domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mensagem de José Luiz Majella Delgado, bispo eleito de Jataí-GO.

À Família Redentorista!
Prezado Pe. Luiz Rodrigues Batista, Superior Provincial da Província Redentorista de São Paulo, Confrades, oblatos, seminaristas e leigos Redentoristas.
A Providência de Deus chamou-me para ser bispo da Diocese de Jataí (GO).
Agradeço a confiança da Igreja que, através do Papa Bento XVI, me confia tão alta missão.
Agradeço a Congregação Redentorista que me acolhe desde o ano de 1969, ensinando-me a ser colaborador, companheiro e ministro de Jesus Cristo na grande obra da redenção (cf. Const. CSSR, 2).
Aos meus formadores, que dedicaram tempo, carinho e atenção para comigo, digo que o nome de cada um está gravado no meu coração, na minha vida, na minha história de discípulo missionário do Senhor. E, como o salmista, repito: “que minha língua se cole ao paladar... se eu de ti me esquecer!” (Sl 137, 6).
Aos confrades dos tempos de Seminário e, em particular, aos do meu curso, a eterna gratidão pela amizade e ajuda na perseverança da vocação.
A amizade conquistada e cultivada é como doçura que acalma a alma (cf. Pr 27, 9). Consideremos sempre mais Jesus Cristo o único e verdadeiro modelo no qual nos inspiramos para viver a obediência da fé, o amor à Igreja, a sensibilidade para com os pobres e a edificação de uma sociedade mais justa e fraterna. Continuemos rezando uns pelos outros.
Aos confrades, com os quais convivi nas casas por onde passei e que na vida fraterna comunitária me animaram nos momentos de desânimo, fazendo-me experimentar a força do amor que vem do Cristo Redentor e que nos une, minha profunda gratidão. A fraternidade é um testemunho forte do projeto cristão. É a proclamação de que a unidade é possível, apesar das dificuldades inerentes à diversidade das pessoas. Persistam na vida fraterna, como caminho privilegiado de renovação.
Aos confrades que um dia tive a satisfação de acompanhá-los na caminhada formativa, que seja acolhida a minha ternura e carinho de “irmão mais velho”. Acompanhar a história do seu chamado à vida consagrada e sacerdotal foi importante também para o meu amadurecimento vocacional. A confiança e a comunhão que nos oferecemos mutuamente naquele tempo foram sinais da graça. Mas, em meu coração, há o reconhecimento do quanto deixei de agir com amor e solicitude nos acontecimentos da vida de cada um. Diante das fragilidades do meu ser, peço-lhes incluir em suas preces ao Pai súplicas para que agora, em minha missão de bispo, eu consiga dar o exemplo de santidade na caridade, humildade e simplicidade de vida.
A todos os confrades, em especial à nova geração redentorista, o meu carinho e gratidão. Sabemos que a cruz é sinal do amor maior e garantia do amor verdadeiro. A cruz de Jesus é o coração do redentorista, a essência de cada vocação. O Documento de Aparecida nos diz: “dos que vivem em Cristo se espera um testemunho muito crível de santidade e compromisso. Desejando e procurando essa santidade, não vivemos menos e, sim, melhor, porque, quando Deus pede algo, é porque está oferecendo muito mais: “Não tenham medo de Cristo! Ele não tira nada e dá tudo!”(DAp 352). A fidelidade ao Redentor é continuar a dar ao próximo o testemunho de que aquele que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se, ele mesmo, mais homem (cf. Constituições C.Ss.R., 19).
Aos seminaristas, oblatos e leigos missionários Redentoristas, a gratidão e o reconhecimento pelo desenvolvimento da vocação filial a Deus e o amor à Congregação. Continuem crescendo mais e mais na comunhão de amor, mediante o desempenho que a missão evangelizadora pede de cada um de nós, numa profunda vivência de fé, fruto de uma experiência pessoal de encontro com Jesus Cristo. (cf. Documentos da CNBB, 87 – DGAE, 8).
Agradecendo a todos lhes peço que, nas orações, contemplem não apenas o meu ministério episcopal, mas também a caminhada da porção do Povo de Deus a mim confiada, a Diocese de Jataí (GO).
Com minhas orações, um abraço fraterno.

José Luiz Majella Delgado CSsR
Bispo eleito de Jataí (GO)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

BENTO XVI: VENCER AS INSÍDIAS DA SECULARIZAÇÃO TESTEMUNHANDO OS VALORES CRISTÃOS NA SOCIEDADE.

Bento XVI iniciou as suas atividades desta sexta-feira recebendo em audiência, no Vaticano, um grupo de bispos da Romênia, por ocasião de sua visita "ad Limina". É preciso promover os valores cristãos nas sociedades secularizadas: foi a exortação do pontífice aos bispos romenos. Além disso, o Santo Padre se deteve sobre a necessidade de valorizar as raízes cristãs da Europa e sobre o diálogo entre ortodoxos e católicos da Romênia.
A saudação ao papa foi feita pelo arcebispo de Bucareste, Dom Ioan Robu, presidente do episcopado romeno, que o convidou a visitar a Romênia. Em primeiro lugar, Bento XVI homenageou as comunidades cristãs da Romênia e da República da Moldávia, que "no tempo da perseguição mostraram indômito apego a Cristo e à sua Igreja e conservaram intacta a sua fé". Todavia – observou o papa – também na Romênia não faltam as insídias, particularmente em relação à família, de uma "sociedade secularizada e desorientada".

"As famílias católicas de seus países, que, durante o tempo da provação, testemunharam – por vezes pagando caro – a fidelidade ao Evangelho, não estão imunes à chaga do aborto, da corrupção, do alcoolismo e da droga, bem como do controle de natalidade mediante métodos contrários à dignidade da pessoa humana."

Para combater esses desafios é "necessário promover consultórios paroquiais que assegurem uma adequada preparação para a vida conjugal e familiar" organizando melhor a pastoral juvenil – foi o convite do papa aos prelados. Tais desafios se apresentam, sobretudo, porque "a transformação do sistema industrial e agrícola, a crise econômica e a emigração para o exterior não favorecem a preservação dos valores tradicionais, que por isso mesmo, devem ser repropostos e reforçados".

"É necessário, sobretudo, um decidido compromisso a favorecer a presença dos valores cristãos na sociedade, desenvolvendo centros de formação onde os jovens possam conhecer os valores autênticos, reforçados pelo gênio da cultura de seus países, de modo que possam testemunhá-los nos âmbitos onde vivem. A Igreja quer dar a sua contribuição determinante para a construção de uma sociedade reconciliada e solidária, capaz de contrastar o processo de secularização em andamento."

"Em seguida, o pontífice dirigiu o seu pensamento à relação entre católicos e ortodoxos, fazendo votos de que o "testemunho de fraternidade entre eles" prevaleça "sobre as divisões e os contrastes e abra os corações à reconciliação".

"Tenho consciência das dificuldades que as comunidades católicas devem enfrentar nesse âmbito; faço votos de que se possam encontrar soluções adequadas, naquele espírito de justiça e caridade que deve animar as relações entre irmãos em Cristo."

O papa indicou a defesa das raízes cristãs da Europa e dos valores cristãos como um âmbito de colaboração importante entre ortodoxos e católicos. Em particular, sobre temas como "a família, a bioética, os direitos humanos, a honestidade na vida pública e a ecologia".
Por fim, no contexto do Ano Sacerdotal, Bento XVI pediu aos bispos romenos que se interessem pelas condições espirituais e materiais de seus sacerdotes, bem como de sua atualização teológica e pastoral.

PAPA: "SEM UMA ÉTICA RADICADA NA LEI NATURAL, CIÊNCIA E LEI MANIPULAM VIDA E DIGNIDADE HUMANAS".

Bento XVI recebeu em audiência na manhã deste sábado, na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Pontifícia Academia para a Vida, reunidos nestes dias em assembléia geral e conduzidos por seu presidente, o arcebispo Rino Fisichella.

A ciência sozinha não basta para compreender o valor da dignidade humana, nem para garantir o respeito pela sacralidade da vida. Isso é possível somente se reconhece que nela brilha o fundamento da lei natural, inscrita não pelo homem, mas por Deus, disse o papa, no discurso que dirigiu aos presentes, no qual abordou o delicado tema da bioética em relação aos problemas atuais. A idéia de que a vida seja matéria "manipulável" pela ciência igualmente a outros aglomerados orgânicos, ou o pietismo fácil de quem se comove diante de "situações-limite" e crê que isso vale como respeito pela dignidade humana: todas derivas perigosas – como a de um Estado que pretenda fixar por leis questões éticas fazendo-se ele mesmo princípio de ética – se se ignora ou se desconhece o valor da lei natural.Como em análogas ocasiões, ou como na última encíclica "Caritas in veritate", o pontífice fez afirmações de grande clareza.

Hoje – reiterou – a partida do "desenvolvimento humano integral" se joga no campo da bioética:
"Trata-se de um âmbito delicadíssimo e decisivo, em que emerge com força dramática a questão fundamental: se o homem é produzido por si mesmo ou se ele depende de Deus. As descobertas científicas neste campo e as possibilidades de intervenção técnica parecem tão avançadas a ponto de impor a escolha entre as duas racionalidades: a racionalidade da razão aberta à transcendência ou a racionalidade da razão fechada na imanência."

