quarta-feira, 31 de março de 2010

Uma resposta ao The New York Times.

O jornal New York Times, em 25 de março, acusou o cardeal Joseph Ratzinger, agora Papa Bento XVI, de intervir para impedir que um padre, Lawrence Murphy, enfrentasse sanções para os casos de abuso sexual de menores.

A história é falsa.
É suportado por sua própria documentação. Na verdade, ela dá todos os indícios de fazer parte de uma campanha coordenada contra o Papa Bento XVI, ao invés de jornalismo responsável.

Antes de abordar o fundo falso da história, as seguintes circunstâncias são dignas de nota:

• A história do New York Times teve duas fontes. Primeira, advogados que atualmente têm ação civil pendente contra a Arquidiocese de Milwaukee. Um dos advogados, Jeffrey Anderson, também tem casos pendentes no Supremo Tribunal dos Estados Unidos contra a Santa Sé. Ele tem um direto interesse financeiro na matéria que está sendo relatada.

• A segunda fonte foi o arcebispo Rembert Weakland, arcebispo emérito de Milwaukee. Ele é o bispo mais desacreditado e desonrado nos Estados Unidos, conhecido por descuidar de casos de abuso sexual durante sua posse, e culpado de usar $ 450.000 de fundos arquidiocesanos para pagar suborno a um ex-amante homossexual que lhe estava chantageando. O arcebispo Weakland tinha a responsabilidade pelo caso de padre Murphy entre 1977 e 1998, quando o padre Murphy morreu. Ele estava amargurado que a sua má administração da Arquidiocese de Milwaukee lhe valeu o desagrado do Papa João Paulo II e Joseph Ratzinger, muito antes de ter sido revelado que ele tinha usado o dinheiro dos paroquianos para pagar seu amante clandestino. Ele é prima facie, não uma fonte confiável.

• Laurie Goodstein, a autora da história do New York Times, teve uma história recente com o arcebispo Weakland. No ano passado, após o lançamento da autobiografia do infeliz arcebispo, ela escreveu uma história invulgarmente simpática que enterrou todas as acusações mais graves contra ele (New York Times – 14 de maior de 2009).

• Uma demonstração ocorreu em Roma na sexta-feira, coincidindo com a publicação da história do New York Times. Alguém poderia perguntar se seria coincidência que ativistas americanos em Roma estivessem distribuindo os mesmos documentos referidos naquele dia no New York Times. A aparência aqui é de uma campanha coordenada, ao invés de relatórios desinteressados.

É possível que más fontes possam providenciar a verdade. Mas fontes comprometidas pedem por um maior controle. Em vez de um maior controle da história original, no entanto, os editores de notícias de todo o mundo simplesmente repetiram o New York Times. O que nos leva ao problema mais fundamental: a história não é verdadeira, segundo a sua própria documentação.
O New York Times disponibiliza em seu próprio site a documentação de apoio para a história. Nesses documentos, o próprio cardeal Ratzinger não toma qualquer decisão que, alegadamente, frustra o julgamento. As cartas são dirigidas a ele; as respostas vêm de seu vice. Mesmo deixando isso de lado, porém, a acusação aqui – de que o escritório do cardeal Ratzinger impediu alguma investigação – está provada ser totalmente falsa.


Os documentos mostram que o processo penal ou processo canônico contra o padre Murphy nunca foi interrompido por ninguém. Na verdade, ele só foi abandonado dias antes do padre Murphy morrer. O cardeal Ratzinger nunca tomou uma decisão sobre o caso, de acordo com os documentos. Seu vice, o arcebispo Tarcisio Bertone, sugeriu que, já que o padre Murphy estava com a saúde debilitada e um julgamento canônico seria um assunto complicado, o mais correto seria removê-lo de todo o ministério.

Repetindo: a acusação de que o cardeal Ratzinger alguma coisa errada não é suportada pela documentação em que a história foi baseada. Ele não aparece no registro como tomando qualquer decisão. Seu escritório, na pessoa do seu vice, Dom Bertone, concordou que deve haver um completo julgamento canônico. Quando se tornou evidente que o padre Murphy estava com a saúde debilitada, Dom Bertone sugeriu que o mais correto seria removê-lo de todo o ministério.

Além disso, segundo o direito canônico na época, a principal responsabilidade de casos de abuso sexual ficava com o bispo local. O arcebispo Weakland tinha, a partir de 1977, a responsabilidade de administrar as sanções ao padre Murphy. Ele não fez nada até 1996. Foi nesse momento que o gabinete do Cardeal Ratzinger se envolveu, e, posteriormente, não fez nada para impedir o processo local.

O New York Times conta a história errada, segundo a sua própria evidência. Os leitores podem querer especular sobre o motivo.
Aqui está o cronograma dos fatos mais relevantes, extraídos dos documentos do New York Times postados em seu próprio site.

15 de maio de 1974

É alegado um abuso pelo padre Lawrence Murphy por um ex-aluno da Escola para Surdos de S. João em Milwaukee. Na verdade, as acusações contra o Padre Murphy remontam há mais de uma década.

12 de setembro de 1974

É concedido ao padre Murphy uma “licença para tratamento de saúde” oficial da Escola para Surdos de S. João. Ele deixa Milwaukee, Wisconsin e muda-se para o norte, na Diocese do Superior, onde ele mora numa casa de família com sua mãe. Ele não tem atribuição oficial a partir deste ponto até a sua morte em 1998. Ele não volta a viver em Milwaukee. Nenhuma sanção canônica é exercida contra ele.

9 de julho de 1980

Funcionários da Diocese do Superior escrevem aos funcionários da Arquidiocese de Milwaukee sobre que ministério o padre Murphy poderia fazer no Superior. O arcebispo Rembert Weakland, arcebispo de Milwaukee desde 1977, foi consultado e disse que seria prudente ter o padre Murphy de volta para o ministério com a comunidade surda. Não há indicação de que o arcebispo Weakland prevê outras medidas a serem tomadas no caso.

17 de julho de 1996

Mais de 20 anos após as alegações de abusos originais, o arcebispo Weakland escreve ao cardeal Ratzinger, afirmando que só agora ele descobriu que o abuso sexual do padre Murphy envolvia o sacramento da confissão – um crime canônico ainda mais graves. As acusações sobre o abuso do sacramento da confissão estavam nas alegações de 1974. A esta altura, Weakland já havia sido arcebispo de Milwaukee por 19 anos.
Deve-se notar que, com relação a acusações de abusos sexuais, o arcebispo Weakland poderia ter procedido contra o padre Murphy a qualquer momento. A questão da solicitação no sacramento da confissão requereu notificar Roma, mas que também poderia ter sido feito nos anos 1970.

10 de setembro de 1996

O padre Murphy é notificado de que um processo canônico irá proceder contra ele. Até 2001, o bispo local tinha autoridade para agir em tais assuntos. A Arquidiocese de Milwaukee vai agora começar o julgamento. É de salientar que, neste momento, nenhuma resposta foi recebida em Roma, indicando que o arcebispo Weakland sabia que ele tinha autoridade para prosseguir.

24 de março de 1997

O Arcebispo Tarcisio Bertone, secretário adjunto do cardeal Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, aconselha um processo canônico contra o padre Murphy.

14 de maio de 1997

O arcebispo Weakland escreve ao arcebispo Bertone para dizer que o processo penal contra o padre Murphy foi lançado, e observa que a Congregação para a Doutrina da Fé aconselhou-o a prosseguir, mesmo que o estatuto de limitações expire. Na verdade, não existe estatuto de limitações para a solicitação no sacramento da confissão.
Durante todo o resto de 1997, a fase preparatória do processo penal ou processo canônico está em andamento. Em 5 de Janeiro de 1998, o Tribunal da Arquidiocese de Milwaukee diz que um processo acelerado deve ser concluído dentro de poucos meses.

12 de janeiro de 1998

O padre Murphy, agora menos de oito meses de sua morte, apela para o cardeal Ratzinger que, dada a sua saúde frágil, ele deve ser autorizado a viver os seus dias em paz.

6 de abril de 1998

O arcebispo Bertone, observando a saúde frágil do padre Murphy e que não houve novas acusações em quase 25 anos, recomenda a utilização de medidas pastorais para garantir que o padre Murphy não exerça ministério, mas sem a acusação completa de um processo penal. É apenas uma sugestão, como o bispo local mantém o controle.

13 de maio de 1998

O Bispo do Superior, onde o processo foi transferido para e onde o padre Murphy tem vivido desde 1974, rejeita a sugestão de medidas pastorais. Inicia-se um julgamento pré-formal em 15 de maio de 1998, continuando o processo já iniciado com a notificação de que tinha sido emitida em setembro de 1996.

30 de maio de 1998

O arcebispo Weakland, que está em Roma, reúne-se com os membros na Congregação da Doutrina da Fé, incluindo o arcebispo Bertone, mas não incluindo o cardeal Ratzinger, para discutir o caso. O processo penal está em curso. Nenhuma decisão é tomada para pará-lo, mas dadas as dificuldades de um julgamento depois de 25 anos, outras opções são exploradas que iriam remover mais rapidamente o padre Murphy do ministério.

19 de agosto de 1998

O arcebispo Weakland escreve que ele parou o processo canônico e o processo penal contra o padre Murphy e foi imediatamente iniciado o processo para tirá-lo do ministério – uma opção mais rápida.

21 de agosto de 1998

Morre o padre Murphy. Sua família desafia as ordens do arcebispo Weakland para um funeral discreto.- O padre Raymond J. de Souza é um capelão na Queen’s University, em Ontário.

Pelo Pe. Raymond J. de Souza
(http://corner.nationalreview.com)
Tradução: Emerson de Oliveira

Pedofilia, um complô contra o Papa.

D. Henrique Soares da Costa
Bispo auxiliar de Aracaju, SE

Caro Internuta, leia este texto da cronista italiana Benedetta Sangirardi. Não gosto de insistir sobre certos assuntos sensacionalistas, mas aqui, penso é preciso deixar as coisas o mais claro possível! O texto é muito bom e deve ser lido. Vejamos que escândalos vão ainda tirar do baú contra o Papa e contra a Igreja. Uma coisa é certa: Bento XVI vai aparecendo cada vez mais como um gigante homem de fé de moral admirável! Que Papa, que grande Pastor, o Senhor os concedeu!

O que está acontecendo? Há um complô contra a Igreja?
Os casos de pedofilia se sucedem nas páginas dos jornais. Quase um por dia.
O que há de verdadeiro e de falso nesta questão? E por que estão aparecendo agora todos os casos (gravíssimos) de pedofilia dentro da Igreja?
Alguém está querendo colocar para fora Bento XVI? Segundo quanto parece a Affaritaliani.it colhido de fontes críveis vizinhas ao Vaticano, a vontade é exatamente de jogar na lama a Igreja. trata-se, em suma, de uma verdadeira e própria campanha midiática contra o Papa.

Um complô, uma trama anticatólica vinda de certa cultura presente no Ocidente. A voz da Igreja, aos olhos desta cultura, sendo livre e não manipulável, cria não poucos problemas (basta pensar na constante defesa da vida e da dignidade da pessoa contra os interesses de alguns). Não é por acaso que muitos desses “episódios” e acusações de pedofilia venham do Exterior. E não é por acaso que a palavra “lobby” tenha sido cunhada exatamente nos países nos quais é mais presente esta matriz cultural. Mas, vamos por ordem.

Estamos assistindo a um verdadeiro e próprio ataque que objetiva desacreditar a Igreja e o Pontífice através das armas principalmente midiáticas. Basta tomar os casos que estão enchendo as páginas dos jornais.

Têm todas as características de ser episódios do passado, já encerrados e conhecidos, em grande parte já tratados antes pela mídia. E agora são colocados a público um a um, com certa cadência , para produzir o máximo de efeito.

