terça-feira, 18 de janeiro de 2011

As seitas evangélicas e suas superstições.

O Brasil é um país supersticioso. Na Bahia há um dito popular que exemplifica isso de forma jocosa e muito bem humorada: “80% são católicos, 15% são protestantes, 5% pertencem a outras religiões e 100% vestem branco às sextas-feiras”. A superstição está tão engendrada em nossa sociedade que chega a independer do nível sócio-econômico ou cultural. Entretanto, há quem se aproveite do espírito supersticioso do brasileiro de forma torpe e irresponsável, em questão, diversas seitas evangélicas.

Todos nós já escutamos nos meios de comunicação chamadas como: “dia do descarrego”; “meia-noite da libertação”; “noite da quebra de feitiços”, “dia do óleo santo de Israel”; “corrente dos empresários”; “culto da sexta-feira 13”. E alguns mais hilários como: “sexta-feira forte, desencapetamento total” ou “venha receber seu shampoo sagrado”. Este último, por sinal, quem vos escreve teve oportunidade de escutar. Não raro, em programas de rádio ou TV dessas seitas, os “pastores” que apresentam tais programas, quando perguntados por ouvintes sobre as razões de seus infortúnios, respondem sem pestanejar: “Foi um feitiço, um trabalho, uma maldição que jogaram em você! Compareça a nossa igreja...”. Já se estabelece nesse curto contato uma relação de sugestionador e sugestionado, entre o pretenso "pastor" e sua vítima em potencial.

Termos como “descarrego” sempre estiveram tradicionalmente relacionados ao fetichismo e à magia, temas que sempre foram objeto de repúdio por parte do cristianismo. Qual seria então a justificativa para a venda de falsos objetos sagrados e da utilização de elementos da superstição popular por parte de seitas evangélicas em pleno século XXI? As respostas são várias, mas orbitam em torno de uma única motivação: dinheiro. Soma-se ainda uma tática covarde: a submissão da consciência dos fiéis a uma ótica atávica. Ou seja, ao invés de libertar mentes de crenças ancestrais que subjugam a verdadeira espiritualidade libertária do cristianismo, essas seitas perpetuam e disseminam a crença em supertições e fetiches, além de escravizar, inexoravelmente, seus membros a uma permanente relativização de sua relação com Deus.

Essa verdadeira escravização de mentes, é em parte responsável pelo esplêndido crescimento dessas seitas. Não há uma explícita negação daquilo que pode ser classificado como crendice popular e superstição. O fiel não precisa rever seus conceitos motivado por uma doutrina que o conduza a uma reflexão acerca de suas crenças anteriores, simplesmente não é preciso abandonar nada, não é preciso modificar sua ótica em relação ao que recebeu como herança do seu folclore e cultura. O fiel é conduzido a permanecer na ignorância, a mesma ignorância que justifica para esse mesmo fiel que basta ter fé para salvar-se, ou seja, um caminho religioso pavimentado por aparentes facilidades. O fiel permanece arraigado a superstições, e é estimulado diuturnamente pela seita a continuar nessa mesma situação de voluntária escravidão. Afinal, permanecer dentro da seita é a garantia de “corpo fechado”, de proteção. O “pastor”, por sua vez, ocupa uma posição bastante similar a de um curandeiro, dententor de uma "magia boa”, antídoto que protege o fiel de toda uma miríade de riscos espirituais aos quais o mesmo está exposto fora da seita. E a seita ocupa grande parte de sua pregação em solidificar esses conceitos em seus fiéis, basta adentrar qualquer desses templos e o que se notará é uma sequência de pregações e testemunhos reforçando dia após dia a imagem de um mundo ancestralmente cheio de superstições. Serão pastores falando de feitiços, magias, bruxarias e demônios, e testemunhos de fiéis falando que foram libertados exatamente dessas coisas. Com tanta repetição, qualquer mentira passa virtualmente por verdade. Por mais absurdo que pareça, a observação comprova essa relação de sujeição dos fiéis motivada pelo medo e ignorância, da mesma forma que atesta o comportamento vicioso dos pretensos pastores, o que os coloca no mesmo calibre dos curandeiros, feiticeiros e passistas que dizem combater. Em geral, com os fiéis incentivados a relacionar sua fé cristã a fetichismos e crendices, não ocorre uma verdadeira conversão, não há um momento de íntima descoberta e encontro com o Cristo.

Muito embora o slogan “encontrei Jesus” seja o mais repetido pelos adeptos de tais seitas, Jesus, nesse contexto, é tão somente um elemento a mais nesse processo de aprisionamento, e não o motor de uma grande mudança de vida. A mensagem cristã que lhes chega é bastante distante da real. E o "jesus'' que lhes é oferecido é tão somente aquele dos milagres e dos exorcismos, deixam de fora o real Jesus, que também exige uma verdadeira revolução moral na vida do fiel. Não importa QUEM é Jesus, mas o que Ele pode proporcionar. Sob esse aspecto, inclusive, cabe fazer uma censura peremptória àqueles que se identificam como católicos e apegam-se a sincretismos, comportando-se da mesma maneira que os fiéis evangélicos que mencionamos.

O sincretismo é um elemento estranho à fé católica, e o pretenso católico que o pratica está em grave estado de pecado. Não se pode ser católico e espiritista ou fetichista ao mesmo tempo. Não se pode servir a dois senhores. Entretanto, cabe lembrar, que ao contrário das seitas que aqui abordamos, a Igreja Católica condena e reprova de todas as formas tanto o pensamento quanto a manifestação supersticiosa. Fé católica e crendice são elementos amplamente dissociados, e não há espaço para contemporizações a esse respeito. Ao recorrer a símbolos de magia, a seitas evangélicas contribuem para a solidificação de princípios amplamente contrários a fé cristã.

