domingo, 27 de março de 2011

As duas faces do amor: ‘eros’ e ‘ágape’.

1. As duas faces do amor

Com as prédicas desta Quaresma, eu gostaria de continuar o esforço, iniciado no Advento, de trazer uma pequena contribuição à reevangelização do Ocidente secularizado, que constitui nesta hora a preocupação principal de toda a Igreja e, em particular, do Santo Padre Bento XVI.


Há um âmbito em que a secularização age de maneira especialmente difusa e nefasta, e é o âmbito do amor. A secularização do amor consiste em separar o amor humano de Deus, em todas as formas desse amor, reduzindo-o a algo meramente “profano”, onde Deus sobra e até incomoda.


Mas o amor não é um assunto importante apenas para a evangelização, ou seja, para as relações com o mundo. Ele importa, antes de todo o mais, para a própria vida interna da Igreja, para a santificação dos seus membros. É nesta perspectiva que se situa a encíclica Deus caritas est, do Papa Bento XVI, e é nela que nós também nos colocamos para estas reflexões.


O amor sofre de uma separação nefasta não só na mentalidade do mundo secularizado, mas também, do lado oposto, entre os crentes e, em particular, entre as almas consagradas. Poderíamos formular a situação, simplificando ao máximo, assim: temos no mundo um eros sem ágape; e entre os crentes, temos frequentemente um ágape sem eros.


O eros sem ágape é um amor romântico, mas comumente passional, até violento. Um amor de conquista, que reduz fatalmente o outro a objeto do próprio prazer e ignora toda dimensão de sacrifício, de fidelidade e de doação de si. Não é preciso insistir na descrição desse amor, porque se trata de uma realidade que temos todo dia diante dos nossos olhos, propagandeada com estrondo pelos romances, filmes, novelas, internet, revistas. É o que a linguagem comum entende, hoje, com a palavra “amor”.


Para nós é mais útil entender o que significa ágape sem eros. Na música, existe uma diferenciação que pode nos ajudar a ter uma ideia: a diferença entre o jazz quente e o jazz frio. Eu li certa vez essa caracterização dos dois gêneros, mas sei que não é a única possível. O jazz quente (hot) é o jazz apaixonado, ardente, expressivo, feito de ímpetos, de sentimentos e, portanto, de improvisações originais. O jazz frio (cool) é o profissional: os sentimentos se tornam repetitivos, o estro é substituído pela técnica, a espontaneidade pelo virtuosismo.


Com base nessa distinção, o ágape sem eros é um “amor frio”, um amar parcial, sem a participação do ser inteiro, mais por imposição da vontade do que por ímpeto íntimo do coração. Um entrar num cenário predefinido, em vez de criar um próprio, realmente irrepetível, como irrepetível é cada ser humano perante Deus. Os atos de amor voltados para Deus parecem aqueles de namorados desinspirados, que escrevem à amada cartas copiadas de modelos prontos.


Se o amor mundano é um corpo sem alma, o amor religioso praticado assim é uma alma sem corpo. O ser humano não é um anjo, um espírito puro; é alma e corpo substancialmente unidos: tudo o que ele faz, amar inclusive, tem que refletir essa estrutura. Se o componente humano ligado ao tempo e à corporeidade é sistematicamente negado ou reprimido, a saída será dúplice: ou seguir adiante aos arrastos, por senso de dever, por defesa da própria imagem, ou ir atrás de compensações mais ou menos lícitas, chegando até os dolorosíssimos casos que estão afligindo atualmente a Igreja. No fundo de muitos desvios morais de almas consagradas, não é possível ignorá-lo: há uma concepção distorcida e retorcida do amor.


Temos, então, um duplo motivo e uma dupla urgência de redescobrir o amor na sua unidade original. O amor verdadeiro e integral é uma pérola encerrada entre duas conchas que são o eros e o ágape. Não podem ser separadas, essas duas dimensões do amor, sem destruí-lo, como o hidrogênio e o oxigênio não podem ser separados sem se privarem da água.


2. A tese da incompatibilidade entre os dois amores

A reconciliação mais importante entre as duas dimensões do amor é prática. É aquela que acontece na vida das pessoas, mas, para ser possível, ela precisa começar pela reconciliação entre o eros e o ágape inclusive teoricamente, na doutrina. Isto nos permitirá conhecer finalmente o que é que se entende por estes dois termos tão comumente usados e subentendidos.


A importância da questão nasce do fato de existir uma obra que popularizou em todo o mundo cristão a tese oposta da inconciliabilidade das duas formas de amor. É o livro do teólogo luterano sueco Anders Nygren, intitulado Eros e Ágape. Podemos resumir o pensamento dele nestes termos: eros e ágape designam dois movimentos opostos. O primeiro indica ascensão e subida do homem para Deus e para o divino como próprio bem e própria origem; o outro, o ágape, indica a descida de Deus até o homem com a encarnação e a cruz de Cristo, e, portanto, a salvação oferecida ao homem sem mérito nem resposta de sua parte, a não ser a fé e somente a fé. O Novo Testamento fez uma escolha precisa, usando, para exprimir o amor, o termo ágape, e refutando sistematicamente o termo eros.


Foi São Paulo quem recolheu e formulou com mais pureza essa doutrina do amor. Depois dele, ainda segundo a tese de Nygren, essa antítese radical se perdeu para dar lugar a tentativas de síntese. Assim que o cristianismo entra em contato cultural com o mundo grego e a visão platônica, já com Orígenes, há uma reavaliação do eros, como movimento ascensional da alma rumo ao bem e ao divino, como atração universal exercitada pela beleza e pelo divino. Nesta linha, o Pseudo Dionísio Areopagita escreverá que “Deus é eros” [1], substituindo com este termo o ágape da célebre frase de João (I Jo, 4,10).


No ocidente, uma síntese análoga foi feita por Agostinho com a doutrina da caritas, entendida como doutrina do amor descendente e gratuito de Deus pelo homem (ninguém falou da “graça” com mais força do que ele), mas também como anseio do homem pelo bem e por Deus. É dele a afirmação: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e inquieto está o nosso coração até descansar em ti” [2]. Também é dele a imagem do amor como um peso que atrai a alma, como por força de gravidade, para Deus, como ao lugar do próprio repouso e prazer [3]. Tudo isso, para Nygren, insere um elemento do amor de si, do próprio bem, e, portanto, de egoísmo, que destrói a pura gratuidade da graça; é uma recaída na ilusão pagã de fazer a salvação consistir numa ascensão a Deus, em vez de na gratuita e imotivada descida de Deus até nós.