Desde o início a manobra foi clara: chegar ao Pontífice. Partiu-se da tentativa de envolver o irmão do Papa, noticiando os dois casos de abuso sexual no coro de Ratisbona, que na realidade aconteceram anos antes do trabalho de Georg Ratzinger e, sobretudo, eram já conhecidos e encerrados juridicamente. Mas, o nome “Ratzinger” permaneceu lá, nos títulos dos jornais. Depois, trouxeram à luz outro caso já conhecido e encerrado, o do assim chamado “padre H”, na Arquidiocese de Munique, nos inícios dos anos 80.
Também este um caso já tratado a seu tempo, no qual era já havia sido constatada - até pelo tribunal que julgou o acusado - a total falta de ligação com o então Arcebispo Ratzinger.

O último caso aparecido no New York Times é mais uma tentativa: também aqui os documentos dizem que a Congregação para a Doutrina d a Fé, consultada 20 anos depois dos fatos (os abusos tinham ocorrido nos anos 70), convidou a conservar o sacerdote em questão, mas distante das atividades pastorais, mesmo tendo se passado tantos anos sem evidência de outros crimes e apesar de a justiça civil já ter arquivado o caso.

Os números – Ao estalar dos casos singulares (sempre os mesmos de décadas tirados agora do baú) une-se o inchaço das cifras para dar a idéia se um fenômeno extenso e incontrolável. Um exemplo iluminante é a cifra de 4000 casos de abuso nos Estados Unidos que continuamente é repetida. O que se omite dizer é que das 4000 acusações (não sentenças), as que diziam respeito a pedofilia eram 950, que resultaram em 54 condenações, em um período de quarenta anos. Os sacerdotes nos Estados Unidos são 109.000.

Os documentos – Um outro elemento é a citação imprópria dos documentos como se existissem redigidos secretamente para encobrir os crimes dos pedófilos. A realidade é que nos dois documentos mais importantes, (públicos e consultáveis também online) o “Crimen sollicitationis”, de 1922 reeditado em 1962 por João XXIII e o “De delictis gravioribus”, de 2001 assinado pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Ratzinger, está escrito em alto e bom tom que os crimes devem ser pontualmente denunciados e julgados canonicamente. O problema é que os documentos são redigidos em latim e algumas péssimas traduções, unidas à má fé, levaram a confundir frases dando-lhes o sentido contrário. Mas, também aqui, nos títulos dos jornais, ficou a impressão de que as altas esferas mandavam ocultar os casos.

A Igreja e, de modo particular, um papa, não podem e não devem ficar preocupados em aparecer de modo belo diante da imprensa mundial e muito menos buscar os seus aplausos, ainda que, atualmente, poucas realidades do nosso mundo globalizado sobretudo midiaticamente tenham um poder ao menos próximo daquele dos meios de comunicação.

E, no entanto, não deixa de ser porco, realmente nojento – a expressão é esta e não há outra – a campanha desses meios de comunicação contra a Igreja e, de modo específico, contra o Papa Bento XVI. Todos aqueles que são bem informados sabem que esses meios nunca gostaram do Cardeal Ratzinger. Recordam as manchetes quando da sua eleição? Lembram do rosto do Papa dentro dum bloco de gelo, para dizer que a Igreja agora estava congelada? Foi a capa da Veja. Há jornais que são particularmente desonestos e maquiavélicos quando se trata de Bento XVI: penso no The New York Times, um jornal patologicamente anticatólico; penso no italiano La Reppubblica, que é a voz de tudo quanto na Itália possa causar dano à Igreja, penso no Le Monde francês e no El Pais espanhol.

Por que esta minha conversa? Por causa desse assunto já saturado da pedofilia de alguns sacerdotes. Esses órgãos de comunicação fazem o possível para incriminar o Papa de algum modo! Até agora fracassaram e fracassarão sempre, mas como desgastam! Primeiro, inspirados pela BBC (hoje controlada pelo lobby gay), tentaram acusar o então Cardeal Ratzinger de orquestrar todo um programa de acobertamento dos casos de pedofilia.

A TV Record – nunca se esqueça a quem ela pertence e como foi comprada! – fez questão de apresentar esse programa no Brasil, mesmo quando as acusações já tinham sido refutadas e desmascaradas na Europa. Agora, com os casos que vieram à baila, tentaram insinuar que o irmão do Papa era pedófilo. Ficou provado que era mentira. Que o irmão do Papa maltratava crianças. Também ficou assentado que não era verdade: ele era rígido e castigava corporalmente as crianças, como qualquer mestre na Alemanha e nas nossas escolas há quarenta, cinqüenta anos atrás.

Na Alemanha, certa imprensa marrom tentou afirmar que Ratzinger, quando era Arcebispo de Munique, protegeu um padre pedófilo. Foi provado que a acusação era falsa: o então Arcebispo havia deixado que o referido sacerdote ficasse hospedado na casa paroquial enquanto se submetia a tratamento psicológico, somente como hóspede e sem atividade pastoral alguma.

Agora, o The New York Times, por pura maldade e desonestidade, acusou o Papa, quando Cardeal, de encobrir a caso de um padre que teria abusado de 200 crianças. Também é mentira. Aliás, foi Bento XVI quem, assim que assumiu o trono de Pedro, mandou reabrir o caso do Pe. Marcial Maciel e o suspendeu de modo definitivo. A linha de Bento XVI nesses casos sempre foi clara, simples e reta: tolerância zero. O que nos desilude profundamente é perceber de modo claro a desonestidade desses meios midiáticos, que não buscam a verdade, mas usam a informação como puro jogo de poder e de interesses. Mundo cão, o nosso! Mundo marcado profundamente pelo pecado, pela mentira, passando por cima da boa fama dos outros e da retidão de caráter de homens como o Santo Padre! Veremos o que ainda haverão de inventar contra esse homem manso e reto, esse homem de consciência moral elevadíssima, que é Bento XVI. Que Deus o proteja e o livre das mãos de seus tremendos, desonestos e ímpios inimigos.

http://costa_hs.blog.uol.com.br/arch2010-03-21_2010-03-27.html

terça-feira, 30 de março de 2010

Imprensa e carta do Papa sobre abusos sexuais.

“Sem precedentes”, concordam os jornais de diferentes tendências.

Favoráveis, contrários ou internamente divididos, os meios de comunicação do mundo inteiro acolheram a Carta pastoral de Bento XVI aos católicos da Irlanda como um documento “sem precedentes”, não somente por ser o primeiro texto de um papa sobre o tema dos abusos sexuais por parte do clero, mas também pela dor com que foi escrito.

O interesse superou amplamente as costas da ilha irlandesa, como demonstrou o fato de que, poucos minutos depois da publicação no Vaticano, ao meio-dia do sábado, 20 de março, já era possível ler a carta em sites de jornais como Süddeutsche Zeitung, The New York Times, Le Monde, The Telegraph, El Mundo, Le Figaro, El Universal, Los Angeles Times, The Washington Post e El País. As primeiras manchetes se concentraram na petição de perdão que o Papa dirige, em nome da Igreja, às vítimas de abusos cometidos por clérigos:

“Sofrestes tremendamente e por isso sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade”.

Respostas das vítimas

Após a apresentação do documento, os primeiros comentários publicados pela imprensa se centraram em declarações de associações de vítimas de abusos sexuais por parte de sacerdotes, entre as quais também houve diferenças de opinião.

Entre as organizações criticadas, destacam-se, por exemplo, o comentário negativo de Maeve Lewis, diretora executiva de One in Four, e o comunicado divulgado no mesmo sábado às redações dos jornais pela Survivors Network of those Abused by Priests (SNAP).
Em particular, esta nota critica dura e ironicamente o fato de que Bento XVI não tenha tomado, neste documento, medidas concretas para enfrentar os escândalos, particularmente por não exigir nele a renúncia de mais pessoas que, de alguma maneira, possam ter estado envolvidas nos escândalos. Críticas semelhantes foram feitas por outras associações de vítimas, em geral com tons duros.

A esta crítica já havia respondido o Pe. Federico Lombardi, SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, na apresentação do documento aos jornalistas, ao explicar que se trata de uma carta pastoral e, portanto, não indica medidas administrativas e jurídicas, como, por exemplo, a renúncia de outros bispos irlandeses. Tais decisões, de qualquer maneira, competem ao Pontífice e aos interessados.

Em algumas ocasiões, estas mesmas associações reconheceram que não compreendem o alcance dos anúncios que o Papa faz na carta, por abordarem questões técnicas do Direito Canônico: a convocação de uma visita apostólica, isto é, uma espécie de auditoria nas dioceses da Irlanda, assim como nos seminários e congregações religiosas, com a ajuda de expoentes da Cúria Romana.

O próprio Papa compreende, no documento, a dificuldade que supõe para as vítimas destes abusos aceitar suas palavras: “É compreensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome, expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos”.
Por sua parte, a Irish Survivors of Child Abuse Organization (Irish-SOCA) considerou que a carta contém “um reconhecimento evidente de que a Igreja na Irlanda pecou da maneira mais grave contra jovens durante muitas décadas”.


O porta-voz vaticano, em sua apresentação aos jornalistas, também respondeu à crítica lançada por jornais alemães, que esperavam alusões por parte do Papa à situação do seu país. Cada país, segundo o Pe. Lombardi, tem sua especificidade. O Santo Padre decidirá quando e como intervir no caso da sua pátria, garantiu.

Culpados diante de Deus e diante dos tribunais

Outro trecho muito citado pelos jornais e pelas vítimas, particularmente por Irish-SOCA, foi o dirigido “aos sacerdotes e religiosos que abusaram dos jovens”, para garantir-lhes que “traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus onipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos”.

Ao sublinhar estes trechos, a imprensa insistiu em que, para a Igreja, não é possível aceitar nunca mais o encobrimento: “A justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas ações sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça”, assegura o Papa aos clérigos manchados por estas culpas.

Por este motivo, uma das manchetes mais comuns para ilustrar a carta foi “Os sacerdotes pedófilos devem responder diante de Deus e dos tribunais”.

Uma carta sem precedentes.

No entanto, há um aspecto em que o Papa obteve o consenso entre as associações de vítimas e a imprensa em geral: as “desculpas sem precedentes” que aparecem na carta, com tons sinceros e humildes.

“Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes atos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram”, reconhece o Pontífice em sua missiva.

“Papa sente vergonha pelos casos de pederastia” foi a manchete de alguns jornais.

O que a imprensa não abordou: a penitência.

Foi interessante constatar que os meios de informação deixaram de lado a primeira medida adotada pelo Papa, totalmente excepcional para um documento com estas características: a penitência comunitária que a Igreja propõe para esse país.

O Pontífice convida os católicos irlandeses a oferecerem “as vossas penitências da sexta-feira, durante todo o ano, de agora até à Páscoa de 2011, (...) para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda”.

Tampouco ocupou espaço nos jornais o trecho no qual o Bispo de Roma incentiva a “redescobrir o sacramento da Reconciliação”, assim como a “adoração eucarística”, e aquele em que convoca “uma Missão a nível nacional para todos os bispos, sacerdotes e religiosos”.

O descuido destes trechos levou a imprensa a ignorar a frase central da carta do Papa, frente ao futuro: “Tenho esperança em que este programa levará a um renascimento da Igreja na Irlanda na plenitude da própria verdade de Deus, porque é a verdade que nos torna livres”.

Lobby laicista contra Papa: grande boato do “New York Times”.

Se existe um jornal que me vem à mente quando se fala de lobbies laicistas e anticatólicos, este é o New York Times. No dia 25 de março de 2010, o jornal de Nova York confirmou esta vocação sua com um incrível boato relativo a Bento XVI e ao cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone.

