quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Homilia de despedida de Dom Francisco de saída para Volta Redonda.

Excelentíssimo Sr. Governador,
Sra. Prefeita de Pesqueira,
Srs. Prefeitos e autoridades presentes
Prezados irmãos padres
, religiosas, seminaristas, irmãs e irmãos na fé

Como sempre, desejo dar a primazia à Palavra de Deus porque é à luz dela que nós cristãos encontramos os critérios para interpretar os acontecimentos da nossa vida e da história.

À luz desta Palavra hoje podemos enxergar três caminhos para a nossa vida e a vida da nossa Igreja de Pesqueira, aqui reunida em ação de graças pela minha presença e atuação ao longo de quase 8 anos, reunida também para me enviar à Igreja deVolta Redonda RJ e para iniciar um momento novo na espera da chegada de um novo Pastor.

1. O caminho da sabedoria.

É o que nos propõe a leitura do 1° Livro dos Reis. Sabedoria para praticar a justiça e um coração compreensivo, capaz de governar e de distinguir entre o bem e o mal. É o melhor que possa pedir alguém chamado a governar ou por outorga do povo ou por nomeação que vem do alto: o dom da sabedoria!

Com humildade posso afirmar que pedi com muita frequência nas minhas orações, ao longo destes 8 anos o dom da sabedoria para orientar e guiar o povo que me foi confiado. Se nem sempre dei respostas prontas, se nem sempre tomei decisões apressadas, na maioria das vezes não foi porque não sabia o que dizer ou o que fazer, mas para ponderar melhor, para não me deixar levar pela paixão ou a visão parcial do momento e sobretudo para não dividir ou magoar pessoas. Quem não lembra o lema “um ano, um mês e um dia” repetido com insistência aos padres quando assumiam um novo encargo? É bom lembrar também que no homem de governo, e no bispo de maneira especial, em certas circunstâncias pode ser mais eloquente e falar mais alto o silêncio do que muitas palavras e a espera vigilante pode ser mais frutuosa do que decisões tempestivas.

A sabedoria é para praticar a justiça, não para fazer funcionar uma máquina administrativa: para isso tem técnicos e competentes profissionais. A Igreja é a primeira a ter que praticar a justiça maior, a justiça do Reino na qual os pequeninos e os últimos são os privilegiados, a vida está em primeiro lugar, acima das normas e estruturas impostas pelos poderes deste mundo e o amor é a regra fundamental de todo e qualquer relacionamento. Tenhamos esta sabedoria, meus irmãos e irmãs e seremos felizes até no meio de incompreensões e perseguições.

2. A leitura dos sinais do tempo.

São Paulo na carta aos Romanos afirma: “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus!” (Rom 8,28). É isso mesmo! Tudo concorre para o bem!

A antropologia cristã, isso é a visão crista da pessoa humana, tem uma característica inconfundível: Deus confia na gente! Por isso ele nos entrega a sua obra e nos dá responsabilidade! Como porém a nossa visão tem alcance curto no longo caminho da história e os nossos critérios são influenciados por interesses que não nos deixam plenamente livres, há acontecimentos, conduzidos pela Providência divina, que quebram os nossos esquemas, que às vezes nos fazem sofrer, que nos passam a impressão de uma inversão de marcha. Na realidade, exigem de nós uma conversão, uma purificação e uma visão mais aguçada da história, inclusive da nossa história pessoal.

“Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus!”, também a “novidade” pela qual estamos reunidos aqui hoje, esta minha nomeação, esta aparente interrupção de presença e programas que faziam crescer a nossa estima recíproca e tornavam mais eficiente a nossa ação pastoral e evangelizadora.

Acreditando que tudo o que Deus faz ou permite é bom para nós, porque Ele é Pai que nos ama, aceitamos com fé também esta transferência: sentidos, mas não abatidos; perplexos, mas não derrotados; atônitos, mas não vencidos! Quem sabe ou conhece plenamente os caminhos de Deus? Quem será o seu Conselheiro?

“Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, os meus caminhos não são os vossos caminhos!” nos responde o profeta Isaías.
Então, avante com fé e coragem: um longo caminho nos espera a todos: aqui em Pesqueira, ali em Barra do Piraí e Volta Redonda, para a vida de vocês e para a minha vida! Precisa viver, precisa amar, precisa avançar, precisa voar! Que este acontecimento não corte as nossas asas, mas corte o que nos impede de voar mais alto e mais livres!

3. Descobrir o tesouro escondido, descobrir a pérola preciosa! E investir neles!

É o que o evangelho nos propõe. Na linha de reflexão que nos conduziu até agora, é necessário se perguntar: o que é este tesouro escondido, onde encontrar a pérola preciosa?

Aqui entra a minha experiência pessoal, de homem de fé e pastor. Quando me foi comunicada a nomeação inesperada e repentina, pelo espírito de obediência evangélica que deve caracterizar o cristão e mais ainda o bispo, disse o meu “sim”.

