terça-feira, 2 de agosto de 2011

CULTURA: ‘Cultura para Todos’ pode ter shows católicos uma vez por mês; peças de teatro, não.


Show do padre atraiu multidão de católicos









A juventude católica voltarredondense parece ter ficado satisfeita com a iniciativa da prefeitura em contratar o show do padre Reginaldo Manzotti como parte da programação do 57º aniversário do município. O evento, realizado na Praça Brasil, na Vila, com toda a pompa e circunstância, reuniu cerca de 10 mil católicos que fizeram bom proveito da oportunidade. Pudera. Segundo depoimento de muitos deles, são poucos os eventos realizados em Volta Redonda voltados para este segmento religioso - ao contrário do que acontece com os evangélicos, que todo mês participam do ‘Projeto Gospel’ da secretaria de Cultura como parte do ‘Cultura para Todos’.

É por essas e outras que quem compareceu ao show católico se esbaldou e com razão. Para quem não se lembra, na edição n.º 735 o aQui mostrou a insatisfação de parte da juventude católica quanto ao número pífio de apresentações católicas se comparado ao número de eventos evangélicos.

Na ocasião, o vereador Carlos Roberto Paiva – católico praticante e bastante chegado ao Palácio 17 de Julho – foi procurado pelo jornal para que dissesse se tomaria alguma atitude quanto ao assunto. Se toparia, por exemplo, sugerir ao prefeito Neto que contratasse uma atração que agradasse aos jovens da Igreja Católica. A resposta de Paiva foi surpreendente: “O que eu espero da Igreja, como católico, são as missas, a participação nas pastorais, a Campanha da Fraternidade. Não tenho essa expectativa de shows. Essa é minha posição pessoal”, frisou Paiva, negando, na época, ter conhecimento de pedidos dos jovens quanto à inclusão de eventos católicos na agenda da secretaria de Cultura. “Essas reclamações é você que está dizendo que existem. Não vejo isso no meu meio, nem na minha comunidade”, concluiu, dando o assunto por encerrado.

Mas o mais surpreendente da história é que, após o sucesso do show do padre Manzotti, o que não faltou foi gente dando “apoio” à iniciativa da prefeitura. Tanto que, de acordo com o que está sendo veiculado nas redes sociais, a secretaria de Cultura estaria programando para o dia 17 de agosto, em duas sessões no Cine 9 de Abril, uma apresentação do grupo católico “Ministério Adoração e Vida”.

A boa nova espalhada pela internet, contudo, traz uma informação bastante reveladora. De acordo com ela, teria partido do vereador Paiva – que, lembrem-se, afirmou não ter visto nem ouvido nenhum jovem católico reclamando de nada – a iniciativa de sugerir ao prefeito Neto que incluísse shows católicos na grade de programação da secretaria de Cultura. Tem mais. Ficou acertado que, se o show do Ministério Adoração e Vida for sucesso absoluto e lotar o Cine 9 de Abril nas duas sessões – 19 e 21 horas –, a secretaria de Cultura acrescentará à programação da pasta um show católico por mês. A informação foi confirmada na tarde de quinta, 28, pela assessoria de imprensa da prefeitura de Volta Redonda.

Se por um lado os católicos, até prova em contrário, não têm mais do que reclamar, por outro os fãs de peças teatrais já podem começar a chiar. É que, pelo menos por enquanto não está nos planos da secretaria de Cultura incluir peças de teatro na programação do ‘Cultura para Todos’. Segundo as informações que o órgão passou à equipe de reportagem, desde o início do projeto, em 2009, foram apresentados 19 espetáculos teatrais. Para quem não se lembra, naquele tempo alguns grupos de teatro da cidade do aço eram convidados para fazer a abertura das apresentações da noite. Atualmente isto não acontece mais e os boatos eram de que o prefeito Neto teria vetado a iniciativa por entender que teatro não atrai público.

Procurado pelo aQui para falar do assunto, o secretário de Cultura, Moacir de Castro Filho, o Moa, negou que isto tenha acontecido. “A abertura das atrações principais não é propícia para peças de teatro por algumas razões: a primeira delas é o tempo disponível para a apresentação – 30 minutos –, que é curto em se tratando de peças teatrais”, justifica, acrescentando que o show de abertura funciona como uma espécie de ‘acolhida’, quando a comunidade chega ao local e se ambientaliza. “Esse movimento não é compatível com o ambiente de silêncio e concentração exigido pelo teatro”, argumenta.

Ainda segundo Moa, não pode ser ignorada a questão da montagem de cenários e equipamentos, o que complica o meio de campo. “Tivemos a experiência com uma peça de teatro em abertura e essa percepção se confirmou”, garante Moa, negando os boatos de que o prefeito teria vetado a contratação de peças teatrais. “São boatos. A busca e a solicitação do público são por atrações musicais, soma-se a isto a qualidade das produções apresentadas”, frisa, destacando que ele até busca junto aos produtores teatrais, mas não encontra com facilidade peças em formatos que se adaptem ao projeto. “Muito disso em função de cenários e transporte para montagem do espetáculo”, sublinha Moa.

Questionado sobre o que tem sido feito no sentido de beneficiar os grupos teatrais da cidade do aço, Moa afirma que a SMC, através da avaliação da Comissão de Escolha da Lei de Incentivo à Cultura, recebe projetos contemplados que serão beneficiados pelo município. “Qualquer grupo ou pessoa que tenha um projeto cultural pode inscrever-se – inclusive companhias de teatro”, informa. Em relação à possibilidade de que os grupos locais se apresentem no Cine 9 de Abril, dentro do ‘Cultura para Todos’, Moa afirma que não recebeu “nenhuma proposta de apresentação de companhias teatrais de Volta Redonda”. Mas garante que, fora do projeto, a SMC “sempre se dispõe a apoiar e facilitar no que for possível as apresentações teatrais”.

Ainda de acordo com Moa, a secretaria de Cultura dará início em agosto a um curso de Teatro e Circo, em parceria com a secretaria estadual de Cultura, através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Cultural (PADEC) – e também junto ao Projeto Circuito das Artes. Segundo o secretário, durante o curso serão ministradas oficinas, promovendo capacitação e troca de experiências para as companhias teatrais de Volta Redonda. Contudo, contratar peças teatrais para o ‘Cultura para Todos’, pelo menos por enquanto, está fora de cogitação. “Mas estamos trabalhando para continuar garantindo cultura para todos, não só no que diz respeito à democratização e ao acesso do público, mas também para a diversidade de todas as manifestações culturais”, finalizou.

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