terça-feira, 23 de março de 2010

Bento XVI: não reduzir sacerdócio às categorias culturais dominantes.

O Papa destacou hoje a importância de evitar, na atualidade, reduzir o sacerdócio às categorias dominantes, ao receber os participantes do Congresso Teológico Internacional “Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote”, organizado pela Congregação para o Clero.

“É importante ter bem clara a peculiaridade teológica do ministério ordenado, para não ceder à tentação de reduzi-lo às categorias culturais dominantes”, declarou.

E isso “em uma época como a nossa, tão policêntrica e propensa a difundir todo tipo de concepção de identidade, considerada por muitos contrária à liberdade e à democracia”.

Bento XVI reconheceu que, “em um contexto de difusa secularização, que progressivamente exclui Deus da esfera pública e, por tendência, também da consciência social partilhada, muitas vezes o sacerdote é visto como estranho à percepção comum”.

Segundo o Pontífice, isso ocorre “justamente pelos aspectos mais fundamentais de seu ministério, como o ser homem do sagrado, tirado do mundo para interceder em favor do mundo, em tal missão constituído por Deus e não pelos homens”.

Precisamente neste contexto atual, “é importante superar perigosos reducionismos que, nos anos passados, utilizando categorias mais funcionalistas que ontológicas, apresentaram o sacerdote quase com um ‘agente social’, correndo o risco de trair o próprio sacerdócio de Cristo”.

Neste sentido, defendeu uma hermenêutica da “continuidade sacerdotal”, análoga à hermenêutica da continuidade que, em sentido mais geral, o Papa defende para a compreensão adequada dos textos do Concílio Vaticano II.

Esta concepção do sacerdócio, “partindo de Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo – e passando pelos dois mil anos de história de grandeza e de santidade, de cultura e de piedade vividas pelo sacerdócio – chega até os nossos dias”, afirmou.

Bento XVI destacou depois a importância do “carisma da profecia” no “convite a participar do único sacerdócio de Cristo no ministério ordenado”.

“É preciso sacerdotes que falem de Deus ao mundo e que apresentem o mundo a Deus; homens não sujeitos a modas culturais efêmeras, mas capazes de viver autenticamente aquela liberdade que somente a certeza da pertença a Deus é capaz de dar”, indicou.

E acrescentou: “Hoje, a profecia mais necessária é a da fidelidade, que partindo da fidelidade de Cristo à humanidade, mediante a Igreja e o sacerdócio ministerial, leve a viver o próprio sacerdócio na total adesão a Cristo e à Igreja”.

“O sacerdote não pertence mais a si mesmo, mas é propriedade de Deus”, continuou.
E esse seu “ser de outro”, acrescentou, “deve tornar-se reconhecível por todos, mediante um límpido testemunho”.

“No modo de pensar, de falar, de julgar os fatos do mundo, de servir e amar, de relacionar-se com as pessoas, como também no vestir, o sacerdote deve adquirir força profética de sua pertença sacramental, do seu ser profundo”, declarou.

O valor do sacerdote não está nas funções que ele desempenha, mas em seu ser, e esta verdade ajuda a compreender o sentido do celibato, indicou o Papa.

Neste sentido, afirmou que o sacerdote “deve cuidar-se de subtrair-se à mentalidade dominante, que tende a associar o valor do ministro não a seu ser, mas à sua função, desconhecendo assim, a obra de Deus, que incide na identidade profunda da pessoa do sacerdote, configurando-o a Si de modo definitivo”.

“O horizonte da pertença ontológica a Deus constitui, além disso, o marco adequado para compreender e reafirmar, também em nossos dias, o valor do sagrado celibato”, acrescentou.

Para o Papa, “isso é uma autêntica profecia do Reino, sinal da consagração com coração indiviso ao Senhor e às ‘coisas do Senhor’, expressão da doação de si a Deus e aos outros”.

O Papa pediu a proteção do “dom precioso” do sacerdócio aos mais de 500 presbíteros reunidos no congresso realizado nos dias 11 e 12 de março, na Universidade Pontifícia Lateranense.

E lhes indicou que “a compreensão do sacerdócio ministerial está ligada à fé e exige, de maneira cada vez mais forte, uma radical continuidade entre a formação do seminário e a permanente”.

A vida profética “com a qual serviremos Deus e o mundo, anunciando o Evangelho e celebrando os sacramentos, favorecerá o advento do Reino de Deus já presente e o crescimento do Povo de Deus na fé”, assegurou-lhes.

“Queridíssimos sacerdotes: os homens e as mulheres da nossa época nos pedem somente que sejamos profundamente sacerdotes, nada mais”, disse.

“Os fiéis leigos encontrarão em tantas outras pessoas aquilo de que humanamente precisam – concluiu –, mas somente no sacerdote poderão encontrar aquela Palavra de Deus que deve estar sempre em seus lábios: a misericórdia do Pai, que se prodiga de maneira abundante e gratuita no sacramento da Reconciliação; o Pão de Vida nova, verdadeiro alimento dado aos homens.”

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