Segundo o jornal, em 1996, os cardeais Ratzinger e Bertone teriam ocultado o caso – indicado à Congregação para a Doutrina da Fé pela arquidiocese de Milwaukee – relativo a um padre pedófilo, Lawrence Murphy. Incrivelmente – após anos de esclarecimentos e depois que o documento foi publicado e comentado amplamente em meio mundo, desvelando as falsificações e erros de tradução dos lobbies laicistas –, o New York Times ainda acusa a instrução Crimen sollicitationis, de 1962 (na verdade, 2ª edição de um texto de 1922) de ter agido para impedir que o caso Murphy fosse levado à atenção das autoridades civis.

Os fatos são um pouco diferentes.

Por volta de 1975, Murphy foi acusado de abusos particularmente graves e desagradáveis em um colégio para menores surdos. O caso foi imediatamente denunciado às autoridades civis, que não encontraram provas suficientes para proceder contra Murphy. A Igreja, nesta questão mais severa que o Estado, continuou com persistência indagando sobre Murphy e, dado que suspeitava que ele fosse culpado, limitou de diversas formas seu exercício do ministério, apesar de que a denúncia contra ele tinha sido arquivada pela magistratura correspondente.
Vinte anos depois dos fatos, em 1995 – em um clima de fortes polêmicas sobre os casos dos “padres pedófilos” –, a arquidiocese de Milwaukee considerou oportuno indicar o caso à Congregação para a Doutrina da Fé. A indicação era relativa a violações da disciplina da confissão, matéria de competência da Congregação, e não tinha nada a ver com a investigação civil, que havia sido levada a cabo e que havia sido concluída 20 anos antes. Também é preciso observar que, nos 20 anos precedentes a 1995, não houve nenhum fato novo nem novas acusações feitas a Murphy. Os fatos sobre os quais se discutia eram ainda aqueles de 1975.


A arquidiocese indicou também a Roma que Murphy estava moribundo. A Congregação para a Doutrina da Fé certamente não publicou documentos e declarações 20 anos depois dos fatos, mas recomendou que se continuasse limitando as atividades pastorais de Murphy e que lhe fosse pedido que admitisse publicamente sua responsabilidade. Quatro meses depois da intervenção romana, Murphy faleceu.

Este novo exemplo de jornalismo lixo confirma como funcionam os “pânicos morais”.

Para desonrar a pessoa do Santo Padre, desenterra-se um episódio de 35 anos atrás, conhecido e discutido pela imprensa local já na década de 70, cuja gestão – enquanto era da sua competência e 25 anos depois dos fatos – por parte da Congregação para a Doutrina da Fé foi canônica e impecável, e muito mais severa que a das autoridades estatais americanas.

De quantas destas ‘descobertas’ ainda temos necessidade para perceber que o ataque contra o Papa não tem nada a ver com a defesa das vítimas dos casos de pedofilia – certamente graves, inaceitáveis e criminais, como Bento XVI recordou com tanta severidade –, mas que tenta desacreditar um pontífice e uma Igreja que incomodam os lobbies pela sua eficaz ação de defesa da vida e da família?

A vocação de custodiar um milagre eucarístico.

O sacerdote franciscano Paolo Spring tem desde 1997 uma missão que está plenamente relacionada com sua vocação: cuidar do milagre eucarístico que se encontra na basílica de São Francisco na cidade de Siena, localizada na região da Toscana, ao norte da Itália.

Semanalmente, recebe dezenas de grupos de peregrinos, desde crianças que se preparam para a primeira comunhão, até estrangeiros que aproveitam sua viagem para visitar essa cidade cheia de arte, história e espiritualidade, para ver um dos milagres eucarísticos mais impressionantes, o milagre das 223 hóstias consagradas há 280 anos que até agora estão intactas em uma das capelas laterais da basílica.

Ao acolher os fiéis, o padre lhes conta a história do milagre em inglês ou italiano, e ele mesmo, ao narrá-la, maravilha-se diante desse feito, como se fosse a primeira vez que escuta a história.

“Eles vêm de todo o mundo, onde há católicos. Vêm para ver o milagre. Quando chegam, cantam, comovem-se e choram de alegria”, disse o sacerdote.

Uma alegria que contagia e renova até mesmo o sacerdote, mas ele conhece a história há muito tempo. Ainda recorda a primeira vez que viu estas hóstias:

“No final dos anos 70, em uma peregrinação, quando vim aqui e conheci o milagre, pensei: deve permanecer bem protegido, deve ser divulgado, devemos trabalhar para quem vem até aqui entender, e ir embora com esse milagre em seu coração”.

Milagre diário

Foi em 1730, em 14 de agosto, véspera da festa da assunção da Virgem Maria, em todas as igrejas de Siena, os sacerdotes consagraram hóstias adicionais para quem quisesse receber o Corpo de Cristo no dia seguinte.
À noite, todos os sacerdotes de Siena se reuniram na catedral principal dessa cidade para fazer uma vigília e deixaram suas respectivas igrejas sozinhas. Alguns ladrões aproveitaram e entraram na basílica de São Francisco para roubar o copo de ouro com as hóstias consagradas.
Na manhã seguinte se deram conta de que as hóstias não estavam e, no meio da rua, um paroquiano encontrou a parte de cima do copo. Confirmou assim que o corpo de Cristo havia sido roubado. Os habitantes de Siena começaram a rezar para que aparecessem as hóstias.
Três dias depois, enquanto um homem estava orando na igreja de Santa Maria em Provenzano, muito próximo da Basílica de São Francisco, notou que havia algo de cor branca dentro de uma caixa destinada para doação dos pobres. Imediatamente informaram ao arcebispo e chegaram para ver do que se tratava.
Abriram a caixa, eram as 351 hóstias consagradas - o mesmo número de hóstias que foram roubadas.

“Esses três dias foram como os dias entre a Crucificação e a Ressurreição”, disse o padre Spring.

Estavam cheias de poeira e teia de aranha. Os sacerdotes as limparam cuidadosamente.
Então houve um dia de adoração e reparação. Milhares de fiéis foram até a basílica para agradecer a descoberta. Essas não foram distribuídas, ao que parece, porque os franciscanos queriam que os peregrinos as adorassem até o momento em que se deteriorassem (porque ao se deteriorar, desaparece a presença real de Cristo).
Mas as hóstias permaneciam intactas e com um odor muito agradável. As pessoas começaram a considerá-las milagrosas e cada vez iam mais peregrinos para orar diante delas. Algumas poucas foram distribuídas em ocasiões especiais.
Hoje, 280 anos depois, permanecem 223 hóstias que apresentam o mesmo estado que tinham no dia em que foram consagradas.

“Em diversas etapas foram examinadas e fisicamente conservam todas as características de uma hóstia recém-feita”, explica o padre Paolo.

Em 1914, foi feito um exame mais rigoroso desse milagre, por disposição do Papa São Pio X.

“As Sagradas Partículas resultaram em perfeito estado de consistência, lúcidas, brancas, perfumadas e intactas” , disse padre Spring.

Também foi concluído nesse exame que as hóstias roubadas foram preparadas sem precauções científicas e guardadas em condições normais, e em circunstâncias normais a deterioração deveria ter sido rápida.

Em 14 de setembro de 1980, o Papa João Paulo II viajou a Siena para celebrar os 250 anos desse Milagre Eucarístico. Ao ir, disse: “é a Presença”. Também foram orar diante dessas hóstias santas, personagens como São João Bosco e o beato Papa João XXIII.

Para o padre Spring, o Milagre Eucarístico de Siena “representa uma prova do amor de Deus para nós e a presença para nos sustentarmos contra as dúvidas e dificuldades, o milagre com o qual Deus Pai está ajudando a Igreja a não ter medo, para viver a presença de seu fundador enviado pelo Pai para fazer sua vontade”.

“Aqui existem duas coisas milagrosas”, diz o padre Spring, apontando as hóstias consagradas há quase três séculos. “O tempo não existe, se deteve”.

E o sacerdote explica o segundo milagre: “os corpos compostos e as substâncias orgânicas estão sujeitos a murchar”. É um milagre vivo, contínuo, não sabemos até quando o Senhor o permitirá”, conclui o sacerdote.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Bispos da França e Inglaterra saem em defesa do Papa nos casos de pedofilia.

Os bispos da França expressaram nesta sexta-feira vergonha e pesar ante os atos abomináveis de pedofilia dentro da Igreja Católica, em carta dirigida ao Papa Bento XVI, ao término de sua assembleia geral realizada em Lourdes (sudoeste).

"Todos sentimos vergonha e pesar ante os atos abomináveis cometidos por alguns padres e religiosos", afirmaram os bispos franceses - que, na mesma carta, defenderam o Papa contra os ataques que sofreu neste caso.
"Constatamos também que estes fatos inadmissíveis são utilizados em uma campanha para atacar o senhor e sua missão à serviço da Igreja", destacaram os prelados.

Também enviaram "uma cordial mensagem de apoio no difícil período que atravessa nossa igreja".

Os bispos manifestaram adesão às palavras do Papa "destinadas às vítimas dos crimes" e consideraram que as pessoas que cometem esses atos "desfiguram nossa Igreja".

"Mesmo que estes atos sejam resultado de um grupo muito pequeno de sacerdotes - e já é demais - os que vivem com alegria e fidelidade seu compromisso a serviço da Igreja também são afetados", afirma ainda a mensagem.

O chefe máximo dos católicos da Inglaterra e de Gales também negou que a Igreja tenha acobertado os abusos sexuais em um artigo publicado no jornal Times.
O arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, considerou inadmissível a atitude das pessoas que abusaram sexualmente de menores.

"O abuso de crianças cometidos dentro da Igreja católica romana e seu acobertamento são profundamente chocantes e totalmente inadmissíveis", afirma o prelado.

"Envergonho-me do ocorrido e compreendo a ira e horror que estes casos produziram", enfatiza.

Bento XVI se encontra no centro de um escândalo ocasionada pela matéria do jornal The New York Times divulgando informações de que, nos anos 90, o então cardeal Joseph Ratzinger encobriu um padre americano suspeito de ter abusado de 200 crianças com deficiência auditiva.
O Vaticano saiu em defesa do Papa afirmando que ele só teve conhecimento dos fatos quando era tarde, quando o idoso sacerdote já estava muito doente.

Segundo o NYT, Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé nos anos 1990, abriu mão de iniciar os trâmites contra o padre acusado de ter abusado de quase 200 crianças surdas em uma escola do Wisconsin (norte dos Estados Unidos) entre 1950 e 1972.
Os documentos, mantidos em sigilo durante muitos anos, revelam uma correspondência de 1996 entre o padre Lawrence C. Murphy e o então cardeal Joseph Ratzinger, que presidia a Congregação para a Doutrina da Fé antes de virar Papa, afirma o Times.

Ratzinger também teria sido alertado sobre as acusações contra o padre Murphy pelo arcebispo de Wisconsin, que teria escrito duas cartas sobre a questão. Murphy trabalhou na escola para crianças surdas e com deficiências auditivas do estado de Wisconsin entre 1950 e 1974.
Este novo caso, revelado pelo New York Times, diz respeito a julgamentos contra o arcebispo de Milwaukee, iniciados por cinco homens cujos advogados entregam ao jornal documentos referentes ao padre de Wisconsin. Um julgamento a portas fechadas ante um tribunal eclesiástico contra o padre Murphy foi arquivado depois de uma carta redigida por ele a Ratzinger pedindo que impedisse o processo, acrescenta o jornal. (Jornalismo anticatolico, grifo meu. como ele, o jornal teria acesso a esses documentos? E Tornar publico um acontecimento de 1950 e 1974 é algo ao meu ver sensacionalista e com proposito de envolver o Papa neste escandalos).

"Simplesmente quero viver o tempo que me resta na dignidade de meu sacerdócio", escreveu Murphy ao então cardeal Ratzinger. "Peço sua ajuda neste caso", prossegue o religioso americano. Nenhuma resposta de Ratzinger figura entre esses documentos, e Murphy faleceu dois anos mais tarde, em 1998, quando ainda era padre.