E para maioria das pessoas que integram tais seitas, uma sessão de “descarrego” ou ir ao templo à meia-noite de uma sexta-feira 13 é algo que faz parte da fé cristã. Idéia que contraria frontalmente os fundamentos do cristianismo, que em sua origem e doutrina , é completamente avesso à crendice e ao fetichismo; a qualquer forma de relativização do poder de Deus. Se nem mesmo uma flor nasce sem a permissão do altíssimo, é absurdo imaginar então que mal-olhado é suficiente para lançar a vida de qualquer pessoa na falência, mas é isso que a seita ensina, mesmo que a biblia, a tradição e a patrística cristã afirme o contrário. Dessa forma, a seita envangélica distancia-se de tal forma da fé cristã, que em relação a ela guarda pouca ou nenhuma consonância.

Ao conduzir o fiel a acreditar que as práticas da seita referentes a “proteção” contra maldições é suficiente garantia de sua paz e integridade, o fiel é na verdade conduzido a colocar Deus como mero coadjuvante do poder da seita. Ou seja, Deus, apenas, não seria suficiente à sua necessidade de proteção. Uma prova bastante nítida desse processo de alienação religiosa, é a forma pródiga como essas seitas exploram pseudo exorcismos e testemunhos de fiéis que livraram-se de "feitiços, trabalhos e maldições" através da seita. Para o fiel, Deus, sem a seita "não surte efeito". Em resumo, para essas seitas e seus pobres e enganados fiéis, sem as correntes, sem a falsa água do rio Jordão, sem o óleo de Israel fabricado no quintal, sem os descarregos teatrais, e para não deixar de citar, sem o “fantástico” shampoo sagrado, o cristianismo não acontece.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Biotecnologia, Biogenética e Bioética: o que é isto?

Está na ordem do dia falar em Biotecnologia e Bioética. Com uma freqüência incrível estas palavras estão na mídia, anunciando novas e sensacionais descobertas no campo da genética e da medicina em geral. Acontece que nem sempre são colocados os pressupostos para uma adequada compreensão e um adequado posicionamento diante do que está ocorrendo. Por isto mesmo o primeiro passo é tentar compreender melhor certas palavras chave, como é o caso da biotecnologia, da biogenética e da bioética.

Biotecnologia e Biogenética

Quando se fala de “bios”, sempre se está falando de “vida”. E quando se fala de “vida” sempre se pensa em “processo” , “movimento”. Devemos distinguir várias etapas tanto do conhecer, quanto na capacidade de interferir sobre aquilo que se conhece. É assim que desde sempre o ser humano sabia algo sobre os mistérios da vida, e desde sempre tentou interferir sobre eles. É verdade que num período mais primitivo isto acontecia mais através de mitos e ritos e que pouco a pouco isto passou a acontecer através das ciências e das técnicas. É neste horizonte que devemos entender o estágio atual da Biotecnologia e da Biogenética. Depois de um período “ primitivo”, um período “clássico” chegamos ao período atual, quando Biotecnologia e Biogenética conjugadas acumularam um acervo de saber e de poder nunca imaginados.

Como se percebe, a Biogenética aponta mais para os conhecimentos; a Biotecnologia, mais para a capacidade de interferência. O fato é que atuando juntas estão provocando a maior revolução da história da humanidade. Concretamente isto significa que até mais ou menos os inícios do século XX pouco se sabia sobre os “genes”, e, conseqüentemente pouco se sabia sobre Genética. Por isto mesmo, pouco se poderia interferir nestes mecanismos mais profundos da vida.

Para uma melhor compreensão do que está ocorrendo convém partir da observação do nosso próprio corpo: ele é constituído por tecidos e órgãos. Acontece que estes tecidos e órgãos são constituídos por 100 trilhões de células. Cada célula dispõe de um núcleo onde se encontram “ cromossomos”. Estes cromossomos ( 23 pares) carregam consigo “genes” (cerca de 20 mil na espécie humana), que, por sua vez, detêm as “informações” necessárias para a manutenção e reprodução da vida. Hoje não apenas se conhecem muitos segredos da vida, mas, justamente através de uma sofisticada tecnologia voltada para a vida, se é capaz de interferir profundamente sobre este material genético. É por isto que se fala em “ manipulação” genética. Enquanto no passado mais se observava, e mais se agia de “fora” para dentro, hoje se age de “dentro” para fora, e de uma maneira muito mais profunda.

Bioética

É uma ciência nova. Surgiu no contexto dos avanços da Biogenética e da Biotecnologia, com a preocupação de evitar a possível desumanização dos procedimentos oriundos dos laboratórios. Mais exatamente, a Bioética surgiu em 1970 com um livro do americano V. Potter, “Bioética: uma ponte para o futuro”, com a preocupação de mediar o diálogo entre ciências biométicas e ética. Nos seus 38 anos de existência a Bioética já deu grandes passos. Inicialmente ela se centrou mais em torno de quatro grandes princípios: o da autonomia, o da justiça, o da beneficência e o da não maleficência. Com o primeiro se buscava preservar os direitos do “paciente”; com o segundo, os direitos da sociedade; com o terceiro e quarto se procurava preservar o velho princípio de Hipócrates de se colocar ao serviço do bem.

Desde o início a Bioética conseguiu conquistar respeitabilidade tanto face às ciênicas biomédicas. Aos poucos, com os previsíveis desdobramentos, no sentido de irem aparecendo sempre novas coordenadas, a Bioética foi adquirindo um vulto maior. Numerosas publicações, congressos e seminários transformaram a Bioética numa força significativa seja em termos intelectuais, seja em termos de peso sobre as decisões face aos novos problemas levantados pela biotecnologia.