A própria bioética, no momento em que emergem "possíveis conflitos interpretativos", necessita de uma sólida "evocação normativa", e isso – precisou o papa – se funda na "lei moral natural".
É nela – explicou – que o reconhecimento da dignidade humana, "enquanto direito inalienável, encontra o seu fundamento primeiro naquela lei não inscrita por mão humana, mas inscrita por Deus Criador no coração do homem". Vice-versa – objetou o Santo Padre – "sem o princípio básico da dignidade humana seria árduo encontrar uma fonte para os direitos da pessoa e impossível alcançar um juízo ético em relação às conquistas das ciências que intervêm diretamente na vida humana".

"É necessário, portanto, repetir com firmeza que não existe uma compreensão da dignidade humana ligada somente a elementos externos como o progresso da ciência, o gradualismo na formação da vida humana ou o fácil pietismo diante de situações-limite. Quando se evoca o respeito pela dignidade da pessoa é fundamental que tal respeito seja pleno, total e incondicional, reconhecendo encontrar-se sempre diante de uma vida humana."

Por que a Quaresma?

Desde os primórdios do Cristianismo a “Quaresma marcou para os cristãos um tempo de graça, oração, penitência e jejum, afim de obter a conversão. Ela nos faz lembrar as palavras do Mestre divino: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis” (Lc 13,3).
Esses quarenta dias que precedem a Semana Santa, são colocados pela Igreja para que cada um de nós se prepare para a maior de todas as Solenidades litúrgicas do ano, a Páscoa, a grande celebração da Ressurreição de Jesus, a vitória Dele e nossa sobre o Mal, sobre o pecado, sobre a morte e sobre o inferno.
A celebração litúrgica não é mera lembrança do passado, algo que aconteceu com Jesus e passou, não. Jesus esta´ presente na Liturgia. O Catecismo diz que: “Pela liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa redenção.” (§1069). Isto é, pela Liturgia da Igreja Ele continua a nos salvar, especialmente pelos Sacramentos, e faz tornar presente a nossa redenção.
Mas, para que o cristão possa se beneficiar dessa celebração precisa estar preparado, com a alma purificada e o coração sedento de Deus. A Igreja recomenda sobretudo que vivamos aquilo que ela chama de “remédios contra o pecado” (jejum, esmola e oração), que Jesus recomendou no Sermão da Montanha (Mt 6, 1-8) e que a Igreja nos coloca diante dos olhos logo na Quarta-feira de Cinzas, na abertura da Quaresma.
A meta da Quaresma é a expiação dos pecados; pois eles são a lepra da alma. Não existe nada pior do que o pecado para o homem, a Igreja e o mundo.
Todos os exercícios de piedade e de mortificação têm com objetivo de livrar-nos do pecado. O jejum fortalece o espírito e a vontade para que as paixões desordenadas, especialmente aquelas que se referem ao corpo (gula, luxúria, preguiça), não dominem a nossa vida e a nossa conduta. A esmola socorre o pobre necessitado e produz em nós o desapego e o despojamento dos bens terrenos; isto nos ajuda a vencer a ganância e o apego ao dinheiro. A oração fortalece a alma no combate contra o pecado. Jesus recomendou na noite de sua agonia: “Vigiai e orai, o espírito é forte mas a carne é fraca”.
A Palavra de Deus nos ensina: “É boa a oração acompanhada do jejum e dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro, porque a esmola livra da morte, e é a que apaga os pecados, e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna” (Tb 12, 8-9).
“A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados”(Eclo 3,33). “Encerra a esmola no seio do pobre, e ela rogará por ti para te livrar de todo o mal” ( Eclo 29,15).
Jesus ensinou: “É necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18,1b); “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26,41a); “Pedi a se vos dará” (Mt 7,7) . E São Paulo recomendou: “Orai sem cessar” (I Ts 5,17).
Quaresma é pois tempo de rompimento total com o pecado. Alguns pensam que não têm pecado, se julgam irrepreensíveis, como aquele fariseu da parábola que desprezava o pobre publicano (Lc 18,10 ss); mas na verdade, muitas vezes não percebem os próprios pecados por causa de uma consciência mal formada que acaba encobrindo-os. Para não cairmos neste erro temos de comparar a nossa vida com aqueles que foram os modelos de santidade: Cristo e os Santos.
Assim podemos nos preparar para o Banquete pascal glorioso do dia 23 de março próximo, encontrando-se com o Senhor ressuscitado e glorioso com a alma renovada no seu amor.
No Brasil, a CNBB incorporou `a Quaresma a Campanha da Fraternidade, para aproveitar esse tempo forte de espiritualidade para o exercício da caridade e também da cidadania. Neste ano o tema é “Escolhe pois a vida”; a luta contra todo desrespeito `a vida humana, sobretudo o aborto, eutanásia, inseminação artificial, manipulação de embriões, uso da “camisinha”, da pílula abortiva do dia seguinte, etc.
É uma grande oportunidade que Deus nos dá para lutarmos especialmente contra o aborto que ronda e ameaça ser legalizado em toda a América Latina. Nenhum católico pode se calar neste momento. O silêncio dos bons não pode permitir que a audácia dos maus sobressaia e implante o terrível crime em nosso país. O chão sagrado desta Terra de Santa Cruz, não pode ser manchado com o sangue inocente de tanta criança assassinada no ventre das mães. Nem as cobras fazem isso.

Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br

Erros de certas Teologias da Libertação por Dom Egênio Sales.

Cardeal Eugenio Sales comenta fala recente do Papa sobre o tema. Apresentamos o artigo que o cardeal Eugenio de Araujo Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, difundiu esta quarta-feira no portal da arquidiocese do Rio, abordando o tema da Teologia da Libertação.

O apelo urgente que o Papa Bento XVI endereçava aos Bispos dos Regionais 3 e 4 da CNBB, em visita “ad límina” a 5 de dezembro 2009, não se limitou aos Bispos que estavam presentes, mas, como sempre nessas visitas, se dirige ao Episcopado inteiro e a toda a Igreja no Brasil.
O Santo Padre lembrou as circunstâncias prementes que, 25 anos atrás, exigiam uma clara orientação da Santa Sé no Documento “Libertatis Nuntius”. Este, já na primeira linha, afirma que “o Evangelho é a mensagem da liberdade e a força da libertação”. Daquele documento, a Igreja recebia grande luz; mas não faltava a animosidade dos que queriam obscurecer e difamar essa doutrina. Com palavras claras e sempre muito mais convidativas para uma reflexão serena do que repreensivas, o Papa lembrou a gravidade da crise, provocada, também e essencialmente na Igreja no Brasil, por uma teologia que tinha, em seu início, motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores. Tais rumos doutrinários da Teologia chamavam-se Teologia da Libertação.
A alocução do Papa aos Bispos dos Regionais Sul 3 e 4 é uma mensagem que envolve a autoridade apostólica do Supremo Pastor e o bem evangélico da Igreja entre nós. Por isso, urge que todos os pastores acolham a palavra do Papa e se lembrem daquela crise, que tornava quase impossível, mesmo em ambientes às vezes de alto nível eclesiástico, o diálogo e a discussão serena. Hoje ainda, a Igreja no Brasil, em alguns lugares, sofre consequências dolorosas daqueles desvios.

Ao relativizar, silenciar ou até hostilizar partes essenciais do “depósito da fé”, a Teologia da Libertação negligenciava “a regra suprema da Fé da Igreja, que provém da unidade que o Espírito Santo estabeleceu entre a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério vivo”, diz Bento XVI, citando as palavras do Papa João Paulo II (“Fides et Ratio”, 55). “Os três não podem subsistir independentes” entre si. – Por isso, hoje ainda, as sequelas da Teologia da Libertação se mostram essencialmente ao nível da Eclesiologia, ao nível da vida e da união da Igreja. A Igreja continua enfraquecida, em algumas partes, pela “rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia” (mensagem de Bento XVI). Diz o Santo Padre: Cria-se assim “nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas” (Bento XVI, idem).

Já no documento “Libertatis Nuntius”, do ano 1984, o Papa João Paulo II e a Congregação da Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, quis “estender a mão” e oferecer a clara e “benigna luz” da divina fé e da comunhão viva que o Espírito Santo dá à Igreja (Bento XVI, ibd).

Com palavras concisas e fortes, o documento “Libertatis Nuntius” sobre a Teologia da Libertação falava da justa “aspiração à libertação como um dos principais sinais” do tempo moderno. Especialmente “nos povos que experimentam o peso da miséria”, com suas massas deserdadas, ofendidas na sua profunda dignidade (cf. LN I,1-2).

“O escândalo das gritantes desigualdades entre ricos e pobres já não é tolerado”.

“Abundância jamais vista, de um lado, e, do outro, vive-se ainda numa situação de indigência, marcada pela privação dos bens de primeira necessidade” (I,6).