Na resposta ao jornal, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, ressalta em um comunicado que se recorreu à Congregação pela primeira vez no fim dos anos 90, "quando já haviam transcorrido mais de duas décadas desde que os abusos foram denunciados aos dirigentes da diocese e da polícia". Pe. Lombardi recordou que as autoridades civis americanas investigaram o padre Lawrence Murphy nos anos 70, após as acusações das vítimas, mas acabaram abandonando o processo.
Obs: Leavantam-se frentes que agora querem atacar o Papa Bento 16 com o proposito não sei pra que. Mais como diz na canção "se bons combates não combater, minha coroa não vou conquistarei ... se perseguido aqui eu não for, sinceramente um bom cristão não sou" e ser CATOLICO É MUITO DIFICIL MAIS SALUTAR, PELO CAMINHO ESTREITO CHEGAREMOS AO CÉU, porque tem que se defender dia apos dia de nossa fé de ataques como esse. Papa Bento 16 o senhor não esta sozinho nesta batalha.

DOM ODILO: CARTA DO PAPA É PARA TODOS OS FIÉIS.

O Cardeal-Arcebispo Odilo Pedro Scherer, disse que ficou impressionado “com a clareza e a firmeza” do Papa Bento XVI na carta que escreveu aos católicos da Irlanda sobre os abusos sexuais praticados por padres contra crianças e adolescentes daquele país.
Na carta, divulgada no sábado, 20, Bento XVI expressou em nome da Igreja “a vergonha e o remorso que todos sentimos”.

“A carta do Papa é dirigida diretamente aos católicos da Irlanda, mas vale para os católicos de todo o mundo”, diz Dom Odilo.

“Não podemos ser coniventes com crimes dessa natureza”, completa.

De acordo com o Cardeal o Papa indica os caminhos para a Irlanda superar os problemas.

“Os remédios vão desde a chamada à penitência e à conversão, à responsabilização perante a justiça civil e canônica; mas (o Papa) também fala da ajuda às vítimas e suas famílias e a uma grande ação missionária no país, da qual ele próprio quer participar, indo à Irlanda”.

Leia aqui a íntegra da entrevista:

O São Paulo - Dom Odilo com que disposições de alma deve ser acolhida a Carta do Papa aos católicos da Irlanda?

Dom Odilo: A carta do Papa é realista e muito forte; deveria ser lida com atenção e acolhida como uma palavra clara sobre a posição da Igreja em relação aos tristes problemas abordados, isto é, o abuso sexual de crianças e adolescentes por pessoas da Igreja, mas também por pessoas não pertencentes a ela. A Igreja não ensina, não incentiva e não aprova isso, mas reprova e condena firmemente tais tristes fatos. E quem os comete, deve cair na conta da própria responsabilidade diante de Deus e diante dos homens. Os abusos causaram sérios danos a pessoas e também à Igreja.

O São Paulo - A carta é marcada pelo espanto, pela dor, pela indignação diante dos abusos e pelo desejo de reparar o mal cometido. Como o senhor tem lido as reações a ela?

Dom Odilo: Fiquei impressionado com a clareza e a firmeza com que o Papa abordou as questões e lembrei-me das palavras do Evangelho: “A verdade vos libertará”. O Papa quis transmitir a todos os responsáveis pela Igreja (bispos, padres, superiores religiosos) essa mesma firmeza na busca de estabelecer a verdade sobre os fatos; e também deixou claro que a Igreja, de forma alguma, está de acordo com tais crimes. O 6° mandamento da lei de Deus precisa ser levado a sério novamente.

O São Paulo - Bento 16 não mede palavras na condenação dos crimes nem no reconhecimento dos erros cometidos. Uma medida ao mesmo tempo dura, dolorosa, honesta e necessária, entende o senhor?

Dom Odilo: Sim, e não poderia ser diferente. Não podemos ser coniventes com crimes dessa natureza. Mas é preciso acrescentar mais algo: o Papa também toma sobre si a dor das vítimas e chama os responsáveis por tais crimes à conversão, ao arrependimento, à penitência e a buscar o perdão e de Deus.

O São Paulo - A Igreja presente em todo o mundo sofre com esses escândalos. Existe, porém, a tentação de achar que o problema está localizado só na Irlanda. A carta do Papa tem múltiplos destinatários, além dos sacerdotes, das vítimas dos abusos, dos pais e de todos os católicos desse país?

Dom Odilo: A carta do Papa é dirigida diretamente aos católicos da Irlanda, mas vale para os católicos de todo o mundo. Os fatos, infelizmente, não acontecem apenas lá na Irlanda; e nem somente nos ambientes da Igreja. A tentação e a fragilidade da “carne” está por toda parte.
Os abusos sexuais sobre crianças são muito mais abundantes que se possa imaginar e em todos os ambientes do convívio social. Acontecem em maior número debaixo dos tetos familiares. Isso não diminui em nada a gravidade de crimes cometidos por representantes da Igreja, mas faz pensar que ninguém deveria ficar com a alma lavada porque foram denunciados e admitidos casos na Igreja. O mal é bem mais amplo e profundo e requer uma revisão de posturas culturais do nosso tempo. O relaxamento e o desprezo pelos valores e conceitos ético-morais é uma das causas principais e a vítima é sempre a pessoa mais frágil e desprotegida.

O São Paulo - Bento 16 oferece o remédio para a cura do problema do abuso de crianças e adolescentes e das feridas causadas na vítimas, nas famílias e na própria Igreja? Em que consiste este remédio?

Dom Odilo: O Papa indica na carta uma série de medidas a serem adotadas para a superação do problema na Irlanda; tais “remédios” vão desde a chamada à penitência e à conversão, à responsabilização perante a justiça civil e canônica; mas também fala da ajuda às vítimas e suas famílias e a uma grande ação missionária no país, da qual ele próprio quer participar, indo à Irlanda. Interessante é que o Papa chama o povo da Irlanda, que foi tradicionalmente muito católico, a retomar forças da sua própria história religiosa, dos seus mártires e santos, a começar por São Patrício, dos seus missionários, que contribuíram muito para a evangelização em várias partes do mundo ao longo da história.

O São Paulo - Que sinais de esperança podem ser identificados neste momento de dor que não atinge apenas a Igreja da Irlanda mas a toda a Igreja?

Dom Odilo: Antes de tudo, fica uma grande chamada de alerta: não podemos perder a noção da seriedade e gravidade dos fatos. O relaxamento dos costumes e da moral é o chão no qual nascem e se desenvolvem, na maior normalidade”, todos os vícios. Por outro lado, a carta é um chamado à vigilância: os pais estejam atentos à educação dos seus filhos e às companhias que freqüentam. Uma vez, as companhias eram apenas os amigos ou as pessoas próximas; hoje, a “companhia” mais perigosa pode estar dentro de casa, na internet. Por outro lado, na Igreja, a dolorosa verificação dos fatos é o caminho necessário para a purificação e a retomada do seu autêntico serviço prestado à humanidade. O poder da graça de Deus é maior que as insídias do Maligno, que semeia a erva ruim no campo da Igreja. Foi Jesus quem falou e isso nos dá esperança.

Antipapas e perigos do magistério paralelo.

A tentativa da imprensa de envolver Bento XVI na questão da pedofilia é só o mais recente dos sinais de aversão que muitos nutrem com relação ao Papa. É necessário perguntar-se como este Pontífice, apesar de sua mansidão evangélica e da sua honradez, da clareza das suas palavras unida à profundidade do seu pensamento e dos seus ensinamentos, suscita em alguns lugares sentimentos de antipatia e formas de anticlericalismo que pareciam superadas.

E – isso é preciso dizer – suscita ainda mais assombro e inclusive dor quando aqueles que não seguem o Papa e denunciam seus supostos erros são homens de Igreja, sejam teólogos, sacerdotes ou leigos. As inusitadas e claramente forçadas acusações do teólogo Hans Küng contra a pessoa de Joseph Ratzinger, teólogo, bispo, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e agora Pontífice, por ter causado, segundo ele, a pedofilia de alguns eclesiásticos mediante sua teologia e seu magistério sobre o celibato nos entristecem profundamente. Nunca havia acontecido que a Igreja fosse atacada dessa maneira.

Às perseguições contra muitos cristãos, crucificados em sentido literal em muitas partes do mundo, às múltiplas tentativas de desarraigar o cristianismo nas sociedades antes cristãs, com uma violência devastadora no âmbito legislativo, educativo e dos costumes, que não pode encontrar explicações no bom senso, acrescenta-se há tempos uma ferocidade contra este Papa, cuja grandeza providencial está diante dos olhos de todos.

Estes ataques, tristemente, são ecoados por aqueles que não escutam o Papa, também eclesiásticos, professores de teologia nos seminários, sacerdotes e leigos. Os que não acusam abertamente o Pontífice, mas silenciam seus ensinamentos, não leem os documentos do magistério, escrevem e falam sustentando exatamente o contrário do que ele diz, dão vida a iniciativas pastorais e culturais, por exemplo, no campo da bioética ou do diálogo ecumênico, em aberta divergência com relação ao que ele prega. O fenômeno é muito grave, já que está muito difundido.

Bento XVI ofereceu ensinamentos sobre o Vaticano II que muitíssimos católicos rebatem abertamente, promovendo formas de magistério paralelo sistemático, guiados por muitos “antipapas; ele ofereceu ensinamentos sobre os “valores não-negociáveis”, que muitíssimos católicos minimizam ou reinterpretam, e isso acontece também por parte de teólogos e comentaristas da fama hospedados na imprensa católica, além da leiga; ele ofereceu ensinamentos sobre a primazia da fé apostólica na leitura sapiencial dos acontecimentos e muitíssimos continuam falando da primazia da situação, da práxis, dos dados das ciências humanas; ele ofereceu ensinamentos sobre a consciência e sobre a ditadura do relativismo, mas muitíssimos antepõem a democracia ou a Constituição ao Evangelho. Para muitos, Dominus Iesus, a nota sobre os católicos na política, de 2002, o discurso de Ratisbona, de 2006, e a Caritas in veritate são como se nunca houvessem existido.

A situação é grave, porque esta brecha entre os fiéis que escutam o Papa e aqueles que não o escutam se difunde por todos os lados, até nos seminários diocesanos e nos institutos de ciências religiosas, e incentiva duas pastorais muito diferentes, que já quase não se entendem, como se fossem expressão de duas Igrejas diversas, e provocam insegurança e extravio em muitos fiéis.
Neste momento muito difícil, nosso observatório sente o dever de expressar sua filial proximidade de Bento XVI.

Oramos por ele e permaneceremos fiéis em seu seguimento.

Dom Giampaolo Crepaldi é arcebispo de Trieste e presidente do Observatório Internacional Cardeal Van Thuân.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pastores Protestantes Retornam à Igreja Católica nos EUA‏.

Nos Estados Unidos, berço do protestantismo moderno um fenômeno está acontecendo segundo Janina Quintal, em artigo escrito ao Universo Católico, uma série de renomados pastores e estudiosos do mundo protestante retornaram ou vieram ao seio da Igreja Católica. Eles professam seu testemunho em revistas, livros e na internet.
Segundo Janaina Quintal os convertidos foram “surpreendidos com a Verdade” ao estudarem os escritos dos Pais da Igreja e Cristianismo primitivo.

1. Scott Hann.
Ex-pastor presbiteriano e ex-professor de teologia protestante. Era um anti-católico dos mais radicais de sua época. O seu excelente conhecimento como pastor e teólogo protestante e o testemunho de conversão para a Igreja católica faz deste servo de Deus um fascinante defensor da verdade. Milhares de protestantes e centenas de pastores voltaram ao Catolicismo vendo o testemunho deste ex-pastor. Escreveu os livros “Banquete do Cordeiro” , ed. Loyola, SP, 2002. "Todos os Caminhos vão dar a Roma" , ed. DIEL, Portugal, 1993.