Hoje quem não entende de Bioética encontra-se um pouco à margem das grandes discussões sobre os mistérios da vida.Comissões de Bioética atuam em todas as frentes, o que não significa que sempre o façam do mesmo modo e com os mesmos pressupostos. De fato, não só há várias correntes de Bioética, como também em nome da Bioética se pode estar assumindo posições que não se coadunam nem com o Evangelho, nem com a dignidade humana. Mas, em linha de princípio, a força da Bioética se transformou numa esperança de que nem tudo está perdido.

Dr. Frei Antônio Moser
Assessor da CNBB para assuntos de Bioética

Engenharia genética, biologia sintética e vida artificial.

Dr. Frei Antônio Moser
Assessor da CNBB para assuntos de bioética

Desde os inícios da década de 1970 já se falava em reprodução assistida em laboratório; em manipulação genética; em engenharia genética e até em terapia genética. Acontece que até 1987, quando nasceu o primeiro bebê de proveta, e sobretudo até 1997, quando foi obtido o primeiro clone de animal a partir de células adultas (ovelha Dolly), tudo parecia colocar-se num horizonte longínquo, onde se tornava difícil distinguir o possível e o simplesmente imaginável.

Como comentamos em vários artigos recentes, os avanços são tantos e tão rápidos, que até o anjo Gabriel ficaria surpreso com a adesão incondicional de um certo número de cientistas. Também eles concordam com o anjo de que a Deus nada é impossível, pois também mais nada é impossível para biogeneticistas e biotecnólogos. Tudo é questão de tempo. E de fato, a cada dia aparecem, sistematicamente, notícias sobre novas e sensacionais descobertas. Como se fala em "prato do dia", hoje poder-se-ia até criar uma página diária com o título: "a descoberta do dia", e seguramente ela jamais ficará em branco. É verdade que não poucas notícias são requentadas e até ideologicamente trabalhadas. Mas indiscutivelmente mesmo as pessoas mais ligadas ao campo da biogenética, vão vivendo de susto em susto, sempre hesitando entre o fascínio e o temor.

Vida artificial

A notícia do último dia 25 de janeiro foi esta: "Craig Venter, o conhecido geneticista (que, juntamente com James Watson, descobriu a estrutura do material genético, DNA, em 1953) teria acabado de criar a estrutura básica para um genoma sintético e este seria o passo mais importante para se obter vida sintética ou artificial".

Note-se que já não se trata de transmissão artificial da vida, como a que vem ocorrendo nos processos denominados de reprodução assistida, mas de vida artificial. Há algum tempo se vem falando em "Second Life" ( segunda vida) como expressão de um mundo virtual onde tudo parece real. Trata-se de uma espécie de simulador onde os usuários criam personagens, trabalham, divertem-se, gastam dinheiro, fazem negócios, cultivam vida social, criando amizades, namoros e casamentos, mas sempre, tudo restrito à tela de um computador. Agora já não se trataria de mundo virtual, mas de um mundo real mesmo. Para uma melhor compreensão do que isto significa, convém fazer uma retrospectiva.

Em maio de 2005 pesquisadores da Universidade de Boston anunciavam que um dia a biologia poderia produzir organismos artificiais com fins terapêuticos. Da "simples" modificação genética de uma bactéria, através da agregação de um gene estranho, agora já se poderia inserir uma rede genética inteira, com a ação de muitos genes. Para medir o alcance deste passo, serve uma comparação: a engenharia genética denominada convencional, por mais avançada que se apresente, equivaleria tão somente à troca da ponta de uma chave de fenda; no caso em questão, da possibilidade de se criar vida artificialmente, estaríamos falando da mudança do conteúdo total de toda a caixa de ferramentas. Se a partir da década de 1990 conseguimos, progressivamente, ler o código genético da espécie humana e de inúmeras outras espécies de seres vivos, agora estaríamos em condições de reescrever o código genético destes mesmos seres vivos e produzir outros seres que jamais existiriam através do que se denomina de evolução natural. Tratar-se-ia portanto de algo mais complexo e com maiores conseqüências sob todos os aspectos: existenciais, comportamentais, jurídicos, éticos.

Para uma melhor compreensão ainda, convém recordar que há alguns anos se anunciava o desenvolvimento de tecnologias capazes de transferir um vírus geneticamente modificado para integrar o genoma de uma bactéria hospedeira, que por sua vez seria capaz de criar um RNA mensageiro para ativar ou então bloquear a produção de uma proteína específica, ao serviço dos interesses do seu criador. Estamos falando de verdadeiros interruptores que ativam ou desativam genes, de acordo com as conveniências. Se antes a busca se localizava no conhecer os mecanismos da vida, através da observação e depois do desmonte, agora se busca criar de sistemas novos e sofisticados capazes de gerar a vida.

Novos seres

A "velha geração" de biólogos, biogeneticistas e biotecnólogos procurava compreender e reproduzir a vida existente. Agora trata-se de criar, literalmente, algo de novo. Projetando e construindo máquinas que atuem dentro das células, estes novos artesãos da vida têm objetivos bastante claros: inserir um cromossomo sintético dentro de uma célula e obter assim a criação de um organismo artificial, vivo, que jamais existiu ou seria capaz de existir por si próprio na evolução normal das espécies.

Esta operação teria três etapas: a primeira, já executada, pela transferência do genoma de uma bactéria para outra, transformá-las em espécies diferentes; a segunda, agora em execução, produzir quimicamente fragmentos de DNA desta bactéria; a terceira, em andamento, construir verdadeiras "máquinas" que atuem dentro das células.

Todas estas experiências visam criar novos seres que tenham vida própria, mas que obedeçam aos comandos humanos dados previamente na própria construção destes novos seres vivos. Com isto se visam criar fábricas biológicas que poderão produzir verdadeiros biocombustíveis em laboratório, como serão capazes de digerir lixo tóxico, absorver dióxido de carbono e outros gazes poluentes que estão na origem do efeito estufa.

