quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ponto de Vista

A recente entrevista do psicanalista George Gouvêa, presidente da ONG Grupo Pela Vida, ao portal de notícias UOL é, no mínimo, estranha. Ao comentar o surto de aids no Brasil, Gouvêa comete o erro crasso de responsabilizar a Igreja e setores conservadores pelo fracasso das políticas públicas de prevenção da doença. Declara o psicanalista: “Há uma intromissão em políticas públicas de saúde no Estado laico de determinados setores religiosos. Se o Estado é laico, o nosso ordenamento político, com todo respeito, não é a Bíblia, é a Constituição”.


George Gouvêa parece não saber que a Constituição Federal foi promulgada “sob as bênçãos de Deus”. Os direitos, em geral, pressupõem um fundamento. E o que seria esse fundamento, senão a lei natural? A Igreja, sendo uma instituição formada por cidadãos, deve opinar e zelar para que os governos democraticamente instituídos respeitem a dignidade e o valor da vida humana em suas ações.


Todavia, o respeito à dignidade da pessoa humana é o que mais está em falta nos projetos do governo, inclusive os de combate à aids. O enfoque exclusivo na irresponsável distribuição de camisinhas e outros contraceptivos já se mostrou um verdadeiro fracasso. É antes o problema do que a solução. Além de não ser cem por cento segura, a camisinha estimula o sexo casual e a banalização dos relacionamentos humanos. Não é à toa que o Brasil é o país onde os adolescentes perdem a virgindade mais cedo.


Fechar os olhos para isso é contraproducente. Até mesmo a Universidade Harvard já reconheceu que a melhor maneira de se combater as doenças sexualmente transmissíveis é a apresentada pela Igreja: castidade e fidelidade conjugal. Uganda, por exemplo, conseguiu reduzir de 30% para 7% o número de soropositivos no país, através de campanhas que incentivam a abstinência e a monogamia.


Contudo, a atitude desonesta de Gouvêa em se eximir de suas responsabilidades e colocar a culpa em outrem, no caso, na Igreja, não é novidade. A prática remonta o primeiro século, quando Nero, após atear fogo em Roma, responsabilizou os cristãos pela tragédia. A ordem é essa: na dúvida, culpe a Igreja.


Assim, um skinhead mata um homossexual e a culpa é do Padre Paulo Ricardo; uma mulher é estuprada e a culpa é da Igreja; crianças morrem de fome na África e a culpa é do trono do Papa. E ai daquele que se atrever a contestar. Corre o risco de ser amordaçado e xingado de xiita por gente tão “tolerante” que faz campanha para criminalizar opiniões alheias.


O filósofo Luiz Felipe Pondé, em uma recente entrevista sobre o conceito de “politicamente correto”, declarou que “o único preconceito que no jantar inteligente é aceito é contra católico”. Há alguns anos, isso soaria como uma bobagem do filósofo. Hoje, no entanto, a declaração de Pondé não poderia ser mais lúcida!


Renan Cunha é estudante de Jornalismo na UEL.

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