2. Paul Thigpen.
Ex- editor e escritor de várias revistas protestantes. Foi educado em uma Igreja presbiteriana do sul. Levou a sério, os estudos religiosos na Universidade de Yale. Foi Pastor e missionário na Europa, depois passou para a Igreja Batista, Metodista, Igreja Anglicana e depois para uma Igreja Pentecostal. Finalmente fez estudos para obter doutorado em História da Teologia que o facilitou ao caminho para a Igreja Católica.

3. Marcus Grodi.
Ex-ministro protestante formado em Teologia e Bíblia. Fez os estudos de teologia no seminário protestante Gordon-Conwell em Boston, Massachussetts.
Marcus afirma: “Eu só quis ser um bom pastor”, mas um dia perguntou-se a si mesmo:
“Eu estou ensinando a verdade ou o erro? Como eu posso estar seguro se em outras igrejas a mesma leitura Bíblica tem várias interpretações diferentes?”.
Estudou história da Igreja e soube através da Bíblia que não poderia continuar a ser um protestante. Concluiu que a verdade absoluta só se encontrava na Igreja católica.

“Sou mais completo na Igreja dos Apóstolos”, disse ele.

4.Steve Wood.
Ex-diretor de um Instituto Bíblico na Flórida. Ex-pastor da Igreja evangélica “O Calvário”. Fazia os estudos em um Instituto das Igrejas Assembléias de Deus trabalhando em projetos de evangelismo juvenil, era líder de ministérios evangélicos na prisão, organizou um Instituto de estudos bíblicos para adultos e depois fez pós-graduação estudando no famoso seminário evangélico de teologia Gordon-Conwell em Massachusetts.
Um dia quando orava, Deus lhe falou: “Agora ou nunca”. Com a sua conversão ao Catolicismo ele perderia tudo. Perderia o trabalho como pastor e não poderia sustentar a família.

“Eu tinha estudado 20 anos para ser um ministro protestante e Deus me falou: Faça, agora! E eu fiz isto”.

5. Bop Sungenis.
Ex-professor de Bíblia em uma Rádio evangélica. Escreveu um livro contra a Igreja católica: “Recompensas no Céu?” Onde criticou os Católicos por acreditar na importância das obras. Ele quis demonstrar que os ensinamentos Católicos eram falsos e que para salvar-se, bastaria somente a fé. Estudou no Collegue Bíblico de Washington e depois se especializou no George Washington University.

Bop diz: Agora como Católico eu tenho a paz. Isso vem como consolação de viver na verdade. Agora eu entrei no exército de Cristo nesta grande batalha para a salvação das almas. Ajudarei meus irmãos protestantes a aprender que a Igreja católica não só é a verdadeira Igreja, mas a casa onde todos nós pertencemos.

6. Duglas Bogart.
Ex-missionário evangélico na Guatemala. Meu sonho era ser missionário em minha Igreja evangélica de Phoenix. Porém com o tempo, sem perceber, Deus estava me guiando para sua Igreja. Com muita tranqüilidade afirma Douglas: “Eu li muitos livros de teologia, de história, e de testemunhos. Estudei o Catecismo da Igreja Católica comparando-o com a Bíblia. Eu li os primeiros escritos dos Pais da Igreja e descobri que a igreja primitiva era Católica e não protestante. Terminei de aceitar a verdade e agora eu sou Católico."

7 - David B. Currie.
Ex-ministro evangélico do qual muitos o chamavam de mestre em Divindade. Ele nasceu e cresceu como um protestante fundamentalista, seu pai era um pastor. David fez curso de teologia no Trindade Universidade Internacional em Deerfield, Illinois. Depois obteve seu mestrado em teologia bíblica no Trindade Escola de Divindade Evangélica.
O que o levou a ser Católico? Sua resposta se baseia em duas coisas: O estudo da Bíblia o fez descobrir que a Palavra de Deus o guiou para o Catolicismo e o segundo é que a mesma Bíblia mostrou para ele que a Igreja católica é a única Igreja fundada por Cristo.

8. Alan Stephen Hopes.
Ex- Pastor e Bispo Anglicano nomeado por João Paulo II. Pastor Anglicano convertido ao Catolicismo. Foi nomeado bispo auxiliar de Westminster por João Paulo II. Nasceu em Oxford, em 1944. Foi recebido na Igreja Católica em 04 de Dezembro de 1995.
Depois de dois anos como vigário da paróquia de Nossa Senhora da Vitória, de Kensington, foi nomeado Padre da Paróquia de Nosso Redentor, em Chelsea, tornando-se depois, em 2001, vigário geral da arquidiocese. Monsenhor Hopes é um dos pastores Anglicanos que abandonaram a Igreja da Inglaterra depois que a ordenação sacerdotal de mulheres foi aprovada naquela igreja.

Todos eles são agora verdadeiros Católicos e 100% Cristãos. Eles acharam a abundância da vida Cristã na única Igreja fundada por Cristo.

Fonte:
http://blogs.opovo.com.br/ancoradouro/fenomeno-americano-pastores-protestantes-retornam-a-igreja-catolica/

terça-feira, 23 de março de 2010

Bento XVI: não reduzir sacerdócio às categorias culturais dominantes.

O Papa destacou hoje a importância de evitar, na atualidade, reduzir o sacerdócio às categorias dominantes, ao receber os participantes do Congresso Teológico Internacional “Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote”, organizado pela Congregação para o Clero.

“É importante ter bem clara a peculiaridade teológica do ministério ordenado, para não ceder à tentação de reduzi-lo às categorias culturais dominantes”, declarou.

E isso “em uma época como a nossa, tão policêntrica e propensa a difundir todo tipo de concepção de identidade, considerada por muitos contrária à liberdade e à democracia”.

Bento XVI reconheceu que, “em um contexto de difusa secularização, que progressivamente exclui Deus da esfera pública e, por tendência, também da consciência social partilhada, muitas vezes o sacerdote é visto como estranho à percepção comum”.

Segundo o Pontífice, isso ocorre “justamente pelos aspectos mais fundamentais de seu ministério, como o ser homem do sagrado, tirado do mundo para interceder em favor do mundo, em tal missão constituído por Deus e não pelos homens”.

Precisamente neste contexto atual, “é importante superar perigosos reducionismos que, nos anos passados, utilizando categorias mais funcionalistas que ontológicas, apresentaram o sacerdote quase com um ‘agente social’, correndo o risco de trair o próprio sacerdócio de Cristo”.

Neste sentido, defendeu uma hermenêutica da “continuidade sacerdotal”, análoga à hermenêutica da continuidade que, em sentido mais geral, o Papa defende para a compreensão adequada dos textos do Concílio Vaticano II.

Esta concepção do sacerdócio, “partindo de Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo – e passando pelos dois mil anos de história de grandeza e de santidade, de cultura e de piedade vividas pelo sacerdócio – chega até os nossos dias”, afirmou.

Bento XVI destacou depois a importância do “carisma da profecia” no “convite a participar do único sacerdócio de Cristo no ministério ordenado”.

“É preciso sacerdotes que falem de Deus ao mundo e que apresentem o mundo a Deus; homens não sujeitos a modas culturais efêmeras, mas capazes de viver autenticamente aquela liberdade que somente a certeza da pertença a Deus é capaz de dar”, indicou.

E acrescentou: “Hoje, a profecia mais necessária é a da fidelidade, que partindo da fidelidade de Cristo à humanidade, mediante a Igreja e o sacerdócio ministerial, leve a viver o próprio sacerdócio na total adesão a Cristo e à Igreja”.

“O sacerdote não pertence mais a si mesmo, mas é propriedade de Deus”, continuou.
E esse seu “ser de outro”, acrescentou, “deve tornar-se reconhecível por todos, mediante um límpido testemunho”.

“No modo de pensar, de falar, de julgar os fatos do mundo, de servir e amar, de relacionar-se com as pessoas, como também no vestir, o sacerdote deve adquirir força profética de sua pertença sacramental, do seu ser profundo”, declarou.

O valor do sacerdote não está nas funções que ele desempenha, mas em seu ser, e esta verdade ajuda a compreender o sentido do celibato, indicou o Papa.

Neste sentido, afirmou que o sacerdote “deve cuidar-se de subtrair-se à mentalidade dominante, que tende a associar o valor do ministro não a seu ser, mas à sua função, desconhecendo assim, a obra de Deus, que incide na identidade profunda da pessoa do sacerdote, configurando-o a Si de modo definitivo”.

“O horizonte da pertença ontológica a Deus constitui, além disso, o marco adequado para compreender e reafirmar, também em nossos dias, o valor do sagrado celibato”, acrescentou.

Para o Papa, “isso é uma autêntica profecia do Reino, sinal da consagração com coração indiviso ao Senhor e às ‘coisas do Senhor’, expressão da doação de si a Deus e aos outros”.

O Papa pediu a proteção do “dom precioso” do sacerdócio aos mais de 500 presbíteros reunidos no congresso realizado nos dias 11 e 12 de março, na Universidade Pontifícia Lateranense.

E lhes indicou que “a compreensão do sacerdócio ministerial está ligada à fé e exige, de maneira cada vez mais forte, uma radical continuidade entre a formação do seminário e a permanente”.

A vida profética “com a qual serviremos Deus e o mundo, anunciando o Evangelho e celebrando os sacramentos, favorecerá o advento do Reino de Deus já presente e o crescimento do Povo de Deus na fé”, assegurou-lhes.

“Queridíssimos sacerdotes: os homens e as mulheres da nossa época nos pedem somente que sejamos profundamente sacerdotes, nada mais”, disse.

“Os fiéis leigos encontrarão em tantas outras pessoas aquilo de que humanamente precisam – concluiu –, mas somente no sacerdote poderão encontrar aquela Palavra de Deus que deve estar sempre em seus lábios: a misericórdia do Pai, que se prodiga de maneira abundante e gratuita no sacramento da Reconciliação; o Pão de Vida nova, verdadeiro alimento dado aos homens.”

“Fiscal” da Santa Sé ilustra resposta aos casos de pederastia.

Publicamos entrevista de monsenhor Charles J. Scicluna, promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé, fiscal do Tribunal da Santa Sé, que tem por tarefa investigar os delitos que a Igreja considera mais graves (delicta graviora): contra a Eucaristia, contra a santidade do sacramento da penitência e o delito contra o sexto mandamento (não cometerás atos impuros), por parte especialmente de um clérigo com um menor de 18 anos. Delitos que com um motu proprio de 2001, Sacramentorum Sanctitatis Tutela, reservaram-se à competência da Congregação para a Doutrina da Fé. De fato, o “promotor de justiça” é o encarregado, entre outras coisas, da terrível questão dos sacerdotes acusados de pederastia, escândalos que saltam periodicamente às páginas dos meios de comunicação.
A entrevista de mons. Scicluna, de origem maltesa, foi publicada nesse sábado pelo jornal Avvenire.

1 - O senhor tem fama de rigoroso, e no entanto se acusa sistematicamente a Igreja Católica de ser tolerante com os chamados “padres pederastas”.

Resp:Mons. Scicluna: Pode ser que no passado, talvez por um mal-entendido sentido de defesa do bom nome da instituição, alguns bispos, na prática, tenham sido muito indulgentes com este triste fenômeno. Eu digo na prática porque, no âmbito dos princípios, a condenação por esta tipologia de delito sempre foi firme e inequívoca. Pelo que diz respeito apenas ao século passado, basta recordar a famosa instrução Crimen Sollecitationes, de 1922.

2 - Mas não era de 1962?

