresentado pelo bispo local e, se for necessário, solicita informações suplementares. O sacerdote acusado é chamado a responder às acusações e tem o direito de apresentar recurso ao referido organismo vaticano contra um decreto que o condene a uma pena canônica.

A decisão dos cardeais membros da Congregação para a Doutrina Fé é definitiva. Se o sacerdote for condenado, os processos judiciário e penal podem condená-lo a um certo número de penas canônicas, até a destituição do estado clerical.

Nos casos particularmente graves, em que um religioso durante um processo é declarado culpado de abusos sexuais contra menores ou que as provas sejam evidentes, a Congregação para a Doutrina da Fé pode decidir levar tal caso diretamente ao Santo Padre a fim de que o Papa emita um decreto de demissão do estado clerical "ex officio". Não existe recurso canônico contra o decreto papal.

O organismo vaticano leva também ao Santo Padre os pedidos dos sacerdotes acusados que, conscientes dos crimes cometidos, pedem para ser dispensados das funções do sacerdócio e voltar ao estado laical. O Santo Padre aceita tal pedido para o bem da Igreja ("pro bono Ecclesiae").

Nos casos em que o sacerdote acusado tenha admitido seus crimes e se proposto a viver uma vida de oração e penitência, a Congregação para a Doutrina da Fé autoriza o bispo local a emitir um decreto que proíbe ou limite o ministério público de tal sacerdote.

No caso de violação das condições do decreto, não está excluída a destituição do estado clerical. A Congregação para a Doutrina da Fé conclui a nota recordando que está sendo feita a revisão de alguns artigos do Motu Proprio Sacramentorum Sanctitatis tutela 2001 a fim de atualizá-lo à luz das faculdades especiais reconhecidas pelos Pontífices João Paulo II e Bento XVI à Congregação para a Doutrina da Fé. As modificações propostas e sob discussão não mudarão as medidas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Discussão sobre a pedofilia.

O ABRAÇO DE CRISTO, MAIOR QUE AS FERIDAS.

Dom Filippo Santoro
Bispo de Petrópolis

O momento presente, marcado pela acirrada discussão sobre a pedofilia, é uma grande ocasião de purificação e de conversão da Igreja para poder comunicar com transparência a todos o abraço da justiça e da misericórdia de Deus , que é a razão pela qual ela existe.

O papa Bento XVI na Carta aos católicos na Irlanda com grande humildade e coragem afirma que: “para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a proteção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro”.

E aos sacerdotes e religiosos que abusaram dos jovens diz: deveis responder diante de Deus onipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Por isso se indica uma perspectiva que com toda clareza submete para o futuro estes crimes ao juízo dos tribunais eclesiásticos e civis.”

"Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas ações sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus”.

E Aos bispos acrescenta que estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes.

“Deve-se admitir que foram cometidos graves erros de juízo e que se verificaram faltas de governo. Tudo isto minou seriamente a vossa credibilidade e eficiência. Aprecio os esforços que fizestes para remediar os erros do passado e para garantir que não se repitam. Além de pôr plenamente em prática as normas do direito canónico ao enfrentar os casos de abuso de jovens, continuai a cooperar com as autoridades civis no âmbito da sua competência. Só uma ação decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito”.

Algo mais claro que isso não poderia ser dito e a natureza emblemática desta carta se aplica não apenas à Irlanda como às outras nações no mundo onde estes crimes foram cometidos manifestando o firme propósito de punir com rigor os culpados e de não esconder absolutamente nada. Mas com tudo isso a onda midiática não se declara satisfeita porque o seu objetivo é abater a autoridade moral do Papa e da Igreja. A culpa de alguns membros, uma pequena minoria, tiraria a autoridade de toda a instituição que atualmente é a única que lembra sem equívocos a voz da consciência e a defesa total da vida e da dignidade das pessoas. Quer-se atingir a Igreja em quanto tal, na sua capacidade de falar aos homens e às mulheres de nosso tempo. É claro que os mesmos que acusam são aqueles que pregam qualquer liberdade e justificam tudo em matéria de sexo.

Essa é a tentativa de eliminação da consciência do bem e do mal deixando tudo ao arbítrio do homem e do poder. E no fundo é a eliminação de Deus, não de um deus construído pelo sentimento e pelas opiniões - esta divindade é largamente acolhida pela mentalidade dominante - mas de um Deus que é diferente de nós: o Altíssimo que quis se manifestar na nossa história como companheiro e salvador. Ele já nos doou tudo, nos libertou. Não compactuou com pecado, mas o perdoou por meio de um amor muito maior. O que não se tolera em certa mentalidade dominante é a Presença de um amor total, que incide e que transforma a vida e que lembra a todos o valor objetivo da consciência moral.

A partir de pecados detestáveis de alguns membros da Igreja, a partir de faltas morais se quer destruir a origem da moral que é a presença do infinito no coração do homem que a Igreja prega e testemunha por meio do dom generoso e total de muitos seu filhos sacerdotes e religiosos.
Se chega a associar celibato e pedofilia, quando muitas sérias pesquisas científicas demonstraram que não tem a ver uma coisa com a outra e que a maioria destes delitos acontece em família. Assim se quer atingir todos os padres e negar a possibilidade de uma doação integral, isto é virgem, para Cristo e para o bem dos irmãos e irmãs.

Mas esta tentativa violenta de desmoralizar a Igreja não pode tirar a presença objetiva do bem maior que existe na História: o abraço de Cristo à humanidade ferida.

A onda midiática e gravíssimos erros não podem vencer o bem mais precioso que a Igreja tem e comunica: a esperança e a vitória da ressurreição. Esta é a fonte da qual partir novamente com humildade, transparência e rigor no serviço ao mundo de hoje.

O Papa incomoda muita gente.

