quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

De onde emana a força da personalidade de Jesus?

Dr. Frei Antônio Moser
Teólogo

Há poucos dias atrás publicávamos uma crônica sobre a presença de Deus em nossa sociedade. Anotávamos que, ao contrário do que possa parecer, Deus continua vivo e atuante. Nessa mesma linha conviria lançar um olhar sobre Jesus Cristo. Não são poucos os livros que o classificam como "o maior", mestre, psicólogo, etc. Isso significa que Ele é uma unanimidade em termos de ser um personagem importante. Forçosamente não é em termos de aceitação ou não de seus ensinamentos e de seus posicionamentos. Ou seja: não é fácil caracterizá-lo a partir dos seus relacionamentos

De fato, se por um lado desde o início de sua vida pública uma multidão se sentia fascinada por Ele, por outro lado, pequenos grupos o odiaram desde o início. Com isso a objetividade nos obriga a reconhecermos que a vida de Jesus foi toda perpassada por relações paradoxais: de admiração e desprezo, de amor e ódio.

Mas não foi só durante sua vida que Ele despertou tais sentimentos: ao longo dos dois mil anos de sua história, o mesmo esquema dialético se repete. Ninguém fica indiferente diante Dele. Ou o ama apaixonadamente ou o odeia de morte. O mesmo ocorre em relação aos seus seguidores.

Isso nos leva a pressupor que sua personalidade era revestida de uma força incomum, tanto em termos de atração, quanto de retração. E daí também brota uma questão de fundo: de onde emana a força da personalidade de Jesus? Claro que não existe resposta fácil, nem acabada para essa questão. Mas com certeza trata-se de uma questão importante tanto em termos teológicos, quanto antropológicos. Será que essa força lhe vem diretamente de Deus? Será que ela brota de sua própria personalidade? Será que ela remete para a força do seu pensamento e dos seus sentimentos?

Com certeza todas essas questões têm sua razão de ser e todos os ângulos suscitados por ela são importantes para a compreensão do fenômeno que foi Jesus, o maior marco da história da humanidade. Entretanto, parece-nos que a força que emanava de suas palavras, de seus gestos, ou até mesmo do simples fato de estar passando por algum lugar ( Mc 6,1-2; Lc 4.22; Lc 6,19), pode ser entendida de uma maneira ainda mais apropriada, quando nos detemos sobre suas relações. Relações com Deus; relações com os familiares; relações com os amigos; com os admiradores; relações com os inimigos; com os poderosos; com os fracos e doentes; com as criaturas que o cercam.

Suas relações com o Pai são de ternura, amor e obediência Àquele que o enviou; com os familiares as relações apresentam algo de conflitivo, no sentido de Jesus privilegiar os laços da fé, sem desprezar os laços de sangue; com os amigos e discípulos mantém laços de intimidade e dedicação profunda; algo de parecido pode ser dito com relação aos que crêem, e até mesmo com as demais criaturas, manifestações da grandeza e bondade de Deus. Algo de parecido deve ser dito em relação aos poderosos deste mundo: enquanto exalta os humildes, derruba dos poderosos colocando-os no devido plano, ou seja nenhum poder teriam se não lhes tivesse sido dado por Deus para o serviço do bem comum.

Como conclusão podemos dizer que a força de Jesus vem de suas relações adequadas, a partir daquelas com o Pai que o enviou, estendendo-se para os que o cercam, sejam amigos ou inimigos, crentes ou não crentes. Ele se entende com uma espécie de nó de relações entre todas as criaturas. E não poderia ser diferente, uma vez que tudo o que existe foi feito por Ele e para Ele. E nada do que existe existe sem Ele.

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