Prisioneiros desta impossível síntese entre eros e ágape, entre amor de Deus e amor de si, são, para Nygren, São Bernardo, quando define o grau supremo do amor de Deus como um “amar a Deus por si mesmo” e um “amar a si mesmo por Deus” [4]; São Boaventura, com seu ascensional Itinerário da mente para Deus; e São Tomás de Aquino, que define o amor de Deus infuso no coração do batizado (cf. Rom, 5,5) como “o amor com que Deus nos ama e nos faz amá-lo” (amor quo ipse nos diligit et quo ipse nos dilectores sui facit) [5]. Isto viria a significar que o homem, amado por Deus, pode, por sua vez, amar a Deus, dar-lhe algo de seu, o que destruiria a absoluta gratuidade do amor de Deus. No plano existencial, ainda de acordo com Nygren, o mesmo desvio acontece na mística católica. O amor dos místicos, com a sua fortíssima carga de eros, nada é, para ele, senão amor sensual sublimado, uma tentativa de estabelecer com Deus uma relação de presunçosa reciprocidade em amor.


Quem rompeu a ambiguidade e devolveu à luz a pura antítese paulina, segundo o autor, foi Lutero. Fundamentando a justificação apenas na fé, ele não excluiu a caridade do momento-base da vida cristã, como o acusa a teologia católica; antes, libertou a caridade, o ágape, do elemento espúrio do eros. À fórmula do “somente a fé”, com exclusão das obras, corresponderia, em Lutero, a fórmula do “somente o ágape”, com exclusão do eros.


Não me cabe estabelecer se o autor interpretou corretamente neste ponto o pensamento de Lutero, que, deve-se dizer, nunca pôs o problema em termos de contraste entre eros e ágape como fez com fé e obras. É significativo, no entanto, que Karl Barth, num capítulo da sua Dogmática Eclesial, também chegue ao mesmo resultado que Nygren de um contraste insanável entre eros e ágape. “Onde entra em cena o amor cristão”, escreve ele, “começa de súbito o conflito com o outro amor, e este conflito não tem mais fim” [6]. Eu digo que se isto não é luteranismo, é sem dúvida teologia dialética, teologia do “aut-aut”, da antítese, não da síntese.


O contragolpe desta operação é a radical mundanização e secularização do eros. Enquanto certa teologia retirava o eros do ágape, a cultura secular era bem feliz, por sua vez, ao retirar o ágape do eros, ou seja, ao retirar do amor humano toda referência a Deus e à graça. Freud apresentou para isto uma justificativa teórica, reduzindo o amor a eros e o eros a libido, uma mera pulsão sexual que luta contra toda repressão e inibição. É o estágio a que se reduz hoje o amor em muitas manifestações da vida e da cultura, principalmente no mundo do espetáculo.


Dois anos atrás eu estava em Madri. Os jornais só faziam falar de uma certa mostra de arte na cidade, intitulada As lágrimas do eros. Era uma mostra de obras artísticas de cunho erótico – quadros, desenhos, esculturas – que pretendiam pôr em foco o inseparável vínculo que existe, na experiência do homem moderno, entre eros e thanatos, entre amor e morte. À mesma constatação se chega quando se lê a coletânea de poesias As flores do mal, de Baudelaire, ou Uma temporada no inferno, de Rimbaud. O amor que por natureza deveria levar à vida acaba ao invés levando à morte.


3. Retorno à síntese

Se não podemos mudar de uma vez a ideia de amor que o mundo possui, podemos, sim, corrigir a visão teológica, que, sem querer, a favorece e legitima. É o que fez de maneira exemplar o papa Bento XVI com a encíclica Deus caritas est. Ele reafirma a síntese católica tradicional expressando-a com os termos modernos. “Eros e ágape”, lemos ali, “amor ascendente e amor descendente, não se deixam jamais separar de todo um do outro [...].


A fé bíblica não constrói um mundo paralelo ou um mundo contraposto ao original fenômeno humano que é o amor, mas aceita o homem todo, intervindo na sua procura pelo amor para purificá-la, destruindo, em paralelo, novas dimensões suas” (7-8). Eros e ágape estão unidos à própria fonte do amor, que é Deus: “Ele ama”, segue o texto da encíclica, “e este seu amor pode ser qualificado certamente como eros, que, no entanto, é também e totalmente ágape” (9).


Entende-se o acolhimento insolitamente favorável que este documento pontifício encontrou mesmo nos ambientes leigos mais abertos e responsáveis. Dá esperança ao mundo. Corrige a imagem de uma fé que toca o mundo em tangente, sem penetrá-lo, com a imagem evangélica da levedura que faz a massa fermentar; substitui a ideia de um reino de Deus que veio julgar o mundo pela de um reino de Deus que veio salvar o mundo, começando pelo eros que é a sua força dominante.


À visão tradicional, própria tanto da teologia católica como da ortodoxa, pode-se dar, creio eu, uma confirmação também do ponto de vista da exegese. Quem sustenta a tese da incompatibilidade entre eros e ágape se baseia no fato de o Novo Testamento evitar com esmero – e, ao parecer, propositalmente – o termo eros, usando em seu lugar sempre e somenteágape (a não ser por algum raro emprego do termo philia, que indica um amor de amizade).


O fato é verdadeiro, mas não são verdadeiras as conclusões que dele se tiram. Supõe-se que os autores do NT estivessem a par tanto do sentido que o termo eros tinha na linguagem comum (o eros assim chamado “vulgar”) como do sentido elevado e filosófico que tinha, por exemplo, em Platão, o chamado eros “nobre”.


Na aceitação popular, eros indicava mais ou menos o que indica hoje quando se fala de erotismo ou de filmes eróticos: a satisfação do instinto sexual, um degradar-se mais do que elevar-se. Na aceitação nobre, indicava um amor pela beleza, a força que mantém o mundo e que impulsiona todos os seres à unidade, aquele movimento de ascensão rumo ao divino que os teólogos dialéticos reputam incompatível com o movimento de descida do divino até o homem.


É difícil defender que os autores do NT, dirigindo-se a pessoas simples e de nenhuma cultura, pretendessem lhes falar do eros de Platão. Eles evitaram o termo eros pelo mesmo motivo que o pregador de hoje evita o termo erótico, ou, se o emprega, é somente em sentido negativo. O motivo é que, tanto naquele tempo como agora, a palavra evoca o amor na sua expressão mais egoísta e sensual [7]. A desconfiança dos primeiros cristãos quanto ao eros se agravava ainda pelo papel que ele desempenhava nos desenfreados cultos dionisíacos.