Pessoas incomodadas fogem dos desafios dos ensinamentos de Jesus com as exigências do Evangelho que o Papa tem a coragem de apresentar ao mundo de hoje sem acomodações à mentalidade do tempo. Muitos procuram desacreditar o mensageiro para enfraquecer a mensagem. Ficam remexendo na lata de lixo da história para fazer propaganda dos erros cometidos por pessoas da Igreja em vinte séculos. O exemplo negativo mais citado é o Papa Alexandre VI, um homem muito ambicioso que teve três filhos no tempo que era Cardeal.
Seus inimigos cuidaram de multiplicar seus pecados.

A revista Veja chega a dizer que ele teve inúmeras amantes e filhos. Mesmo quem não acredita em tanto exagero se pergunta como foi que a Igreja sobreviveu. Desde o início, ela superou escândalos como a traição de Judas e a negação de Pedro que os evangelhos não escondem.

Um artigo da Veja desta semana apresenta de maneira tendenciosa casos de pedofilia de padres para atingir a Igreja e o Papa que teria acobertado tais abusos. Fala de dezenas de milhares de pessoas que foram agredidas física ou sexualmente por membros da Igreja na Irlanda no século passado. Botam na mesma panela com crimes de pedofilia os castigos físicos em casas de recuperação, coisa corriqueira na educação naquele tempo, especialmente nas tentativas de reeducação de jovens infratores.

A revista Veja traz acusações de um advogado de cinco homens que no tempo de meninos sofreram abusos de um padre. Diz que o padre não foi punido pelo Cardeal Ratzinger, apesar das denúncias levadas a Roma trinta anos depois. O caso é apresentado como prova que, para o Vaticano, defender os próprios interesses é mais importante que mitigar os sofrimentos das vítimas. A Veja omite o fato que a justiça civil não achou provas para condenar o malfeitor e que o padre estava tão velho e doente que já não era perigo para ninguém.

Outra prova trazida para dizer que o Papa era condescendente com padres pedófilos:

Acolhida de um padre acusado em outra diocese, no seu tempo de arcebispo de Munique. O texto omite que o padre foi acolhido para tratamento psiquiátrico. Munique tinha 1700 padres. Naquele tempo ainda não estava tão claro que pedofilia não tinha cura. Nossa diocese tem apenas 40 padres, e o bispo não tem o poder de prevenir um passo errado de algum.

Qualquer dia destes vai aparecer alguém a denunciar o próprio Jesus como culpado pela traição de Judas. Segundo o condiscípulo João, Judas já tinha precedentes de surrupiar dinheiro da caixa comum, em vez de ajudar os pobres. Por que Jesus não mandou embora o administrador corrupto? Aliás, já não falta quem diga que o próprio Deus seja culpado pelos pecados dos homens, a começar com a queda do primeiro casal, na tentação de comer do fruto proibido.

Segundo Saramago bastava que Deus fizesse uma boa cerca para impedir que chegassem perto daquela árvore atraente. Para que não pudessem pecar nem precisava fazer cerca. Bastava não criar tal árvore para evitar qualquer tentação. Ou não proibir nada. Ou não nos dar o presente perigoso da liberdade e da responsabilidade. Ou interferir com seu poder, toda vez que alguém quisesse fazer uma coisa errada. (É mole!)

Se você gosta de filosofia, tente imaginar o que você faria se estivesse no lugar de Deus. Criaria apenas robôs ou bichos programados para não poder fazer nada de mal? Seria melhor que a Igreja ainda tivesse o poder de polícia como na idade média?

A missão da Igreja é tentar educar os fiéis para a responsabilidade. Pode suspender um padre do uso de ordem, mas não pode prender ninguém.

Nem pode impedir que qualquer um se apresente como bispo, ou que igrejas fundadas no século passado se apresentem como igreja católica. Notícias de escândalos com falsos padres e bispos respingam sobre a Igreja. Quanto a práticas homossexuais, fica perigoso condenar. Podem surgir acusações de homofobia. Tempos de confusão. Tempos difíceis para o Papa e para bispos.

Perguntas aos que acusam o Papa de ter acobertado padres pedófilos:

1. Por que será que tantos ficam incomodados com os recados do Papa?
2. Por que fazem tanta propagando de coisas erradas na Igreja?
3. Por que aproveitam os casos de pedofilia de padres para acusar o Papa de falta de firmeza no trato do problema?
4. Se os juízes brasileiros têm tanta dificuldade em julgar casos atuais de corrupção que acontecem debaixo do seu nariz, como querem os julgadores do Papa que seja fácil para o Vaticano julgar casos antigos e distantes denunciados décadas depois?
5. Por que será que as denúncias sobre casos antigos de difícil verificação aumentaram tanto, quando denunciantes e seus advogados passaram a ganhar indenizações da Igreja?
6. Quantos são os incomodados com as exigências de um Papa intransigente na doutrina e na moral?
7. Querem atingir o mensageiro para enfraquecer a mensagem?

domingo, 4 de abril de 2010

CNBB: NOTA DE SOLIDARIEDADE AO PAPA BENTO XVI.

A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) expressou, numa nota, sua solidariedade ao Papa Bento XVI. O texto foi ao ar através das TVs Católicas de todo o Brasil na noite desta quarta-feira, 31 de março, às 19h, em cadeia nacional, proferido pelo Presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana (MG).

Segue a nota da CNBB.

O povo católico de todo o mundo acompanha, com profunda dor no coração, as denúncias de inúmeros casos de abuso sexual de crianças e adolescentes praticado por pessoas ligadas à Igreja, particularmente padres e religiosos. A imprensa tem noticiado com insistência incomum, casos acontecidos nos Estados Unidos, na Alemanha, na Irlanda, e também no Brasil.
Sem temer a verdade, o Papa Bento XVI não só reconheceu publicamente esses graves erros de membros da Igreja, como também pediu perdão por eles. Disso nos dá testemunho a carta pastoral que o Santo Padre enviou aos católicos da Irlanda e que pode se estender aos católicos de todo o mundo. Mais do que isso, Bento XVI não receou manifestar seu constrangimento e vergonha diante desses atos que macularam a própria Igreja. Firme, o Papa condenou a atitude dos que conduziram tais casos de maneira inadequada e, com determinação, afirmou que os envolvidos devem ser julgados pelos tribunais de justiça. Não faltou ao Papa, também, mostrar a todos o horizonte da misericórdia de Deus, a única capaz de ajudar a pessoa humana a superar seus traumas e fracassos.Às vítimas o Papa expressou ter consciência do mal irreparável a que foram submetidas. Disse Bento XVI:

“Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. É compreensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos”.

