quinta-feira, 17 de março de 2011

Em seu novo livro, Papa conta temores de Jesus como homem.

Percorrendo os novos capítulos e as perspectivas finais do novo livro de Joseph Ratzinger, "o leitor é conduzido por caminhos ascendentes até um emocionante encontro com Jesus, uma figura familiar que parece estar ainda mais próxima com sua humanidade, bem como com sua divindade".

O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, comenta dessa forma o "Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém até à Ressurreição", assinado pelo Papa e apresentado na quinta-feira, no Vaticano, junto ao escritor e germanista Claudio Magris.


Mais de 300 páginas de "testemunho comovente, fascinante, libertador", tanto que, "finalizada a leitura - prosseguiu o cardeal - o desejo é de continuar o diálogo, não só com o autor, mas também com Aquele de que ele fala".

O segundo volume da trilogia - à qual ainda falta uma parte sobre a infância de Jesus -, que o teólogo Joseph Ratzinger dedica ao Nazareno, já é um bestseller, dado o grande interesse gerado desde a primeira edição - de 1.200.000 exemplares -, já esgotada.


Enquanto isso, para os amantes da tecnologia digital, chega também o e-book do livro, que, curiosamente, foi escrito por seu ilustre autor a lápis. Portanto, não é uma obra de magistério, mas uma análise histórico-teológica que Ratzinger não fecha à crítica e sobre a qual não reivindica a infalibilidade.


Reconhecendo o contributo fundamental de vários estudiosos das Sagradas Escrituras, o cardeal Ouellet afirmou, de fato, que é descoberta no livro do Papa Teólogo "a aurora de uma nova era da exegese", em que a comparação é possível e "frutífera".


O purpurado começa, depois, a analisar o conteúdo do livro, que sintetiza em algumas questões-chave, incluindo precisos "nós" a serem desfeitos necessariamente para poder levar ao centro da fé a Palavra de Deus: "Em primeiro lugar, a questão do fundamento histórico do cristianismo, que atravessa os dois volumes da obra", explica ele, admitindo que não se trata de uma enumeração exaustiva. Depois, o "messianismo de Jesus" e "expiação dos pecados por parte do Redentor".


Além disso, "o sacerdócio de Cristo em relação à sua realeza e seu sacrifício"; e, finalmente, "a questão da ressurreição de Jesus, sua relação com o corpo e seu vínculo com a fundação da Igreja".


Também o triestino Magris, entre os favoritos para o prêmio Nobel de Literatura, reconheceu como "interessante" que o Papa tenha recorrido ao método histórico, que, "além de ser científico, é propriamente cristão", na medida em que "Cristo entrou na história". Obviamente, um método desse tipo pressupõe limites, pois "não pode demonstrar que Jesus é o Filho de Deus", embora possa ser um método para aproximar-se da verdade.


Para Magris, esta obra de Ratzinger pode ser destinada a toda a humanidade, católicos ou não, crentes ou não: "Se o Papa tivesse nos falado sobre coisas distantes de nós, talvez não nos interessássemos; se o Cristo do Monte das Oliveiras tivesse sido um herói, um super-homem, eu teria pouca coisa para pedir-lhe, eu o sentiria distante; no máximo, poderia admirá-lo", confessou.


No entanto, Jesus, que vence a angústia não com um "milagre", mas por sua própria força e vontade, "pode ajudar cada um de nós também a lidar com situações não transcendentes, mas que marcam a vida cotidiana do homem, como as dores, as doenças e a perda dos entes queridos".


"A natureza humana de Jesus reluta, de fato, como toda natureza humana, diante do sofrimento, da morte, tem um medo abismal diante dela, que volta à alma, como Jesus diz explicitamente, triste a ponto de morrer". No entanto, o sofrimento do Nazareno não termina após os três dias, mas "continua até o final da redenção".


"E essa eternidade - explica Magris, citando o pensamento do grande teólogo jesuíta Karl Rahner - não é ‘a vida ultraterrena', uma ilimitada continuação do tempo em outro lugar, como um aposentado que se muda para outro país. A eternidade não é o tempo que continua sem fim, eliminando em um instante o anterior. A eternidade é a vida em sua epifania: a dor, a felicidade, o amor, sempre presentes; é o instante de Michelstaedter, vivido como se fosse o último."