Tão logo o cristianismo entra em contato e diálogo com a cultura grega daquele tempo, cai por terra de imediato, como já vimos, toda preclusão quanto ao eros. Ele é usado com frequência, nos autores gregos, como sinônimo de ágape, e empregado para indicar o amor de Deus pelo homem, como também o amor do homem por Deus, o amor pelas virtudes e por tudo o que é belo. Basta, para nos convencermos disso, uma simples olhada no Léxico Patrístico Grego, de Lampe [8]. O sistema de Nygren e Barth, portanto, foi construído sobre uma falsa aplicação do assim chamado argumento “ex silentio”.


4. Um eros para os consagrados

O resgate do eros ajuda acima de tudo os enamorados humanos e os esposos cristãos, mostrando a beleza e a dignidade do amor que os une. Ajuda os jovens a experimentar o fascínio do outro sexo não como coisa turva, a ser vivida às costas de Deus, mas, ao contrário, como um dom do Criador para a sua alegria, desde que vivido na ordem querida por Ele. Na sua encíclica, o papa acena ainda para esta função positiva do eros sobre o amor humano quando fala do caminho de purificação do eros, que leva da atração momentânea ao “para sempre” do matrimônio (4-5).


Mas o resgate do eros deve ajudar também a nós, consagrados, homens e mulheres. Eu acenei no início ao perigo que as almas religiosas correm de um amor frio, que não desce da mente para o coração. Um sol de inverno, que ilumina, mas não aquece. Se eros significa ímpeto, desejo, atração, não devemos ter medo dos sentimentos, nem muito menos desprezá-los e reprimi-los. Quando se trata do amor de Deus, escreveu Guilherme de Saint Thierry, o sentimento de afeto (affectio) é também graça; a natureza não pode infundir um sentimento assim [9].


Os salmos estão cheios desse anseio do coração por Deus: “A ti, Senhor, eu elevo a minh’alma...”. “A minh’alma tem sede de Deus, do Deus vivente”. “Preste atenção”, diz o autor da Nuvem do não conhecimento, “a este maravilhoso trabalho da graça na tua alma. Ele não é senão impulso imprevisto, que surge sem aviso e aponta diretamente para Deus, como uma centelha que se desencarcera do fogo... Golpeie essa nuvem do não conhecimento com a flecha afiada do desejo de amor e não esmoreça, ocorra o que ocorrer” [10]. É suficiente, para tanto, um pensamento, um movimento do coração, uma jaculatória.


Mas tudo isso não nos é bastante e Deus o sabe melhor que nós. Somos criaturas, vivemos no tempo e num corpo; precisamos de uma tela na qual projetar o nosso amor que não seja apenas “a nuvem do não conhecimento”, o véu de escuridão por trás do qual se oculta o Deus que ninguém nunca viu e que habita numa luz inacessível...


A resposta que se dá a esta interrogação nós conhecemos bem: por isso mesmo Deus nos deu o próximo para amarmos. “Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor se torna perfeito em nós. Quem não ama o próprio irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4, 12-20). Mas devemos ficar atentos para não saltar uma fase decisiva: antes do irmão que vemos, há outro que também vemos e tocamos: o Deus feito carne, Jesus Cristo! Entre Deus e o próximo existe o Verbo feito carne, que reuniu os dois extremos numa só pessoa. É nele que o próprio amor ao próximo encontra o seu fundamento: “Foi a mim que o fizestes”.


O que significa tudo isto pelo amor de Deus? Que o objeto primário no nosso eros, da nossa busca, desejo, atração, paixão, deve ser o Cristo. “Ao Salvador é pré-ordenado o amor humano desde o princípio, como ao seu modelo e fim, como uma urna tão grande e tão ampla que pudesse acolher a Deus [...] O desejo da alma é unicamente de Cristo. Aqui é o lugar do seu repouso, porque só Ele é o bem, a verdade e tudo quanto inspira amor”. Não quer dizer restringir o horizonte do amor cristão de Deus a Cristo; quer dizer amar a Deus do jeito que Ele quer ser amado. “O Pai vos ama porque vós me amais” (Jo 16, 27). Não se trata de um amor mediato, quase por procuração, por meio do qual quem ama Jesus “é como se” amasse o Pai. Não. Jesus é um mediador imediato; amando a Ele, amamos, ipso facto, o Pai. “Quem me vê, vê o Pai”; quem me ama, ama o Pai.


É verdade que nem mesmo a Cristo se vê, mas ele existe. Ressuscitou, vive, está conosco, de modo mais real do que o mais apaixonado esposo está com a esposa. Eis o ponto crucial: pensar em Cristo não como uma pessoa do passado, mas como o Senhor ressuscitado e vivente, com quem eu posso falar, a quem eu posso beijar se quiser, certo de que o meu beijo não termina na estampa ou no lenho de um crucifixo, mas num rosto e em lábios de carne viva (ainda que espiritualizada), felizes de receber o meu beijo.


A beleza e a plenitude da vida consagrada depende da qualidade do nosso amor por Cristo. É só o que pode nos defender dos altos e baixos do coração. Jesus é o homem perfeito; nele se encontram, em grau infinitamente superior, todas aquelas qualidades e atenções que um homem procura numa mulher e uma mulher no homem. O amor dele não nos elimina necessariamente a sedução das criaturas e, em particular, a atração do outro sexo (ela faz parte da nossa natureza, que Ele criou e não quer destruir). Mas nos dá a força para vencer essas atrações com uma atração mais forte. “Casto”, escreve São João Clímaco, “é quem afasta o eros com o Eros” [11].


Será que tudo isso destrói a gratuidade do ágape, pretendendo dar a Deus alguma coisa em troca do seu coração? Anula a graça? De jeito nenhum. Antes, a exalta. O que, afinal, neste mundo, damos a Deus se não o que recebemos dele? “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19). O amor que damos a Cristo é o seu próprio amor por nós, que devolvemos a Ele, como o eco nos devolve a nossa voz.


Onde está então a novidade e a beleza deste amor que chamamos eros? O eco reenvia para Deus o seu próprio amor, mas enriquecido, colorido e perfumado com a nossa liberdade. E é tudo o que Ele quer. A nossa liberdade lhe paga tudo. E não só isto, mas, coisa inaudita, escreve Cabasilas, “recebendo de nós o dom do amor em troca de tudo o que Ele nos deu, Ele ainda se reputa nosso devedor” [12]. A tese que contrapõe eros e ágape se baseia em outra conhecida contraposição: a contraposição entre graça e liberdade, e, mais ainda, na negação da liberdade no homem decaído.