Essa coragem do Sucessor de Pedro nos coloca a todos em estado de alerta. Meditamos sobre esses atos objetivamente graves, e estamos certos de que – como fez o Papa – devem ser enfrentados com absoluta firmeza e coragem.

É de se lamentar, no entanto, que a divulgação de notícias relativas a esses crimes injustificáveis se transforme numa campanha difamatória contra a Igreja Católica e contra o Papa. Deixam-nos particularmente perplexos os ataques freqüentes e sistemáticos, ao Papa Bento XVI, como se o então Cardeal Ratzinger tivesse sido descuidado diante dessa prática abominável ou com ela conivente. No entanto, uma análise objetiva dos fatos e depoimentos dos próprios envolvidos nos escândalos revela a fragilidade dessas acusações. O Papa, ao reconhecer publicamente os erros de membros da Igreja e ao pedir perdão por esta prática, não merecia esse tratamento, que fere, também, grande parte do povo brasileiro, que sofre com esses momentos difíceis, e reza pelas vítimas e seus familiares, pelos culpados, mas também pelas dezenas de milhares de sacerdotes que, no mundo todo, procuram honrar sua vocação.

De fato, “a imensa maioria de nossos sacerdotes não está envolvida nesta problemática gravemente condenável. Provavelmente, não chegam a 1% os envolvidos. Ao contrário, os demais 99% de nossos sacerdotes, de modo geral, são homens de Deus, dignos, honestos e incansáveis na doação de todas as suas energias ao seu ministério, à evangelização, em favor do povo, especialmente a serviço dos pobres e dos marginalizados, dos excluídos e dos injustiçados, dos desesperados e sofridos de todo tipo” (cf. Cardeal Cláudio Hummes, 12ºENP).

No momento em que a Igreja Católica e a própria pessoa do Santo Padre sofrem duros e injustos ataques, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil manifesta sua mais profunda união com o Papa Bento XVI e sua plena adesão e total fidelidade ao Sucessor de Pedro. A Páscoa de Cristo, que celebramos nesta semana, nos leva a afirmar com o apóstolo Paulo: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados” (2Cor 4,8-9). Nossa fé nos garante a certeza da vitória da luz sobre as trevas; do bem sobre o mal; da vida sobre a morte.

Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana / Presidente da CNBB,
Dom Luiz Soares Vieira, Arcebispo de Manaus / Vice Presidente da CNBB,
Dom Dimas Lara Barbosa, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro / Secretário-Geral da CNBB.

CELAM MANIFESTA SOLIDARIEDADE AO PAPA BENTO XVI.

O Presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), Dom Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida, expressa em nome desse organismo sua solidariedade ao Santo Padre neste momento em que a Igreja Católica e a própria pessoa do Santo Padre sofrem duros e injustos ataques relativos a abusos sexuais. A seguir, apresentamos, na íntegra, a nota de solidariedade da presidência do CELAM ao Santo Padre Bento XVI:

Desde algum tempo têm aparecido com certa freqüência nos meios de comunicação social notícias sobre abusos sexuais contra crianças e adolescentes praticados por alguns membros do clero. Recentemente, o Santo Padre publicou carta dirigida à Igreja na Irlanda manifestando profunda dor e mesmo vergonha pelos abusos sexuais de crianças cometidos por religiosos daquele país.
Ao ensejo da publicação de notícias sobre o assunto, alguns meios de comunicação têm procurado atingir indiretamente o Santo Padre. Ao contrário do que alguns setores da imprensa têm publicado, a atitude do então Cardeal Ratzinger em relação a casos de abusos sexuais praticados por alguns membros do clero sempre foi muito firme, como o comprovam depoimentos de pessoas que com ele trabalharam, tendo demonstrado, nestes casos, sempre grande coragem ao enfrentá-los. Portanto, é falsa e caluniosa qualquer insinuação que se venha a fazer de que o atual Pontífice tenha, naquele período, ocultado casos de abusos sexuais ou tenha sido condescendente com seus autores.

Diante da repercussão de tais noticias infundadas, o Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM - manifesta solidariedade ao Santo Padre Bento XVI, unindo-se a ele em oração. O CELAM, nesta oportunidade, felicita sua Santidade pela Carta dirigida à Igreja irmã na Irlanda, na qual transmite - sobre as questões de que trata - clara, justa e exigente orientação, acompanhada de um apelo a uma confiança humilde na condução misericordiosa com a qual o Senhor dirige a Sua Igreja.

O Conselho Episcopal Latino-Americano ressalta, por oportuno, que levará em conta as orientações de Sua Santidade, tornando-as tema de constante preocupação.No contexto da Semana Santa que estamos vivendo, o CELAM se dirige ao Deus da História suplicando que Ele nos permita recordar e partilhar mais de perto o que o Senhor sofreu pelo pecado também do mundo contemporâneo, abrindo, para todos, por meio de Sua entrega única ao plano do Pai, a novidade da vida verdadeira e definitiva. As agressões injustas que Sua Santidade tem sofrido nos levam à contemplação do Cristo, que morreu de forma tão incompreensível na Sexta-Feira Santa, e à união com a Virgem Maria, no silêncio de sua dor no Sábado Santo, na certeza da participação na Vida do Ressuscitado para sermos, cada vez mais, Seus fiéis discípulos missionários. Asseguramos a Sua Santidade nossa comunhão e afeto.

Dom Raymundo Damasceno Assis / Arcebispo de Aparecida, SP.
Presidente do CELAM.
31/03/2010

SOLIDARIEDADE DOS MÉDICOS CATÓLICOS AO PAPA.