As expectativas nesta linha não são de hoje, e de alguma forma, já há milhões e milhões micro organismos em ação: conjugando microeletrônica, biologia molecular e nanotecnologia, micróbios funcionam como se fossem sondas de DNA, passando as informações para bactérias associadas a genes informantes e iniciado o trabalho de limpeza. Esta operação denomina-se "biorremediação" e já está atuando em muitas partes do mundo, despoluindo rios, lagos e mares.

E mais ainda, o sonho é que estas verdadeiras usinas biológicas sejam verdadeiras indústrias terapêuticas que substituam os tradicionais medicamentos. Aliás, os "tradicionais" medicamentos, por mais sofisticados que sejam, já há algum tempo se encontram na lista de produtos que deverão ser logo descartados: eles são por demais genéricos, agindo em todas as direções e com isto muitas vezes fazendo mais mal do que bem. O que já algum tempo se encontrava entre os objetivos mais importantes era a produção de medicamentos personalizados e "sob medida". Se estas experiências agora anunciadas tiverem êxito até estes medicamentos iriam tornar-se dispensáveis. Agora bastaria tomar pílulas que seriam capazes de ligar ou desligar as fábricas de medicamentos, que seriam nossas próprias células.

O homem também é capaz de criar?

Convenhamos que tudo isto é difícil de ser compreendido e nos deixa realmente confusos. Mais difícil ainda é admitir a possibilidade de se criar vida artificial, com a capacidade de auto- sustentação e reprodução. Sempre ouvimos dizer que só Deus é o Criador de tudo. Será que agora precisamos admitir que o homem também seria capaz de criar algo a partir do nada?

Não é bem assim. Em primeiro lugar porque estamos ainda tratando de bactérias, organismos super simples; e no caso em questão estamos falando de uma bactéria chamada mycoplasma genitalium, cujo genoma foi mapeado, estudado e desmontado, para ser recomposto com outras propriedades. Fazendo uma comparação com o mundo da informática se poderia dizer que foi preparado um software (programa) para uma bactéria cumprir uma tarefa específica, mas até aqui ainda não se sabe como ativar este programa. E como observa o professor de engenharia biomédica de Boston, Jim Collins, a ciência ainda está longe de entender o que é a vida e o que a comanda.

De qualquer forma, decisivamente nos encontramos hoje numa situação onde a tecnologia avança a passos largos, bem mais depressa do que as reflexões de cunho jurídico e ético. Ademais, ao mesmo tempo em que olhamos com esperança para o que se denomina medicina molecular e de biologia ambiental, capazes de apagar os efeitos desastrosos de pecados anteriores, uma vez mais, e sempre de novo, nos sentimos perplexos. Isto não só porque estas novas criaturas podem "enlouquecer" , mas porque podem ser programadas para enlouquecerem e passarem a agir perversamente.

Como tantos outros inventos anteriores, todas as descobertas vêm carregadas de uma ambivalência radical: tanto podem ser colocadas ao serviço da vida, quanto ao serviço da morte. Com uma diferença em relação ao passado: fica cada vez mais claro que as clássicas armas representadas por fuzis, metralhadores, canhões e tanques, só servirão para produzir filmes de terror e para serem guardadas em museus. As verdadeiras armas serão invisíveis e bem mais mortíferas. E as infundadas acusações contra Sadam Hussein, de que possuiria terríveis armas biológicas e bacteriológicas irão se transformar em verdades comprovadas: não no pobre e destruído Iraque mas em milhares de laboratórios espalhados pelo mundo afora, sempre na espera de receber uma única ordem referente à direção para a qual serão encaminhadas. Ninguém vê, ninguém sente, ninguém sente nenhum odor: simplesmente todos morrem sem causas aparentes.

De onde emana a força da personalidade de Jesus?

Dr. Frei Antônio Moser
Teólogo

Há poucos dias atrás publicávamos uma crônica sobre a presença de Deus em nossa sociedade. Anotávamos que, ao contrário do que possa parecer, Deus continua vivo e atuante. Nessa mesma linha conviria lançar um olhar sobre Jesus Cristo. Não são poucos os livros que o classificam como "o maior", mestre, psicólogo, etc. Isso significa que Ele é uma unanimidade em termos de ser um personagem importante. Forçosamente não é em termos de aceitação ou não de seus ensinamentos e de seus posicionamentos. Ou seja: não é fácil caracterizá-lo a partir dos seus relacionamentos

De fato, se por um lado desde o início de sua vida pública uma multidão se sentia fascinada por Ele, por outro lado, pequenos grupos o odiaram desde o início. Com isso a objetividade nos obriga a reconhecermos que a vida de Jesus foi toda perpassada por relações paradoxais: de admiração e desprezo, de amor e ódio.

Mas não foi só durante sua vida que Ele despertou tais sentimentos: ao longo dos dois mil anos de sua história, o mesmo esquema dialético se repete. Ninguém fica indiferente diante Dele. Ou o ama apaixonadamente ou o odeia de morte. O mesmo ocorre em relação aos seus seguidores.

Isso nos leva a pressupor que sua personalidade era revestida de uma força incomum, tanto em termos de atração, quanto de retração. E daí também brota uma questão de fundo: de onde emana a força da personalidade de Jesus? Claro que não existe resposta fácil, nem acabada para essa questão. Mas com certeza trata-se de uma questão importante tanto em termos teológicos, quanto antropológicos. Será que essa força lhe vem diretamente de Deus? Será que ela brota de sua própria personalidade? Será que ela remete para a força do seu pensamento e dos seus sentimentos?