Eu procurei imaginar, Veneráveis padres e irmãos, o que diria Cristo ressuscitado se, como fazia na vida terrena, quando entrava aos sábados numa sinagoga, viesse agora sentar-se aqui, no meu lugar, e nos explicasse em pessoa qual é o amor que Ele deseja de nós. Quero compartilhar com vocês, com simplicidade, o que eu penso que Ele diria.


Pode nos servir para o nosso exame de consciência sobre o amor:

O amor ardente

É me colocares sempre em primeiro lugar.

É procurares me alegrar em todo momento.

É confrontares teus desejos com o meu desejo.

É viveres como meu amigo, confidente, esposo, e seres feliz assim.

É te inquietares ao pensamento de ficar um pouco longe de mim.

É seres repleto de felicidade quando estou contigo.

É estares disposto a grandes sacrifícios para nunca me perder.

É preferires viver pobre e desconhecido comigo a rico e famoso sem mim.

É falares comigo como ao amigo mais amado em todo momento possível.

É te confiares a mim olhando para o teu futuro.

É desejares perder-te em mim como meta do teu existir.

Se vocês acharem, como eu acho, que estamos muito longe dessa situação, não nos desencorajemos. Temos alguém que pode nos ajudar a chegar lá se pedirmos sua ajuda. Repitamos com fé ao Espírito Santo: Veni, Sancte Spiritus, reple tuorum corda fidelium et tui amoris in eis ignem accende: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.


Notas:

1 Pseudo Dionísio Areopagita, Os nomes divinos, IV,12 (PG, 3, 709 em diante.)

2 S. Agostinho, Confissões I, 1.

3 Comentário ao evangelho de João, 26, 4-5.

4 Cf. S. Bernardo, De diligendo Deo, IX,26 –X,27.

5 S. Tomás de Aquino, Comentário à Carta aos Romanos, cap. V, liç.1, n. 392-293; cf. S. Agostinho, Comentário à Primeira Carta de João, 9, 9.

6 K. Barth, Dogmática eclesial, IV, 2, 832-852.

7 O sentido que os primeiros cristãos davam à palavra eros se deduz do famoso texto de S. Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, 7,2: “O meu amor (eros) foi crucificado e não há em mim fogo de paixão…não me atraem o nutrir corrupção e os prazeres desta vida”. “O meu eros” não indica aqui Jesus crucificado, mas “o amor de mim mesmo” , o apego aos prazeres terrenos, na linha do paulino “Fui crucificado com Cristo, não sou mais eu que vivo” (Gal 2, 19 s.).

8 Cf. G.W.H. Lampe, A Patristic Greek Lexicon, Oxford 1961, pp.550.

9 Guilherme de St. Thierry, Meditações, XII, 29 (SCh 324, p. 210).

10 Anônimo, A nuvem do nao conhecimento, trad. Italiana, Ed. Áncora, Milão, 1981, pp. 136.140.

11 S. João Clímaco, A escada do paraíso, XV,98 (PG 88,880).

12 N. Cabasilas, Vida em Cristo, VI, 4 .

[Traduzido do original em italiano por ZENIT]

sábado, 26 de março de 2011

Europa sob ameaça de castigo? Como o abandono do Cristianismo pode estar levando a Europa ao desastre.

Alguém sabe onde é que dá para encontrar alguns etruscos? Não se lembra de que os etruscos eram uma civilização que existia na antiga Itália, numa época anterior ao surgimento de Roma?

Olha, não adianta procurar, pois agora não existe mais ninguém dessa civilização. A civilização romana absorveu os etruscos, que deixaram de existir como um povo distinto.

O que é assustador e preocupante é que se um crescente número de especialistas e observadores culturais estiver certo, é inteiramente possível que se faça a mesma pergunta daqui a 100 anos — só que acerca dos italianos, espanhóis ou russos.

Conforme o escritor Mark Steyn comentou de modo sombrio no jornal The New Criterion: “Boa parte do que geralmente chamamos de mundo ocidental não sobreviverá neste século, e na verdade boa parte do Ocidente desaparecerá durante nossa própria geração, inclusive muitos ou até a maioria dos países da Europa ocidental”.

Escassez de Bebês

O que poderia possivelmente causar tal cataclismo? Outra guerra mundial? Um confronto nuclear? A devastação de uma praga, semelhante à Peste Negra do século XIV? Nada que seja assim tão dramático, dizem os especialistas. Em vez disso, a Europa está morrendo aos poucos simplesmente porque os europeus se recusam a ter filhos suficientes para substituir as pessoas que morrem anualmente na Europa.

O estudioso George Weigel, membro sênior do Centro de Políticas Públicas e Ética e autor do livro The Cube and The Cathedral (O Cubo e a Catedral), diz que a Europa está “cometendo suicídio demográfico, sistematicamente implodindo sua própria população”.

Para que consiga permanecer em nível estável, uma população tem de manter um índice de nascimentos de 2.1 nascimentos por mulher. Esse índice supre uma substituição para a mãe e o pai, enquanto .1 cobre o bebê e a mortalidade infantil. Quando o índice de nascimentos cai abaixo desse número, uma população entra em fase de declínio — a não ser que convide grande número de imigrantes.

“A ‘escassez de bebês’ é o que os demógrafos chamam de índices de nascimentos em queda na maior parte do mundo industrializado”, diz o comentarista cultural Chuck Colson. “Em toda a Europa ocidental e no leste asiático, o índice de nascimentos está bem abaixo de 2.1 nascimentos por mulher…”

O sociólogo Ben Wattenberg, autor do livro Fewer: How the New Demography of Depopulation Will Shape Our Future (Cada Vez Menos: Como a Nova Demografia da Diminuição Populacional Moldará Nosso Futuro), observa essa escassez de bebês a partir de uma perspectiva histórica: “Jamais nos últimos 650 anos, desde a época da Peste Negra, os índices de nascimentos e fertilidade caíram tanto, tão rápido, em nível tão baixo, por tão longo tempo, em tantos lugares”.

Baseando-se em estatísticas da ONU e outras projeções, Patrick Buchanan declara no livro The Death of the West (A Morte do Ocidente) que no ano 2050 a Europa (da Islândia à Rússia) verá sua população diminuir de 728 milhões (no ano 2000) para 600milhões — e talvez 556 milhões. E se as tendências atuais continuarem, no fim do século a população da Europa permanecerá em 207 milhões.

Colapso dos Valores Familiares

Por que aconteceu isso? A explicação é que vários fatores e tendências se uniram para criar, como se fosse, a “tempestade perfeita”.