A Federação Internacional de Associações de Médicos Católicos (FIAMC) emitiu uma nota de imprensa na qual expressa seu rechaço à “fúria” com que diversos meios em vários países do mundo estão atacando o Papa Bento XVI e a Igreja Católica, tomando como justificativa alguns casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero.O texto assinado pelo Presidente da Federação, Dr. Jose Maria Simón Castellví, assinala que “a responsabilidade dos eclesiásticos individualmente, e eventualmente de seus superiores diretos, é estendida a toda a Igreja, e não faltam tampouco tentativas de interpretar tais abusos como inevitável conseqüência dos princípios do magistério, da concepção do ministério sacerdotal e da moral católica”.

Para os médicos católicos “esta campanha midiática suscita a suspeita de que grupos editoriais, e os centros de poder que os sustentam, querem desacreditar a autoridade da Igreja, que é a voz mais consciente na defesa da vida desde a concepção até a morte natural, na defesa da família e a moral sexual católica tradicional, e na defesa do gênero humano perante perigosas aventuras no campo da genética”.

“Já foram vistas claras condenações dos casos de abuso sexual, mas também se deixou claro que não é possível nem legítimo atribuir a responsabilidade deles à Igreja Católica”, prossegue.

Finalmente a FIAMC “manifesta sua plena solidariedade ao Santo Padre”.

Reforma de Bento XVI: inovação e tradição na liturgia.

Em julho de 2007, com o motu proprio “Summorum Pontificum”, Bento XVI restabeleceu a celebração da Missa segundo o rito tridentino. O fato suscitou uma agitação. Elevaram-se vibrantes vozes de protesto, mas também aclamações valentes.

Para explicar o sentido e a prática da reforma litúrgica de Bento XVI, Nicola Bux, sacerdote e especialista em liturgia oriental, além de consultor do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice, publicou o livro La riforma di Benedetto XVI.

La liturgia tra innovazione e tradizione (Piemme, Casale Monferrato 2008), com prólogo de Vittorio Messori.

No livro, o especialista explica que a recuperação do rito latino não é um retrocesso, uma volta à época anterior ao Concílio Vaticano II, mas sim um olhar adiante, recuperando da tradição passada o mais belo e significativo que esta pode oferecer à vida presente da Igreja.

Segundo Bux, o que o Pontífice pretende fazer em sua paciente obra de reforma é renovar a vida do cristão, os gestos, as palavras, o tempo cotidiano, restaurando na liturgia um sábio equilíbrio entre inovação e tradição, fazendo surgir, com isso, a imagem de uma Igreja sempre em caminho, capaz de refletir sobre si mesma e de valorizar os tesouros dos quais é rico seu depósito milenar.
Para tentar aprofundar no significado e no sentido da liturgia, em suas mudanças, na relação com a tradição e no mistério da linguagem com Deus, Zenit entrevistou Nicola Bux.

-O que é a liturgia e por que ela é tão importante para a Igreja e para o povo cristão?

Bux: A sagrada liturgia é o tempo e o lugar no qual certamente Deus vai ao encontro do homem. Portanto, o método para entrar em relação com Ele é precisamente o de dar-lhe culto: Ele nos fala e nós lhe respondemos; agradecemos e Ele se comunica conosco. O culto, do latim colere – cultivar uma relação importante –, pertence ao sentido religioso do homem, em toda religião, desde os tempos mais remotos. Para o povo cristão, a sagrada liturgia e o culto divino realizam, portanto, a relação com tudo o que existe de mais querido, Jesus Cristo Deus. O atributo “sagrada” significa que nela tocamos sua presença divina. Por isso, a liturgia é a realidade e a atividade mais importantes para a Igreja.

-Em que consiste a reforma de Bento XVI e por que ela suscitou tantas reações?

Bux: A reforma da liturgia, segundo a constituição litúrgica do Concílio Vaticano II, como instauratio, isto é, como restabelecimento no lugar correto da vida eclesial, não começa com Bento XVI, mas com a própria história da Igreja, desde os apóstolos à época dos mártires, do Papa Dâmaso até Gregório Magno, de Pio V e Pio X a Pio XII e Paulo VI. A instauratio é contínua, porque o risco de que a liturgia decaia do seu lugar, que é o de ser fonte da vida cristã, existe sempre; a decadência chega quando o culto divino é submetido ao sentimentalismo e ao ativismo pessoais de clérigos e leigos que, penetrando-o, transformam-no em obra humana e entretenimento espetacular: um sintoma hoje é, por exemplo, o aplauso na Igreja, que sublinha indistintamente o batismo de um recém-nascido e a saída de um caixão em um funeral.
Uma liturgia convertida em entretenimento não precisa de uma reforma? Isso é o que Bento XVI está fazendo: o emblema da sua obra reformadora será o restabelecimento da cruz no centro do altar, para fazer compreender que a liturgia está dirigida ao Senhor e não ao homem, ainda que este seja ministro sagrado. A reação existe sempre em cada mudança na história da Igreja, mas não é preciso assustar-se.

-Quais são as diferenças entre os chamados inovadores e os tradicionalistas?

Bux: Estes dois termos devem antes ser esclarecidos. Se inovar significa favorecer a instauratio da qual falávamos, é precisamente o que está faltando; assim também quanto à traditio, que significa proteger o depósito revelado, sedimentado também na liturgia. Se, no entanto, inovar significa transformar a liturgia de obra de Deus em ação humana, oscilando entre um gosto arcaico, que quer conservar dela somente os aspectos que agradam, e um conformismo segundo a moda do momento, estaríamos no mau caminho. Ou ao contrário: ser conservadores de tradições meramente humanas, que se sobrepuseram como incrustação na pintura e não permitem que percebamos a harmonia do conjunto. Na verdade, os dois opostos acabam coincidindo, revelando sua contradição. Um exemplo: os inovadores sustentam que a Missa antigamente era celebrada dirigida ao povo. Os estudos demonstram o contrário: a orientação ad Deum, ad Orientem, é a própria do culto do homem a Deus. Pensemos no judaísmo. Ainda hoje, todas as liturgias orientais conservam isso. Como é possível que os inovadores, amantes da restauração dos elementos antigos na liturgia pós-conciliar, não o tenham conservado?