Com certeza todas essas questões têm sua razão de ser e todos os ângulos suscitados por ela são importantes para a compreensão do fenômeno que foi Jesus, o maior marco da história da humanidade. Entretanto, parece-nos que a força que emanava de suas palavras, de seus gestos, ou até mesmo do simples fato de estar passando por algum lugar ( Mc 6,1-2; Lc 4.22; Lc 6,19), pode ser entendida de uma maneira ainda mais apropriada, quando nos detemos sobre suas relações. Relações com Deus; relações com os familiares; relações com os amigos; com os admiradores; relações com os inimigos; com os poderosos; com os fracos e doentes; com as criaturas que o cercam.

Suas relações com o Pai são de ternura, amor e obediência Àquele que o enviou; com os familiares as relações apresentam algo de conflitivo, no sentido de Jesus privilegiar os laços da fé, sem desprezar os laços de sangue; com os amigos e discípulos mantém laços de intimidade e dedicação profunda; algo de parecido pode ser dito com relação aos que crêem, e até mesmo com as demais criaturas, manifestações da grandeza e bondade de Deus. Algo de parecido deve ser dito em relação aos poderosos deste mundo: enquanto exalta os humildes, derruba dos poderosos colocando-os no devido plano, ou seja nenhum poder teriam se não lhes tivesse sido dado por Deus para o serviço do bem comum.

Como conclusão podemos dizer que a força de Jesus vem de suas relações adequadas, a partir daquelas com o Pai que o enviou, estendendo-se para os que o cercam, sejam amigos ou inimigos, crentes ou não crentes. Ele se entende com uma espécie de nó de relações entre todas as criaturas. E não poderia ser diferente, uma vez que tudo o que existe foi feito por Ele e para Ele. E nada do que existe existe sem Ele.

Cardeal destaca importância do silêncio na liturgia.



Vivemos em uma civilização profundamente marcada pelo ruído. Há um vozerio por toda parte. A técnica moderna, com extraordinária rapidez, cria instrumentos que enchem os ouvidos e também os olhos com tudo o que ocorre aqui e no mais distante recôndito do mundo. Cada vez mais se torna difícil o silêncio interior e exterior. No entanto, ele é importante para nossa saúde física, mental e, especialmente, espiritual.
Muitos sentem a necessidade de superar essa escravizante estrutura de nossa sociedade moderna. Buscam um ambiente de calma para unir-se a Deus ou mesmo para refletir sobre sua vida e os problemas cotidianos. Na parte religiosa, a Igreja deve preservar nos templos, de modo permanente, um clima de tranquilidade. São oásis mais valiosos hoje, quando a movimentação nas ruas e até nos lares é massificante. Durante o culto, os cânticos, leituras e aclamações, indispensáveis para fortificar uma convivência realmente comunitária, não excluem os momentos de meditação. Em um e outro caso, a Casa de Deus deve oferecer ao coração agitado a oportunidade de usufruir um intenso contato com o divino. Sem recolhimentos, frequentes e profundos, é impensável a sobrevivência e o progresso de uma vida cristã coerente e dinâmica, num mundo que frequentemente repele a mensagem decorrente do Evangelho.

Santo Ambrósio, ao tratar desse assunto, em sua época (século IV) que poderíamos chamá-la de absolutamente silenciosa em comparação com os nossos dias, chega a afirmar: “O diabo busca o barulho, Cristo, o silêncio”. Assim, que dizer hoje do ruído nas cerimônias litúrgicas? Certamente, os elevados decibéis são um aferidor dos obstáculos do encontro do homem consigo mesmo e Deus. Recordo os falsos profetas que gritavam sem serem ouvidos e que Elias ironicamente estimulava: “Gritai com mais força (...) ele é deus, (...) mas certamente estará dormindo (...)” (1Rs 18,27).

Do extremo de um imobilismo, fruto do individualismo passa-se para o outro igualmente condenável. Neste, a estridência dos sons de instrumentos que enervam não eleva a Deus o coração do fiel. E os promotores muitas vezes não são advertidos, pois se apresentam com o falso salvo-conduto de observantes das orientações conciliares. Não me refiro à Missa para jovens, mas simplesmente ao bom-senso. Evidentemente, um auditório composto de pessoas em idade juvenil terá um comportamento diverso do de outras faixas etárias. No entanto, mesmo assim, há limites.

Em nossos dias, urge relembrar a importância de um ambiente que favoreça o contato com o divino nas cerimônias religiosas e lugares sagrados, não como fim, mas como meio válido de fecundo encontro com Deusou manifestação de respeito à casa do Senhor.

O Concílio Vaticano II, na Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia (nº 30), ao tratar das normas que derivam da natureza hierárquica e comunitária da liturgia, conclui: “A seu tempo, seja guardado o sagrado silêncio”.

A justa ênfase na prática da renovação conciliar facilmente levou a exageros na comunicação entre os fiéis, quer nos atos oficiais, quer em outros momentos na igreja. E isso, às custas do ambiente convidativo à prece, inclusive pessoal, que deve reinar nos lugares santos, mesmo quando não há celebrações. Nos documentos posteriores ao Concílio, verificamos uma revalorização do silêncio, ao menos em certas circunstâncias, como indica a Instrução Geral do Missal Romano (3 de abril de 1969): “Oportunamente, como parte da celebração deve-se observar o silêncio sagrado” (nº 23).

A Escritura nos proporciona poderosa argumentação em favor de um grande esforço para restabelecer, em nossas igrejas, um clima de paz, em suma, de oração. Podemos constatar o significativo encontro de Elias com o Senhor, no Monte Horeb: “este não se encontrava no vento, nem no terremoto, nem no fogo e sim no ‘murmúrio de uma brisa’” (1Rs 19,9-15). E também quando o profeta Sofonias conclamava o povo: “Silêncio diante do Senhor!” (Sf 1, 7).