Gene Edward Veith, da revista World, resume essa situação assim: “Qual a razão da diminuição populacional? O colapso mundial da população encontra-se, literalmente, nos valores familiares. Graças à tecnologia contraceptiva, o sexo foi separado da geração de nova vida. Com as mulheres se ocupando com suas próprias carreiras e homens obtendo sexo sem a responsabilidade de um casamento, por que se incomodar com filhos? Para muitas mulheres e homens, uma gravidez se tornou um efeito colateral desagradável, algo para se impedir com anticoncepcionais ou para se tratar facilmente com uma ida à clínica de aborto”.

Na opinião de Veith, o aborto tem boa parte da culpa. “O segredinho sórdido da implosão populacional, que os demógrafos raras vezes mencionam, é que o mundo está abortando suas gerações futuras”, diz ele.

Os grupos pró-família nos EUA, por exemplo, com todo acerto lamentam o índice de abortos nos EUA, onde Veith diz que um terço ou um quinto de todas as gravidezes acabam em aborto. Contudo, algumas nações européias estão em situação bem pior. “Na Rússia, em média as mulheres têm até quatro abortos durante a vida”, afirma ele. “Para cada nascimento em que o bebê nasce vivo, há dois abortos. Isto é: os russos matam dois terços de seus filhos antes que nasçam”.

Tudo isso é sintoma de que o amor aos prazeres carnais se espalhou e permeou o Ocidente, “uma completa filosofia de prazer”, de acordo com Allan Carlson, presidente do Centro Howard para a Família, Religião e Sociedade.

“Em todos os lugares da Comunidade Européia, nos EUA e Canadá, todos só dão atenção ao consumo de alimentos (alternadamente fartos e sem gorduras), freqüente sexo e entretenimentos estridentes”, diz Carlson. “Relativamente poucos têm a experiência de crianças por perto. Os adultos jovens, que são férteis, contam com dispositivos mecânicos e agentes químicos para frustrar os desígnios da natureza. Em lugares tão culturalmente diferentes como Espanha, Itália, Dinamarca e Alemanha, as experiências sexuais começam cedo, mas raramente alguém dá a luz um filho”.

Apesar dos esforços de algumas nações européias para aumentar o desejo de os adultos terem filhos — tais como dedução de impostos e incentivos financeiros — alguns especialistas acham que o que triunfará no fim é a busca da satisfação pessoal.

Joseph Chamie, diretor da Divisão Populacional da ONU, diz: “Nenhum demógrafo acredita que os índices de nascimentos voltarão a crescer. Será fácil convencer uma mulher a ter quatro filhos? As pessoas estão simplesmente preocupadas com sua aparência, educação, carreiras, etc”.

O que é irônico, porém, é que essa busca de prazer pessoal e riqueza pessoal poderá terminar, como conseqüência, em ruína econômica.

“Quando o assunto é prever o futuro, o índice de nascimentos é algo estatisticamente complicado”, Steyn argumenta. “Se apenas um milhão de bebês nascer em 2006, será difícil ter dois milhões de adultos entrando no mercado de trabalho em 2026…”

Veith enumera apenas algumas conseqüências do declínio populacional. “Os cidadãos não são só consumidores, mas produtores”, diz ele. “Uma população cada vez menor pode acabar com a economia nacional, criando escassez de mão de obra e escassez de compradores. Um governo com uma população cada vez menor enfrenta o problema de um exército menor e menos e menos contribuintes do imposto de renda. A diminuição das populações sempre é sinal de declínio cultural, com menos criatividade, energia e vitalidade em todos os níveis da sociedade”.

Abandonando o Cristianismo

Essas explicações chegam bem perto do que vem dizendo o colunista cultural Don Feder, que vê como a verdadeira causa dos problemas populacionais europeus o fato de que a Europa abandonou sua herança cristã.

Não é por coincidência que a nova Europa esteja decidida a não reconhecer as origens do continente”, afirma Feder, que é judeu. “A constituição proposta para a União Européia (um documento de mais de 70 mil palavras) não contém uma única referência ao Cristianismo. Assim, mais de mil anos de história européia foram totalmente apagados”.

É um fato bem documentado que a maioria dos países europeus abandonou o Cristianismo. Por exemplo, o escritor e jornalista James P. Gannon declara que “em cinco países europeus importantes — França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Itália — há trinta anos 40% da população freqüentavam regularmente uma igreja cristã. Hoje, o número é cerca de 20%”. Conforme afirma Weigel, a Europa ocidental se tornou uma “sociedade pós-cristã”.

Feder crê que há uma ligação clara entre uma falta de fé e a perda desse senso de dever para com o futuro que conduz as pessoas a conceber e criar filhos. “Tendo perdido sua fé e adotado uma ética de autonomia radical”, diz ele, “os europeus pararam de ir à igreja, pararam de levar a Bíblia a sério, pararam de crer no futuro e pararam de ter filhos”.

Maria Burani, presidente da Comissão Parlamentar para a Família e Infância em Roma, contou à revista Citizen que a fé é o alicerce para o tipo de estilo de vida que requer o papel de pai e mãe. “Se você não tem dentro da cabeça grandes princípios religiosos e éticos”, ela insiste, “você simplesmente não vai querer ter filhos, pois tê-los e criá-los é um sacrifício”.

Além disso, é claro, há o fato de que os princípios religiosos também inibem a conduta muitas vezes egocêntrica que é conseqüência da “autonomia radical” que permeia a Europa. “Entre as conseqüências do abandono da Europa de suas raízes religiosas e suas leis morais que têm origem cristã está a queda em seus índices de nascimentos abaixo do nível de substituição”, diz Gannon. “O aborto, o controle da natalidade, a aceitação do casamento gay e o sexo casual estão conduzindo essa tendência”.

Islamificação da Europa

No entanto, o prognóstico para a Europa fica ainda pior porque muitas dessas nações européias escolheram uma solução perigosa para compensar a diminuição de suas populações: imigração. Pelo fato de que o Norte da África e o Oriente Médio representam uma fonte relativamente conveniente de mão de obra barata, milhões de imigrantes muçulmanos estão inundando a Europa desde a década de 1960.

“A Europa Ocidental tinha uma população de 250.000 muçulmanos há 50 anos. Hoje são20 milhões”, declara Feder.

Diferente dos ocidentais, porém, os muçulmanos tipicamente têm famílias grandes. De acordo com Robert S. Leiken, diretor do Programa de Imigração e Segurança Nacional no Centro Nixon, os índices de nascimentos mais elevados entre os muçulmanos aliados à imigração muçulmana levaram o Conselho de Informação Nacional dos EUA a projetar que a população muçulmana da Europa dobrará em 2025.

Como conseqüência, Colson diz sem rodeios: “A demografia poderá tornar realidade o que os mouros e o Império Otomano não conseguiram: uma Europa muçulmana”.