Infelizmente, certas Teologias da Libertação, as que mais espaço ocupavam na opinião pública, caíram em um grave unilateralismo. Para o Evangelho da libertação é fundamental a libertação do pecado. Tal libertação exige “por consequência lógica a libertação de muitas outras escravidões, de ordem cultural, econômica, social e política”, todas elas derivadas do pecado. Muitas Teologias da Libertação afastaram-se deste verdadeiro Evangelho libertador. Identificaram-se, coisas em si muito boas, com as graves questões sociais, culturais, econômicas e políticas, mas já não mostrando seu real enraizamento no Evangelho, embora vagamente citado, e chegaram até a apelar explicitamente à “análise” marxista. Silenciavam, ou ignoravam, que “na lógica marxista não é possível dissociar a «análise» da «práxis» e da concepção da história” (VIII,2). Destarte, “a própria concepção da verdade encontra-se totalmente subvertida” (VIII,4).
Compreende-se que diante da urgência da situação de tantos que – inermes – sofrem, e diante da insuficiente sensibilidade na consciência pública e nas estruturas dominantes, devem-se exigir não só palavras retóricas, mas ações que na prática se comprometem com cada pessoa, com cada comunidade e com a história. Mas se este compromisso não se enraíza na dignidade que Deus dá ao homem, tal Teologia, que se apresenta como Libertadora, é na realidade traidora dos pobres e de sua real dignidade (Introdução).

“Certo número de teses fundamentais (da TL) não são compatíveis com a concepção cristã do homem” (cf. VIII,8).

O Santo Padre, sabendo que, sob muitos aspectos a Teologia da Libertação está ultrapassada, sabe também e vê que a Igreja no Brasil sofre ainda devastadoras sequelas de tal desvio doutrinário, propagado longamente até por gente bem intencionada, mas não capaz de analisar seus falsos princípios. É quase um juramento que o Papa conclama os Bispos e agentes de Pastoral de todo o Brasil: “Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras da Santa Cruz” (final da mensagem de Bento XVI).

Cardeal Eugenio de Araujo Sales - Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Obs: Falar mais o que? Louvado seja Deus pela vida do Dom Eugênio Sales.

Pedir perdão ao povo negro.

O Sínodo Geral da Igreja Anglicana estuda pedir desculpas pela participação da igreja, no passado, no comércio de escravos, devido à celebração do segundo centenário do fim deste comércio. Segundo o reverendo Simon Bessant, da diocese de Blackburn, noroeste da Inglaterra, a igreja deveria "confessar seu pecado perante Deus e reconhecer sua "participação ativa" na escravidão e o dano causado aos escravos e a seus herdeiros."
A Igreja, através de sua filial missionária, foi dona de uma plantação em Barbados. Os escravos do local eram marcados como gados no peito com a palavra "Sociedade", referente à Sociedade para a Propagação do Evangelho no Estrangeiro. Ainda conforme as palavras do reverendo Simon Bessant, os donos da plantação recebiam uma indenização por libertar os escravos, e de fato o bispo de Exeter recebeu centenas de libras por este motivo.

"Reconheço que uma desculpa agora é difícil porque faz muito tempo que ocorreu, mas a Igreja Anglicana foi parte deste problema e deveríamos reconhecê-lo", disse Bessant.

Aqui no Brasil as igrejas históricas protestantes também estavam envolvidas no "nefando comércio humano". Muitos protestantes, pastores e membros, eram proprietários de escravos que utilizavam como mão-de-obra doméstica ou em alguns empreendimentos.

Em 1835, durante a revolta dos escravos malês, ocorrida em Salvador, dos 160 acusados, 45 eram escravos de ingleses residentes no bairro da Vitória. Em testamentos e inventários de anglicanos que morreram na Bahia na segunda metade do século XIX, constatou-se também a presença de proprietários de escravos, tais como os senhores Eduardo Jones que tinha 6 escravos domésticos; o Sr. George Mumford que possuía 11 escravos que trabalhavam na sua roça no Acupe e Sr. George Blandy, que possuía 4 escravos.A Igreja Anglicana no Brasil foi conivente com o comércio de escravos em que a Inglaterra esteve envolvida desde o século XVI. Houve uma espécie de anuência ou acomodação diante do fato, isto é, por parte de comerciantes anglicanos, sua participação como membros, ao comercializar e possuir escravos.

No seu relato sobre o Brasil, o Rev. Robert Walsh, capelão anglicano que acompanhou a missão inglesa do Lord Strangford, entre 1828 e 1829, descreve e opina a respeito da escravidão no Brasil, nada deixou mais chocado o clérigo do que constatar que seus concidadãos ingleses participavam e usufruíam do nefando comércio, lucrando com a escravização de mulheres e de seus próprios filhos, como presenciou na estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro, relata: "ele passa a vender não só a mãe de seus filhos como os filhos propriamente ditos, e com tanta indiferença como se tratasse de uma porca com a sua ninhada"
Os anglicanos da Christ Church, situada no Rio de Janeiro, não só eram donos de escravos, como fizeram batizar nos ritos da Igreja Anglicana os pequenos escravos nascidos em seu poder. Seguindo uma prática dos senhores de escravos brasileiros que batizavam suas peças aos montes, dando-lhes nomes cristãos, os anglicanos também buscaram cristianizar seus escravos. No livro de registros de batismo da Christ Church em 24 de janeiro de 1820, está assentado o batismo de "Thereza, filha de Louisa -escrava negra, nativa de Manjoula, África- propriedade de James Thonton", um comerciante inglês. Em 11 de maio de 1820 foram batizados 11 escravos do fazendeiro Robert Parker. Na Igreja que se reunia em Morro Velho, sua congregação possuía escravos e alguns chegaram também a ser batizados. Há registros de batismos de escravos domésticos de John Alexander em 1830 e do Coronel Skerit em 1833.
Não foram só os Anglicanos coniventes com a escravidão negra no Brasil. Outras igrejas históricas também participaram dela. Os primeiros colonos batistas eram favoráveis e foram proprietários de escravos. Em Santa Bárbara D’Oeste, primeiro núcleo batista, o trabalho escravo existiu como mão-de-obra usada na agricultura e em tarefas domésticas. Os colonos batistas eram senhores de escravos, a exemplo da Senhora Ellis, dona de um sítio e que providenciara hospedagem nos primeiros meses ao casal de missionários W. Bagby, fundador da Primeira Igreja Batista do Brasil. Os metodistas, defensores dos direitos humanos e da abolição do escravismo na Inglaterra e nos EUA, ao chegarem no Brasil acomodaram-se ao ambiente escravista e quase nada fizeram com repercussão pública, em favor dos escravos. Conforme um estudo sobre o metodismo brasileiro durante o período que antecedeu, ou mesmo depois da libertação dos escravos, a Igreja Metodista jamais chegou a defender oficialmente sua posição em relação à escravidão no Brasil. Os primeiros Presbiterianos, também sulistas, conservaram-se por muito tempo fiéis à lembrança de sua causa nacional, um destes missionários presbiteriano sulista se havia conservado tão firme em suas convicções que, quando em 1886 o presbiteriano Eduardo Carlos Pereira publicou uma brochura em favor da abolição da escravatura, ele escreveu um verdadeiro tratado anti-abolicionista. Dos luteranos sabemos que os primeiros escravos negros da Colônia Alemã Protestante de Três Forquilhas entraram por volta de 1846, por iniciativa do pastor Carlos Leopoldo Voges. Outros colonos protestantes copiaram seu exemplo (Mittmann, Hoffmann, König, Grassmann, Kellermann, Jacoby, Schmitt e outros).

O fundamentalismo das denominações protestantes dos EUA se transformou em terreno fértil para justificativas da escravidão, que buscavam embasamento doutrinário para apaziguar a consciência dos escravocratas do sul. Citando a história de Noé, identificavam a maldição de Cam, por ter surpreendido o patriarca nu e embriagado, como a maldição dos negros. Os principais agentes da imigração norte-americana para o Brasil foram pastores protestantes do Sul dos EUA, a exemplo do Rev. B. Dunn, que via no Brasil uma nova Canaã, a terra prometida onde os confederados derrotados na Guerra de Secessão poderiam reconstruir suas vidas, seus lares e suas propriedades incluindo a mão-de-obra escrava. Pelo menos cerca de 2000 a 3000 sulistas se deslocaram para São Paulo. O aceno de encontrar terras em abundância com mão-de-obra escrava certamente foi decisivo para que famílias inteiras, acostumadas a um estilo de vida escravista, se deslocassem do sul dos EUA para o sudeste brasileiro. De uma maneira geral os protestantes no Brasil só tomaram uma posição contra a escravidão quando à abolição já era unanimidade na sociedade brasileira. Mesmo os poucos protestantes que se posicionaram favoráveis à abolição o faziam como uma questão moral e religiosa. Eram incapazes de atitudes mais concretas, que de fato propiciassem soluções ao problema do escravismo, que até os nossos dias tem gerado grandes conseqüências, onde grande parte da população negra vive a margem da sociedade. Os negros se viram largados no interior de uma sociedade fundada em bases racistas.

Libertos foram preteridos do mercado formal de trabalho em nome de um projeto elitista de branqueamento do país. Tiveram que disputar com o imigrante europeu até mesmo as mais modestas oportunidades de trabalho livre, como a de engraxate, jornaleiro ou vendedor de frutas e verduras, transportadores de peixe e carregadores de sacas de café, etc. As mulheres garantiram a sobrevivência da família trabalhando, tanto ontem como hoje, como domésticas, faxineiras, babás, doceiras, cozinheiras, lavadeiras e outras atividades similares. E a igreja ainda no seu silêncio. Essa é uma grande oportunidade para denominações evangélicas históricas brasileiras pedirem perdão ao povo negro, seguindo o exemplo dos anglicanos da Inglaterra. O desafio, o testemunho cristão, é o pedido de perdão ao povo negro que aqui propusemos. Finalmente, desejamos convidar nossos irmãos e irmãs das Igrejas Históricas para que reflitam todas essas questões. Para que as igrejas Históricas possam passar de um simples "ministério de omissão" para um ministério de envolvimento e participação na luta do povo negro para a sua libertação, e cumprimento da sua missão de Igreja de Jesus Cristo aqui na terra.
Lista de Igrejas e lideranças a quem enviamos o documento:

IEAB - Ao Sr. Bispo Primaz - Dom Orlando Santos de Oliveira,

A Secretaria Executiva do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil
Sr. Rev. Ludgero Bonilha Morais, Secretário Executivo do SC

Igreja Presbiteriana Unida do Brasil - Moderador: Rev. Gerson Antônio Urban

Igreja Presbiteriana Independente do Brasil - Diretoria da Assembléia Geral da IPIB
Presidente Rev. Assir Pereira

Igreja Evangélica Luterana do Brasil - Diretoria Nacional Rony Marquardt, Mário Lehenbauer, Carlos W. Winterle, Paulo K. Jung, Moacir Guenther.

Igreja Metodista Colégio Episcopal:
Bispo Josué Adam Lazier - 4a Região
Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann - 1a Região
Bispo João Carlos Lopes - 6a Região
Bispo Luiz Vergílio da Rosa - 2a Região
Bispo João Alves de Oliveira Filho - 5a Região
Bispo Presidente a mesa do Colégio Episcopal
Bispa Marisa de Freitas Ferreira Coutinho - REMNE
Bispo Adriel de Souza Maia - 3a Região
Bispo Adolfo Evaristo de Souza - CMA
Reverendo Stanley da Silva Moraes
Secretário Executivo do Colégio

Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Pastor Presidente P. Dr. Walter Altmann

Ao CONIC - Presidente Bispo Adriel Souza Maia - Secretaria Executiva Pr. Ervino Schmidt

CLAI - BRASIL - O Conselho Latino Americano de Igrejas - Secretário Regional: Rev. Luiz Caetano Grecco Teixeira.

Obs: Não acredito que a dignidade seja dada ou o perdão alcançado pela cor mais sim pela dignidade humana por serem cidadãos por direitos e na questão do direito de ir e vir que foi roubado. Históricamente se critica só a Igreja Católica Apostólica Romana pelo seu passado porque não se debater isso nas faculdades também.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Entrevista com Hugo Leal.

Um levantamento feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) indicou redução de mortes e mudança de comportamento nas rodovias federais um ano após a promulgação da Lei Seca. Pelo balanço, 6.614 pessoas morreram em acidentes entre 20 de junho do ano passado até maio desde ano. São 115 mortes a menos que o total registrado entre 20 de junho de 2007 e 17 de junho de 2008. Houve redução de 2% no índice de mortes e de 3% no total de desastres com vítima fatal.

1) Segundo estatísticas da Polícia Rodoviária Federal, o consumo de bebida alcoólica é uma das principais causas de acidentes automobilísticos no país. Este número, após a Lei Seca, reduziu consideravelmente. O senhor acredita que este fato deve-se a fiscalização ou a mudança de hábitos da população, que está mais consciente?

No caso brasileiro, não há a menor dúvida de que a edição da Lei 11.705/08 e a sua imediata aplicação contribuiu significativamente para os registros decrescentes das ocorrências de trânsito. Além da fiscalização ostensiva em alguns estados – principalmente nas cidades com frota circulante expressiva – é fundamental destacar o papel dos meios de comunicação, que durante meses trataram da matéria com muita seriedade. A Lei 11.705/08, a chamada Lei Seca, teve o mérito de despertar a consciência nacional para o grande flagelo da violência no trânsito, principalmente aquela provocada pela combinação álcool e direção, que é a principal causa da morte prematura dos jovens brasileiros.

2) Algumas pessoas defendem a tese de que há um “nível seguro” de álcool no organismo, que não compromete o reflexo e nem impede uma pessoa de dirigir. Como o senhor analisa esta questão? Como foram estabelecidos os limites desta dosagem de álcool no organismo?

Quando fui designado pela Presidência da Câmara dos Deputados relator do Projeto de Conversão em Lei da Medida Provisória 415, que proibia a venda de bebidas alcoólicas
nas rodovias, minha primeira providência foi promover a mais ampla discussão sobre o assunto. Foram feitas reuniões com médicos da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) para que fosse respondida a seguinte pergunta: “Qual o limite seguro padrão de ingestão de álcool que não afete os sentidos de qualquer cidadão?”.
A resposta foi objetiva. “Não há limite seguro padrão. Cada organismo reage diferentemente em função de diversos fatores, como compleição física, resistência orgânica, condições de saúde e quantidade e qualidade de alimento ingerido. A presença de qualquer quantidade de álcool na corrente sanguínea já afeta sentidos importantes como o equilíbrio, a coordenação motora, a capacidade de reação e o senso de perigo”.
Diante dessa afirmação categórica de médicos especialistas, decidimos pela tolerância zero no consumo de bebidas alcoólicas para quem dirige um veículo automotor. Para alguns leigos, que acham que houve exagero na lei, costumamos dizer que não há exageros quando o objetivo é preservar vidas e evitar sequelas permanentes em dezenas de milhares de vítimas inocentes.
Ninguém está proibido de beber. O que a lei não permite é dirigir depois de beber.

3) É justo dar ao motorista que se recusa a fazer o teste do bafômetro a mesma punição destinada a pessoas comprovadamente alcoolizadas – ou seja, multa de R$ 957,00 e suspensão
do direito de dirigir por um ano?

O que a lei estabeleceu foi um limite entre a infração administrativa (multa, suspensão da CNH e retenção do veículo) e a sanção penal (todas as penas administrativas acima descritas mais a abertura de processo criminal). Tramita na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados um Projeto de Lei que promove uma ampla reformulação em alguns artigos do Código de Trânsito. Um deles trata exatamente dessa questão. Pelo substitutivo, incidirá nas mesmas penas o condutor que apresente sinais notórios de embriaguez, ainda que não seja possível precisar a concentração de álcool pela recusa do teste do bafômetro, por exemplo.
Incorrerá também no Código Penal o condutor que, sob o efeito de álcool, seja responsável por acidente que resulte em ferimentos graves, debilidade permanente, invalidez ou morte da vítima. Nesse último caso, a pena será de reclusão de quatro a 12 anos, multa e cassação definitiva do documento de habilitação.

4) Otimizar os meios de transporte, em sua opinião, seria importante para que a Lei Seca obtenha ainda mais resultados?

Transporte público de qualidade e eficiente são direitos do cidadão e defendo essa premissa independentemente do benefício acessório no que tange à eficiência da Lei Seca. Mas o que está fazendo a diferença e contribuindo para a sempre crescente redução da violência no trânsito é a consciência do cidadão e a fiscalização permanente. Devemos aplicar a recomendação da Organização Mundial de Saúde que defende, além de campanhas permanentes de comunicação, testes anuais de pelo menos 1/3 dos condutores da frota em circulação. Em termos de Brasil, isso significaria avaliar anualmente cerca de 20 milhões de motoristas.

5) O senhor participou da Primeira Conferência Mundial Ministerial sobre Segurança Viária, realizada pela ONU em Moscou, nos dias 19 e 20 de novembro. Qual foi o objetivo do evento e o que trouxe de experiência positiva para o Brasil?

Resumidamente, o objetivo da Conferência foi reunir as lideranças governamentais do planeta em torno de um pacto mundial em defesa da vida no trânsito e da promoção da segurança na circulação viária. Apesar da curta duração do evento, apenas dois dias, foi possível conhecer casos de sucesso onde metas audaciosas foram alcançadas, através de vontade política combinada com a firme determinação das autoridades. O exemplo francês, país que estive nos dois dias anteriores aos da Conferência, é o paradigma que o Brasil deve seguir. Em menos de uma década, a partir de 2002, foi possível reduzir as morte no trânsito em quase 50%. Na Conferência de Moscou foi lançada as bases para a deflagração da DÉCADA DE AÇÕES DE SEGURANÇA NO TRÂNSITO 2011/2020, que aqui no Brasil vai começar já em 2010, conforme desejo da sociedade, manifestado em um Fórum Internacional da OMS (Organização Mundial de Saúde) realizado em outubro passado na cidade do Rio de Janeiro e confirmado no dia 15 de novembro, em Curitiba, durante a celebração do DIA MUNDIAL EM MEMÓRIA DAS VITIMAS NO TRÂNSITO. Teremos, portanto, um ano para nos prepararmos e mostrar ao mundo que também temos compromisso com a vida no trânsito.