Resp: Mons. Scicluna: Não, a primeira edição remonta-se ao pontificado de Pio XI. Mais tarde, com o beato João XXIII, o Santo Ofício ocupou-se de uma nova edição para os padres conciliares, mas a tiragem foi só de duas mil cópias, que não bastaram para a distribuição, adiada sine die. De todas as formas, tratava-se de normas de procedimento nos casos de solicitudes durante a confissão e de outros delitos mais graves de tipo sexual, como o abuso sexual de menores.

3 - No entanto, eram normas em que se recomendava o segredo...

Resp: Mons. Scicluna: Uma má tradução ao inglês desse texto deu motivo a que se pensasse que a Santa Sé impunha o segredo para ocultar os atos. Mas não era assim. O segredo de instrução servia para proteger a boa fama de todas as pessoas envolvidas, em primeiro lugar as vítimas, e depois os clérigos acusados, que têm o direito – como qualquer outra pessoa – à inocência presumida até que se demonstre o contrário. A Igreja não gosta da postura de conceber a justiça como um espetáculo. A normativa sobre os abusos sexuais nunca foi interpretada como proibição de denúncia às autoridades civis.

4 - No entanto, esse documento é sempre citado para acusar o pontífice atual de ter sido – como prefeito do antigo Santo Ofício – o responsável objetivo de uma política de acobertamento dos fatos por parte da Santa Sé.

Resp: Mons. Scicluna: É uma acusação falsa e uma calúnia. A propósito, permito-me assinalar alguns dados. Entre 1975 e 1985, não aparece que se tenha submetido à atenção de nossa congregação algum aviso de casos de pederastia por parte de clérigos. De todas as formas, após a publicação do Código de Direito Canônico de 1983 houve um período de incerteza acerca do elenco de delicta graviora reservados à competência deste dicastério. Só com o motu proprio de 2001, o delito de pederastia voltou a ser de nossa exclusiva competência. Desde aquele momento, o cardeal Ratzinger demonstrou sabedoria e firmeza na hora de tratar esses casos. Mais ainda. Deu prova de grande valor, enfrentando alguns casos muito difíceis e espinhosos, sine acceptione personarum. Portanto, acusar o pontífice de ocultação é, repito, falso e calunioso.

5 - Que acontece se um sacerdote é acusado de um dos delitos mais graves (delictum gravius)?

Resp: Mons. Scicluna: Se a acusação é verossímil, o bispo tem a obrigação de investigar tanto a credibilidade da denúncia como o objeto da mesma. E se o resultado da investigação prévia é atendível, já não tem a faculdade de dispor em matéria e deve referir o caso a nossa congregação, onde será tratado pelo departamento disciplinar.

6 - Quem forma parte deste departamento?

Resp:Mons. Scicluna: Junto a mim, que por ser um dos superiores do dicastério devo me ocupar de outras questões, há também um chefe de departamento, o padre Pedro Miguel Funes Díaz, sete eclesiásticos e um penalista leigo que acompanham esses procedimentos. Outros oficiais da congregação dão sua valiosa contribuição segundo seus diversos idiomas e competências.

7 - Diz-se que esse departamento trabalha pouco e com lentidão...

Resp: Mons. Scicluna: É uma observação injusta. Em 2003 e 2004, uma avalanche de casos cobriu nossas mesas. Muitos procediam dos Estados Unidos e se referiam ao passado. Nos últimos anos, graças a Deus, o fenômeno tem-se reduzido muito. E, portanto, tentamos tratar os casos novos em tempo real.

8 - Quantos trataram até agora?

Resp: Mons. Scicluna: Nos últimos nove anos (2001-2010), analisamos as acusações relativas a cerca de 3.000 casos de sacerdotes diocesanos e religiosos concernentes a delitos cometidos nos últimos 50 anos.

9 - Quer dizer, três mil casos de sacerdotes pederastas?

Resp: Mons. Scicluna: Não é correto definir assim. Podemos dizer que em cerca de 60% desses casos, trata-se mais de atos de “efebofilia”, ou seja, devidos à atração sexual por adolescentes do mesmo sexo. Outros cerca de 30% se tratam de relações sexuais. 10% são atos de pedofilia verdadeira e própria, isto é, determinados pela atração sexual por crianças impúberes. Os casos de sacerdotes acusados de pedofilia verdadeira e própria são, então, cerca de 300, em nove anos. São sempre muitos, é inquestionável, mas há de se reconhecer que o fenômeno não está tão difundido como se pretende.

10 - Dos três mil acusados, quanto foram processados e condenados?

Resp: Mons. Scicluna: Podemos dizer que em 20% dos casos houve processo penal ou administrativo, verdadeiro e próprio, que normalmente ocorreu nas dioceses de procedência – sempre sob nossa supervisão – e, só raramente, aqui em Roma. Fazendo assim se agiliza o procedimento. Em 60% dos casos, sobretudo devido à idade avançada dos acusados, não houve processo, mas se ditaram contra eles normas administrativas e disciplinares, como a obrigação de não celebrar missas com os fiéis, de não confessar, de levar uma vida retirada e de oração. Há que reafirmar que nestes casos, entre os quais houve alguns de grande impacto, dos que se ocuparam os meios de comunicação, não se trata de absolvições. Não houve uma condenação formal, mas se uma pessoa foi obrigada ao silêncio e à oração, será por algo.

11 - Resta analisar 20% dos casos...

Resp: Mons. Scicluna: Em 10% dos casos, particularmente graves e com provas, o Santo Padre assumiu a dolorosa responsabilidade de autorizar um decreto de demissão do estado clerical. Trata-se de um procedimento gravíssimo, empreendido administrativamente, mas inevitável. Nos restantes 10% dos casos, os próprios clérigos acusados pediram a dispensa das obrigações derivadas do sacerdócio, que foi aceita com prontidão. Os sacerdotes implicados nestes últimos casos tinham em seu poder material de pornografia pederasta e por isso foram condenados pelas autoridades civis.

12 - Qual é a procedência destes três mil casos?

Resp: Mons. Scicluna: Sobretudo dos Estados Unidos, que entre 2003-2004 representavam ao redor de 80% da totalidade dos casos. Até 2009, a porcentagem norte-americana diminuiu, passando a ser a fatia de 25% dos 223 novos casos assinalados em todo o mundo. Nos últimos anos (2007-2009), efetivamente, a média anual dos casos assinalados à Congregação em todo o mundo foi de 250 casos. Muitos países registram só um ou dois casos. Aumenta, portanto, a diversidade e o número dos países de procedência dos casos, mas o fenômeno é muito limitado. Há de se ter em conta que são 400.000 no total os sacerdotes diocesanos e religiosos no mundo. Essa estatística não corresponde com a percepção criada quando casos tão tristes ocupam as primeiras páginas dos jornais.

13 - Dizia há pouco que os processos, próprios e verdadeiros, englobam 20% dos três mil casos examinados nos últimos anos. Todos resultaram na condenação dos acusados?

Resp:Mons. Scicluna: Muitos processos já celebrados se resolveram com a condenação do acusado. Mas tampouco faltaram outros em que o sacerdote foi declarado inocente ou em que as acusações não foram consideradas ou suficientemente provadas. De qualquer modo, em todos os casos, analisam-se sempre não apenas a culpabilidade ou não culpabilidade do clérigo acusado, mas também o discernimento sobre sua idoneidade ao ministério público.

14 - Uma acusação recorrente às hierarquias eclesiásticas é que não denunciam também às autoridades civis os delitos de pedofilia.

Resp: Mons. Scicluna: Em alguns países de cultura jurídica anglosaxã, mas também na França, os bispos que sabem, fora do segredo sacramental da confissão, que seus sacerdotes cometeram delitos estão obrigados a denunciá-los às autoridades judiciais. Trata-se de um dever pesado, porque estes bispos estão obrigados a realizar um gesto como o de um pai que denuncia seu filho. Apesar de tudo, nossa indicação nestes casos é respeitar a lei.

15 - E nos casos em que os bispos não estão obrigados pela lei?


Resp: Mons. Scicluna: Neste casos, não impomos aos bispos que denunciem os próprios sacerdotes. Nós os alentamos a se dirigir às vítimas para convidá-las a elas mesmas denunciarem estes sacerdotes dos quais foram vítimas. Ademais, os convidamos a proporcionar toda a assistência espiritual, mas não só espiritual, a estas vítimas. Em um recente caso referente a um sacerdote condenado por um tribunal civil italiano, esta Congregação sugeriu precisamente aos denunciantes, que se tinham dirigido a nós para um processo canônico, que comunicassem também às autoridades civis, no interesse das vítimas e para evitar outros crimes.

16 - Está prevista a prescrição pelos delicta graviora?

Resp: Mons. Scicluna: Tocou num ponto crítico. No passado, quer dizer, antes de 1889, a prescrição da ação penal era uma norma alheia ao direito canônico. Para os delitos mais graves, só com o motu proprio de 2001 se introduziu uma prescrição de dez anos. Sobre a base destas normas, nos casos de abuso sexual, o decênio começa no dia em que o menor completa 18 anos.

17 - É suficiente?

Resp: Mons. Scicluna: A prática indica que a norma de dez anos não é adequada para estes tipos de caso e seria desejável voltar ao sistema precedente, em que os delicta graviora não prescreviam. A 7 de novembro de 2002, o venerável servo de Deus João Paulo II concedeu a este dicastério a faculdade de revogar a prescrição caso por caso, perante um pedido motivado por parte do bispo, e a revogação normalmente se concede.

(Por Gianni Cardinali. Tradução de Alexandre Ribeiro)

Fonte: Zenit.

domingo, 21 de março de 2010

Bispo rebate declarações de acusados.

O bispo Dom João Maria Messi, da Cúria Diocesana de Volta Redonda-Barra do Piraí, afirmou ontem em entrevista coletiva que não acredita que os assassinatos do padre Dejair Gonçalves de Almeida, de 32 anos, e do ex-seminarista Epaminondas Marques da Silva, de 26 anos, tenham ligação com o homossexualismo, conforme os acusados de cometer o crime afirmaram em depoimento. Para o bispo, Bruno Quintiliano da Silva, o "Bruninho G3" e Renan Luiz Gomes, ambos de 19 anos, mentiram ao depor na 93ª DP, onde estão presos.
O bispo disse que já perdoou os acusados:

"Até rezei para que eles se convertam", disse.

Mas, segundo Dom João Maria Messi, perdoar não significa concordar com as declarações dos acusados contra as vítimas.

"Eles (acusados) estão desfiando acusações às vítimas, que não podem se defender.
Espero que eles sejam responsabilizados judicialmente pelo crime que cometeram".

Dom João afirmou que nunca observou que Dejair tivesse tendências homossexuais, e elogiou o trabalho social que o padre desempenhou junto às comunidades eclesiais da cidade.
O bispo elogiou ainda a atuação da polícia por ter elucidado rapidamente o crime, classificado por ele de "bárbaro". O bispo informou que antes de Dejair se ordenar ele foi submetido a uma série de exames psicológicos que revelaram que ele não tinha tendências homossexuais, nem para as drogas e o álcool. Além disso, Dom João explicou que toda a vida de Dejair foi investigada. - Na época, Dejair me disse:

"Foi uma humilhação prestar esses exames, mas eu fiz" - explicou o bispo, acrescentando acreditar que Dejair escolheu o sacerdócio por ter vocação para ser padre.

"Até agora, ele (Dejair) não escandalizou ninguém. Será que todo esse tempo ele nunca demonstrou essa atitude, e deixou transparecer apenas no dia que foi morto?", indagou.

Dom João também afirmou que não acredita nas declarações dos acusados, de que Dejair teria afirmado que só era padre "para tirar dinheiro de fiéis".

"Não acredito que Dejair tenha declarado que era padre apenas para tirar dinheiro dos fiéis". disse o bispo, lembrando que foi ele quem ordenou Dejair como padre, há dois anos.

