terça-feira, 19 de junho de 2012

Cidades Sustentáveis e o Branding de Políticas e Lugares

O exemplo do Programa Cidades Sustentáveis é o que me motivou a escrever este post, por já começar a mostrar frutos de um trabalho notável de articulação da sociedade civil, mídia e iniciativa privada. Recomendo uma visita ao site do programa, que em poucas palavras, consiste em uma agenda de ações e iniciativas do governo local para a sustentabilidade, estruturada em 12 eixos temáticos:
  • Governança
  • Bens Naturais Comuns
  • Equidade, Justiça Social e Cultura de Paz
  • Gestão Local para a Sustentabilidade
  • Planejamento e Desenho Urbano
  • Cultura para a Sustentabilidade
  • Educação para a Sustentabilidade e Qualidade de Vida
  • Economia Local Dinâmica, Criativa e Sustentável
  • Consumo Responsável e Opções de Estilo de Vida
  • Melhor Mobilidade, Menos Tráfego
  • Ação Local para a Saúde
  • Do Local para o Global
LIÇÃO DE ARTICULAÇÃO
O Programa Cidades Sustentáveis tem um número grande de participantes (que preferi não enumerar aqui pois são muitos, mas você encontra no site do programa), da iniciativa privada ao terceiro setor. O que achei oportuno destacar é que há uma lição de articulação de atores sociais que é um belo exemplo a ser seguido em qualquer localidade que queira empreender um trabalho de Place Branding. Não importa de quem seja a iniciativa de promover a localidade, seja para a revitalização de um bairro ou o desenvolvimento econômico de um estado, haverá sempre a necessidade de envolver outros setores, outros atores, outras perspectivas, pois no final, sozinho, nem mesmo o poder público consegue implantar um projeto de marca-localidade que seja relevante a seus públicos. No caso do ‘Cidades Sustentáveis’, o Poder Público está sendo convidado a assumir-se parte do programa através do compromisso público que os pré-candidatos e os partidos estão fazendo. Ao assinar a carta-compromisso eles se comprometem em seguir a agenda de ações e a publicarem uma prestação de contas baseada nos indicadores elaborados para o ‘Cidades Sustentáveis’.
BRANDING E A POLÍTICA DE INFLUÊNCIA
Um segundo ponto que eu gostaria de destacar, e está relacionado a alguns assuntos que retomaremos em outros momentos do blog, é em relação ao tipo de política que será praticada com mais frequência nesta eleição (palpite meu). Há paralelos entre princípios que identificamos em branding (criação e gestão de marcas) e o que estou chamando de uma política de influência.
A marca é uma construção simbólica e, na sua criação e proposição de valor para seus públicos, a matéria-prima é o conjunto de percepções e associações que são entrelaçados e administrados conforme a influência que exercem sobre seus públicos-alvo. O mundo em que vivemos hoje já está saturado de uma linguagem apelativa / argumentativa / racional com a qual muitos produtos / serviços / marcas se apresentam como sendo os melhores e merecedores da sua preferência. Grandes marcas são construídas de maneira mais complexa e sutil, tornando-se capazes de influenciar seus públicos em diversos níveis de percepção.
Anúncio - Voto SustentávelAgora pense na linguagem usada na construção de uma plataforma política. Se estabelecermos um paralelo entre a criação de marcas – branding – e a construção de uma plataforma política, veremos que ambos têm se utilizado ultimamente de ferramentas mais soft, onde a força está na capacidade de influenciar seus públicos através de diversos níveis de percepção e emoção, conduzindo a uma projeção das aspirações das pessoas na marca.
Ao assinar o compromisso público de seguir a agenda ‘Cidades Sustentáveis’, os políticos não estão sendo coagidos pela força da lei a seguirem tais ações, nem estão submetidos aos tradicionais meios de ‘comando e controle’. A força que os moverá a assumir e honrar este compromisso é a necessidade de se gerar valor para sua ‘marca-política’. Esta imagem percebida, ou podemos chamar de imagem de sua ‘marca-política’, é um ativo importante na sociedade em que vivemos. Já sabemos que discurso e promessas acrescentam muito pouco ou quase nada a essa ‘marca-política’, e muitas vezes nem mesmo a assinatura de um político significa um compromisso real (pelo menos é assim que as pessoas percebem).  Como incluir na agenda de campanha o tema sustentabilidade indo além das palavras de um discurso com jeitão de blábláblá?
O programa ‘Cidades Sustentáveis’ entende esta necessidade e oferece visibilidade para incrementar a marca dos que quiserem se comprometer com o programa . O programa construiu uma consistente plataforma para sustentabilidade das cidades, escapando da superficialidade com que o termo tem sido empregado e, ao articular a mídia e a sociedade de maneira consciente, oferecem a plataforma sobre a qual muitos políticos poderão se apoiar. Fazem uso dos meios de comunicação para divulgar a plataforma e distinguir os que aderirem ao programa. Mas as mesmas plataformas que podem promover a imagem dos políticos que nelas se apoiarem, podem também oferecer um belo tombo aos oportunistas, que não levarem a sério essa enorme mobilização de pessoas sérias que há em torno do programa.
Vida longa a esta e a outras iniciativas cidadãs em prol de maior participação na vida pública.

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