Publicado no Jornal VILA EM FOCO
Por Fátima Fiuza

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Em nulidade matrimonial, não separar justiça de caridade, pede o Papa Bento

Ao receber esta manhã aos prelados auditores, oficiais e colaboradores do Tribunal da Rota Romana, com motivo da inauguração do ano judiciário, o Papa Bento XVI pediu que nos casos de nulidade matrimonial não se separe a justiça da caridade.
Em seu discurso na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, o Santo Padre destacou que "é necessário tomar ato da difusa e radicada tendência, embora não sempre manifestada, que leva a contrapor a justiça à caridade, como se uma excluísse a outra".

"Nesta linha, alguns acreditam que a caridade pastoral pode justificar qualquer passo para a declaração de nulidade do vínculo matrimonial. A mesma verdade tende a ver-se com um enfoque instrumental que a adaptaria de vez em vez às diversas exigências que se apresentam".

Seguidamente Bento XVI ressaltou que "seu ministério é essencialmente obra de justiça, uma virtude da qual é muito importante redescobrir o valor humano e cristão, também dentro da Igreja. O Direito Canônico deve sempre considerar-se em sua relação essencial com a justiça, com a consciência de que na Igreja a atividade jurídica tem como fim a salvação das almas".

"Nesta perspectiva dever-se-á ter presente, qualquer que seja a situação, que o processo e a sentença estão ligados de forma fundamental à justiça e ficam ao seu serviço", assinalou o Papa e indicou que "além desta dimensão 'objetiva' da justiça há outra que corresponde aos 'agentes do direito', quer dizer, aos que a fazem possível" e que "devem caracterizar-se por um elevado exercício das virtudes humanas e cristãs, em especial, a prudência e a justiça, mas também a fortaleza". Esta última "é tão mais relevante quando a injustiça se apresenta como o caminho mais fácil de seguir, assim que implica condescendência com os desejos e expectativas das partes ou com os condicionamentos do ambiente social".

"Todos os que trabalham no campo do Direito, cada um segundo sua função, devem guiar-se pela justiça. Penso em particular nos advogados, que devem prestar não só a máxima atenção ao respeito da verdade das provas, mas também evitar cuidadosamente assumir o patrocínio de causas que, segundo sua consciência, não sejam objetivamente sustentáveis".

O Santo Padre disse logo que "por outra parte, a ação dos que administram justiça não pode prescindir da caridade".

"A óptica e a medida da caridade ajudarão a não esquecer que temos em frente pessoas marcadas por problemas e sofrimentos. Também no âmbito específico do serviço dos agentes de justiça rege o princípio pelo que 'a caridade supera a justiça'", adicionou.

"A relação com as pessoas deve ter em conta o caso concreto para facilitar às partes, com delicadeza e atenção, o contato com o tribunal competente".

Do mesmo modo "é importante atuar com prontidão sempre que se vislumbre uma esperança de êxito para induzir aos cônjuges a convalidar eventualmente o matrimônio e restabelecer a convivência conjugal".

A isto se deve unir "o esforço de instaurar entre as partes um clima de disponibilidade humana e cristã fundada na busca da verdade". Bento XVI também explicou que "é necessário deixar de lado sugestões pseudo pastorais que situam as questões em um plano onde o que conta é satisfazer as petições subjetivas para conseguir a qualquer preço a declaração de nulidade, com o fim de poder superar, entre outras coisas, os obstáculos para receber os sacramentos da Penitência e a Eucaristia. Seria um bem fictício aplainar o caminho aos sacramentos, com o perigo de fazer viver a estas pessoas em contraste objetivo com a verdade de sua condição pessoal".

"Tanto a justiça como a caridade postulam o amor pela verdade e comportam essencialmente a busca do verdadeiro. Sem verdade, a caridade desliza para o sentimentalismo e o amor se transforma em uma casca vazia que se pode encher arbitrariamente. É o perigo do amor em uma cultura sem verdade".

Esse caso, continuou o Papa, "pode dar-se não só na atividade prática do juiz, mas também nos postulados teóricos, que tanto influem nos julgamentos concretos. O problema se expõe quando se ofusca a essência mesma do matrimônio. A consideração existencial, personalista e relacional da união conjugal não pode expor-se em detrimento da indissolubilidade, propriedade essencial que no matrimônio cristão suporta, junto com a unidade, uma estabilidade peculiar em razão do sacramento".

A Teologia da Libertação é uma resposta às injustiças sociais?‏

Um amigo me pergunta por que não se fala mais na “Teologia da Libertação”. Porque produziu seus frutos positivos e, agora, outros temas e questões assumiram posição de destaque na América Latina e no mundo.
Em 7 de dezembro de 2009, Bento XVI recebeu bispos provenientes do sul do Brasil em visita “ad limina”, e fez um apelo por uma superação das divisões suscitadas na Igreja pela Teologia da Libertação, inspirada no marxismo. O pontífice afirmou que a comunidade eclesial no Brasil deve vivenciar a experiência do perdão, para que as feridas deixadas pela polêmica possam finalmente cicatrizar.
Em agosto do ano passado – lembrou Bento XVI – comemoraram-se os 25 da publicação da Instrução Libertatis nuntius, da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação.
Neste documento – explicou o Papa – “destacava-se o perigo representado pela aceitação acrítica, por parte de alguns teólogos, de teses e metodologias oriundas do marxismo”.
Na realidade, como afirmava já em 1984 o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, há diversas correntes associadas à Teologia da Libertação, uma vez que a libertação é uma das mensagens centrais da Revelação, tanto Antigo como no Novo Testamento.

Uma destas correntes tomou como elemento de interpretação social e econômica, principalmente ao longo das três últimas décadas do século XX, a análise marxista – o materialismo histórico – na tentativa de compreender a complexa e injusta, e muitas vezes escandalosa, realidade social vivida na América Latina. A esta corrente convencionou-se chamar de Teologia da Libertação (de análise marxista). Conforme explicou Bento XVI aos bispos brasileiros, “suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas".

Por isso, o Papa suplicou "a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida".

Citando João Paulo II, declarou que a “regra suprema da fé [da Igreja]" não deriva da análise marxista, mas "da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não podem subsistir de maneira independente".
Por esse motivo, o Papa Bento XVI fez um apelo a todos aqueles que ainda veem na Teologia da Libertação uma resposta para os problemas sociais, esperando que “o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz".
Como disse no início, a Teologia da Libertação pode também ter produzido frutos positivos. Quando estive pela primeira vez no Brasil, me impressionou o fato de que a Igreja estava bem estabelecida nas regiões costeiras deste país-continente, enquanto que no interior frequentemente consistia em não mais do que missões.
Quando os padres do PIME (Pontifício Instituto de Missões Exteriores) se reuniram no Amazonas e no Paraná em 1946, e, alguns anos mais tarde, no Mato Grosso, encontraram povos que tinham recebido a fé séculos atrás, trazida por “missionários itinerantes”, mas que de cristãos tinham pouco.
A atenção criada na Igreja latino-americana pela Teologia da Libertação às populações mais carentes e abandonadas levou dioceses, missionários e institutos religiosos às regiões e povos ainda não evangelizados, com resultados muito positivos. Basta dizer que, em 1946, o Brasil contava com algo em torno de 80 dioceses, e hoje são mais de 350!
Se acreditamos que a mensagem de Cristo é a melhor mensagem de libertação do homem, este é um fato extraordinário. Agradeçamos ao Senhor.

OBS: A Igreja não precisa de outra teologia social pois ela tem a sua. Pontos positivos? Não vejo não, basta participar das homilias de padres e conversas de leigos adeptos a esse "movimento". Parecem não serem católicos. Que Deus nos ajude e derrame seu Espirito Santo dando-nos entendimento e sabedoria.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Carta Exortae in ista do Papa Pio IX aos bispos do Brasil sobre A Maçonaria.