Mas e daí? Essas preocupações sobre os imigrantes muçulmanos não são apenas puro preconceito?

De forma alguma, dizem os ocidentais preocupados. A islamificação da Europa provocaria incríveis mudanças culturais na Europa. “Daqui a 50 a 100 anos, a Europa de Shakespeare e Victor Hugo, a Europa de Rembrandt e Bach, a Europa de Churchill e Karol Wojtyla só existirá nos livros escolares e nos museus”, comenta Feder. “Ou, talvez o que restar da Europa cristã estará sujeita ao destino das estátuas budistas do Afeganistão, demolidas pelo regime talibã”.

A mudanças políticas também seriam inevitáveis, insiste Steyn. “Será que uma sociedade conseguiria se tornar mais e mais muçulmana em seu caráter demográfico sem se tornar mais e mais muçulmana em seu caráter político?”

É claro, é uma pergunta retórica, e Steyn prediz que em 2050 muitas nações européias serão forçadas a aplicar a xariá — a lei muçulmana — às comunidades muçulmanas. Ele nota os resultados de uma pesquisa de opinião pública de 2004 que constatou que mais de 60 por cento dos muçulmanos britânicos querem viver debaixo da lei muçulmana — enquanto estão vivendo no Reino Unido.

De início, a maioria dos governos europeus provavelmente não iria querer atender às reivindicações de uma população muçulmana cada vez mais assertiva. Mas em resposta, não seria de surpreender ver um agravamento do que já começou a ocorrer: ataques terroristas com bombas em Londres e Madri; o assassinato em 2002 do político conservador holandês Pim Fortuyn, cuja plataforma política incluía o objetivo de limitar os imigrantes muçulmanos; o assassinato do diretor de cinema Theo van Gogh em 2004por alegadamente insultar a religião muçulmana; tumultos de jovens muçulmanos em toda a França em 2005; e agitações neste ano em resposta às charges políticas que foram consideradas ofensivas às sensibilidades dos muçulmanos.

Steyn acha que a Europa verá mais agitações — e logo. “Parece que é mais provável que dentro dos próximos dois ciclos das eleições européias, as contradições internas da União Européia se manifestarão do modo de sempre”, diz ele, “e que em 2010assistiremos todas as noites nos noticiários a prédios em chamas, tumultos nas ruas e assassinatos”.

Em qualquer caso, Carlson diz: “A Grande Farra [da busca de prazeres dos europeus] não durará muito. Há uma lei imutável na história: O futuro pertence aos férteis. Assim como as tribos bárbaras germânicas (centradas no clã e cheias de filhos) varreram do mapa o sensual e estéril Império Romano Ocidental, assim também os novos bárbaros estão se levantando”.

As Escrituras Sagradas ensinam que Deus governa sobre as nações, e o futuro da Europa se parece cada vez mais com o futuro de Israel quando seus profetas avisavam dos castigos e juízos que estavam para vir. Será que, mesmo depois de um século de guerras e outras atrocidades que não conseguiram conduzir de volta o continente ao Cristianismo, a Europa está para sofrer castigos divinos?

É irônico que a cultura européia, que sempre exigiu liberdade pessoal ilimitada, poderá no fim deixar os europeus vivendo debaixo de ditaduras muçulmanas. Uma civilização que, ao rejeitar sua herança cristã, corre o risco de se sujeitar ao fundamentalismo islâmico.

No passado, outras civilizações já desapareceram. Basta perguntar aos etruscos. Se conseguir encontrar um.

Ed Vitagliano, contribui regularmente para AgapePress. Ele é editor de notícias do AFA Journal, uma publicação mensal da American Family Association. Este artigo, reimpresso com permissão, foi publicado na edição de abril de 2006.

Traduzido e adaptado por Julio Severo: www.juliosevero.com; www.juliosevero.com.br

© 2006 AgapePress, todos os direitos reservados.

Fonte: http://headlines.agapepress.org/archive/4/afa/122006a.asp

Controle populacional e homossexualismo.

Resumo: O homossexualismo é um estilo de vida inteiramente compatível com as metas do controle populacional. Os controlistas querem reduzir drasticamente a “produção” de bebês no mundo inteiro. No homossexualismo, não existe a função natural de gerar bebês. Quanto mais homens adotarem o comportamento homossexual, menos bebês haverá no mundo.

Até a década de 1960, não havia no Ocidente comentários sobre casamento gay, concessão do direito de adoção para “casais” gays, direitos especiais para gays, etc. As noticias também não davam nenhuma atenção às pretensões dos ativistas gays, que eram em número tão reduzido que não representavam preocupação alguma.

Entretanto, alguns diziam que se devia promover o homossexualismo a fim de se reduzir a população mundial. De onde estavam vindo essas idéias? Dos controlistas — indivíduos que seguem a ideologia do controle populacional. Entre eles havia importantes autoridades internacionais, banqueiros, militares, políticos, filósofos, etc.

Aborto, controle da natalidade e homossexualismo

Os controlistas querem salvar o mundo. Eles acreditam que a terra não tem capacidade de sustentar uma população tão grande. Sua solução é criar meios, tecnológicos e educativos em massa, a fim de que haja menos pessoas neste mundo. Assim é que eles estão por trás de todos os movimentos modernos eliminadores de seres humanos, do aborto até a eutanásia. Sob a liderança e inspiração de Margaret Sanger, que inventou o termo controle da natalidade e fundou a Federação Internacional de Planejamento Familiar em 1952, os controlistas se lançaram numa campanha sistemática para legalizar o uso de “anticoncepcionais” e o aborto.

A Federação Internacional de Planejamento Familiar, que tem o apoio da ONU, propôs as seguintes estratégias para reduzir o tamanho da população mundial e para que os casais tenham menos filhos:

· Aumento do homossexualismo;

· Crise econômica;

· Estabelecimento de creches;

· Leis que levem as mulheres a trabalhar fora;

· Aborto compulsório para as gravidezes ilegítimas;

· Esterilização compulsória para todos os casais que já têm dois filhos (menos para alguns que teriam permissão especial de ter três);

· Limitar a maternidade a um número reduzido de mulheres;

· Licenças oficiais para se ter filhos.[1]

Sanger, que era teosofista, estava diretamente por trás da criação da pílula anticoncepcional e sua federação teve papel decisivo na legalização do aborto nos EUA. Com a ajuda da ONU, sua federação promove a educação sexual nas escolas, diversidade sexual, contracepção e aborto para adolescentes e jovens do mundo inteiro.