O único argumento que eu tinha para recusar era o seguinte: eu gosto daqui, eu amo profundamente este povo, me identifico com ele e com sua caminhada! Aquele “sim”, pronunciado em espírito de obediência e prontamente, foi como assinar um cheque em branco. Logo reparei que o preço era muito alto!

Eu não pensava de amar tanto assim esta Igreja: foi preciso que, de certa forma me fosse tirada, para me dar conta de quanto é bela e dos fortes laços de profundo amor que me unem a ela! Logo surgiu a pergunta: mas, por que? Se somos preciosos uns aos olhos dos outros, por que nos deixar, por que não continuar a amar e a servir este Povo de Deus?

Então vi, com uma luz completamente nova que, se é importante o Povo de Deus, a primazia, a pérola, o tesouro é o Deus do Povo, porque é Ele que nos dá valor, é Ele que nos sustenta e nós somos o rebanho que a sua mão conduz!

Ele é a pérola preciosa pela qual vale a pena deixar tudo e a Ele encontramos em toda a porção do seu povo confiada aos cuidados de um pastor, pois o Povo de Deus é de Deus, não é da gente!
Eu então, a partir deste momento, entrego vocês aos cuidados dele, o Pastor da nossa vida.

4. Conclusão.

Mas, antes de concluir com os devidos agradecimentos, desejo iluminar tudo quanto estamos vivendo com as últimas palavras do trecho do evangelho de hoje: “Todo o mestre da lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas!” (Mt 13, 52)

Nestes anos insistimos muito em nos tornarmos discípulos e discípulas de Jesus e confesso para vocês que eu também percorri o meu caminho de discipulado.

Antes de ser mestre quis ser discípulo de Jesus, da sua Palavra e de tantos irmãos e irmãs que tem o mestrado da experiência da vida, sobretudo os simples e os pobres.

Antes de ser presidente da assembléia litúrgica quis atingir ao manancial da graça de Deus através dos sinais da vida que são os sacramentos.

Antes de ser pastor e guia, quis ser servidor e ovelha do rebanho, bebendo da água da vida como filho amado de Deus.

Por estas atitude, a experiência vivida no meio de vocês, me tornou “pai de família”. Sim eu senti e sinto vocês como filhos e filhas! E agora, enriquecido por ela, posso tirar deste tesouro as coisas passadas vividas aqui e as novas que virão para o bem da Diocese que me disponho a servir! Muito obrigado por vocês fazerem parte integrante da minha vida e do meu pastoreio!

AGRADECIMENTOS

1. Aos Padres, meus primeiros colaboradores.

É ao presbitério como um todo que é confiada a missão evangelizadora de uma Igreja Particular! Sempre contei com vocês, em primeiro lugar porque acredito na graça sacramental que nos constituiu pastores da Igreja, configurados a Cristo Senhor!

Com certeza, na atual estrutura da Igreja, os padres são os canais pelos quais passa o fluxo das orientações pastorais e o entusiasmo com que são aplicadas na vida do povo cristão.

Junto com vocês realizamos O 4° Congresso Eucarístico Diocesano, as Assembléias Diocesanas, as Santas Missões Populares, a formação do povo de Deus, A Dedicação da Catedral, enfim juntos carregamos o peso e as alegrias de todo o pastoreio da nossa Igreja.

O que lhes dizer neste momento, além de um sincero “muito obrigado”? Tenho sim algo a lhes dizer, ou melhor a reforçar, pois vocês já conhecem: permaneçam unidos. “Ao presbitério, como um todo é confiada a missão evangelizadora da Igreja!”

Sempre somos chamados à unidade, mas de maneira especial quando, por situações peculiares, como esta que estamos vivendo, é necessário cerrar as fileiras e viver um por todos e todos por um! E sem desânimo porque agora a responsabilidade aumenta enquanto falta o sinal visível da autoridade do bispo!

Atinjam a força na intimidade com o Senhor, aprofundando na oração suas mais profundas motivações ministeriais e na comunhão fraterna o seu trabalho pastoral, acreditando no irmão presbítero e na caminhada da Igreja diocesana.
Garanto-lhes que diariamente intercederei por vocês diante do Senhor para que correspondam cada vez mais ao dom que receberam pela imposição das mãos para a construção do Corpo de Cristo que é a Igreja.

Ao agradecer a todos, sinto o dever de dirigir um agradecimento especial ao Pe. Eduardo de Freitas Valença que, como meu vigário geral, me acompanhou e sustentou comigo as alegrias e os desafios desta jornada, sendo fiel companheiro e verdadeiro irmão.

2. Aos meus colaboradores mais próximos, da Cúria, do Seminário, do Secretariado de Pastoral, da Equipe de Coordenação diocesana de Pastoral, da Administração da Diocese, dos Organismos de Comunhão e Participação, das Entidades como CEDAPP, ASEVI, PODE, CÁRITAS, CEDEC, da PASTORAL DA CRIANÇA, desejo dizer, além do muito obrigado, da intensa e recíproca estima que cresceu entre nós.

Não quis ter executores de ordens, mas verdadeiros colaboradores e parceiros na condução da diocese e dos seus projetos: neste sentido não fiquei decepcionado, pelo contrário crescemos juntos e creio que alcançamos um grande entendimento e, por que não dizer, um alto nível de competência profissional.