1. As desordens originadas nesta jurisdição nos anos passados por parte de pessoas que, não obstante fossem adeptas da seita maçônica, infiltraram-se nas comunidades dos pios cristãos, trouxeram a vós, veneráveis irmãos, sobretudo nas dioceses de Olinda e Belém do Pará, um pesado tormento, bem como a nós uma grande inquietação. Afinal, não podíamos permanecer indiferentes ao fato de que a peste letal daquela seita se havia difundido até conseguir corromper as mencionadas comunidades, e, conseqüentemente, as instituições dispostas a reforçar o espírito sincero da fé e da piedade, depois que havia sido espalhada a funesta cizânia, precipitaram numa mísera condição. Nós, por isso, tendo presente nosso dever apostólico e sob o estímulo da paterna caridade, com a qual acompanhamos esta parte do rebanho de Deus, consideramos dever enfrentar sem hesitação esse mal e com a carta de 29 de maio de 1873 fazemos chegar a ti, venerável irmão de Olinda, a nossa voz contra esta deplorável perversão infiltrada nas comunidades cristãs, observando, todavia, um critério de indulgência e clemência em relação a quantos haviam aderido à seita maçônica por terem sido enganados ou iludidos, ou seja, suspender temporariamente as restrições das censuras nas quais eles estavam enquadrados, querendo que se valessem da nossa benignidade para execrar seus erros e abandonar - condenando-as - as associações nas quais haviam ingressado. Encarregamos-te, venerável irmão de Olinda, para suprimir e declarar suprimidas as mencionadas comunidades se, transcorrido aquele período de tempo, não se tivessem revisto e para reconstituí-las integralmente com as modalidades que tinham na origem, inserindo novos membros imunes de toda contaminação com a maçonaria. Nós, por outro lado, desejando pôr em alerta - como é nosso dever - todos os fiéis contra as astúcias e as insídias dos membros das seitas, na carta encíclica de 21 de novembro de 1873, endereçada aos bispos de toda a catolicidade, convocamos com clareza naquela ocasião à memória dos fiéis as disposições pontifícias emanadas contra as sociedades corruptas dos que aderem às seitas e proclamamos que nas constituições eram atingidas não só as associações maçônicas constituídas na Europa, mas também todas as que estão na América e nas outras regiões do mundo.

2. Não podemos, então, não nos admirar vivamente pelo fato que, tendo sido suspensos, com a nossa autoridade e com decisões apontando para a salvação dos pecadores, os interditos nos quais nestas regiões haviam sido submetidas algumas Igrejas e comunidades, compostas em grande parte de seguidores da maçonaria, foi retirada daí motivação para difundir por entre as pessoas a convicção que a sociedade maçônica presente nessas regiões estava excluída das condenações das regiões apostólicas e, portanto, que as pessoas que aderissem à seita podiam tranqüilamente fazer parte da comunidade dos cristãos piedosos. Todavia, quanto essas opiniões estejam distantes da verdade e do nosso modo de sentir é demonstrado com clareza seja pelos atos que recordamos antes, seja pela carta escrita ao sereníssimo imperador dessas regiões no dia 9 de fevereiro de 1875, na qual, enquanto garantíamos que seria revogada a interdição imposta sobre algumas Igrejas dessas dioceses, se vós, veneráveis irmãos, mantidos injustamente no cárcere no Pará e Olinda, fôsseis postos em liberdade; acrescentamos, no entanto, uma reserva e uma precisa condição, isto é, que os seguidores da maçonaria fossem removidos dos encargos que ocupavam nas comunidades. E essa conduta sugerida por prudência nossa não teve nem teria podido ter outro propósito senão o de, deferidos de nossa parte os desejos do imperador e restabelecida a tranqüilidade dos ânimos, oferecer ao governador imperial a oportunidade de restituir à antiga condição as pias comunidades, retirando-lhe a desorientação trazida pela maçonaria e, ao mesmo tempo, fazer com que os homens da seita condenada, movidos pela nossa clemência em relação a eles, procurassem subtrair-se do caminho da perdição. Para que numa questão assim tão grave não paire nenhuma dúvida, nem qualquer possibilidade de engano, não descuidamos de declarar novamente nesta ocasião que todas as sociedades maçônicas - seja destas regiões, seja de outras, das quais por parte de muitos, enganados ou induzidos ao engano, se diz que olham apenas para a utilidade e o progresso social e para a prática da ajuda recíproca - são proscritas e golpeadas pelas constituições e pelas condenações apostólicas, e que quantos desgraçadamente se inscreveram nas mesmas seitas incorrem por isso na mais grave excomunhão - providência reservada ao romano pontífice. Não com menos solicitude recomendamos ao vosso zelo que, nessas regiões, a doutrina religiosa seja transmitida diligentemente ao povo cristão com o anúncio da palavra de Deus e os oportunos ensinamentos. Sabeis, afinal, quanta utilidade deriva ao rebanho de Cristo se o ministério é bem exercido, e quais gravíssimos danos se é transcurado.

3. Mas, além dos argumentos tratados aqui, somos constrangidos a deplorar o abuso do poder da parte dos que presidem as já mencionadas comunidades, os quais, como nos foi referido, revogando todas as coisas segundo seu próprio arbítrio, pretendem atribuir-se legítima autoridade sobre os bens e as pessoas sagradas e sobre as coisas espirituais, de modo tal que os eclesiásticos e os próprios párocos estão completamente sujeitos aos poderes daqueles, no cumprimento dos deveres de seu ministério. Esse comportamento é contrário não somente às leis eclesiásticas, mas também à ordem constituída por Cristo Senhor na sua Igreja. Afinal, os leigos não foram postos como cabeça do governo eclesiástico, mas para sua utilidade e salvação devem estar submissos aos legítimos pastores, sendo sua função oferecer-se como ajudantes do clero para as situações particulares, não devendo se intrometer naquelas coisas confiadas por Cristo aos sagrados pastores. Por isso achamos urgente que os estatutos das mencionadas comunidades sejam redigidos segundo a correta ordem, e tudo o que neles estiver fora da norma e incongruente por qualquer aspecto seja perfeitamente conformado às regras da Igreja e da disciplina canônica. Para alcançar essa meta, veneráveis irmãos, considerados os intercâmbios que ocorrem entre as comunidades e o poder civil, naquilo que concerne à sua constituição e ordenamento nas coisas temporais, já concedemos ao nosso cardeal secretário de Estado os devidos mandatos para agir com governo imperial, buscando reunir com ele os esforços úteis para obter os resultados desejados. Confiamos que a autoridade civil unirá o seu solícito interesse ao nosso; por isso pedimos com todas as nossas forças a Deus, do qual provêm todas as coisas boas, para que se digne acompanhar e sustentar com a sua graça esta iniciativa de tranqüilizar a religião e a sociedade civil. Também vós, veneráveis irmãos, uni as vossas orações às nossas, para que esses desejos se realizem e como penhor do nosso sincero amor, recebei a bênção apostólica, que concedemos, de coração no Senhor, a vós, ao clero e aos fiéis confiados aos cuidados de cada um de vós.

Roma, dado em São Pedro, no dia 29 de abril de 1876, XXX do nosso pontificado.
PAPA PIO IX

Dom Vital e a maçonaria.

"Nenhum lutador mais impetuoso, mais tenaz e mais capaz que D. Vital, bispo de Olinda, e a impressão que este me deixou foi extraordinária." Machado de Assis

"Peçam-nos o sacrifício de nossos cômodos; peçam-nos o sacrifício de nossas faculdades, peçam-nos o sacrifício de nossa saúde; peçam-nos o sangue de nossas veias... Mas pelo santo amor de Deus não nos peçam o sacrifício de nossa consciência, porque nunca o faremos. Sic nos Deus adjuvet. Nunca!" D. Vital, bispo de Olinda

A infiltração maçônica no Brasil e suas atividades contra a Igreja sempre deram aos observadores a impressão de que os maçons daqui seriam menos rancorosos que os da Europa. De fato, os maçons do Brasil são, como os brasileiros em geral, menos enérgicos, mas não menos rancorosos que os da França. Nem por isso deixam de odiar a Igreja e trabalhar contra ela. O episódio de D. Vital é prova disso.
D. Vital parece ter sido realmente um homem de valor e é uma beleza contemplar o olha que mostra o retrato de capa do livro abaixo referido em que colhemos os dados aqui apresentados. Seus olhos mostram uma tal mansidão e uma tal força, que ninguém pode deixar de se impressionar.
D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira nasceu em Pernambuco, num engenho de açúcar, a 27 de novembro de 1844. Seu nome civil foi Antônio Júnior. Estudou no Seminário de Olinda, primeiro, e depois em S. Sulpice em Paris, onde resolveu ser capuchinho (ramo franciscano) sendo recebido no Seminário de Versalhes onde os seus superiores, procurando prová-lo, trataram-no com tal aspereza e tanta falta de atenção que ele pegou uma doença de garganta de que nunca mais se pode curar completamente e da qual provavelmente morreu. No dia em que os religiosos da comunidade franciscana decidiram aceitar (contra a oposição do Pe. Mestre) a sua profissão definitiva, este Padre Mestre disse-lhe: "Você nunca prestará para coisa alguma. Não poderá ser sacerdote e terá muito que sofrer". Tirando a última parte, que se mostrou verdadeira (mas parece que para o bem de D. Vital), no mais não apenas falhou na sua "profecia" como mostrou uma dureza de coração incrível contra um pobre seminarista franciscano que nunca teve nenhuma rebeldia, nenhuma má vontade, nenhuma queixa. Àquela palavra dura do seu Padre Mestre, ele respondeu: "Não pedi a entrada em religião para me tornar notável em trabalhos além dos que Deus me destina. Nem mesmo a glória do sacerdócio procurei. Vim para glória de Deus e salvação de minha alma. Se não puder ser bom padre, pedirei para ficar como simples leigo e que Nosso Senhor tenha pena de mim até o fim". Apesar de tudo, quando a comunidade indagou o Pe. Mestre qual o conceito que fazia do candidato à profissão definitiva, ele declarou que o comportamento de D. Vital tinha sido sempre irrepreensível.
D. Vital foi depois para o convento franciscano de Perpignan e mais tarde para o Seminário de Toulouse onde foi ordenado em 2 de Agosto de 1868. No fim deste mesmo ano de 1868 voltou para o Brasil onde foi mandado para ensinar no Convento dos franciscanos em São Paulo. Em março de 1872 foi sagrado bispo por indicação do Governo do Império do Brasil (que então tinha tais privilégios) e aceitação do Papa Pio IX que hesitou muito porque D. Vital tinha apenas 26 anos! Mas como, em face da demora de Roma em aprovar seu nome, D. Vital, a conselho do Núncio, escrevera a Pio IX pedindo para ser dispensado do cargo (o que realmente desejava para manter-se como um simples religioso), o Papa percebeu todo o seu desprendimento e resolveu nomeá-lo. Foi nomeado bispo de Olinda e Recife e tomou posse de seu cargo em 24 de Maio de 1872.
A luta entre a Igreja e a Maçonaria no Brasil tornou-se acesa pouco depois, em virtude de um incidente ocorrido no Rio de Janeiro. Naquela época e apesar das diversas condenações da maçonaria pelos Papas, havia muitos padres que pertenciam a lojas maçônicas. Também muitos homens notáveis da época eram maçons, alguns por simples ignorância, outros, embora tendo seus nomes ligados à história do Brasil, por convicções maçônicas e mau espírito contra a Igreja. Em março de 1872, pouco antes de D. Vital ser eleito bispo, houve uma festa da maçonaria que comemorava a Lei do Ventre Livre, obtida pelo então principal Ministro do Imperador, Presidente do Conselho (chefe de governo), o Visconde de Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco, homem realmente capaz, de notável inteligência e também grau 33 da loja maçônica da Rua do Lavradio. Um dos oradores da festa foi um padre, chamado Almeida Martins. O bispo do Rio, D. Pedro Maria de Lacerda, escandalizado, chamou o Padre Martins em particular para ponderar-lhe que ele não podia ser padre e maçom ao mesmo tempo. O Padre recusou atender a qualquer ponderação. O Bispo suspendeu-o de ordens. A maçonaria considerou-se atingida e fez uma grande assembléia que foi presidida pelo Chefe do governo, o Visconde do Rio Branco. Decidiram então iniciar uma grande campanha contra a Igreja e a essa campanha uniram-se os maçons de uma ala dissidente. Coletaram fundos e começaram os ataques. Fundaram inúmeros jornais para a campanha: no Rio, o jornal "A Família"; em São Paulo, o "Correio Paulistano"; em Porto Alegre, "O Maçom"; no Pará, o "Pelicano"; no Ceará, "A Fraternidade"; no Rio Grande do Norte, "A Luz"; em Alagoas, "O Labarum" e em Recife, dois, "A Família Universal" e "A Verdade".
Assim, quando D. Vital chegou ao Recife, já encontrou em atividade os jornais maçons que todos os dias procuravam atingi-lo com sarcasmos e injúrias. O bispo não respondia, é claro. A 27 de Julho começaram a provocá-lo. Primeiro anunciaram que iria haver uma missa em ação de graças numa loja. Diante da proibição sigilosa do bispo, nenhum padre ousou celebrá-la. Depois, pediram missas por maçons falecidos sem arrependimento e, é claro, nenhum padre aceitou. Finalmente, diante do silêncio do bispo que não respondia as provocações, nos dias 22,23,24,25 e 26 de Outubro, o jornal "A Verdade" publicou uma série de artigos contra a Santíssima Eucaristia, a Virgindade e a Maternidade divina de Nossa Senhora e a Imaculada Conceição. E para atingir melhor o alvo, uma Irmandade religiosa (várias estavam infiltradas de maçons) elegeu o autor daqueles artigos como seu presidente. Finalmente, a 21 de Novembro, o bispo D. Vital publica um protesto contra os ataques aos nossos dogmas exortando a população a protestar também. Mais tarde fez um sermão público na catedral, repetindo o protesto e acusando a maçonaria. O jornal, para zombar dele, publica uma lista de padres e cônegos filiados à maçonaria local. O bispo chama-os um por um, em particular, e obtém de todos que se retratem publicamente e se desliguem das lojas, exceto dois. O jornal publica então os nomes de presidentes, secretários e tesoureiros de irmandades que também pertenciam às lojas. O bispo faz o mesmo, mas aqui esbarra na obstinação de várias irmandades que se recusam a acatá-lo. Só duas aceitaram e as demais ou recusaram ou nem foram à entrevista. D. Vital procurou obter com amigos comuns que elas, as Irmandades, se submetessem à sua autoridade. Não conseguiu nada. Resolveu então mandar um primeiro aviso canônico aos vigários assistentes das irmandades para que exortassem os irmãos maçons a renunciarem à maçonaria ou se demitirem. As irmandades recusaram aceitar isso. Mais dois avisos se seguem e são recusados. O bispo lança então um interdito sobre as irmandades Santo Antônio e Espírito Santo, impedindo a realização de missas ou quaisquer religiosos nas suas capelas. Os maçons começaram a promover tumultos de rua. Primeiro fecharam capelas e igrejas, roubando chaves de sacrários ou de arquivos. D. Vital publica uma "Carta Pastoral contra as ciladas da Maçonaria". Nela, além de historiar as atividades perniciosas da organização, assinala que não há diferença entre a maçonaria no Brasil e na Europa, que todas obedecem aos mesmos planos. Proíbe a leitura do jornal "A Verdade" e excomunga os maçons que não abjurarem.
Enquanto isso, também o bispo de Belém do Pará, D. Antônio Macedo Costa, combate a maçonaria. As notícias a respeito, chegando ao Rio, provocaram enorme abalo. O Governo reuniu-se, ao saber que irmandades haviam sido interditadas e também por causa da Carta Pastoral. O próprio Governo, isto é, certamente o seu Chefe, Visconde do Rio Branco, e seus ajudantes maçons, mandaram dizer às irmandades que deviam apelar para o Governo Central com um, então vigente, "recurso à Coroa", apesar de a lei brasileira de então dizer que em causas estritamente religiosas os bispos estavam submetidos ao Papa e só ao Papa podiam ser apresentados recursos contra sua decisões. Não obstante, uma das irmandades interditadas apresentou o recurso ao governo. O próprio Imperador D. Pedro II, cuja mentalidade era liberal, não gostou da atitude do bispo que, em carta a um Conselheiro de Estado, apontou a ilegalidade do recurso à Coroa e declarou com simplicidade que havia cumprido seu dever de bispo e só estava submetido ao Papa em matéria religiosa. Os historiadores acham que, sem apoio do Imperador, o Visconde do Rio Branco teria recuado. mas, com esse apoio, foi em frente. Antes de publicar sua Carta Pastoral, Dom Vital havia escrito ao Papa indagando o que devia fazer diante da situação que descrevia. O Papa respondeu-lhe com um "Breve" datado de 29 de maio, aprovando os atos de D. Vital e dando-lhe amplas faculdades para enfrentar a situação. Diante do "recurso à Coroa" da Irmandade, o Governo mandou a D. Vital um aviso com ordem de levantar o interdito sob pena de ser processado. O bispo responde com toda a calma e, depois de apresentar sua homenagens ao Imperador e seu respeito pelo Governo, acrescenta que se deve obedecer antes a Deus que aos homens e que recebia, no mesmo dia, do Governo, o aviso para suspender o interdito, e, do Papa, seu Breve aprovando seus atos. Assim, como bispo, não podia atender ao aviso. Isso, explicou, não era desobediência, mas dever de consciência. Em seguida o bispo suspendeu de ordens o Deão do cabido da diocese que era maçom e se recusava a deixar a maçonaria. Os maçons então fizeram uma manifestação pública de apoio ao Deão. Depois saíram para invadir, depredar e saquear a capela