-Que significado tem a tradição na história e na fé cristãs?

Bux: A tradição é uma das fontes da Revelação: a liturgia, como diz o Catecismo (n. 1124), é seu elemento constitutivo. Bento XVI, no livro “Jesus de Nazaré”, recorda que a Revelação se tornou liturgia. Depois, temos as tradições de fé, de cultura, de piedade que entraram e revestiram a liturgia, de maneira que conhecemos várias formas de ritos no Oriente e no Ocidente. Todos compreendem, portanto, por que a constituição sobre liturgia, no n. 22, § 3, afirma peremptoriamente: “Ninguém mais, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica”.

-Você acha que seria possível voltar à Missa em latim hoje?

Bux: O Missal Romano renovado por Paulo VI está em latim e constitui a edição chamada típica, porque a ela devem se referir as edições em línguas atuais preparadas pelas conferências episcopais nacionais e territoriais, aprovadas pela Santa Sé. Portanto, a Missa em latim continuou sendo celebrada também com o novo Ordo, ainda que raramente. Isso acabou contribuindo para a impossibilidade de uma assembleia composta de línguas e nações participar de uma Missa celebrada na língua sagrada universal da Igreja Católica de rito latino. Assim, em seu lugar, nasceram as chamadas Missas internacionais, celebradas de forma que as partes da celebração sejam recitadas ou cantadas em muitas línguas; assim, cada grupo entende somente a sua!
Havia-se mantido que o latim não era entendido por ninguém; agora, se a Missa em um santuário é celebrada em quatro idiomas, cada grupo acaba compreendendo apenas 25% dela. Além de outras considerações, como desejou o sínodo de 2005 sobre a Eucaristia, é preciso voltar à Missa em latim: pelo menos uma dominical nas catedrais e nas paróquias. Isso ajudará, no convite à sociedade multicultural atual, a recuperar a participação católica, seja quanto a sentir-se Igreja universal, seja quanto a unir-se a outros povos e nações que compõem a única Igreja. Os cristãos orientais, ainda dando espaço às línguas nacionais, conservaram o grego e o eslavo eclesiástico nas partes mais importantes da liturgia, como a anáfora e as procissões com as antífonas para o Evangelho e o ofertório. Para instaurar tudo isso, contribui enormemente o antigo Ordo do Missal Romano anterior, restabelecido por Bento XVI com o motu proprio “Summorum Pontificum”, que, simplificando, chama-se Missa em latim: na verdade, é a Missa de São Gregório Magno, enquanto sua estrutura básica se remonta à época desse pontífice e permaneceu intacta através dos acréscimos e simplificações de Pio V e dos demais pontífices até João XXIII. Os padres do Vaticano II a celebraram diariamente, sem advertir nenhuma oposição com relação à modernização que estavam realizando.

-Bento XVI falou do problema dos abusos litúrgicos. De que se trata?

Bux: Para dizer a verdade, o primeiro em lamentar as manipulações na liturgia foi Paulo VI, poucos anos depois da publicação do Missal Romano, na audiência geral de 22 de agosto de 1973. Paulo VI, por outro lado, estava certo de que a reforma litúrgica realizada após o Concílio verdadeiramente havia introduzido e sustentado firmemente as indicações da constituição litúrgica (cf. Discurso ao Colégio dos Cardeais, 22 de junho de 1973). Mas a experimentação arbitrária continuava e exacerbava, no entanto, a saudade do rito antigo.

O Papa, no consistório de 27 de junho de 1977, admoestava os “rebeldes” pelas improvisações, banalidades, frivolidades e profanações, pedindo-lhes severamente que se ativessem à norma estabelecida para não comprometer a regula fidei, o dogma, a disciplina eclesiástica, lex credendi e orandi; e também aos tradicionalistas, para que reconhecessem a “acidentalidade” das modificações introduzidas nos ritos sagrados.

Em 1975, a bula Apostolorum Limina, de Paulo VI, para a convocação do ano santo, a propósito da renovação litúrgica, observava: “Consideramos extremamente oportuno que esta obra seja reexaminada e receba novas evoluções, de forma que, baseando-se no que foi firmemente confirmado pela autoridade da Igreja, possa-se observar em todos os lugares os que são verdadeiramente válidos e legítimos e continuar sua aplicação com zelo ainda maior, segundo as normas e métodos aconselhados pela prudência pastoral e por uma verdadeira piedade”.
Omito as denúncias de abusos e sombras na liturgia por parte de João Paulo II em muitas ocasiões, em particular na carta Vicesimus quintus annus, desde a entrada em vigor da constituição sobre liturgia. Bento XVI, portanto, pretendeu voltar a examinar e dar novo impulso precisamente abrindo uma janela com o motu proprio, para que, pouco a pouco, mude o ar e encarrilhe tudo o que foi além da intenção e da letra do Concílio Vaticano II, em continuidade com toda a tradição da Igreja.

-Você afirmou diversas vezes que, em uma liturgia correta, é necessário respeitar os direitos de Deus. Você poderia explicar isso?