Na bela obra de Romano Guardini sobre a Missa, o capítulo I tem por título: “O silêncio”. Explica a razão de iniciar o livro com esse assunto: “Este livro trata da liturgia. Ora, se me perguntassem onde começa a vida litúrgica, eu responderia: com o aprendizado do silêncio. Sem ele, nada se obtém de válido (...). É a primeira condição para uma ação sagrada” (“La messe”, cap. I, pág. 20).

O recolhimento nas igrejas, dentro e fora do culto, só poderá existir se for fielmente observado por todos. Facilmente se deduz como é nocivo ter em torno de si pessoas que falam ou se movimentam ruidosamente. O templo é de todos e ninguém possui o direito de prejudicar o próximo.

Na observância do que é permitido e até normal, pode estar inserido algo que sirva de obstáculo à prece e união com o divino. Cito como exemplo a maior ou menor intensidade dos tons de certos instrumentos e a preservação do momento da saudação da paz, antes da Comunhão. Às vezes, ao desejá-la, nós o fazemos como se estivéssemos na via pública.

Temos necessidade de maior contato com o Altíssimo. Decorre daí a utilidade do exercício do silêncio, de modo particular em nossas igrejas. Nessa oportunidade nós homenageamos o Senhor, afastando interior e exteriormente a agitação do mundo. E as manifestações da comunidade devem ser fecundadas por uma atitude que favoreça o íntimo contato com Deus.

Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

Identidade sacerdotal não nasce de desejos pessoais, diz cardeal.

Uma crise de fé se manifesta de diversas maneiras. Uma delas insere-se na eclesiologia. Constantemente são veiculadas afirmações que, mesmo não erradas plenamente, são, no mínimo, dúbias. Uma arbitrária concepção da instituição fundada por Jesus Cristo leva a desvios e a consequências danosas à paz e à concórdia no interior da comunidade eclesial. A grande maioria permanece fiel, embora sofrendo as incursões de uma minoria.

Dada a importância do padre, para todos, é necessário da parte do Pastor, responsável diante de Deus pela ortodoxia, um comentário sobre o sacerdócio. O Concílio Vaticano II traz, como proposição dogmática, a diferenciação essencial – “e não apenas em grau” – entre o sacerdócio comum dos fiéis e o ministerial ordenado (Lumen Gentium, nº10).

Este último corresponde a uma vontade consignada pelo Fundador da Igreja, que adota uma estrutura na qual a autoridade de Deus é exercida sacramentalmente pela Ordem. O Concílio diz que “o sacerdote ministerial, pelo poder sagrado de que é investido, organiza e rege o povo de Deus” (Idem). Assim, uma função específica na comunidade eclesial e para ela.


Ora, é pelo menos dúbio declarar que não existe uma divisão de tarefas, determinada e precisa. E que os ministérios – sem excluir explicitamente o que é conferido pelo sacramento da Ordem – surgem segundo as necessidades dos leigos.

Salvaguardada a identidade divina do sacerdócio ministerial em seus graus: episcopado, presbiterato e diaconato, o Concílio reclama também a participação própria do laicato católico. Juntos, formamos todos a Igreja, “Povo de Deus”, sem nos esquecer, no entanto, de que ele não é um mero agrupamento sociológico, existente pelas leis dos homens e por seus regimes políticos. Trata-se, antes de tudo, de uma realidade sobrenatural, gerada e sustentada pela graça.

É o que São Paulo expõe no conceito de “Corpo Místico”. Em Lumen Gentium, nº 20, lemos: “Os Apóstolos, nesta sociedade hierarquicamente organizada, cuidaram de constituir os seus sucessores”. Sendo assim, a Igreja possui uma cabeça, o próprio Salvador; este prolonga sua presença e ação na hierarquia, que não é simples resultado do consenso “popular” ou a ele sujeita. Goza, portanto, de uma potestade compreensível apenas aos olhos da Fé e que a torna participante do ministério de Cristo, Pastor. Essa missão é desempenhada primeiramente pelo serviço apostólico do Sucessor de Pedro, “princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de Fé e de comunhão” (Lumen Gentium, nº 18). E o é também pelo Colégio Apostólico que, no entanto, “não tem autoridade, se nele não se considera incluído, como cabeça, o Romano Pontífice” (Idem, nº 22). Os Bispos, segundo o Concílio, têm “poder próprio”, exercendo-o, porém, sempre com Pedro e sob ele (Ibidem, nº 22). A igualdade fundamental na fraternidade e responsabilidade de todos encerra, assim, uma diferença essencial! Pelo poder hierárquico que advém do Senhor. As eventuais falhas no exercício do governo não justificam uma democratização contrária à Doutrina entregue pelo Mestre aos Apóstolos.

Ora, pretender reduzir a atuação presbiteral a um mero compromisso com as realidades temporais é, no mínimo, uma confusão teológica, quando não um erro crasso. O mesmo se diga da pretensão de a Igreja e o mundo não serem distintos entre si. Aliás, a Instrução Libertatis Nuntius chamou a atenção para o desvio doutrinário, que consiste em pretender identificar a História da Salvação simplesmente com a humana, como se existisse uma história única, a da vida terrena.

São concepções como esta que semeiam a confusão entre os fiéis, corroem os Seminários que formam padres que, no pleno entusiasmo de sua juventude, doam-se com generosidade, percorrendo, porém, caminhos errados.

A redução da imagem do presbítero pode acontecer também, e, infelizmente, não se trata apenas de hipótese, na acentuação unilateral de sua presença na problemática social, em detrimento de sua identificação com o Cristo Sacerdote.

Qual o remédio, diante de tanta perplexidade?