do Colégio dos Jesuítas, que estava cheia de fiéis que comemoravam o mês de Maio. Quebraram o púlpito, os confessionários, os quadros, imagens, espancando os fiéis, roubando objetos de valor. Empastelaram em seguida os jornais católicos, "O Católico" e "A União" agredindo os empregados. Agrediram os jesuítas, alguns dos quais foram apunhalados e um dos quais morreu mais tarde. Depois arrombaram o Colégio Santa Dorotéia e em seguida foram para o palácio do Bispo. O Bispo, avisado, mandou iluminar todo o palácio e se apresentou diante da quadrilha que estava no portão. Eles não ousaram invadir o palácio e acabaram se retirando. Só então chegou a polícia. D. Vital publicou um Breve, "Quamquam dolores" comunicando aos demais bispos do Brasil o que ocorria e recebendo deles todos integral apoio, sobretudo do bispo do Rio de janeiro e do bispo de Belém do Pará. O Governo manda um aviso à Irmandade que havia feito seu recurso e declara ele, o Governo, levantado o interdito, o que é evidentemente ridículo, já que nenhum padre aceitaria isso. O Governou suspendeu o pagamento dos ordenados dos padres, que, naquele tempo, eram sustentados com recursos públicos e também dos padres professores do Seminário. Finalmente o Governo mandou processar D. Vital por desobediência e desacato. Veio a ordem de prender o bispo e mandá-lo para o Rio de Janeiro para ser julgado pelo Supremo Tribunal. Foram prendê-lo no palácio, em Recife, um Juiz, o Chefe de Polícia e um Coronel da polícia. Quando o Juiz entrou no palácio e bateu na porta do quarto do bispo, este saiu totalmente paramentado, com mitra e báculo, e assim foi preso. Mas quando chegaram à rua, os policiais viram que a multidão engrossava dando vivas ao bispo e ficaram com medo. Meteram-se num carro e levaram-no para o Arsenal de Marinha onde ficou preso à espera do navio que devia levá-lo ao Rio. Em Salvador, trocaram-no de navio para que chegasse ao Rio sem ser esperado. E no Rio foi logo encarcerado no Arsenal, embora com todo o respeito e conforto. Deve-se dizer que, em toda parte, no Recife, em Salvador, no Rio, multiplicavam-se as demonstrações de apreço, homenagem e protestos de outros bispos, do clero, do povo. Aí o Governo encarregou o embaixador do Brasil em Londres, Marquês de Penedo, de tentar obter do Papa um pronunciamento contra o bispo. O embaixador, hábil e insinuante, contou à sua maneira os fatos e conseguiu que o Secretário de Estado, Cardeal Antonelli (cujo comportamento futuro iria mostrar-se muito estranho) escrevesse com autorização do Papa uma carta a Dom Vital, "Gesta tua non laudantur", em que, embora louvando o bispo, censura-o como tendo pressa em executar, com excesso de zelo, o que o Papa havia escrito antes, e manda que ele levante o interdito para "depois" procurar eliminar os maçons das irmandades. O Barão e o Governo ficaram satisfeitíssimos com o resultado da missão e logo noticiaram o fato, mas D. Vital, perplexo, guardou a carta no bolso e escreveu ao Papa pedindo explicações, apresentando os fatos e mostrando os inconvenientes do que lhe estava ordenado, especialmente mandando dizer ao Papa (que até então não sabia) que ele, D. Vital, estava preso. E, de fato, logo veio a resposta do Papa mandando destruir a carta do Cardeal Antonelli. Enquanto isso, o Governo frustrou-se porque queria que D. Vital publicasse a carta recebida antes e este, que não era bobo, guardou-a, é claro. Afinal, veio o processo. Intimado a se defender em oito dias, o bispo respondeu apenas com esta frase: "'Jesus autem tacebat'. Assinado em minha prisão no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. Frei Vital." Foi julgado em sessão solene do Supremo Tribunal, cheias as galerias. Dois Senadores católicos o defenderam, Zacarias de Goes e Candido Mendes de Almeida (bisavô desta triste figura de mesmo nome). Mas toda a defesa foi inútil, já que a maçonaria governava. D. Vital foi condenado a 4 anos de prisão com trabalhos forçados. Há uma nota interessante: com base naquela lei que falava em "recurso à Coroa", D. Vital foi a 163a. pessoa processada, um dos dois únicos condenados e o único que cumpriu pena. Também o bispo de Belém foi condenado à pena de prisão. O bispo foi levado à Fortaleza de S. João (na Urca) onde entrou em 21 de Março de 1874 para cumprir a pena que, antes de começar, já o Imperador havia convertido em prisão simples, sem os trabalhos forçados, por instâncias da Princesa Isabel, que admirava Dom Vital. D. Macedo Costa, por sua vez, foi encarcerado na Ilha das Cobras. Enquanto cumpriam suas penas, o Governo perseguia os dirigentes católicos do Recife, encarcerando vários outros e expulsando de Pernambuco os Jesuítas. Mesmo preso, D. Vital escreveu e mandou publicar uma carta, "A Maçonaria e os Jesuítas", com 139 páginas, em que defendia a estes e atacava aquela. Na fortaleza, sucediam-se as visitas de multidões de fiéis e clero, inclusive bispos estrangeiros. Inúmeras petições ao Imperador, com milhares de assinaturas, pedindo a libertação dos bispos. A própria Princesa Isabel vai à fortaleza visitá-lo e, com a ajuda dela, D. Vital pôde chamar à fortaleza os seminaristas de Recife que já estavam prontos para ordená-los ali mesmo. O Papa começou a protestar e escreveu ao Imperador do Brasil pedindo que libertasse os bispos, sem deixar de afirmar que eles se conduziram como deviam fazê-lo. O Imperador parece que não ligou muita importância à carta do Papa, mas o Duque de Caxias propôs ao Imperador uma anistia. O Imperador hesitava. Por razões políticas, caiu o gabinete do Visconde do Rio Branco e o Duque de Caxias foi chamado para sucedê-lo. Ele aceitou com a condição de conceder anistia aos bispos. Finalmente, o Imperador teve que aceitar e, em 17 de Setembro de 1875, decreta a anistia que liberta D. Vital e os demais presos. Logo em Outubro D. Vital vai a Roma onde é recebido paternalmente e com alegria por Pio IX (o Papa, comovido, só o chamava de "Mio Caro Olinda", "Mio Caro Olinda") mas, ao visitar o Cardeal Antonelli, em seguida, foi recebido com as seguintes palavras: "Eu não havia escrito a V. Excia. mandando levantar o interdito e publicar minha carta?..." D. Macedo Soares, aliás, dá notícia de que a presença de D. Vital em Roma causara sinais de contrariedade em "certas rodas". D. Vital respondeu pedindo as instruções precisas e Antonelli as deu. No novo encontro do dia seguinte com Pio IX, D. Vital mostrou ao Papa o que o Cardeal Antonelli lhe havia dado e o assombro do Papa foi enorme. Pio IX pede um relatório a D. Vital e este lho entrega dias depois, mostrando que a carta de D. Antonelli representava desdizer os Breves anteriores. Pio IX reúne uma comissão de Cardeais e teólogos aos quais D. Vital fez uma exposição escrita e outra oral. Pelo jeito, comparecera gente hostil. A impressão que nos fica é a de que o Cardeal Antonelli, se não era maçom, era pelo menos liberal e antipatizava com D. Vital. Finalmente o Papa beija Dom Vital, manifesta-lhe apoio e publica a Encíclica "Exortae" em que condenava mais uma vez a Maçonaria e apoiava os bispos brasileiros mas, ao mesmo tempo, o Cardeal Antonelli, autorizado pelo Papa, telegrafou ao Núncio no Brasil mandando suspender os interditos das Irmandades sem a exigência de prévia eliminação dos maçons. São dessas coisas... Em todo caso, houve a reiteração da condenação dos maçons. Bem... Há que se conviver com isso, pelo menos naquele tempo... Afinal, hoje seria pior.
D. Vital visita diversos lugares e amigos em França e na Itália. Volta a Recife, onde procura recompor as instituições fechadas, especialmente o Seminário e recuperar os recursos negados pelo Governo. Afinal, consegue os recursos e reabre o Seminário. Faz visitas pastorais, mas sua saúde, sempre precária, abate-o e ele tem de voltar à Europa para tratar-se, ajudado pela Princesa Isabel. Da França escreve ao Papa, pedindo que aceitasse sua renúncia. O Papa pede-lhe que espere e se trate. No Brasil subia ao Governo um dos mais rancorosos maçons, Saldanha Marinho. Pio IX morre em fevereiro de 1878 e pouco depois morre D. Vital, aos 33 anos de idade, em Paris. Seu corpo foi enterrado na cripta dos franciscanos em Versalhes, de onde, mais tarde, foi trasladado para o Recife. Está enterrado na Basílica de N. Sra. da Penha, em Recife.
Termina um pouco melancolicamente esta bela página de nossa história católica, mas não é culpa dele, D. Vital, e nem sequer dos católicos brasileiros, o que há de melancolia nela. Exceto num ponto: falta dizer que hoje, para infinita vergonha dos católicos brasileiros, mancha a diocese de Olinda e Recife um indivíduo (será ainda bispo?), Dom Helder Camara, exemplar bem representativo daqueles eclesiásticos brasileiros cujo vazio interior Gustavo Corção havia notado, conforme artigo que publicamos em nosso número 148-149. Estes eclesiásticos, como pretexto do que chamam "opção pelos pobres", não escondem e todos os dias, ao contrário, publicam suas afinidades e simpatias com o pior, mais grotesco e estúpido subproduto da maçonaria, que é o comunismo, intrinsecamente perverso, assim condenado explicitamente por Pio XI. Encontraram no comunismo, parece, uma terrível solução para o vazio espiritual em que viviam. Ali, na simpatia pelos agitadores e subversivos, no ativismo temporal que não tem tempo para os "moralismos" puderam, finalmente, achar sentido para suas vidas. E se isto que dizemos parece excessivo, lembro que são eles mesmos que no-lo dizem todos os dias.
(Permanência, Novembro/Dezembro de 1981)

Nota: O livro do qual foram tirados os dados acima chama-se: D. Vital -- Um Grande Brasileiro. Seu autor é Frei Felix de Olivola O.F.M. -- Edição da Imprensa Universitária, Recife, 1967. Não é bem escrito, nem bem ordenado. Vale apenas pelos dados que tem.