Na década de 1960, os controlistas afirmavam, com o apoio de especialistas médicos envolvidos na mesma causa, que a legalização dos anticoncepcionais reduziria a prática do aborto. Mas o que houve foi o contrário. A contracepção e o aborto acabaram sendo legalizados e suas práticas tiveram um aumento estratosférico, principalmente na Europa, EUA, Canadá e outros países industrializados. O que é irônico é que Sanger era racista e queria que o controle da natalidade livrasse a raça européia branca das outras raças, mas o efeito foi inverso.

Seguindo o exemplo de Sanger e sua federação, os controlistas financiam no mundo inteiro a educação sexual nas escolas, os grupos ambientalistas, os grupos feministas, os grupos homossexuais, a pornografia e qualquer outra coisa que os ajude em suas metas. Para eles, o crescimento da população mundial é uma praga, um câncer.

O evangelho da morte

Os controlistas são capazes de qualquer artimanha. Se, a fim de alcançar seus objetivos de reduzir a população mundial, eles precisarem adotar medidas pioneiras para condicionar as pessoas a aceitarem o sexo entre seres humanos e animais, eles não hesitarão em preparar o terreno social, legal, político e acadêmico. É claro que a propaganda daria ênfase ao termo amor — sexo com animais é a expressão mais pura de amor entre um animal e seu dono, diriam eles. Quem duvida da capacidade dos controlistas de deturpar a palavra amor, é só ver como o relacionamento homossexual foi adulterado de uma justa classificação de perversão sexual para a atual imagem de amor entre pessoas do mesmo sexo.

Embora pareça haver um respeito e consideração pelas crianças hoje, é só na aparência, pois mais recentemente as pesquisas científicas envolvendo o sacrifício de seres humanos durante as fases do desenvolvimento pré-natal são feitas com a desculpa de se criar novas curas. Justifica-se assim então a destruição de uma vida para salvar outra. Todas essas medidas, e outras que virão, têm como único objetivo eliminar mais seres humanos e criar nas pessoas uma mentalidade que não considera a vida humana com valor moral absoluto, exatamente como querem os controlistas.

Os controlistas estão experimentando sucesso enorme. O aborto é hoje legalmente permitido para assassinar milhões de bebês inocentes, em todos os países com tradição evangélica. A tradição cristã de países como Alemanha, Inglaterra, Escócia, EUA e Canadá caiu facilmente diante do evangelho controlista. Os controlistas podem aparentar representar uma ideologia científica, neutra e não religiosa, mas suas raízes religiosas mais importantes só são desconhecidas para os que não estão familiarizados com a história da teosofia.

No século XIX, os teosofistas estavam ativamente envolvidos em campanhas pioneiras de controle da natalidade. As sementes brotaram. A partir do século XX, os controlistas entraram em ação, com muitas organizações espalhadas nos EUA e na Europa, cumprindo os próprios objetivos dos teosofistas. Os frutos desse intenso trabalho só começaram a aparecer em grande escala a partir da década de 1970.

Por que, além do aborto e da pílula anticoncepcional (e também muitos outros métodos de controle da natalidade), os controlistas escolheram o homossexualismo para reduzir a população mundial?

É claro que eles não inventaram o homossexualismo, pois esse comportamento — assim como o adultério, o estupro e o roubo — existe há milhares de anos. Tudo o que eles fizeram foi jogar gasolina nos focos onde havia alguma chama, inflamando os indivíduos estratégicos que contribuiriam para propagar o evangelho homossexual. Assim, o evangelho homossexual juntou-se ao evangelho do aborto, do feminismo e da contracepção. Talvez nem mesmo os teosofistas pioneiros do controle da natalidade imaginassem as repercussões de suas idéias em futuro tão próximo.

Por isso, não se deve estranhar que grupos ambientalistas, feministas, pró-aborto e pró-controle da natalidade apóiem o homossexualismo. O homossexualismo é um estilo de vida inteiramente compatível com as metas do controle populacional. Os controlistas querem reduzir drasticamente a “produção” de bebês no mundo inteiro. No homossexualismo, não existe a função natural de gerar bebês. Quanto mais homens adotarem o comportamento homossexual, menos bebês haverá no mundo.

Ameaçando a família natural

O avanço do movimento homossexual ameaça a maior é única instituição humana responsável pela chegada de mais bebês a este mundo: a família natural. Os bebês, ou mais propriamente a sua eliminação (através de meios tecnológicos que impeçam sua chegada ou que provoquem sua destruição direta) são o principal alvo dos controlistas.

Para colaborar com os controlistas, os ativistas gays querem que seu relacionamento naturalmente estéril seja reconhecido como casamento. Quanto mais homens e mulheres forem seduzidos e enganados para esse estilo de vida, menos bebês nascerão. Ponto para os controlistas.

O reconhecimento do “casamento” homossexual forçará a redefinição do casamento normal e afetará o modo como o governo protege as verdadeiras famílias. Os recursos que poderiam ser distribuídos entre as famílias naturais deverão ser distribuídos igualmente entre as famílias pervertidas e naturalmente estéreis (famílias homossexuais). Uma família gay terá direito aos mesmos direitos, benefícios e privilégios de uma família natural responsável pela criação de filhos.

Casais homossexuais, pelo seu próprio estilo de vida antinatural, só podem ter filhos de um modo antinatural e pervertido: inseminação artificial com outro doador e adoção de filhos de outros casais normais. Sendo reconhecidos como famílias, os “casais” gays terão direito de fazer operação para troca de sexo e para ter meios tecnológicos para poderem ter os bebês que a natureza jamais lhes daria.

Não muitos homossexuais escolherão esse caminho difícil, porém tal escolha implica em gastos imensos. Se o governo tiver de arcar com os custos dessas perversões em seu sistema de saúde, quem mais sairá prejudicado serão as verdadeiras famílias que, tendo e criando filhos, deveriam ser alvos de total prioridade de investimentos — sem mencionar que, como sempre, os cidadãos é que pagarão a conta toda através de impostos. Mas obtendo igualdade legal diante da lei, os “casais” gays receberão tanta atenção e recursos quanto os casais naturais. Os recursos serão igualmente distribuídos tanto para casais naturais, que estão construindo verdadeiras famílias, quanto para casais não naturais, que estão destruindo a importância vital que a família verdadeira tem na manutenção da sociedade através da criação de bebês.

Os recursos da sociedade só deveriam ser investidos em necessidades legítimas, principalmente das famílias. O uso desses recursos para atender às reivindicações dos “casais” gays em busca de inseminação artificial ou outros procedimentos caros saqueará das famílias verdadeiras os recursos tão necessários para sua existência.