No que toca aos ministros sacros e às organizações eclesiais que se pretendem ao seu serviço, creio que importa retomar o conselho expresso pelo Vaticano II: “Como hoje em dia a humanidade tende cada vez mais para a unidade civil, econômica e social, assim importa que os sacerdotes, unindo o seu zelo e os seus esforços, sob a orientação dos Bispos e do Sumo Pontífice, procurem suprimir qualquer motivo de dispersão, para que todo o gênero humano seja reconduzido à unidade da família de Deus” (Lumen Gentium, nº 28). Qualquer divisão implicará sem dúvida no enfraquecimento da autêntica fisionomia do sacerdócio católico.

O padre foi constituído na comunidade eclesial para servir seus irmãos, em favor da causa de Cristo. Fá-lo-á enquanto preservar sua identidade. E esta nasce da vontade explícita do Salvador, não de interpretações subjetivas, de inclinações ou desejos pessoais. O povo tem o direito de exigir de seus presbíteros as características que lhe são inerentes, conforme o modelo traçado pelo Redentor.


Dom Eugenio de Araujo Sales

Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

Fertilização Assistida: Reflexões.

Quantos brasileiros sabem exatamente o que é uma fecundação assistida? Quantos estudantes de medicina e médicos são capazes de informar a um casal estéril sobre o valor ético da recente resolução do Conselho Federal de Medicina a respeito das novas regras sobre o uso dessa técnica avançada de fecundação? Quantos advogados, juízes, ministros de Supremos Tribunais conseguirão definir qual é a filiação de uma criança gerada no laboratório a partir dos gametas de doadores desconhecidos?

A resolução do Conselho Federal de Medicina atualiza uma anterior do ano 1992 e determina necessárias orientações sobre a fertilização artificial para regularizar melhor a utilização dessa tecnologia nos Centros de Reprodução Assistida no Brasil. É muito positivo o limite colocado para a utilização dessa técnica apenas para transmitir a vida e não para clonagem ou experiências com seres humanos, bem como a proibição da redução embrionária, que seria aborto diretamente procurado e, portanto, totalmente ilícito. Com respeito ao número de embriões transferidos para o útero materno deve-se considerar a tendência ética que vem predominando em alguns países europeus, tal como a Alemanha, onde se aprovou recentemente uma lei federal que só permite a fecundação de dois óvulos e a sua transferência para o corpo da mulher que quer ser mãe, impedindo assim a existência de embriões congelados. É muito significativo que um país que permitiu legalmente no seu passado histórico recente a existência de campos de concentração com câmaras de gás, na atualidade não quer ter mais em suas cidades, ainda que bem desenvolvidas, nenhuma câmara de congelamento de embriões.

No Brasil se está estudando um projeto de lei sobre fecundação assistida que procurará defender a dignidade da pessoa humana desde a sua concepção, impedindo tanto o aborto direto quanto o congelamento de embriões que sobram das tentativas de geração de filhos. Nesse projeto também se determina um número máximo de óvulos fecundados, não mais que dois, com a imediata e total transferência para o corpo materno, acabando dessa forma com qualquer possibilidade de haver pessoas em tubos de nitrogênio a baixas temperaturas e passíveis de experiências no futuro, caso não sejam mais queridas pelos seus pais. É muito louvável que os políticos brasileiros estejam assumindo essa atitude de proteção de todos os cidadãos brasileiros desde a sua concepção e queiram que eles, uma vez concebidos, se desenvolvam naquele ambiente mais acolhedor e amoroso, que é o corpo materno, e não num recanto de laboratórios de clínicas de fertilidade humana.

A mídia ao dar a notícia sobre tal resolução informou também que casais gay poderiam agora satisfazer seus anseios de paternidade e maternidade. O desejo de ter filhos em geral é moralmente bom, mas para esses casais apresenta-se uma questão ética complexa do ponto de vista da geração. Necessariamente eles terão que contar com doadores anônimos e estranhos a sua relação homoafetiva, e seus filhos terão só o conhecimento de 50% da sua filiação.

Toda geração tem que corresponder à dignidade da pessoa humana e isto só acontecerá com o conhecimento da plena verdade sobre quem são os pais, a fim de que essa relação social fundamental – a relação paterno-filial – fundamente toda estrutura das demais relações humanas na sociedade. O desconhecimento de quem são os autênticos progenitores não é só causada pela técnica da fecundação assistida heteróloga, mas também por outras formas indignas de transmissão da vida (estupro, prostituição, etc.), e certamente elas são a causa de desenvolvimentos psico-sociais inadequados para nossas crianças. A pessoa humana desde a sua concepção até a sua morte natural, tem o direito fundamental à vida digna, segundo leis próprias da sua natureza, desenvolvendo-se corporal e biograficamente a partir de relacionamentos essenciais sadios, como são a filiação, a fraternidade e a amizade no seio familiar, levando assim adiante o seu projeto de humanidade.

O Papa Bento XVI na entrevista recentemente publicada com o título a “Luz do mundo” afirma que “a modernidade procurou a própria estrada guiada pela ideia de progresso. Mas o que é o progresso? Hoje vemos que o progresso pode ser destrutivo, por isso devemos refletir sobre os critérios a serem adotados a fim de que o progresso seja verdadeiramente progresso”.


Eleita a primeira diretoria da Signis Brasil.

SignisBrasil1














A Unda-Brasil, associação que reúne as rádios católicas do país, agora é Signis-Brasil. A mudança foi confirmada pela 12ª Assembleia da instituição que termina hoje, 3, em Curitiba. Ontem, 2, foi eleita a primeira diretoria da nova associação que, a partir de agora, reunirá não só as rádios como todo os outros meios de comunicação católicos como TV, Internet e cinema.