Com relação ao ex-seminarista, o bispo afirmou que ele não continuou na Igreja porque tinha dificuldades nos estudos. Sobre a questão do homossexualismo na Igreja o bispo foi enfático.

- A sociedade tem um alto grau de corrupção e permissividade. Quantos homens e mulheres são infiéis à opção que fazem, mas por que toda esta veemência contra o homem padre e a mulher religiosa? Por que toda essa agressividade contra a Igreja e o padre e não contra pessoa da sociedade que são abertamente agressivas à família e à juventude? Há uma tendência de se exagerar quando se fala do religioso - apontou Dom João.

Carta de Bento XVI à Igreja da Irlanda.

Carta Pastoral na integra:

1. Amados Irmãos e Irmãs da Igreja na Irlanda, é com grande preocupação que vos escrevo como Pastor da Igreja universal. Como vós, fiquei profundamente perturbado com as notícias dadas sobre o abuso de crianças e jovens vulneráveis da parte de membros da Igreja na Irlanda, sobretudo de sacerdotes e religiosos.

Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes atos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram.

Como sabeis, convidei recentemente os bispos irlandeses para um encontro aqui em Roma a fim de referir sobre o modo como trataram estas questões no passado e indicar os passos que empreenderam para responder a esta grave situação.

Juntamente com alguns altos Prelados da Cúria Romana ouvi quanto tinham para dizer, quer individualmente quer em grupo, enquanto propunham uma análise dos erros cometidos e das lições aprendidas, e uma descrição dos programas e dos protocolos hoje existente. As nossas reflexões foram francas e construtivas.

Alimento a confiança de que, como resultado, os bispos se encontrem agora numa posição mais forte para levar por diante a tarefa de reparar as injustiças do passado e para enfrentar as temáticas mais amplas relacionadas com o abuso dos menores segundo modalidades conformes com as exigências da justiça e com os ensinamentos do Evangelho.

2. Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.
Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer.

É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus. Ao mesmo tempo, devo expressar também a minha convicção de que, para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a proteção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro.

Enquanto enfrentais os desafios deste momento, peço-vos que vos recordeis da «rocha de que fostes talhados» (Is 51, 1). Refleti sobre as contribuições generosas, com frequência heróicas, oferecidas à Igreja e à humanidade como tal pelas passadas gerações de homens e mulheres irlandeses, e deixai que isto gere impulso para um honesto auto-exame e um convicto programa de renovação eclesial e individual.

A minha oração é por que, assistida pela intercessão dos seus muitos santos e purificada pela penitência, a Igreja na Irlanda supere a presente crise e volte a ser uma testemunha convincente da verdade e da bondade de Deus onipotente, manifestadas no seu Filho Jesus Cristo.

3. Historicamente os católicos da Irlanda demonstraram-se uma grande força de bem quer na pátria quer fora. Monges célticos, como São Colombano, difundiram o Evangelho na Europa Ocidental lançando as bases da cultura monástica medieval. Os ideais de santidade, de caridade e de sabedoria transcendente que derivam da fé cristã, encontraram expressão na construção de igrejas e mosteiros e na instituição de escolas, bibliotecas e hospitais que consolidaram a identidade espiritual da Europa. Aqueles missionários irlandeses tiraram a sua força e inspiração da fé sólida, da guia forte e dos comportamentos morais retos da Igreja na sua terra natal.
A partir do século XVI, os católicos na Irlanda sofreram um longo período de perseguição, durante o qual lutaram para manter viva a chama da fé em circunstâncias perigosas e difíceis. Santo Oliver Plunkett, o Arcebispo mártir de Armagh, é o exemplo mais famoso de uma multidão de corajosos filhos e filhas da Irlanda dispostos a dar a própria vida pela fidelidade ao Evangelho. Depois da Emancipação Católica, a Igreja teve a liberdade de crescer de novo. Famílias e inúmeras pessoas que tinham preservado a fé durante os tempos das provações tornaram-se a centelha de um grande renascimento do catolicismo irlandês no século XIX. A Igreja forneceu escolarização, sobretudo aos pobres, e isto deu uma grande contribuição à sociedade irlandesa. Um dos frutos das novas escolas católicas foi um aumento de vocações: gerações de sacerdotes, irmãs e irmãos missionários deixaram a pátria para servir em todos os continentes, sobretudo no mundo de língua inglesa. Foram admiráveis não só pela vastidão do seu número, mas também pela robustez da fé e pela solidez do seu empenho pastoral. Muitas dioceses, sobretudo em África, América e Austrália, beneficiaram da presença de clero e religiosos irlandeses que anunciaram o Evangelho e fundaram paróquias, escolas e universidades, clínicas e hospitais, que serviram tanto os católicos, como a sociedade em geral, com atenção especial às necessidades dos pobres. Em quase todas as famílias da Irlanda houve alguém – um filho ou uma filha, uma tia ou um tio – que deu a própria vida à Igreja. Justamente as famílias irlandesas têm em grande estima e afeto os seus queridos, que ofereceram a própria vida a Cristo, partilhando o dom da fé com outros e atualizando-a num serviço amoroso a Deus e ao próximo.

4. Contudo, nos últimos decênios a Igreja no vosso país teve que se confrontar com novos e graves desafios à fé que surgiram da rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa.

Verificou-se uma mudança social muito rápida, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos. Com frequência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como por exemplo, a confissão frequente, a oração quotidiana e os ritos anuais, não foram atendidas.
Determinante foi também neste período a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adotar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho.

O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar o modo melhor de o realizar. Em particular, houve uma tendência, ditada por reta intenção mas errada, a evitar abordagens penais em relação a situações canônicas irregulares. É neste contexto geral que devemos procurar compreender o desconcertante problema do abuso sexual dos jovens, que contribuiu em grande medida para o enfraquecimento da fé e para a perda do respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos.

Só examinando com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise atual é possível empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os fatores que para ela contribuíram podemos enumerar:

*procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa;

*insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados;

*uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras com autoridade;

*a uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda aplicação das penas canônicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa.

É preciso agir com urgência para enfrentar estes fatores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado.

5. Em diversas ocasiões desde a minha eleição para a Sé de Pedro, encontrei vítimas de abusos sexuais, assim como estou disponível a fazê-lo no futuro. Detive-me com elas, ouvi as suas vicissitudes, tomei nota do seu sofrimento, rezei com e por elas.
Precedentemente no meu pontificado, na preocupação por enfrentar este tema, pedi aos Bispos da Irlanda, por ocasião da visita ad limina de 2006, que «estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes»
(Discurso aos Bispos da Irlanda, 28 de Outubro de 2006).

Com esta Carta, pretendo exortar todos vós, como povo de Deus na Irlanda, a refletir sobre as feridas infligidas ao corpo de Cristo, sobre os remédios, por vezes dolorosos, necessários para as atar e curar, e sobre a necessidade de unidade, de caridade e de ajuda recíproca no longo processo de restabelecimento e de renovação eclesial. Dirijo-me agora a vós com palavras que me vêm do coração, e desejo falar a cada um de vós individualmente e a todos como irmãos e irmãs no Senhor.

6. Às vítimas de abuso e às suas famílias

Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. Muitos de vós experimentastes que, quando éreis suficientemente corajosos para falar de quanto tinha acontecido, ninguém vos ouvia. Quantos de vós sofrestes abusos nos colégios deveis ter compreendido que não havia modo de evitar os vossos sofrimentos. É compreensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos. Ao mesmo tempo peço-vos que não percais a esperança. É na comunhão da Igreja que encontramos a pessoa de Jesus Cristo, ele mesmo vítima de injustiça e de pecado. Como vós, ele ainda tem as feridas do seu injusto padecer. Ele compreende a profundeza dos vossos padecimentos e o persistir do seu efeito nas vossas vidas e nos relacionamentos com os outros, incluídas as vossas relações com a Igreja. Sei que alguns de vós têm dificuldade até de entrar numa igreja depois do que aconteceu. Contudo, as mesmas feridas de Cristo, transformadas pelos seus sofrimentos redentores, são os instrumentos graças aos quais o poder do mal é infrangido e nós renascemos para a vida e para a esperança. Creio firmemente no poder restabelecedor do seu amor sacrifical – também nas situações mais obscuras e sem esperança – que traz a libertação e a promessa de um novo início. Dirigindo-me a vós como pastor, preocupado pelo bem de todos os filhos de Deus, peço-vos com humildade que reflitais sobre quanto vos disse. Rezo a fim de que, aproximando-vos de Cristo e participando na vida da sua Igreja – uma Igreja purificada pela penitência e renovada na caridade pastoral – possais redescobrir o amor infinito de Cristo por todos vós. Tenho confiança em que deste modo sereis capazes de encontrar reconciliação, profunda cura interior e paz.

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens

Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós.
Por isto deveis responder diante de Deus onipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas ações. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.

Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas ações. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas ações sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.

8. Aos pais

Ficastes profundamente transtornados ao tomar conhecimento das coisas terríveis que tiveram lugar naquele que deveria ter sido o ambiente mais seguro para todos. No mundo de hoje não é fácil construir um lar doméstico e educar os filhos. Eles merecem crescer num ambiente seguro, amados e queridos, com um forte sentido da sua identidade e do seu valor. Têm direito a ser educados nos valores morais autênticos, radicados na dignidade da pessoa humana, a serem inspirados pela verdade da nossa fé católica e a aprender modos de comportamento e de ação que os levem a uma sadia estima de si e à felicidade duradoura. Esta tarefa nobre e exigente está confiada em primeiro lugar a vós, seus pais. Exorto-vos a fazer a vossa parte para garantir a melhor cura possível dos jovens, quer em casa quer na sociedade em geral, enquanto que a Igreja, por seu lado, continua a pôr em prática as medidas adotadas nos últimos anos para tutelar os jovens nos ambientes paroquiais e educativos. Enquanto dais continuidade às vossas importantes responsabilidades, certifico-vos de que estou próximo de vós e que vos dou o apoio da minha oração.

9. Aos meninos e aos jovens da Irlanda

Desejo oferecer-vos uma particular palavra de encorajamento. A vossa experiência de Igreja é muito diversa da que fizeram os vossos pais e avós. O mundo mudou muito desde quando eles tinham a vossa idade. Não obstante, todos, em cada geração, estão chamados a percorrer o mesmo caminho da vida, sejam quais forem as circunstâncias.
Todos estamos escandalizados com os pecados e as falências de alguns membros da Igreja, sobretudo de quantos foram escolhidos de modo especial para guiar e servir os jovens. Mas é na Igreja que encontrareis Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8).
Ele ama-vos e ofereceu-se a si próprio na Cruz por vós. Procurai uma relação pessoal com ele na comunhão da sua Igreja, porque ele nunca trairá a vossa confiança! Só ele pode satisfazer as vossas expectativas mais profundas e conferir às vossas vidas o seu significado mais pleno orientando-as para o serviço ao próximo. Mantende o olhar fixo em Jesus e na sua bondade e protegei no vosso coração a chama da fé. Juntamente com os vossos irmãos católicos na Irlanda olho para vós a fim de que sejais discípulos fiéis do nosso Deus e contribuais com o vosso entusiasmo e com o vosso idealismo tão necessários para a reconstrução e para a renovação da nossa amada Igreja.