"A expressão ‘vida eterna' - escreve Ratzinger em uma das mais belas páginas do livro - não é a vida que vem após a morte, enquanto a vida presente é passageira; a ‘vida eterna' significa a própria vida, que pode ser vivida também no tempo e que não é questionada pela morte física nunca mais. E isso é o que nos interessa: abraçar a vida desde agora, a verdadeira vida, que não pode ser destruída por nada nem por ninguém."

(Mariaelena Finessi)


Bento XVI enfrenta cinco questões disputadas em seu novo livro.


Bento XVI, ao apresentar uma interpretação da Sagrada Escritura que harmoniza análise histórica e fé, em seu livro “Jesus de Nazaré, Da entrada em Jerusalém até à Ressurreição” (Principia Editora), esclarece cinco “questões disputadas” sobre a vida de Cristo que ainda hoje provocam intensos debates entre teólogos e a própria opinião pública.


Foi o que explicou na tarde dessa quinta-feira o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos e relator do Sínodo sobre a Palavra de Deus (2008), ao apresentar a obra na Sala de Imprensa da Santa Sé.

O purpurado canadense reconheceu que, ao esclarecer essas questões disputadas, esta obra, que leva a firma de Joseph Ratzinger - Bento XVI, "terá um efeito libertador para estimular o amor pela Sagrada Escritura”.

Fundamento histórico

A primeira questão é o fundamento histórico do cristianismo. “Dado que o cristianismo é a religião do Verbo encarnado na história, para a Igreja é indispensável ater-se aos fatos e aos acontecimentos reais, precisamente porque eles contêm ‘mistérios’ que a teologia deve aprofundar, utilizando chaves de interpretação que pertencem ao domínio da fé”.

“Desta perspectiva, compreende-se o interesse do Papa pela exegese histórico-crítica, que ele conhece bem, e da qual tira o melhor, para aprofundar nos acontecimentos da Última Ceia, no significado da oração no Getsemani, na cronologia da paixão e, em particular, nas marcas históricas da Ressurreição”.

Jesus, um revolucionário?

A segunda questão afeta o messianismo de Jesus. “Alguns exegetas modernos fizeram de Jesus um revolucionário, um professor de moral, um profeta escatológico, um rabino idealista, um louco de Deus, um messias em certo sentido à imagem de seu intérprete, influenciado pelas ideologias dominantes”.

“A exposição de Bento XVI sobre este ponde está difundida e bem enraizada na tradição judaica”, afirmou. “Jesus declara diante do Sinédrio que é o Messias, esclarecendo a natureza exclusivamente religiosa do próprio messianismo. Por esse motivo, é condenado por blasfemo, pois se identificou com o Filho do Homem que vem sobre as nuvens do céu”.

O Papa sublinha que o objetivo do messianismo de Jesus é “instaurar o novo culto, a adoração em Espírito e Verdade, que envolve toda a existência pessoal e comunitária, como uma entrega de amor pela glorificação de Deus na carne”, indicou o prefeito da Congregação para os Bispos.

Expiação dos pecados

O terceiro debate esclarecido pelo Santo Padre afeta a “redenção e o lugar que nela deve ocupar a expiação dos pecados. O Papa enfrenta as objeções modernas a esta doutrina tradicional. Um Deus que exige um expiação infinita não é acaso um Deus cruel, cuja imagem é incompatível com nossa concepção de um Deus misericordioso?”

Para responder a essa pergunta, Ratzinger "demonstra como a misericórdia e a justiça se dão as mãos no contexto da Aliança querida por Deus. Um Deus que perdoa tudo sem se preocupar com a resposta que sua criatura tem de dar estaria tomando a sério a Aliança e sobretudo o horrível mal que envenena a história do mundo?”

Essas perguntas convidam “à reflexão e em primeiro lugar à conversão”. “Não é possível ter uma visão clara destas questões últimas permanecendo neutros ou se mantendo à distância. É necessário implicar a própria liberdade para descobrir o sentido profundo da Aliança, que justamente implica o compromisso da liberdade de cada pessoa”.

A conclusão de Bento XVI é que “o mistério da expiação não deve ser sacrificado por nenhum racionalismo prepotente”.

Sacerdócio de Cristo

Outra questão candente é a do sacerdócio de Cristo. “Segundo as categorias eclesiais de hoje, Jesus era um leigo revestido de uma vocação profética. Não pertencia à aristocracia do Templo e vivia à margem desta instituição fundamental para o povo de Israel. Este fato levou muitos a considerar a figura de Cristo como totalmente alheia e sem nenhuma relação com o sacerdócio. Bento XVI corrige esta interpretação, apoiando-se firmemente na Carta aos Hebreus, que fala amplamente do sacerdócio de Cristo”.

“O Papa responde às objeções históricas e críticas mostrando a coerência do sacerdócio novo de Jesus com o culto novo que veio a estabelecer na terra, obedecendo a vontade do Pai. O comentário da oração sacerdotal de Jesus é de uma grande profundidade e leva o leitor a horizontes que nunca pudera imaginar. A instituição da Eucaristia aparece neste contexto, com uma beleza luminosa que se reflete na vida da Igreja como seu fundamento e manancial perene de paz e alegria”.

Ressurreição

A última questão mencionada pelo cardeal Ouellet é a ressurreição. Bento XVI afirma que “a fé cristã tem sentido ou desfalece em virtude da verdade do testemunho segundo o qual Cristo ressuscitou dentre os mortos”.

“O Papa lança-se contra elucubrações exegéticas que declaram como compatíveis o anúncio da ressurreição de Cristo e a permanência de seu cadáver no sepulcro – explica Oullet –. Exclui estas absurdas teorias observando que o sepulcro vazio, se bem que não seja uma prova da ressurreição, da qual ninguém foi testemunha, fica como um sinal, um pressuposto, uma marca deixada na história por um acontecimento transcendente”.

A importância histórica da ressurreição se manifesta no testemunho das primeiras comunidades, que deram vida à tradição do domingo como sinal de identificação e pertença ao Senhor.

“Se se considera a importância que o sábado tem na tradição veterotestamentária, baseada no relato da criação e no Decálogo, torna-se evidente que só um acontecimento com uma força surpreendente poderia evocar a renúncia do sábado e sua substituição pelo primeiro dia da semana”, escreve o Papa.

Por isso, faz esta confissão: “Para mim, a celebração do Dia do Senhor, que distingue a comunidade cristã desde o início, é uma das provas mais fortes de que aconteceu uma coisa extraordinária nesse dia: a descoberta do sepulcro vazio e o encontro com o Senhor ressuscitado”.


Em seu novo livro, Bento XVI quer encontrar o “Jesus real”.


"Este é o primeiro livro de teologia que me transmite uma verdadeira emoção: tirou-me lágrimas”, confiava hoje um jornalista “vaticanista” italiano a seus colegas, após ter lido o segundo volume da obra de Bento XVI sobre Jesus, “Jesus de Nazaré, Da entrada em Jerusalém até à Ressurreição” (Principia Editora, Portugal).

Que método o Papa utiliza para alcançar tal resultado? Se bem que se trata de um livro de rigorosa pesquisa, chega a conclusões como esta: “A vitória do amor será a última palavra da história do mundo” (trad. livre, N. do T.).

Encontramo-nos ante uma exegese (a interpretação da Sagrada Escritura) que comunica a esperança de “encontrar Jesus e crer n’Ele”. Aplica as indicações do Concílio Vaticano II na “Dei Verbum” – não suficientemente exploradas –, e cita recentes publicações alemãs.

O Papa explica seu método no prólogo. Cita autores (dos quais faz rigorosamente referência em uma bibliografia abundante, ainda que não asfixiante”: Martin Hengel, Peter Stuhlmacher e Franz Mußner, os quais lhe “confirmaram explicitamente no projeto de avançar” neste trabalho e “de acabar a obra iniciada”: “um precioso alento”.