Bux: A liturgia, termo que em grego indica a ação ritual de um povo que celebra, por exemplo, suas festas, como acontecia em Atenas ou como acontece ainda hoje com a inauguração das olimpíadas e outras manifestações civis, evidentemente é produzida pelo homem. A sagrada liturgia ostenta este atributo porque não está feita à nossa imagem – em tal caso, o culto seria idolátrico, isto é, criado pelas nossas mãos –, mas pelo Senhor onipotente: no Antigo Testamento, com sua presença, indicava a Moisés como ele deveria dispor, nos seus mínimos detalhes, o culto ao Deus único, junto ao seu irmão Aarão.
No Novo Testamento, Jesus defendeu o verdadeiro culto, expulsando os vendedores do templo, e deu aos apóstolos as disposições para a Ceia pascal. A tradição apostólica recebeu e relançou o mandato de Jesus Cristo. Portanto, a liturgia é sagrada, como diz o Ocidente, e é divina, como diz o Oriente, porque é instituída por Deus. São Bento a define como opus dei, obra de Deus, à qual nada deve ser anteposto. Precisamente a função mediadora entre Deus e o homem, própria do sumo sacerdócio de Cristo e exercida na e com a liturgia pelo sacerdote ministro da Igreja, testifica que a liturgia descende do céu, como diz a liturgia bizantina, baseada na imagem do Apocalipse. É Deus quem a estabelece e, portanto, indica como devemos adorá-lo “em espírito e em verdade”, isto é, em Jesus, seu Filho, e no Espírito Santo. Ele tem o direito de ser adorado como Ele quer. Sobre tudo isso, é necessária uma profunda reflexão, porque seu esquecimento está na origem dos abusos e das profanações, já descritas admiravelmente em 2004 pela instrução Redemptionis Sacramentum, da Congregação para o Culto Divino. A recuperação do Ius divinum na liturgia contribui muito para respeitá-la como coisa sagrada, como prescreviam as normas; mas também as normas devem voltar a ser seguidas com espírito de devoção e obediência por parte dos ministros sagrados, para edificação de todos os fiéis e para ajudar muitos dos que buscam Deus a encontrá-lo vivo e verdadeiro no culto divino da Igreja.

Os bispos, sacerdotes e seminaristas devem voltar a aprender e realizar os sagrados ritos com este espírito, e assim contribuirão para a verdadeira reforma querida pelo Vaticano II e, sobretudo, para reavivar a fé que, como escreveu o Santo Padre na carta aos bispos, de 10 de março de 2009, corre o risco de apagar-se em muitos lugares do mundo.

New York Times se desmente em seus ataques contra o Papa.

Reconstrução dos fatos oferecida por Riccardo Cascioli em “Avvenire”.

A documentação publicada pelo New York Times desmente a tese segunda a qual o cardeal Joseph Ratzinger não teria sido suficientemente enérgico ao gerenciar o caso de um sacerdote norte-americano culpado pelo abuso de várias crianças.

Essa é a conclusão do jornalista italiano Riccardo Cascioli, ao analisar o episódio, em um artigo do dia 26 de março no jornal Avvenire, que apresentamos a seguir.

Tudo começa no dia 15 de maio de 1974, quando um ex-estudante da St. John’s School para surdos apresenta uma denúncia sobre os abusos realizados sobre ele e sobre outros cinco meninos por Lawrence Murphy, entre 1964 e 1970, mas – segundo se publicou – após uma investigação, o juiz encarregado arquiva o caso. A diocese de Milwaukee, em contrapartida, afasta em seguida o padre Murphy, com uma permissão temporária por motivos de saúde (até novembro de 1974), que no entanto se converte em definitiva. Uma carta da diocese de Superior em 1980 explica que Murphy vive em Bounder Junction (Wisconsin), na casa de sua mãe, ainda que continuasse exercendo o ministério sacerdotal ajudando o pároco local.

Enquanto isso, não obstante, as denúncias junto à diocese de Milwaukee se multiplicam e, entre julho e dezembro de 1993, Murphy é submetido a quatro longos interrogatórios por responsáveis da arquidiocese, acompanhados por psicólogos especialistas em pedofilia. Surge daí um quadro clínico de “pedófilo típico”, em que se recomenda um tratamento psicológico para maníacos sexuais e também um acompanhamento pastoral/espiritual, ademais de uma restrição da atividade ministerial. Do informe dos interrogatórios se desprende que havia 29 denúncias de menores: Murphy admite “contatos” só com 19 das crianças implicadas. Dos documentos sucessivos, tem-se a demonstração de que a arquidiocese de Milwaukee prossegue suas investigações, tentado precisar a realidade e a magnitude dos fatos, e a 17 de julho de 1996, o bispo Rembert Weakland escreve então ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, pedindo uma luz sobre o caso de Murphy e sobre outro – não relacionado – de outro sacerdote, acusado de crimes sexuais e financeiros.

Dom Weakland faz referência à denúncia de 1974, e explica que só recentemente teve conhecimento do fato de que certos crimes sexuais ocorreram durante o sacramento da Confissão, pelo que havia encarregado oficialmente um sacerdote da diocese, James Connell, de realizar uma investigação em profundidade (o decreto é de dezembro de 1995).
Um obstáculo à verificação dos fatos – afirma Dom Weakland – procede da compreensível reticência dos meninos e da comunidade da St John’s School em fazer públicas as circunstâncias embaraçosas. Dom Weakland se dirige à Congregação para a Doutrina da Fé para pedir um esclarecimento sobre a jurisdição neste caso de “crime de solicitação” (cânon 1387) , e se é competência da diocese ou da Congregação.

Dos sucessivos documentos, parece que a carta não chegou nunca à mesa do cardeal Ratzinger e do então monsenhor Bertone, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé. Em todo caso, diante da falta de uma resposta, a arquidiocese de Milwaukee seguiu adiante seu caminho e, a 10 de dezembro de 1996, informa a Murphy que no dia 22 de novembro tinha sido aberto um procedimento penal eclesiástico contra ele com um tribunal criado ad hoc. O pedido da acusação é a “expulsão de Murphy do estado clerical”.

O problema que se estabelece, no entanto, é o da prescrição dos crimes cometidos, pelo que, segundo a norma do direito canônico, não se poderia proceder à expulsão. Mas o arcebispo de Milwaukee tem intenção de conseguir uma revogação do cânon, tendo em conta a situação física e psicológica das vítimas. Sua intenção foi aceita depois por monsenhor Betone, na carta de 24 de março de 1997. No final de 1997, o processo passa à diocese de Superior, mas o presidente do tribunal continua sendo o mesmo de Milwaukee, Thomas Brundage.

Dos documentos apresentados pelo New York Times mostra-se claramente a intenção das autoridades eclesiásticas de Milwaukee e Superior de proceder da forma mais rápida possível para chegar a um ato de justiça e de reparação para as vítimas e a comunidade da St John’s School.