10. Aos sacerdotes e aos religiosos da Irlanda

Todos nós estamos a sofrer como consequência dos pecados dos nossos irmãos que traíram uma ordem sagrada ou não enfrentaram de modo justo e responsável as acusações de abuso. Perante o ultraje e a indignação que isto causou, não só entre os leigos mas também entre vós e as vossas comunidades religiosas, muitos de vós sentis-vos pessoalmente desanimados e também abandonados. Além disso, estou consciente de que aos olhos de alguns sois culpados por associação, e considerados como que de certo modo responsáveis pelos delitos de outros.
Neste tempo de sofrimento, desejo reconhecer-vos a dedicação da vossa vida de sacerdotes e de religiosos e dos vossos apostolados, e convido-vos a reafirmar a vossa fé em Cristo, o vosso amor à sua Igreja e a vossa confiança na promessa de redenção, de perdão e de renovação interior do Evangelho. Deste modo, demonstrareis a todos que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rm 5, 20).
Sei que muitos de vós estais desiludidos, transtornados e encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores. Não obstante, é essencial que colaboreis de perto com quantos têm a autoridade e que vos comprometais para fazer com que as medidas adotadas para responder à crise sejam verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes.
Sobretudo, exorto-vos a tornar-vos cada vez mais claramente homens e mulheres de oração, seguindo com coragem o caminho da conversão, da purificação e da reconciliação. Deste modo, a Igreja na Irlanda haurirá nova vida e vitalidade do vosso testemunho ao poder redentor do Senhor tornado visível na vossa vida.

11. Aos meus irmãos bispos
Não se pode negar que alguns de vós e dos vossos predecessores falhastes, por vezes gravemente, na aplicação das normas do direito canônico codificado há muito tempo sobre os crimes de abusos de jovens. Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações. Compreendo como era difícil lançar mão da extensão e da complexidade do problema, obter informações fiáveis e tomar decisões justas à luz de conselhos divergentes de peritos. Contudo, deve-se admitir que foram cometidos graves erros de juízo e que se verificaram faltas de governo. Tudo isto minou seriamente a vossa credibilidade e eficiência. Aprecio os esforços que fizestes para remediar os erros do passado e para garantir que não se repitam. Além de pôr plenamente em prática as normas do direito canônico ao enfrentar os casos de abuso de jovens, continuai a cooperar com as autoridades civis no âmbito da sua competência. Claramente, os superiores religiosos devem fazer o mesmo. Também eles participaram em recentes encontros aqui em Roma destinados a estabelecer uma abordagem clara e coerente destas questões. É obrigatório que as normas da Igreja na Irlanda para a tutela dos jovens sejam constantemente revistas e atualizadas e que sejam aplicadas de modo total e imparcial em conformidade com o direito canônico. Só uma ação decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito e a benquerença dos Irlandeses em relação à Igreja à qual consagramos a nossa vida. Isto deve brotar, antes de tudo, do exame de vós próprios, da purificação interior e da renovação espiritual. O povo da Irlanda espera justamente que sejais homens de Deus, que sejais santos, que vivais com simplicidade, que procureis todos os dias a conversão pessoal. Para ele, segundo a expressão de Santo Agostinho, sois bispos; contudo estais chamados a ser com eles seguidores de Cristo (cf. Discurso 340, 1). Exorto-vos portanto a renovar o vosso sentido de responsabilidade diante de Deus, a crescer em solidariedade com o vosso povo e a aprofundar a vossa solicitude pastoral por todos os membros da vossa grei. Em particular, sede sensíveis à vida espiritual e moral de cada um dos vossos sacerdotes. Sede um exemplo com as vossas próprias vidas, estai-lhes próximos, ouvi as suas preocupações, oferecei-lhes encorajamento neste tempo de dificuldades e alimentai a chama do seu amor a Cristo e o seu compromisso no serviço dos seus irmãos e irmãs. Também os leigos devem ser encorajados a fazer a sua parte na vida da Igreja. Fazei com que sejam formados de modo que possam dizer a razão, de maneira articulada e convincente, do Evangelho na sociedade moderna (cf. 1 Pd 3, 15), e cooperem mais plenamente na vida e na missão da Igreja. Isto, por sua vez, ajudar-vos-á a ser de novo guias e testemunhas credíveis da verdade redentora de Cristo.

12. A todos os fiéis da Irlanda

A experiência que um jovem faz da Igreja deveria dar sempre fruto num encontro pessoal e vivificante com Jesus Cristo numa comunidade que ama e que oferece alimento. Neste ambiente, os jovens devem ser encorajados a crescer até à sua plena estatura humana e espiritual, a aspirar por ideais nobres de santidade, de caridade e de verdade e a inspirar-se nas riquezas de uma grande tradição religiosa e cultural. Na nossa sociedade cada vez mais secularizada, na qual também nós cristãos muitas vezes temos dificuldade em falar da dimensão transcendente da nossa existência, precisamos de encontrar novos caminhos para transmitir aos jovens a beleza e a riqueza da amizade com Jesus Cristo na comunhão da sua Igreja. Ao enfrentar a presente crise, as medidas para se ocupar de modo justo de cada um dos crimes são essenciais, mas sozinhas não são suficientes: há necessidade de uma nova visão para inspirar a geração atual e as futuras a fazer tesouro do dom da nossa fé comum. Caminhando pela via indicada pelo Evangelho, observando os mandamentos e conformando a nossa vida de maneira cada vez mais próxima com a pessoa de Jesus Cristo, fareis a experiência da renovação profunda da qual hoje há uma urgente necessidade. Convido-vos a todos a perseverar neste caminho.

13. Amados irmãos e irmãs em Cristo, é com profunda preocupação por todos vós neste tempo de sofrimento, no qual a fragilidade da condição humana foi tão claramente revelada, que desejei oferecer-vos estas palavras de encorajamento e de apoio. Espero que as acolhais como um sinal da minha proximidade espiritual e da minha confiança na vossa capacidade de responder aos desafios do momento atual tirando renovada inspiração e força das nobres tradições da Irlanda de fidelidade ao Evangelho, de perseverança na fé e de firmeza na consecução da santidade. Juntamente com todos vós, rezo com insistência para que, com a graça de Deus, as feridas que atingiram muitas pessoas e famílias possam ser curadas e que a Igreja na Irlanda possa conhecer uma época de renascimento e de renovação espiritual.

14. Desejo propor-vos algumas iniciativas concretas para enfrentar a situação. No final do meu encontro com os Bispos da Irlanda, pedi que a Quaresma deste ano fosse considerada como tempo de oração para uma efusão da misericórdia de Deus e dos dons de santidade e de força do Espírito Santo sobre a Igreja no vosso país. Agora convido todos vós a dedicar as vossas penitências da sexta-feira, durante todo o ano, de agora até à Páscoa de 2011, por esta finalidade.

Peço-vos que ofereçais o vosso jejum, a vossa oração, a vossa leitura da Sagrada Escritura e as vossas obras de misericórdia para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda. Encorajo-vos a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a valer-vos com mais frequência da força transformadora da sua graça. Deve ser dedicada também particular atenção à adoração eucarística, e em cada diocese deverão haver igrejas ou capelas reservadas especificamente para esta finalidade. Peço que as paróquias, os seminários, as casas religiosas e os mosteiros organizem tempos para a adoração eucarística, de modo que todos tenham a possibilidade de participar deles. Com oração fervorosa diante da presença real do Senhor, podeis fazer a reparação pelos pecados de abuso que causaram tantos danos, e ao mesmo tempo implorar a graça de uma renovada força e de um sentido da missão mais profundo por parte de todos os bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis. Tenho esperança em que este programa levará a um renascimento da Igreja na Irlanda na plenitude da própria verdade de Deus, porque é a verdade que nos torna livres (cf. Jo 8, 32).

Além disso, depois de me ter consultado e rezado sobre a questão, tenciono anunciar uma Visita Apostólica a algumas dioceses da Irlanda, assim como a seminários e congregações religiosas. A Visita propõe-se ajudar a Igreja local no seu caminho de renovação e será estabelecida em cooperação com as repartições competentes da Cúria Romana e com a Conferência Episcopal Irlandesa. Os pormenores serão anunciados no devido momento.
Além disso proponho que se realize uma Missão a nível nacional para todos os bispos, sacerdotes e religiosos. Alimento a esperança de que, haurindo da competência de peritos pregadores e organizadores de retiros quer da Irlanda como de outras partes, e reexaminando os documentos conciliares, os ritos litúrgicos da ordenação e da profissão e os recentes ensinamentos pontifícios, alcanceis um apreço mais profundo das vossas respectivas vocações, de modo a redescobrir as raízes da vossa fé em Jesus Cristo e a beber abundantemente nas fontes da água viva que ele vos oferece através da sua Igreja.
Neste Ano dedicado aos Sacerdotes, recomendo-vos de modo muito particular a figura de São João Maria Vianney, que teve uma compreensão tão rica do mistério do sacerdócio.

«O sacerdote, escreveu, possui a chave dos tesouros do céu: é ele quem abre a porta, é ele o dispensador do bom Deus, o administrador dos seus bens».

O cura d’Ars compreendeu bem como é grandemente abençoada uma comunidade quando é servida por um sacerdote bom e santo.

«Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o tesouro maior que o bom Deus pode dar a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina».

Por intercessão de São João Maria Vianney possa o sacerdócio na Irlanda retomar vida e a inteira Igreja na Irlanda crescer na estima do grande dom do ministério sacerdotal.
Aproveito esta ocasião para agradecer desde já a quantos se comprometerem no empenho de organizar a Visita Apostólica e a Missão, assim como os tantos homens e mulheres que em toda a Irlanda já se comprometeram pela tutela dos jovens nos ambientes eclesiásticos.

Desde quando a gravidade e a extensão do problema dos abusos sexuais dos jovens em instituições católicas começou a ser plenamente compreendido, a Igreja desempenhou uma grande quantidade de trabalho em muitas partes do mundo, a fim de o enfrentar e remediar. Enquanto não se deve poupar esforço algum para melhorar e atualizar procedimentos já existentes, encoraja-me o fato de que as práticas de tutela em vigor, adotadas pelas Igrejas locais, são consideradas, nalgumas partes do mundo, um modelo que deve ser seguido por outras instituições.

Desejo concluir esta Carta com uma especial Oração pela Igreja na Irlanda, que vos envio com o cuidado que um pai tem pelos seus filhos e com o afeto de um cristão como vós, escandalizado e ferido por quanto aconteceu na nossa amada Igreja. Ao utilizardes esta oração nas vossas famílias, paróquias e comunidades, que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e vos guie pelo caminho que conduz a uma união mais estreita com o seu Filho, crucificado e ressuscitado. Com grande afeto e firme confiança nas promessas de Deus, concedo de coração a todos vós a minha Bênção Apostólica em penhor de força e paz no Senhor.

Vaticano, 19 de Março de 2010, Solenidade de São JoséBenedictus PP. XVI

ORAÇÃO PELA IGREJA NA IRLANDA

Deus dos nossos pais, renova-nos na fé que é para nós vida e salvação na esperança que promete perdão e renovação interior, na caridade que purifica e abre os nossos corações para te amar, e em ti, amar todos os nossos irmãos e irmãs. Senhor Jesus Cristo possa a Igreja [na Irlanda]renovar o seu milenário compromisso na formação dos nossos jovens no caminho da verdade, da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade. Espírito Santo, consolador, advogado e guia, inspira uma nova primavera de santidade e de zelo apostólico para a Igreja [na Irlanda]. Possa a nossa tristeza e as nossas lágrimas o nosso esforço sincero por corrigir os erros do passado, e o nosso firme propósito de correção, dar abundantes frutos de graça para o aprofundamento da fé nas nossas famílias, paróquias, escolas e associações, e para o progresso espiritual da sociedade irlandesa, e para o crescimento da caridade, da justiça, da alegria e da paz, na inteira família humana. A ti, Trindade,com plena confiança na amorosa proteção de Maria, Rainha da Irlanda, nossa Mãe, e de São Patrício, de Santa Brígida e de todos os santos, recomendamos a nós próprios, os nossos jovens, e as necessidades da Igreja [na Irlanda]. Amém.

Fonte: http://blogs.opovo.com.br/ancoradouro/carta-de-bento-xvi-a-igreja-da-irlanda/