Portanto, o casamento homossexual reforçará de modo absoluto as intenções dos controlistas, que querem que o casamento seja visto e considerado inteiramente desvinculado de seu papel como gerador de nova vida. O papel do sexo gay — com prazer sexual (ainda que anormal), porém sem função de gerar bebês — atende perfeitamente a todas as exigências da ideologia controlista.

Para poder acomodar e proteger o casamento gay que a natureza não dotou para gerar bebês, as leis poderão acabar definindo o casamento como uma instituição sem ligação direta com a criação de bebês. Assim, o papel social vital da verdadeira família se perderá no redemoinho da confusão homossexual reinante nas novas leis e imposições sociais.

Ter filhos, dentro do casamento ou não, será apenas mais uma opção. Sendo assim, se o governo precisar intervir para que os casais gays tenham filhos de um modo antinatural (através do sistema de saúde que deverá garantir “direitos” reprodutivos não reconhecidos pela própria natureza), há probabilidade de que o governo venha a intervir para que todos os casais só tenham filhos com permissão do governo. Tudo deverá ser igual para todos.

Tal época ainda não chegou, mas a reestruturação total da família — começando hoje com as preocupantes tentativas para redefinir o que é casamento e família — já é um projeto em andamento dos engenheiros sociais, inclusive da ONU, que nunca menciona os termos marido e esposa em seus atuais documentos.

Seja com o aborto, com a contracepção ou com o homossexualismo, os controlistas estão avançando em seus objetivos de fazer com que menos bebês nasçam. O preço, porém, tem sido a completa perversão de todas as responsabilidades e funções naturais da família.

O que essas criaturas “inteligentes” não enxergam é que, se a família natural sofrer, toda a sociedade sofrerá. O preço final da morte da família natural é a inevitável extinção da sociedade. A sociedade pode viver sem o homossexualismo, sem o aborto, sem a contracepção e sem o feminismo, mas não pode sobreviver por muito tempo sem famílias que geram bebês. A sociedade só é sustentada pelas famílias naturais que têm filhos.

Preço elevado para europeus e americanos

Há outro problema grave com os planos dos controlistas. Eles queriam que o mundo inteiro fosse condicionado por suas idéias, e eles não têm medido esforços para usar a ONU nesse sentido. Contudo, quem mais está seguindo suas idéias de aborto, contracepção e homossexualismo são os europeus e americanos. Para alegria dos controlistas, é imenso o número de europeus e americanos que não querem ter filhos. Quando querem, é apenas um ou no máximo dois.

Para tristeza dos controlistas, os muçulmanos não estão seguindo essas idéias. Suas famílias são grandes. Cada família muçulmana vê a chega de mais bebês como mais muçulmanos para propagar sua religião. Para tristeza dos europeus, o número de muçulmanos na Europa está aumentando sem parar, enquanto o número de europeus só diminui.

Enquanto europeus e americanos e outros estão mergulhados no aborto, contracepção e homossexualismo, para atender aos desejos dos controlistas de menos bebês no mundo, os muçulmanos levam muito a sério a importância de suas famílias e religião.

Cristãos, hindus, budistas, animistas, espíritas e outros religiosos no mundo inteiro estão cedendo em massa às pretensões dos controlistas. Mas os muçulmanos continuam demonstrando uma resistência formidável.

Com a “ajuda” dos grupos pró-aborto, pró-ambientalismo, pró-feminismo e pró-homossexualismo, haverá menos europeus para habitar a Europa. Mas esse espaço vazio não ficará vago por muito tempo. Por causa de seu respeito às suas famílias e à sua religião, os muçulmanos estão tendo muitos bebês, que serão os futuros cidadãos do mundo e alegremente preencherão os lugares vagos deixados pelos europeus e outros.

O jornalista Mark Steyn, do jornal Chicago Sun-Times, comentou: “Os problemas da Europa — seus programas sociais que já estão fora das possibilidades econômicas, sua demografia que já está no leito de morte, sua dependência de números de imigrantes que nenhuma nação estável já conseguiu absorver com sucesso — foram todos criados pela própria Europa. As projeções de alguns especialistas indicam que 40 por cento da população da União Européia será muçulmana no ano 2025. O que já é realidade é que semanalmente mais pessoas freqüentam as orações de sexta nas mesquitas do que os cultos de domingo nas igrejas cristãs”.[2]

Os prognósticos menos pessimistas indicam que em menos de cem anos os muçulmanos serão maioria em grande parte da Europa. Eles só conseguirão dominar a Europa porque nunca se submeteram às políticas de controle populacional. Os europeus de hoje que vivem de acordo com os valores impostos pelos controlistas estão lançando as bases para a futura UEI (União Européia Islâmica).

Por esse e outros motivos, nada temos a agradecer aos controlistas por seus esforços de “salvarem” o mundo do “excesso” de seres humanos. A “salvação” proposta por eles — que trouxe aumento do aborto, do homossexualismo, do sexo livre e do desrespeito ao valor da vida humana — está contribuindo decisivamente para a destruição de muitas famílias e para a redução dos europeus.

Algum dia os muçulmanos serão imensamente gratos por toda a “limpeza” étnica, cultural e religiosa que as idéias de controle populacional estão trabalhando na Europa em nossos dias.

Os homossexuais também sofrerão

As feministas, os ambientalistas e os homossexuais não percebem que são manipulados pelos controlistas.

Hoje, os ativistas gays atacam os Cristianismo e a Bíblia, que condena claramente os atos homossexuais. Eles atacam a próprio livro que apresenta a única Pessoa que pode livrar um homem do homossexualismo. Eles colaboram intensamente com os controlistas para livrar o mundo do Cristianismo, redefinir a família tradicional e reduzir a população mundial.

O Evangelho de Jesus Cristo oferece gratuitamente libertação para os prisioneiros do homossexualismo. A religião muçulmana não oferece esperança alguma para eles.

Se algum dia os muçulmanos realmente se tornarem maioria na Europa, as leis muçulmanas se tornarão leis nacionais e os praticantes do homossexualismo sofrerão tudo o que os homossexuais sofrem em países muçulmanos: castigos duros e morte. Aí a futura minoria européia na Europa, inclusive os homossexuais, sentirá a diferença entre Cristianismo e islamismo.

A Europa ainda vai sentir saudades dos cristãos e seus valores.

Julio Severo é autor do livro O Movimento Homossexual, publicado pela Editora Betânia.

www.juliosevero.com.br

www.juliosevero.com

Notas:

[1] U.S. Population Growth and Family Planning: A Review of the Literature (New York: Planned Parenthood-World Population), p. viii. Citado no livro De Volta Ao Lar, disponível no no sitewww.juliosevero.com

[2] http://www.suntimes.com/output/steyn/cst-edt-steyn27.html