Evoca também o “Jesus” publicado em 2008 pelo que ele chama de “irmão ecumênico”, o teólogo protestante Joachim Ringleben. Sublinha que entre os dois livros há uma “profunda unidade na compreensão essencial da pessoa de Jesus e de sua mensagem”.

E acrescenta: “Se bem que com enfoques diferentes, é a mesma fé que atua, produzindo um encontro com o mesmo Senhor Jesus”. O Papa espera que ambas publicações possam constituir “um testemunho ecumênico que ao seu modo possa servir à missão fundamental comum dos cristãos”.

Cita também o livro de crítica bíblica de Marius Reiser, de 2007, do qual recolhe “indicações relevantes para as novas vias da exegese, sem abandonar a importância que sempre tem o método histórico-crítico”.

Harmonizar dois métodos de interpretação

O Papa, de fato, sublinha os frutos do método histórico-crítico, o estudo das Escrituras à luz das circunstâncias históricas. “Uma coisa me parece óbvia: em duzentos anos de trabalho exegético, a interpretação histórico-crítica já deu o que tinha de dar de essencial”.

Mas para que a exegese possa se renovar, o Papa considera que é necessário que dê “um passo metodologicamente novo, voltando a se reconhecer como disciplina teológica, sem renunciar a seu caráter histórico”.

Ele propõe passar de uma “hermenêutica positivista” a uma “hermenêutica da fé”, desenvolvida de maneira concreta”, de modo “conforme ao texto”, unindo-se a uma “hermenêutica histórica, consciente de seus próprios limites para formar uma totalidade metodológica”.

“Esta articulação entre dois gêneros de hermenêutica muito diferentes entre si é uma tarefa que há de se realizar sempre de novo”, afirma.

Um passo na direção adequada

Ele acrescenta que a harmonia entre “hermenêutica da fé” e “hermenêutica histórica” não só é possível, mas sobretudo fecunda: “por meio dela as grande intuições da exegese patrística poderão voltar a dar fruto em um contexto novo”, como consegue fazer precisamente Marius Reiser.

Modestamente, reconhece: "Não pretendo afirmar que em meu livro esteja já totalmente acabada esta integração das duas hermenêuticas. Mas espero ter dado um passo em tal direção. No fundo, trata-se de retomar finalmente os princípios metodológicos para a exegese formulados pelo Concílio Vaticano II (cf. “Dei Verbum” 12), uma tarefa em que, infelizmente, pouco ou nada se fez até agora”.

No mesmo prólogo, o Papa recorda que não quis escrever uma “Vida de Jesus”. O que busca, recorda citando o primeiro volume desta obra, é apresentar “a figura e a mensagem de Jesus”.

“Poder-se-ia dizer, exagerando um pouco, que eu queria encontrar o Jesus real”. O “Jesus histórico” que alguns teólogos e exegetas apresentam “é demasiado insignificante”, “está excessivamente ambientado no passado para dar boas possibilidades de uma relação com Ele”.

Com a hermenêutica da fé e a hermenêutica histórica, o Papa tentou “desenvolver um olhar para o Jesus dos Evangelhos, um ouvi-lo que pudesse se converter em um encontro; mas também na escuta em comunhão com os discípulos de Jesus de todos os tempos, chegar à certeza da figura realmente histórica de Jesus”.

O bispo de Roma reconhece que este objetivo era mais difícil no segundo volume, porque toca os momentos culminantes da morte e ressurreição.

“Tentei me manter à margem das possíveis controvérsias sobre muitos elementos particulares e refletir unicamente sobre as palavras e as ações essenciais de Jesus. E isso guiado pela hermenêutica da fé, mas tendo em conta ao mesmo tempo, com responsabilidade, a razão histórica, necessariamente incluída nesta mesma fé”.

“Ainda que sempre ficarão naturalmente detalhes a discutir, espero no entanto que tenha podido me aproximar da figura de Nosso Senhor de um modo que possa ser útil a todos os leitores que desejam se encontrar com Jesus e crer n’Ele”, conclui.

Talvez seja este encontro que tenha suscitado a “emoção profunda” do jornalista italiano.





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