Enquanto isso, Murphy escreve uma carta ao cardeal Ratzinger (12 de janeiro de 1998), pedindo a anulação do processo contra ele, porque a Instrução de 1962 prevê, para começar a ação penal, um prazo de 30 dias desde o momento em que se apresenta a acusação. Murphy afirma, ademais, que – além de estar arrependido – está gravemente enfermo e vive retirado há 24 anos. Pede que ao menos não seja expulso do estado clerical.

A 6 de abril de 1998, monsenhor Bertone escreve a Dom Fliss, bispo de Superior, em nome da Congregação para a Doutrina da Fé, explicando que – após ter examinado atentamente o caso – não existe um prazo para a ação penal tal e como afirmava Murphy, por isso, o processo pode continuar, ainda que – acrescenta Bertone – há que ter em conta o artigo 1341 do Código de Direito Canônico, segundo o qual uma sanção penal deve ser aplicada só após se ter constatado que não seja “possível obter de modo suficiente a reparação do escândalo, o restabelecimento da justiça e a correção do culpado” com outro meios.

Dom Fliss responde a 13 de maio a monsenhor Bertone, afirmando que, conforme ao que indica a Congregação, é necessário um processo contra Murphy, tendo em conta a gravidade do escândalo e a grande dor infligida na comunidade católica da St John’ School.

Chega-se portanto a 30 de maio, quando no Vaticano há um encontro entre monsenhor Bertone, o subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé, Gianfranco Girotti, e os prelados norte-americanos afetados pela questão. Da ata do encontro se desprende que na Congregação há dúvidas sobre a possibilidade e a oportunidade do processo canônico, dada a dificuldade de reconstruir os fatos ocorridos 35 anos antes, sobretudo no que diz respeito ao crime no confessionário, e dado que não existem outras acusações de 1974 adiante. Bertone, portanto, como conclusão do encontro, resume as duas linhas fundamentais que aplicar: uma restrição territorial para o ministério sacerdotal (na prática Murphy deve ficar em Superior) e uma ação decidida para obter o arrependimento do sacerdote, incluída a ameaça de “expulsão do estado clerical”.

O bispo de Milwaukee escreve ainda a 19 de agosto a monsenhor Bertone para colocá-lo a par das medidas tomadas para levar a cabo as linhas indicadas pela Congregação, e informá-lo do fato de que sua diocese seguirá a cargo dos custos para apoiar as terapias às vítimas dos abusos sexuais.

A 21 de agosto, Murphy morre, encerrando definitivamente o caso.

PAPA: PÁSCOA NÃO CURA ANGÚSTIAS DA IGREJA, MAS ABRE AO FUTURO.

Do patamar da Basílica de São Pedro, o Papa celebrou a Missa de Páscoa, a festa mais importante do Cristianismo, que celebra a ressurreição de Cristo depois da morte na Cruz. Bento XVI concedeu a bênção "Urbi et orbi" (à cidade e ao mundo), transmitida ao vivo pelas emissoras de televisão de vários países do mundo. As 40 mil pessoas presentes na Praça não se desanimaram com a persistente chuva e ouviram com atenção as palavras do Papa, em sua tradicional mensagem de Páscoa. Bento XVI afirmou que “a humanidade atravessa uma crise profunda, que requer mudanças profundas, a partir das consciências; uma espécie de êxodo, de conversão espiritual e moral”.

“O Evangelho revelou-nos o cumprimento das figuras antigas: com a sua morte e ressurreição, Jesus Cristo libertou o homem da escravidão radical, a do pecado, e abriu-lhe a estrada para a verdadeira Terra Prometida, o Reino de Deus, Reino universal de justiça, de amor e de paz. Este «êxodo» verifica-se, antes de mais nada, no íntimo do próprio homem e consiste num novo nascimento no Espírito Santo, é princípio duma libertação integral, capaz de renovar toda a dimensão humana, pessoal e social”.

O Papa também pediu e fez orações pela paz na Terra Santa e pelo fim dos crimes ligados ao tráfico de drogas na América Latina e no Caribe. Encorajou os povos do Haiti e do Chile, atingidos pelo terremoto, e apelou à comunidade internacional para que não deixe de enviar ajudas. O pensamento de Bento XVI foi também à África, e de modo especial, ao Congo, à Guiné e Nigéria, para que terminem os conflitos que continuam a provocar destruições e sofrimento e se obtenham paz e reconciliação, garantias de desenvolvimento.

O Papa referiu-se também aos cristãos que em função de sua fé sofrem perseguições e são até mesmo mortos, como no Paquistão, e aos que vivem em meio a provações e sofrimentos, como no Iraque. Aos países assolados pelo terrorismo e pelas discriminações sociais ou religiosas, o Pontífice recomendou que favoreçam o diálogo e a convivência serena e o desenvolvimento de uma economia solidária:

“Aos responsáveis de todas as Nações, a Páscoa de Cristo traga luz e força para que a atividade econômica e financeira seja finalmente orientada segundo critérios de verdade, justiça e ajuda fraterna”.

Concluindo sua Mensagem “Urbi et orbi”, o Papa disse que Páscoa não efetua magias:

“Assim como, para além do Mar Vermelho, os hebreus encontraram o deserto, assim também a Igreja, depois da Ressurreição, encontra sempre a história com as suas alegrias e as suas esperanças, os seus sofrimentos e as suas angústias. E, todavia esta história mudou, está marcada por uma aliança nova e eterna, está realmente aberta ao futuro. Salvos na esperança, prosseguimos a nossa peregrinação, levando no coração o cântico antigo e sempre novo: «Cantemos ao Senhor: é verdadeiramente glorioso!»".

Após a leitura da mensagem, Bento XVI saudou os fiéis, que a este ponto somavam cem mil – segundo a Polícia romana – em 65 línguas, 2 a mais do que no ano passado: islandês e cazaque. Em seguida, concedeu a todos os que participaram, pessoalmente ou através do rádio ou TV, a benção pascal, com a indulgência plenária.

Mensagem e Bênção "Urbi et Orbi".

Queridos irmãos e irmãs!

Transmito-vos o anúncio da Páscoa com estas palavras da Liturgia, que repercutem o antiquíssimo hino de louvor dos hebreus depois da travessia do Mar Vermelho. Conta o Livro do Éxodo (cf. 15, 19-21) que, depois de atravessarem o mar enxuto e terem visto os egípcios submersos pelas águas, Miriam – a irmã de Moisés e Aarão – e as outras mulheres entoaram, dançando, este cântico de exultação:

«Cantai ao Senhor que Se revestiu de glória. Precipitou no mar o cavalo e o cavaleiro!»

Por todo o mundo, os cristãos repetem este cântico na Vigília Pascal, cujo significado é depois explicado na respectiva oração; uma oração que agora, na plena luz da Ressurreição, jubilosamente fazemos nossa:

«Também em nossos dias, Senhor, vemos brilhar as vossas antigas maravilhas: se outrora manifestastes o vosso poder libertando um só povo da perseguição do Faraó, hoje assegurais a salvação de todas as nações fazendo-as renascer pela água do Baptismo: fazei que todos os povos da terra se tornem filhos de Abraão e membros do vosso povo eleito».

O Evangelho revelou-nos o cumprimento das figuras antigas: com a sua morte e ressurreição, Jesus Cristo libertou o homem da escravidão radical, a do pecado, e abriu-lhe a estrada para a verdadeira Terra Prometida, o Reino de Deus, Reino universal de justiça, de amor e de paz.

Este «êxodo» verifica-se, antes de mais nada, no íntimo do próprio homem e consiste num novo nascimento no Espírito Santo, efeito do Baptismo que Cristo nos deu precisamente no mistério pascal. O homem velho cede o lugar ao homem novo; a vida anterior é deixada para trás, pode-se caminhar numa vida nova (cf. Rm 6, 4).

Mas o «êxodo» espiritual é princípio duma libertação integral, capaz de renovar toda a dimensão humana, pessoal e social. Sim, irmãos, a Páscoa é a verdadeira salvação da humanidade! Se Cristo – o Cordeiro de Deus – não tivesse derramado o seu Sangue por nós, não teríamos qualquer esperança, o destino nosso e do mundo inteiro seria inevitavelmente a morte.

Mas a Páscoa inverteu a tendência: a Ressurreição de Cristo é uma nova criação, como um enxerto que pode regenerar toda a planta. É um acontecimento que modificou a orientação profunda da história, fazendo-a pender de uma vez por todas para o lado do bem, da vida, do perdão. Somos livres, estamos salvos! Eis o motivo por que exultamos do íntimo do coração: «Cantemos ao Senhor: é verdadeiramente glorioso!»

O povo cristão, saído das águas do Batismo, é enviado por todo o mundo a testemunhar esta salvação, a levar a todos o fruto da Páscoa, que consiste numa vida nova, liberta do pecado e restituída à sua beleza original, à sua bondade e verdade. Continuamente, ao longo de dois mil anos, os cristãos – especialmente os santos – fecundaram a história com a experiência viva da Páscoa. A Igreja é o povo do êxodo, porque vive constantemente o mistério pascal e espalha a sua força renovadora em todo o tempo e lugar. Também em nossos dias a humanidade tem necessidade de um «êxodo», não de ajustamentos superficiais, mas de uma conversão espiritual e moral. Necessita da salvação do Evangelho, para sair de uma crise que é profunda e, como tal, requer mudanças profundas, a partir das consciências.

Peço ao Senhor Jesus que, no Médio Oriente e de modo particular na Terra santificada pela sua morte e ressurreição, os Povos realizem um verdadeiro e definitivo «êxodo» da guerra e da violência para a paz e a concórdia. Às comunidades cristãs que conhecem provações e sofrimentos, especialmente no Iraque, repita o Ressuscitado a frase cheia de consolação e encorajamento que dirigiu aos Apóstolos no Cenáculo: «A paz esteja convosco!» (Jo 20,21).

Para os países da América Latina e do Caribe que experimentam uma perigosa recrudescência de crimes ligados ao narcotráfico, a Páscoa de Cristo conceda a vitória da convivência pacífica e do respeito pelo bem comum. A dilecta população do Haiti, devastado pela enorme tragédia do terremoto, realize o seu «êxodo» do luto e do desânimo para uma nova esperança, com o apoio da solidariedade internacional. Os amados cidadãos chilenos, prostrados por outra grave catástrofe mas sustentados pela fé, enfrentem com tenacidade a obra de reconstrução.
Na força de Jesus ressuscitado, ponha-se fim em África aos conflitos que continuam a provocar destruição e sofrimentos e chegue-se àquela paz e reconciliação que são garantias de desenvolvimento. De modo particular confio ao Senhor o futuro da República Democrática do Congo, da Guiné e da Nigéria. O Ressuscitado ampare os cristãos que, pela sua fé, sofrem a perseguição e até a morte, como no Paquistão. Aos países assolados pelo terrorismo e pelas discriminações sociais ou religiosas, conceda Ele a força de começar percursos de diálogo e serena convivência. Aos responsáveis de todas as Nações, a Páscoa de Cristo traga luz e força para que a atividade económica e financeira seja finalmente orientada segundo critérios de verdade, justiça e ajuda fraterna.

A força salvífica da ressurreição de Cristo invada a humanidade inteira, para que esta supere as múltiplas e trágicas expressões de uma «cultura de morte» que tende a difundir-se, para edificar um futuro de amor e verdade no qual toda a vida humana seja respeitada e acolhida.

Queridos irmãos e irmãs!
A Páscoa não efetua qualquer magia. Assim como, para além do Mar Vermelho, os hebreus encontraram o deserto, assim também a Igreja, depois da Ressurreição, encontra sempre a história com as suas alegrias e as suas esperanças, os seus sofrimentos e as suas angústias.
E todavia esta história mudou, está marcada por uma aliança nova e eterna, está realmente aberta ao futuro.