A primeira presidente da Signis-Brasil é a Ir. Helena Corazza, que deixa a presidência da Rede Católica de Rádio (RCR), outro organismo que também fará parte da nova associação. Para vice-presidente foi eleito o diretor da TV Aparecida, padre César Moreira. O secretário será o gerente da Rádio Aparecida, Antônio Celso Pineli, e o tesoureiro o diretor da Rádio Nova Aliança, da arquidiocese de Brasília, padre André Lima.

A Signis é a Associação Católica Mundial de Comunicação, com sede em Bruxelas, ligada ao Pontifício Conselho para as Comunicações. A Signis, que a partir de agora terá participação Brasil com a criação da Signis-Brasil, já conta com parceiros em 130 países. Ela representa a mídia católica em várias organizações e instituições governamentais e não-governamentais.

O presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação da CNBB, Dom Orani João Tempesta, acompanhou todo o processo da criação da Signis-Brasil, iniciado há mais de três anos, e saudou a diretoria eleita, garantindo-lhe o apoio da CNBB

SignisBrasil2“A nova Diretoria da Signis está entregue em boas mãos, pessoas que conhecem Igreja e a comunicação da Igreja. O próprio advento nos propõe esperança e confiança. A Signis pode contar com a interlocução da CNBB”, disse dom Orani.

Dom Orani agradeceu ao Irmão Lauro Pazeto, último diretor da Unda-Brasil, que conduziu o processo de criação da Signis.

“Irmão Lauro foi a alma desta mudança, deste passo. A comunicação no Brasil cresceu e necessitávamos de um passo a mais já que a Signis dá abertura a todas as mídias”, disse o arcebispo.

RCR

A Rede Católica de Rádios (RCR), que realiza sua assembleia durante o encontro da Unda (Signis-Brasil), também elegeu sua nova diretoria. O frei João Carlos Romanini, da Rede Sul, foi eleito presidente. A primeira e segunda vice-presidência ficaram, respectivamente, com Ângela de Morais, da Rádio Imaculada Conceição, e Diego Joaquim Pereira, da Rádio Difusora de Goiânia.

“A história da RCR teve um primeiro momento de criação, com o advento do satélite. Hoje, somos a nova geração da RCR quando o fenômeno midiático exige novo olhar do rádio na internet e da internet no rádio. O grande desafio é descobrir o fenômeno das novas mídias. Não queremos ser concorrentes da Signis, mas somar no foco da evangelização e na missão da Igreja”, disse o novo presidente da RCR.

domingo, 2 de janeiro de 2011

ANGELUS: PAPA CONVIDA A CELEBRAR O VALOR DA FAMÍLIA E DO MATRIMÔNIO.

Bento XVI presidiu a oração mariana do Angelus, deste domingo, na Praça São Pedro, onde se encontravam milhares de fiéis e peregrinos.

O Papa renovou a todos seus votos de Feliz Ano Novo e agradeceu as pessoas que o enviaram mensagem de proximidade espiritual. Bento XVI recordou que a liturgia deste domingo repropõe o Prólogo de São João, proclamado solenemente no dia de Natal.

"Este texto admirável, expressa em forma de hino, o mistério da Encarnação, pregado pelas testemunhas oculares, os Apóstolos, em particular por João, cuja festa celebramos em 27 de dezembro. João era o mais jovem dos discípulos do Senhor; o mais jovem por idade, mas maduro para fé. Quando lemos: 'No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus' (Jo 1, 1), o evangelista se eleva além da história humana examinando a profundeza de Deus, mas bem logo, seguindo o seu Mestre, retorna à dimensão terrena dizendo: E o Verbo se fez carne" – frisou Bento XVI.

"O Verbo é uma realidade viva: um Deus que se comunica fazendo-se Ele mesmo Homem. De fato, João afirma que 'Ele veio habitar no meio de nós e nós contemplamos a sua glória' (Jo 1, 14).

Ele se abaixou para assumir a humildade de nossa condição – comenta São Leão Magno – sem que fosse diminuída a sua majestade. Lemos ainda no Prólogo:

'De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça' (Jo 1, 16). Qual é a primeira graça que recebemos: se pergunta Santo Agostinho. É a fé. A segunda graça, logo acrescenta, é a vida eterna" - acrescentou o Papa.

A seguir, o Santo Padre falou em língua espanhola às várias famílias reunidas em Madri para um grande encontro.

"Saúdo com afeto os numerosos pastores e fiéis reunidos na Praça de Colón, em Madrid, para celebrar com alegria o valor do matrimônio e da família sobre o tema "A família cristã, esperança para a Europa".

Queridos irmãos, convido todos vocês a serem fortes no amor e a contemplar com humildade o mistério do Natal, que continua falando ao coração e se torna uma escola de vida familiar e fraterna. O olhar materno da Virgem Maria, a proteção amorosa de São José e a doce presença do Menino Jesus são uma imagem clara do que deve ser cada família cristã, verdadeiros santuários de fidelidade, respeito e compreensão, em que também se transmite a fé, se fortalece a esperança e se enaltece a caridade.

Encorajo todos a viverem com entusiasmo renovado a vocação cristã dentro de casa, como verdadeiros servos do amor que acolhe, que acompanha e defende a vida. Faça de seus lares um verdadeiro ninho de virtudes e um espaço sereno e luminoso de confiança, que guiado pela graça de Deus possa discernir com sabedoria o chamado do Senhor que convida a segui-lo" - frisou o pontífice.

Com estes sentimentos, o Papa confiou fervorosamente à Sagrada Família de Nazaré, os propósitos e os frutos desse encontro em Madri, para que as famílias sejam cada vez mais lugares onde reina a alegria, a doação recíproca e a generosidade.

A seguir, Bento XVI concedeu a todos a sua bênção apostólica.