3. A todas as Pastorais, da catequese à liturgia, da Past. Carcerária à Past. Familiar, enfim a todas o meu obrigado de pastor e um incentivo a continuar com garra cada vez maior no serviço e na construção do Reino.

4. Aos Colégios diocesanos, seus diretores Pe. Adilson Simões e Pe Geraldo de Magela Silva, professores, funcionários e alunos, quero manifestar a minha alegria por termos ampliado os nossos horizontes, vencidos grandes desafios e sobretudo por temos-nos mantidos fiéis na transmissão de uma educação que faz a diferença pela competência e a inspiração que os valores cristãos proporcionam aos nossos alunos e suas famílias.

5. Às religiosas que, com sua vida e doação apontam para o absoluto de Deus e os valores do Reino, quero mais uma vez dizer-lhes a minha convicção da sua indispensável presença na Igreja. O carisma de cada Congregação é um dom para nós e garantia do florescimento vocacional das nossas comunidades.

6. Aos Movimentos e Associações repito o que o saudoso e Bem-aventurado Papa João Paulo II afirmou: “Vocês são a expressão da dimensão carismática da Igreja, da novidade do Espírito”. Com seu entusiasmo e testemunho renovam a Igreja. Lembro aqui a RCC, o Movimento dos Focolares, as ENS e o ECC. Incluo de maneira particular neste momento a Comunidade CRHISTÓS que completou 10 anos de existência e atuação em nossa diocese.

7. Ao Setor Juventude e aos jovens da nossa diocese, sobretudo à turma dos “infiltrados e barulhentos”. Sem a juventude a nossa Igreja estaria fadada à morte e perderia a esperança.

João Paulo II ao nomear-me bispo de Pesqueira me recomendou: “Cuida dos jovens que são a esperança da humanidade!” Procurei ser fiel e vocês corresponderam! Repito o que lhes falei em certa circunstância: “Vocês são a luz dos meus olhos! Eu confio em vocês!” Entre os jovens quero destacar aqueles que sentiram o chamado a seguir Jesus no ministério ordenado ou na vida religiosa, entregando a sua vida a serviço dos irmãos e do Reino na Igreja. A eles, meninos e meninas, o meu incentivo e o meu carinho.

8. Aos poderes públicos quero expressar a minha estima e consideração, pois ao longo destes anos conseguimos entrar num diálogo fecundo. Estimulamos a Diocese a se sensibilizar e agir, diante dos problemas endêmicos que assolam a nossa região, visando propor e articular o diálogo entre a sociedade civil e os Poderes públicos para a implementação da Política de Segurança alimentar e nutricional sustentável, como eixo dos programas sócio ambientais e do desenvolvimento dos municípios no território de abrangência da nossa diocese de Pesqueira. Nesse trabalho de diálogo e cooperação entre a sociedade civil e os poderes públicos, a Igreja, com sua força moral, se coloca a serviço como ponte, como canal, como estímulo e como voz profética que interpela a execução das políticas públicas e que interpreta e explicita o clamor dos pequenos e as necessidades básicas das camadas mais carentes da população.

Recolhemos bons frutos neste sentido, porque em 2007 conseguimos formar o Consórcio dos 13 Municípios da nossa Diocese ao qual foi dado o nome de Dom Severino Mariano de Aguiar. Ele hoje é o instrumento jurídico que permitirá a captação de recursos de alguns Ministérios e Secretarias e da sua aplicação nas áreas da educação, saúde, geração de renda, captação de recursos hídricos com arranjos produtivos locais que beneficiam sobretudo as famílias do campo e absorvem as forças da juventude, dando-lhe novas perspectivas de emprego.

É também instrumento de integração entre os gestores municipais, chamados a superar os limites e as visões parciais de seu município para enxergar a vocação do território numa abrangência maior de recursos e projetos comuns, capazes de dar respostas mais adequadas e satisfatórias aos problemas mais agudos da nossa população, visando a riqueza do nosso povo que provém dos recursos humanos presentes nele: a inteligência, a criatividade, a cultura em todas as suas expressões e a capacidade de enfrentar os desafios mais fortes com dignidade e movido pela alegria e esperança.

A todos quantos tive a oportunidade de conhecer, de apertar a mão, de servir de algum modo, nem que fosse com uma palavra de conforto ou com um abraço, levo no meu coração. Gostaria de não ter passado em vão na vida de ninguém, mas de ter sido um sinal do amor compassivo e terno de Deus na vida do povo.

Entrego tudo a Ele e à benévola compreensão dos meus irmãos e irmãs.

E agora me espera uma nova missão, um novo campo de trabalho: a Diocese de Barra do Piraí - Volta Redonda. Vou sereno e confiante, grato a Deus pela experiência feita aqui com vocês e no meio de vocês, de coração aberto e sempre pronto a “dar a vida pelos irmãos!”. Amém!



Catedral de Santa Águeda, Pesqueira, 24/07/2011

Bispo Diocesano Dom Francisco Biasin

Nenhum comentário: