segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Não compete à Igreja intervir diretamente na política..." diz o PAPA Bento 16.

O Objetivo principal de quem atua na caridade é fazer conhecer a Face misericordiosa de Deus que quer salvar o homem em todas as suas dimensões – terrenas e espirituais – é defender os verdadeiros direitos humanos e despertar as consciências, foi o que ressaltou o pontífice, esta manhã, recebendo, na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes da plenária do Pontifício Conselho "Cor Unum", que está se realizando nestes dias com o tema "Percursos formativos para os agentes da caridade". O pensamento do papa dirigiu-se, em primeiro lugar, aos numerosos fiéis que "em todas as partes do mundo, doam, com generosidade e dedicação, o seu tempo e as suas energias a testemunhar o amor de Cristo, Bom Samaritano, que se inclina sobre os necessitados no corpo e no espírito".
Em seguida, recordando que "a caridade pertence à própria natureza da Igreja", ressaltou que ela "em seu anúncio salvífico, não pode prescindir das condições concretas de vida dos homens, aos quais é enviada".

"O agir para melhorar essas condições concretas de vida diz respeito à sua própria vida e à sua missão, porque a salvação de Cristo é integral e concerne ao homem em todas as suas dimensões: física, espiritual, social e cultural, terrena e celeste. Justamente dessa consciência nasceram, ao longo dos séculos, muitas obras e estruturas eclesiais finalizadas à promoção das pessoas e dos povos, que deram e continuam oferecendo uma contribuição insubstituível para o crescimento, o desenvolvimento harmônico e integral do ser humano. E faz parte do "testemunho da caridade de Cristo" contribuir "para construir uma ordem justa na sociedade" como fazem muitos fiéis desenvolvendo "uma profícua ação no campo econômico, social e legislativo e cultural" e "participando em primeira pessoa da vida pública" em vista do bem comum.

"Certamente, não compete à Igreja intervir diretamente na política dos Estados ou na construção de estruturas ou políticas adequadas. A Igreja, com o anúncio do Evangelho, abre o coração para Deus e para o próximo e desperta as consciências. Com a força de seu anúncio defende os verdadeiros direitos humanos e se empenha pela justiça. A fé é uma força espiritual que purifica a razão na busca de uma ordem justa, libertando-a do risco sempre presente de ser "ofuscada" pelo egoísmo, pelo interesse e pelo poder."

"Na realidade, como mostra a experiência – acrescentou o pontífice – também nas sociedades mais evoluídas do ponto de vista social, a caritas permanece sendo necessária: "O serviço do amor jamais se torna supérfluo, não somente porque a alma humana sempre precisa, além das coisas materiais, também do amor, também porque permanecem situações de sofrimento, de solidão, de necessidade, que requerem dedicação pessoal e ajudas concretas."

"O principal objetivo de quem "presta o seu serviço em organismos eclesiais que administram iniciativas e obras de caridade" deve ser o seguinte: "Fazer conhecer e experimentar a Face misericordiosa do Pai celeste, porque no coração de Deus Amor está a resposta às verdadeiras expectativas mais íntimas de todo coração humano. Como é necessário para os cristãos manter o olhar fixo na Face de Cristo! Somente n'Ele, plenamente Deus e plenamente homem, podemos contemplar o Pai (cfr Jo 17, 9) e experimentar a sua infinita misericórdia!".

A verdadeira liberdade religiosa não é a liberdade da religião.

A verdadeira liberdade religiosa não é a liberdade da religião, afirma o historiador Martin Kugler, em resposta à decisão do Tribunal Europeu para os Direitos Humanos de eliminar os crucifixos das salas de aula das escolas italianas.
Kugler, diretor da rede de defesa dos direitos humanos Christianophobia.eu, com sede em Viena, ofereceu 12 teses que mostram o pensamento equivocado do tribunal que decidiu a favor de uma mãe ateia que protestou pelos crucifixos pendurados na escola dos seus filhos.

“O direito à liberdade religiosa pode significar somente seu exercício, não a liberdade de confrontar; o significado de ‘liberdade de religião’ não tem nada a ver com a criação de uma sociedade ‘livre da religião’”, explica.

“Eliminar à força o símbolo da cruz é uma violação, como seria obrigar os ateus a pendurarem este símbolo.”

“A parede branca também é uma declaração ideológica, especialmente se nos primeiros séculos não podia estar vazia”, afirma.

“Um Estado neutro com relação aos valores é uma ficção frequentemente utilizada com um objetivo de propaganda.”

Para Kugler, decisões como a do tribunal europeu atacam realmente a religião, ao invés de lutar contra a intolerância religiosa.

“Não se pode combater os problemas políticos lutando contra a religião – indica. O fundamentalismo antirreligioso se torna cúmplice do fundamentalismo religioso quando provoca com a intolerância.”

“A maior parte das pessoas afetadas gostaria de manter a cruz – declara. É também um problema de política democrática, dando descaradamente prioridade aos interesses individuais.”

Retomando os argumentos propostos pelo governo italiano em defesa dos crucifixos nas salas de aula, Kugler indica que “a cruz é o Logos da Europa; é um símbolo religioso, mas também muito mais que isso”.

Uma miragem

Em um debate com Die Presse, Kugler destaca outros dois elementos do debate Igreja-Estado.
Falar de um “Estado neutro na confrontação dos valores” é “simplesmente ingênuo, e o resultado é uma miragem. É como uma brincadeira”.

“Um Estado neutro quanto aos valores? Contra a fraude e a corrupção? Contra a xenofobia e a discriminação? Diante dos pecados contra o meio ambiente e as conquistas sexuais no trabalho?” – pergunta-se. E continua: “Um Estado que abençoa os neonazistas, permite a pornografia, favorece certas formas de ajuda ao desenvolvimento e outras não... tudo por valores neutros? Alguém está tentando nos enganar”.

O especialista também destaca um segundo ponto que merece mais atenção: a ideia segundo a qual uma esfera pública sem presença alguma da vida religiosa ou dos símbolos religiosos seria mais “tolerante” ou mais apropriada para a liberdade de consciência que uma que permite ou inclusive fomenta declarações de crença religiosa.

“Obviamente, os pais ateus podem sentir que seu filho é molestado pela cruz na sala de aula, mas é inevitável”, explica e continua: "Pode me incomodar também, ao entrar em uma agência dos correios, ver uma fotografia do presidente federal no qual não votei. A influência, os sinais ideológicos, as presenças visuais – inclusive sexistas – existirão sempre e em todos os lugares. A única pergunta é como e o que contêm.”

Neste sentido, Kugler afirma que o Estado “deve intervir somente de maneira muito moderada e, se o faz, não deve ser somente com proibições que reduzam a religião a um gueto”.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

PAPA EM BRESCIA: "DIÁLOGO ENTRE IGREJA E HUMANIDADE ESTAVA NO CORAÇÃO DE PAULO VI".

Bento XVI realizou, neste domingo, sua visita pastoral a Brescia e Concesio, norte da Itália, lugares que testemunharam o nascimento e a formação de Giovanni Battista Montini, Papa Paulo VI. O pontífice chegou esta manhã ao aeroporto Ghedi de Brescia e dali foi visitar a igreja de Botticino Sera, onde venerou as relíquias de Santo Arcangelo Tadini. Durante a santa missa celebrada na Praça Paulo VI, o Santo Padre saudou as autoridades civis e militares, além do bispo de Brescia, Dom Luciano Monari, sacerdotes, religiosos e leigos, e especialmente os enfermos presentes na cerimônia. Em sua homilia o papa ressaltou o gesto generoso da pobre viúva que depositou duas moedas no Tesouro do Templo.

"Um gesto que, graças ao olhar atencioso de Jesus, tornou-se proverbial: o óbolo da viúva é sinônimo da generosidade de quem doa sem restrições o pouco que tem" – frisou o papa.

"Também a nós, como naquele dia aos discípulos, Jesus diz: Atenção! Olhem bem o que faz aquela viúva, porque o seu gesto contém um grande ensinamento; este, na verdade, expressa a característica fundamental daqueles que são 'pedras vivas' deste novo Templo, ou seja, o dom total de si ao Senhor e ao próximo. É este o significado perene da oferta da pobre viúva que Jesus exalta, porque ela doou mais do que os ricos que oferecem parte de seu supérfluo, enquanto ela ofereceu tudo o possuía para viver" – sublinhou Bento XVI.

A partir desse episódio do Evangelho o Bento XVI meditou sobre o mistério da Igreja a fim de homenagear o grande Papa Paulo VI, que a ela consagrou toda a sua vida.
"A Igreja é um organismo espiritual concreto que prolonga no espaço e no tempo a oblação do Filho de Deus, um sacrifício aparentemente insignificante em relação às dimensões do mundo e da história, mas decisivo aos olhos de Deus" – ressaltou o papa.

O Santo Padre frisou ainda que "a Deus foi suficiente o sacrifício de Jesus oferecido uma vez por todas para salvar o mundo inteiro, porque naquela única oblação está condensado todo o Amor Divino, como no gesto da viúva está concentrado todo o amor daquela mulher a Deus e aos irmãos".

"A Igreja, que incessantemente nasce da Eucaristia, é a continuação deste dom, desta superabundância que se expressa na pobreza, de tudo que se oferece na fração. É o Corpo de Cristo que se doa inteiramente, Corpo partido e partilhado, em constante adesão à vontade de Cristo, Cabeça da Igreja" – sublinhou o papa.

O pontífice disse ainda que esta é a Igreja que o servo de Deus Paolo VI tanto amou não obstante a sua humana e imperfeita consistência, suas amarguras e sofrimentos, suas fraquezas e misérias de muitos de seus filhos, mas também seu esforço perene de fidelidade, de amor, de perfeição e de caridade. Bento XVI frisou que para conseguir falar hoje à humanidade, a Igreja deve ser pobre e livre como a pobre viúva.

"O encontro e o diálogo da Igreja com a humanidade deste nosso tempo estavam particularmente no coração de Giovanni Battista Montini, em todas as etapas de sua vida, desde os primeiros anos de sacerdócio até o pontificado. Ele dedicou suas energias a serviço de uma Igreja conforme ao seu Senhor Jesus Cristo, de maneira que, encontrando-a, o homem contemporâneo possa encontrá-lo, porque d'Ele tem necessidade absoluta. Este é o anseio do Concílio Vaticano II, ao qual corresponde a reflexão do Papa Paulo VI sobre a Igreja" – ressaltou o Santo Padre.

Em sua primeira encíclica, Ecclesiam suam, de 06 de agosto de 1964, Paulo VI explica a importância da Igreja para a salvação da humanidade e, ao mesmo tempo, a necessidade de estabelecer uma relação mútua de conhecimento e amor entre comunidade eclesial e sociedade.

"Que dom inestimável para a Igreja a lição do Servo de Deus Paulo VI" – sublinhou Bento XVI.

Acrescentando que neste Ano Sacerdotal esta lição envolve particularmente os sacerdotes que o Papa Montini dedicou sempre uma atenção especial. O papa lembrou também Santo Arcangelo Tadini e todos os leigos que em Brescia testemunharam sua fé, sublinhando que "nos ensinamentos de Paolo VI, queridos amigos de Brescia, vocês podem encontrar indicações sempre preciosas para enfrentar os desafios atuais, como a crise econômica, a imigração, a educação dos jovens. Ao mesmo tempo, o Papa Montini não perdia ocasião para sublinhar a primazia da dimensão contemplativa, ou seja, a primazia de Deus na experiência humana. E por isso não se cansava nunca de promover a vida consagrada, na variedade de seus aspectos. Ele amou intensamente a multiforme beleza da Igreja, reconhecendo nela o reflexo da infinita beleza de Deus, que resplandece no rosto de Cristo".
Bento XVI concluiu sua homilia pedindo a intercessão de Maria, Mãe da Igreja, "a fim de que o esplendor da beleza divina brilhe em cada comunidade e na Igreja e seja um sinal luminoso de esperança para a humanidade do terceiro milênio".

PUBLICADA CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA "ANGLICANORUM COETIBUS".

Um documento que abre uma nova estrada para a promoção da unidade dos cristãos, reconhecendo, ao mesmo tempo, a legítima diversidade na expressão da nossa fé comum, em síntese, esse é o autêntico significado da Constituição apostólica Anglicanorum Coetibus, que responde às numerosas solicitações de anglicanos de diversas partes do mundo que pedem para entrar em plena comunhão com a Igreja Católica.
O documento, publicado nesta segunda-feira, foi assinado pelo Papa na última quarta-feira, dia 4, memória de São Carlos Borromeu. Consta de 13 artigos e é acompanhado de uma série de Normas complementares, estipuladas pela Congregação para a Doutrina da Fé.
A Constituição apostólica Anglicanorum Coetibus ressalta uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé mediante a instituição de Ordinariatos Pessoais, responde aos numerosos pedidos que chegaram à Santa Sé por parte de grupos de ministros e fiéis anglicanos desejosos de entrar na plena e visível comunhão com a Igreja Católica.
Portanto, não se trata de uma iniciativa que tenha tido origem na Santa Sé, mas de uma resposta generosa do papa à legítima aspiração de tais grupos anglicanos.
A instituição dessa nova estrutura – prossegue a nota – se coloca em plena harmonia com o compromisso com o diálogo ecumênico, que continua sendo uma prioridade da Igreja Católica. Ademais, os Ordinariatos Pessoais permitirão a tais grupos de anglicanos entrar em plena comunhão com a Igreja Católica, conservando, ao mesmo tempo, elementos do específico patrimônio espiritual e litúrgico anglicano.
A nota ressalta ainda que a possibilidade prevista pela Constituição "Anglicanorum Coetibus" da presença de alguns clérigos casados nos Ordinariatos Pessoais não significa de forma alguma uma mudança na disciplina da Igreja no que tange ao celibato sacerdotal que, como afirma o Concílio Vaticano II, é sinal e, ao mesmo tempo, estímulo da caridade pastoral e anuncia o Reino de Deus de modo radiante.
A Constituição apostólica estabelece, em primeiro lugar, a instituição de Ordinariatos Pessoais para os anglicanos que entram na plena comunhão com a Igreja Católica. Esses Ordinariatos – prevê o artigo introdutório da "Anglicanorum Coetibus" – são criados pela Congregação para a Doutrina da Fé dentro dos limites territoriais de uma determinada Conferência episcopal.
Têm personalidade jurídica e são formados por fiéis leigos, clérigos e religiosos, "originariamente pertencentes à Comunhão Anglicana e agora em plena comunhão com a Igreja católica" (Art. 1). Após ter reiterado que o Ordinariato está submetido à Congregação para a Doutrina da fé e aos outros organismos vaticanos segundo as suas competências (art. 2), a Constituição se detém sobre as celebrações litúrgicas.
O Ordinariato – estabelece-se – tem a faculdade de celebrar a Eucaristia e os outros sacramentos segundo os livros litúrgicos próprios da tradição anglicana aprovados pela Santa Sé, de modo a manter vivas as tradições espirituais, litúrgicas e pastorais da Comunhão Anglicana (art. 3). O Ordinariato Pessoal é confiado ao cuidado pastoral de um Ordinário nomeado pelo papa e o Ordinário tem o poder ordinário, vicário e pessoal (art. 4-5).
Em seguida, a Constituição estabelece que aqueles que exerceram o ministério de diáconos, presbíteros ou bispos anglicanos podem ser aceitos pelo Ordinário como candidatos às Ordens Sagradas na Igreja Católica. Para os ministros casados devem ser observadas as normas da encíclica "Sacerdotalis coelibatus" e da Declaração "In June". Os ministros não casados devem, por sua vez, observar a norma do celibato sacerdotal.
Por outro lado, o Ordinário aceitará para a ordem do presbiterato somente homens celibatários, ao tempo em que poderá dirigir petição ao pontífice, em derrogação ao cânone 277, parágrafo 1, a admitir caso por caso, à Ordem sagrada do presbiterato, também homens casados, segundo critérios objetivos aprovados pela Santa Sé. Além disso, os candidatos às Ordens Sagradas num Ordinariato serão formados junto aos outros seminaristas, especialmente nos âmbitos doutrinal e pastoral. Ao mesmo tempo, o Ordinário, com a aprovação da Santa Sé, pode erigir novos Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica (art. 6-7).
A Constituição prevê que, sentido o parecer do bispo diocesano do lugar e com o consenso da Santa Sé, possa "erigir paróquias pessoais para o cuidado pastoral dos fiéis pertencentes ao Ordinariato.
Os párocos gozam de todos os direitos e devem observar todas as obrigações previstas pelo Código de direito canônico (art. 8). Estabelece-se, ademais, que fiéis leigos e religiosos que desejam fazer parte do Ordinariato Pessoal devem manifestar essa vontade por escrito (art. 9).
O Ordinário – prossegue o "Anglicanorum Coetibus" – é assistido por um Conselho de governo, regulado por Estatutos aprovados pelo Ordinário e confirmados pela Santa Sé. Tal Conselho é presidido pelo Ordinário e exerce, entre outros, as funções estabelecidas no Código de direito canônico para o Conselho presbiteral (art. 10). O Ordinário deve vir a Roma a cada 5 anos para a visita ad Limina e deve apresentar ao papa um relatório sobre a situação do Ordinariato (art. 11)Por fim, a Constituição estabelece que para as causas judiciais o tribunal competente é o tribunal da diocese em que uma das partes tem o domicílio, desde que o Ordinariato não tenha constituído um tribunal próprio (art. 12).O último artigo prevê que o decreto que erige um Ordinariato determinará o lugar da sede do próprio Ordinariato. (art. 13).

domingo, 8 de novembro de 2009

Bento XVI: “teologia do coração”, mais que “teologia da razão”.

Queridos irmãos e irmãs:
Na última catequese, apresentei as principais características da teologia monástica e da teologia escolástica do século XII, que poderíamos chamar, de certa forma, respectivamente, de “teologia do coração” e “teologia da razão”.
Entre os representantes de uma e de outra corrente teológica houve um amplo debate, às vezes intenso, simbolicamente apresentado pela controvérsia entre São Bernardo de Claraval e Abelardo.
Para compreender esta confrontação entre os dois grandes mestres, é bom recordar que a teologia é a busca de uma compreensão racional, enquanto for possível, do mistério da Revelação cristã, que acreditamos pela fé: fides quaerens intellectum – a fé busca a inteligibilidade –, por citar uma definição tradicional, concisa e eficaz.
Pois bem, enquanto São Bernardo, típico representante da teologia monástica, enfatiza a primeira parte da definição, isto é, a fides (a fé), Abelardo, que é um escolástico, incide sobre a segunda parte, isto é, sobre o intellectus, sobre a compreensão por meio da razão.
Para Bernardo, a própria fé está dotada de uma íntima certeza, fundada no testemunho da Escritura e no ensinamento dos Padres da Igreja. A fé, além disso, reforça-se pelo testemunho dos santos e pela inspiração do Espírito Santo na alma de cada crente. Nos casos de dúvida e de ambiguidade, a fé deve ser protegida e iluminada pelo exercício do Magistério eclesial.
Assim, para Bernardo, era difícil estar de acordo com Abelardo, e mais em geral com aqueles que submetiam as verdades da fé ao exame crítico da razão; um exame que comportava, em sua opinião, uma grave perigo, o intelectualismo, a relativização da verdade, a discussão das próprias verdades da fé.
Nesta forma de proceder, Bernardo via uma audácia levada até a falta de escrúpulos, fruto do orgulho da inteligência humana, que pretende “capturar” o mistério de Deus. Em uma de suas cartas, com muita dor, ele escreve:

“A criatividade humana se apodera de tudo, não deixando nada para a fé. Enfrenta o que está acima dela, escruta o que lhe é superior, irrompe no mundo de Deus, altera os mistérios da fé, mais do que os ilumina; não abre o que está fechado e selado, mas o erradica; e o que não acha viável, considera como nada e rejeita crer nisso” (Epístola CLXXXVIII,1: PL 182, I, 353).

Para Bernardo, a teologia tem um único fim: o de promover a experiência viva e íntima de Deus. A teologia é, portanto, uma ajuda para amar cada vez mais e melhor o Senhor, como recita o título do tratado sobre o Dever de amar a Deus (De diligendo Deo). Neste caminho, há diversos graus, que Bernardo descreve detalhadamente, até o cume, quando a alma do crente se embriaga nas alturas do amor. A alma humana pode alcançar, já na terra, essa união mística com o Verbo divino, união que o Doutor Melífluo descreve como “bodas espirituais”. O Verbo divino a visita, elimina as últimas resistências, ilumina-a, inflama-a e a transforma. Nesta união mística, a alma goza de uma grande serenidade e doçura, e canta ao seu Esposo um hino de alegria.

Como recordei na catequese dedicada à vida e à doutrina de São Bernardo, a teologia para ele não pode senão nutrir-se da oração contemplativa; em outras palavras, da união afetiva do coração e da mente com Deus.
Abelardo, que, por sua vez, é precisamente quem introduziu o termo “teologia” no sentido que entendemos hoje, coloca-se em uma perspectiva diversa. Nascido em Bretanha, na França, este famoso professor do século XII estava dotado de uma inteligência vivíssima e sua vocação era o estudo. Ele se dedicou primeiro à filosofia e depois aplicou os resultados alcançados nesta disciplina à teologia, da qual foi professor na cidade mais culta da época, Paris, e sucessivamente nos mosteiros em que viveu.
Era um orador brilhante: suas aulas eram acompanhadas por verdadeiras massas de estudantes. De espírito religioso, mas personalidade inquieta, sua existência foi rica em golpes de cena: rebateu seus professores, teve um filho com uma mulher culta e inteligente, Eloísa; esteve frequentemente em polêmica com seus colegas teólogos; sofreu também condenações eclesiásticas, ainda que tenha morrido em plena comunhão com a Igreja, a cuja autoridade se submeteu com espírito de fé.
Precisamente São Bernardo contribuiu para a condenação de algumas doutrinas de Abelardo no sínodo provincial de Sens em 1140, e solicitou também a intervenção do papa Inocêncio II. O abade de Claraval rejeitava, como recordamos, o método intelectualista demais de Abelardo, que a seu ver reduzia a fé a uma simples opinião desvinculada da verdade revelada.
Os temores de Bernardo não eram infundados, mas compartilhados pelos demais, por outros grandes pensadores da sua época. Efetivamente, um uso excessivo da filosofia tornou perigosamente frágil a doutrina trinitária de Abelardo e, consequentemente, sua ideia de Deus.
No campo moral, seu ensinamento não estava privado de ambiguidade: ele insistia em considerar a intenção do sujeito como única fonte para descrever a bondade ou a malícia dos atos morais, descuidando, assim, do significado objetivo e do valor moral das ações: um subjetivismo perigoso.
Este é, como sabemos, um aspecto importante para a nossa época, na qual a cultura aparece frequentemente marcada por uma tendência crescente ao relativismo ético: só o “eu” decide o que é bom para mim, neste momento. Não podemos nos esquecer, contudo, dos grandes méritos de Abelardo, que teve muitíssimos discípulos e que contribuiu para o desenvolvimento da teologia escolástica, destinada a expressar-se de forma mais madura e fecunda no século seguinte. Não devem ser desvalorizadas algumas das suas intuições, como, por exemplo, quando afirma que nas tradições religiosas não-cristãs já há uma preparação para a acolhida de Cristo, Verbo divino.
O que nós podemos aprender hoje da confrontação, frequentemente intensa, entre Bernardo e Abelardo e, em geral, entre a teologia monástica e a escolástica?
Antes de mais nada, penso que mostra a utilidade e a necessidade de uma discussão teológica sadia na Igreja, sobretudo quando as questões debatidas não foram definidas pelo Magistério, que continua sendo, contudo, um ponto de referência iniludível. São Bernardo, mas também o próprio Abelardo, reconheceram sempre sua autoridade. Além disso, as condenações que este último sofreu nos recordam que no campo teológico deve haver um equilíbrio entre os que poderíamos chamar de princípios arquitetônicos, que nos foram dados pela Revelação e que conservam por isso sempre uma importância prioritária, e os interpretativos, sugeridos pela filosofia, isto é, pela razão, e que têm uma função importante, mas só instrumental. Quando este equilíbrio entre a arquitetura e os instrumentos de interpretação diminui, a reflexão teológica corre o risco de contaminar-se com erros, e corresponde então ao Magistério o exercício desse necessário serviço à verdade, que lhe é próprio.

Além disso, é preciso sublinhar que, entre as motivações que induziram Bernardo a colocar-se contra Abelardo e a solicitar a intervenção do Magistério, estava também a preocupação por salvaguardar os crentes simples e humildes, aqueles a quem é preciso defender quando correm o risco de ser confundidos ou desviados por opiniões muito pessoais e por argumentações teológicas sem escrúpulos, que poderiam colocar sua fé em perigo.
Eu gostaria de recordar, finalmente, que a confrontação teológica entre Bernardo e Abelardo concluiu com uma plena reconciliação entre eles, graças à mediação de um amigo comum, o abade de Cluny, Pedro o Venerável, de quem falei em uma das catequeses anteriores. Abelardo mostrou humildade em reconhecer seus erros. Bernardo usou de grande benevolência. Em ambos, prevaleceu o que deve estar verdadeiramente no coração quando nasce uma controversa teológica, isto é, salvaguardar a fé da Igreja e fazer a verdade triunfar na caridade. Que esta seja também hoje a atitude nas confrontações na Igreja, tendo sempre como meta a busca da verdade.

Obs: Amém.

Jovens adultos sem-igreja.

A forma de atrair os jovens para o cristianismo é uma questão estudada por quase todos os líderes da Igreja atualmente. Não é nenhum segredo que um grande número de jovens adultos não pertence a nenhuma igreja, mas isso não significa que eles são insensíveis à religião, de acordo com um recente livro.
Em "Lost and Found: The Younger Unchurched and the Churches That Reach Them," (B and H Publishing Group), Ed Stezzer, Richie Stanley e Jason Hayes olham para os jovens com “vinte e tantos anos” e analisam como algumas igrejas estão se esforçando para fazer contato com uma geração notoriamente relutante em comprometer-se com a religião institucional.
Em seu estudo, eles olharam para os jovens ‘sem igreja’, dividindo-os em várias categorias. Havia alguns que nunca estiveram envolvidos com qualquer igreja, aqueles que deixaram a prática da religião após a infância, e aqueles que são amigáveis ou hostis às igrejas. Não é um estudo baseado em determinada igreja cristã, mas um olhar para analisar como jovens adultos interagem com o cristianismo.

Os dados colhidos para o livro vêm de várias pesquisas realizadas de 2006 a 2008.
Havia uma divisão de idades de 40% a 60% entre os de 20-24 anos e os de 25-29.
Mais de metade havia se graduado e oito em cada nove tinham pós-graduação.

1 - Como em outros estudos, os jovens entrevistados responderam muitas vezes que tinham espiritualidade, mas nem sempre eram religiosos;

2 - Assim, 43% dos ‘sem igreja’ disseram que cultivavam espiritualidade;

3 - 31% afirmaram ser tanto espiritualizados e religiosos, apesar de não estarem regularmente presentes em uma igreja específica.

4 - Análises também revelaram que mais de 60% dos jovens relataram frequentar a igreja semanalmente, durante a fase de crescimento.

O livro, em seguida, procura detalhar algumas das crenças dos sem-igreja. Concluiu que, quatro em cada cinco jovens acreditavam na existência um ser supremo e três em cada quatro afirmavam que a existência de Deus faz ou faria um impacto nas suas vidas. Esta constatação inicial, no entanto, precisa ser esclarecida para se entender em que tipo de Deus as pessoas que não frequentam a Igreja acreditam.

Enquanto a maioria respondeu acreditar no Deus descrito na Bíblia, ao mesmo tempo, 58% responderam também que o Deus bíblico não é diferente dos deuses ou seres espirituais adorados por outras religiões como o islamismo e o budismo. Na verdade, a área com o maior acordo entre os jovens espiritualizados ou não foi que o Deus da Bíblia não era diferente de outros deuses.

"Espiritualizada ou não, a maioria concorda na existência de um Deus", observaram os autores.

"Simplificando, uma abundância de confusão espiritual permeia o sistema de crenças dos jovens que não frequentam a Igreja."

Sob um olhar mais atento
Quando se faz uma análise no campo étnico:

1 - 98% dos jovens afro-americanos que não frequentam a Igreja concordaram que Deus existe;

2 - Enquanto 84% dos hispânicos também possuem a mesma opinião;

3 - compara-se ao número de 76% dos sem-igreja anglo-saxões que acreditam em Deus.

Resultados mais interessantes aparecem quando se olham os efeitos da educação sobre as crenças. Aqueles que possuem uma educação superior eram menos propensos a acreditar na existência de Deus:

1 – 79% em comparação com 94% das pessoas formadas até o ensino médio ou menos;

2 - Com base nos dados, apenas 53% dos escolarizados acreditam no Deus Uno da Bíblia;

3 - enquanto esse número é de 85% entre os menos instruídos. Menor grau educativo também leva a um consentimento mais forte de que a existência de Deus afetou sua vida.

O estudo, em seguida, passou a analisar o que pensam sobre Jesus.
Foram feitas duas perguntas:
1 - Se eles acreditavam na ressurreição;
2 - Se acreditar em Jesus traz mudanças positivas na vida das pessoas.

Cerca de dois terços dos jovens que não frequentam a Igreja concordou que Jesus morreu e voltou à vida, e 77% tiveram uma opinião afirmativa à segunda questão. Assim, concluíram os pesquisadores, os jovens não estão longe da Igreja devido à ausência da crença em Deus ou em Jesus. Quando vieram as opiniões sobre a Igreja, as reações não foram tão favoráveis.
Enquanto 73% concordam que a Igreja cristã, em geral, é algo positivo para a sociedade, cerca de dois terços acusam os frequentadores de igrejas de serem hipócritas, e 90% afirmaram que poderiam ter um bom relacionamento com Deus, sem estar envolvido em uma igreja.
Não é de surpreender que os sem-igreja sejam hostis quando o assunto é a Igreja, os autores observam, mas os exames revelaram que a maioria deles está disposta a escutar seus amigos falarem sobre o cristianismo.

De fato, 89% declararam que estavam dispostos a deixar que alguém lhes falasse sobre o cristianismo. Além disso, pouco menos da metade dos sem-igreja disse que, se um amigo se tornasse um cristão, isso teria um efeito positivo em seu relacionamento. Porém nem tudo é positivo, já que 46% concordaram com a afirmação de que "os cristãos me dão nos nervos".

Fazendo contato
A última parte do livro examina o que algumas igrejas estão fazendo a fim de atrair os sem-igreja. Os autores identificaram nove características comuns nestas atividades.

1 - Criação de uma comunidade mais profunda por meio de um sistema pequeno, o qual permite que as pessoas se conectem com outras;

2 - Permitindo-lhes fazer a diferença, levando os jovens a servir aos outros através de atividades voluntárias;

3 - Oferecendo oportunidades de culto que reflitam a cultura e também a reverência a Deus.

4 - Estabelecendo a comunicação eficaz, que varia no estilo, mas é mais dialogal do que a pregação;

5 - Apoiando a vontade de usar a linguagem da tecnologia familiar para os jovens adultos;

6- Construir relações entre gerações, ligando os jovens a adultos mais velhos, desafiando-os a amadurecer;

7 - Uma liderança que seja honesta e autêntica;

8 - O apreço pela transparência e o senso de humanidade;

9 - Tomando uma abordagem de equipe para o ministério.

Explicando mais detalhadamente sobre o ponto de dar às pessoas a oportunidade de fazer o trabalho voluntário, os autores comentam que, através de tais atividades beneficentes, não se ajuda apenas o destinatário da ação, mas se muda a vida de quem faz caridade. Os jovens de hoje têm um forte desejo de mudar o mundo e querem fazer parte de projetos. Muitos dos recém-chegados à Igreja tomaram o caminho das atividades de voluntariado.

Comunicando

Os autores também entraram em mais detalhes sobre o uso de modernas tecnologias de comunicação para atrair os jovens adultos. Eles argumentam que até recentemente, poucas igrejas tinham avaliado o impacto das mudanças nas comunicações.
A presença online pode mudar a maneira como as pessoas pensam sobre a Igreja, desfazendo mitos e levando-os a participar. Os vídeos, redes sociais e outros instrumentos muitas vezes permitem que as pessoas vejam fiéis autênticos, seu testemunho de vida e papel social.
A tecnologia deve ser um servo do Evangelho, os autores alertam, por isso precisa ser usada para transmitir uma mensagem e não ser uma ferramenta para seu próprio bem. Em conclusão, os autores solicitam um esforço maior para ligar os jovens adultos a Deus e à Igreja. Se este resultado for alcançado, então o mundo pode ser mudado. Os jovens estão buscando respostas que podem ser encontradas no cristianismo, por isso temos de encontrar uma maneira de familiarizá-los com a Igreja.

Obs: Nota-se que há sim uma confusão na cabeça de muitos jovens, muitas das vezes por nos mesmos que frequentamos Igreja e professamos nossa fé. Não quero aqui dizer que não fazemos nossa lição de cristão, mais há muitos sem noção que dão falso testemunho, muita politica na Igreja, uma pobre preparação dos leigos engajados em pastorais e coordenação e , o que eu acho o mais provavel, muitos inimigos da Igreja estão em faculdades, são escritores, cineastas, arqueologos, axologos, livres pensadores, pessoas comuns que tem mais abertura na midia escrita falada e escrita, e eles fazem a teologia contra a fé, contra a Igreja, contra o cristianismo, muitas das vezes baseados em mentiras, e quem está de fora acredita e vira com isso inimigo da Igreja. E eu tive uma conversa com um rapaz nesta faixa de idade e foi isso que eu pude constatar, ele esta fora de Igreja e ainda não é batisado e está fazendo sabe o que, HISTÓRIA, sem comentários né.
Que o Espirito Santo que assiste a Igreja nos inspire para atrairmos os jovens ao encontro pessoal com Deus.
Salve Maria.

sábado, 7 de novembro de 2009

Pastores fundadores da Igreja Cristã Contemporânea "casarão".

No próximo sábado (20/11), os pastores Marcos Gladstone, 33, e Fábio Inácio, 30, que já foi pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, se casarão no Rio de Janeiro.
Os noivos são fundadores da Igreja Cristã Contemporânea, uma denominação evangélica que abraça a comunidade LGBT. Segundo os noivos, "a Igreja Cristã Contemporânea nasceu e cresceu por sobre o amor de dois homossexuais, por isso é a igreja que ama realmente a todos sem preconceitos."
Em virtude da união entre pessoas do mesmo sexo ainda não ser reconhecida legalmente no Brasil, os noivos assinarão um contrato de união homoafetiva durante a cerimônia. A cerimônia para 300 convidados ocorrerá em uma sofisticada casa de eventos no Alto da Boa Vista, e será oficializada por um dos pastores da própria Igreja.
Fundada há 3 anos, a Igreja Cristã Contemporânea tem hoje mais de 500 membros. Atualmente a sede da igreja, no centro do Rio, ocupa nos cultos dominicais noturnos um grande teatro na Cinelândia.
O pastor Marcos Gladstone é autor do livro "A Bíblia sem preconceitos", onde faz uma releitura dos textos utilizados para condenação dos homossexuais, mostrando inclusive erros nas traduções de algumas passagens da Bíblia. Fundadores da Igreja Cristã Contemporânea, uma denominação evangélica que abraça a comunidade LGBT.

Obs: É com grande pesar que venho publicar essa noticia, um escandalo para o evangelho. E o que me espanta é a mesma ladainha de sempre de preconceito, e pior por se tratar de 02 homens que foram ordenados pastores. Lamentavel!!!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A Doutrina do Purgatório.

Do Livro ´O que são as Indulgências´ do prof. Felipe Aquino

Desde os primórdios a Igreja, assistida pelo Espírito Santo (cf. Mt 28,20; Jo 14,15.25; 16,12.13), acredita na purificação das almas após a morte, e chama este estado, não lugar, de Purgatório.
Ao nos ensinar sobre esta matéria, diz o nosso Catecismo: “Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, estão certos da sua salvação eterna, todavia sofrem uma purificação após a morte, afim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu.” (CIC, §1030)
Logo, as almas do Purgatório “estão certas da sua salvação eterna” e isto lhes dá grande paz e alegria. Falando sobre isso, disse o Papa João Paulo II: “Mesmo que a alma tenha de sujeitar´se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz , de certeza, de alegria, porque sabe que pertence para sempre ao seu Deus.”( Alocução de 03 de julho de 1991; LR n. 27 de 07/7/91).

O Catecismo ensina que: “A Igreja chama de purgatório esta purificação final dos eleitos, purificação esta que é totalmente diversa da punição dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório principalmente nos Concílios de Florença (1438´1445) e de Trento (1545´1563)”. (§ 1031) Portanto, o sofrimento purificador do purgatório é diferente daquele do inferno. “Este ensinamento baseia-se também sobre a prática da oração pelos defundos de que já fala a Escritura Sagrada: ‘Eis porque Judas Macabeus mandou oferecer este sacrifício expiatório em prol dos mortos, a fim de que fossem purificados de seu pecado’ (2 Mac 12,46).

Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em favor dos mesmos, particularmente o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos”(§1032).

Devemos notar que o ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus, cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus. Narra-se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas: “Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado”. (2 Mac 12,44s)
Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé. Todo homem foi criado para participar da felicidade plena de Deus (cf. CIC, §1), e gozar de sua visão face´a´face. Mas, como Deus é “Três vezes Santo”, como disse o Papa Paulo VI, e como viu o profeta Isaías (Is 6,8), não pode entrar em comunhão perfeita com Ele quem ainda tem resquícios de pecado na alma. A Carta aos Hebreus diz que: “sem a santidade ninguém pode ver a Deus” (Hb 12, 14). Então, a misericórdia de Deus dá-nos a oportunidade de purificação mesmo após a morte. Entenda, então, que o Purgatório, longe de ser castigo de Deus, é graça da sua misericórdia paterna. O ser humano carrega consigo uma certa desordem interior, que deveria extirpar nesta vida; mas quando não consegue, isto leva-o a cair novamente nas mesmas faltas. Ao confessar recebemos o perdão dos pecados; mas, infelizmente, para a maioria, a contrição ainda encontra resistência em seu íntimo, de modo que a desordem, a verdadeira raíz do pecado, não é totalmente extirpada. No purgatório essa desordem interior é totalmente destruída, e a alma chega à santidade perfeita, podendo entrar na comunhão plena com Deus, pois, com amor intenso a Ele, rejeita todo pecado.

Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo ( palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor “receberá uma recompensa”; mas, se não resistir, o seu autor “sofrerá detrimento”, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador “se salvará, mas como que através do fogo”, isto é, com sofrimentos. O fogo neste texto tem sentido metafórico e representa o juízo de Deus (cf. Sl 78, 5; 88, 47; 96,3).

O purgatório não é de fogo, já que a alma, sendo espiritual, não pode ser atingida pelo fogo terreno. No purgatório a alma vê com toda clareza a sua vida tíbia na terra, o seu amor insuficiente a Deus, e rejeita agora toda a incoerência a esse amor, vencendo assim as paixões que neste mundo se opuseram à vontade santa de Deus. Neste estado, a alma se arrepende até o extremo de suas negligências durante esta vida; e o amor a Deus extingue nela os afetos desregrados, de modo que ela se purifica. Desta forma, a alma sofre por ter sido negligente, e por atrasar assim, por culpa própria, o seu encontro definitivo com Deus. É um sofrimento nobre e espontâneo, inspirado pelo amor de Deus e horror ao pecado.

São Gregório Magno (540-604), Papa e Doutor da Igreja, já no século VI ensinava a possiblidade do perdão na outra vida: “No que concerne a certas faltas leves, deve´se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo afirma Aquele que é a Verdade, dizendo que se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,31). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro.” (CIC, § 1031)

O grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales (1567´1655), tem um ensinamento maravilhoso sobre o purgatório. Ele ensinava, já na idade média, que é preciso tirar mais consolação do que temor do pensamento do Purgatório.
Eis o que ele nos diz:

1 - As almas alí vivem uma contínua união com Deus.

2 - Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar´se no inferno a apresentar´se manchadas diante de Deus.

3 - Purificam´se voluntariamente, amorosamente, porque assim o quer Deus.

4 - Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele.

5 - São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição.

6 - Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado. 7 - São consoladas pelos anjos.

8 - Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável.

9 - As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda.

10 - Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama´lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno.

11 - O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor.” (Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981.)

AS ORAÇÕES PELOS MORTOSO:
Papa João Paulo II, no dia de finados de 1997, na Alocução mariana, disse:

“A tradição da Igreja exortou sempre a rezar pelos mortos. O fundamento da oração de sufrágio encontra´se na comunhão do Corpo Místico. Por conseguinte, recomenda a visita aos cemitérios, o adorno dos sepulcros e o sufrágio, como testemunho de esperança confiante, apesar dos sofrimentos pela separação dos entes queridos.” (LR, n. 45, de 10/11/91)

O Catecismo ensina que: “Reconhecendo cabalmente esta comunhão de todo o corpo místico de Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os tempos primevos da religião cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos...”(CIC, § 958)

São João Crisóstomo (349-407), que foi patriarca de Constantinopla, doutor da Igreja, ensina a necessidade de rezar pelos mortos:
“Levemos-lhes socorro e celebremos a sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai (Jó 1,5), porque duvidar que as nossas oferendas em favor dos mortos lhes leva alguma consolação? Não hesitemos em socorrer aos que partiram e em oferecer as nossas orações por eles” (CIC, §1032; In I Cor 41,5 PG 61,361).
O mesmo São João Crisóstomo afirma que “os Apóstolos instituíram a oração pelos mortos e que esta lhes presta grande auxílio e real utilidade” ( In Philipp. III 4, PG 62, 204, citado na Revista Pergunte e Responderemos n. 264, 1982, pp. 50´51).

É interessante notar que S. Paulo pede “que o Senhor conceda a Onesíforo encontrar misericórdia da parte do Senhor naquele dia!”( 2 Tm 1, 18). É uma oração por um defunto.

No início do século III, encontramos as Atas de Santa Perpétua de Cartago, na África, onde a mártir aparece orando por seu irmão Dinócrate, o qual morrera jovem: pedia que ele fosse transferido do lugar de padecimento em que se achava, para um “lugar de refrigério, de saciedade e de alegria”.
Finalmente, viu Dinócrate, de coração puro, revestido de bela túnica, a gozar de refrigério, saciedade e alegria, como uma criancinha que sai da água e se dispõe a brincar. ( Passio, S. Perpétua VIIs; PR, idem)

Nesta mesma época, Tertuliano (†202), de Cartago, atesta o uso de sufrágios na liturgia oficial de Cartago, que era um dos principais centros do cristianismo no século III. Diz, por exemplo, que “durante a morte e o sepultamento de um fiel, fora beneficiado com a oração do sacerdote da Igreja”. ( De anima 51; PR, ibidem)

São Cipriano (†258), bispo de Cartago, refere´se à oferta do sacrifício eucarístico em sufrágio dos defuntos como costume recebido da herança dos bispos seus antecessores ( cf. epist. 1,2). Nas suas epístolas é comum encontrar a expressão: “ oferecer o sacrifício por alguém ou por ocasião dos funerais de alguém”. ( Revista PR, 264, 1982, pag. 50 e 51; PR ibidem)

Falando da vida de Cartago, no século III, afirma Vacandart:
“Podemos de certo modo conceber o que terá sido a vida religiosa de Cartago em meados do século III. Aí vemos o clero e os fiéis a cercar o altar... ouvimos os nomes dos defuntos lidos pelo diácono e o pedido de que o bispo ore por esses fiéis falecidos; vemos os cristãos... voltar para casa reconfortados pela mensagem de que o irmão falecido repousa na unidade da Igreja e na paz do Cristo.” (Revue de Clergé Français 1907 t. Lil 151; PR, ibidem)

Acreditando na Comunhão dos Santos, a Igreja desde sempre rezou pelos mortos.
A Didascalia, ou “doutrina” atribuída aos Doze Apóstolos, do início do século III, usado pelos cristãos da Síria, dizia: “Ao fazerdes as vossas comemorações, reuni-vos, lede as Sagradas Escrituras... tanto em vossas assembléias quanto nos cemitérios. O pão duro que o pão tiver purificado e que a invocação tiver santificado, oferecei´o orando pelos mortos”.
Os chamados “Cânones de Hipólito” , que se referem à Liturgia do século III, contém uma rubrica sobre os mortos... “caso se faça memória em favor daqueles que faleceram...” (Canones Hippoliti, em Monumenta Ecclesiae Liturgica; PR, 264,1982)

Na primeira metade do século IV, o bispo Serapião de Thmuis, no Egito, compôs uma coletânea litúrgica, onde se pode ver a intercessão pelos irmãos falecidos: Por todos os defuntos dos quais fazemos comemoração, assim oramos:

"Santifica essas almas, pois Tu as conheces todas; santifica todas aquelas que dormem no Senhor; coloca´as em meio às santas Potestades (anjos); dá´lhes lugar e permanência em teu reino’” (Journal of Theological Studies t. 1, p. 106; PR , 264,1982)

“Nós te suplicamos pelo repouso da alma de teu servo( ou de tua serva) N. ; dá paz a seu espírito em lugar verdejante e aprazível, e ressuscita o seu corpo no dia que determinaste”. (PR, 264,1982)

Ainda podemos encontrar nas Constituições Apostólicas, do fim do século IV, redigidas com base em documentos bem mais antigos, no livro VIII da coleção, o seguinte: “Oremos pelo repouso de N. , afim de que o Deus bom, recebendo a sua alma, lhe perdoe todas as faltas voluntárias e , por sua misericórdia, lhe dê o consórcio das almas santas.”

No século III, Tertuliano (†220), já dava este testemunho:
“A esposa roga pela alma do seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir´se com ele na ressurreição; oferece sufrágios todos os dias aniversários de sua morte”( De Monogamia, 10). Em todas as missas, em qualquer das formas da Oração Eucarística, a Igreja ora pelas almas:

1 - “Lembrai-vos também dos que morreram na paz do vosso Cristo e de todos os mortos dos quais só vós conheceis a fé”( Oração Euc. IV)

2 - “Lembrai-vos também dos nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de todos os que partiram desta vida: acolhei´os junto a vós na luz da vossa face.”(Or. Euc. II)

3 - “Lembrai´vos dos nossos irmãos e irmãs ... que adormeceram na paz do vosso Cristo, e de todos os falecidos, cuja fé só vos conhecestes: acolhei´os na luz da vossa face e concedei´lhes, no dia da ressurreição, a plenitude da vida.” (Or. Euc. VI´A)

4 - “Ó Pai, sabemos que sempre vos lembrais de todos. Por isso, pedimos por aqueles que nós amamos... e por todos os que morreram em vossa paz.”(Or. Euc. IX´ crianças 1)

5 - “A todos os que chamastes para a outra vida na vossa amizade, e aos marcados com o sinal da fé, abrindo os vossos braços, acolhei´os. Que vivam para sempre bem felizes no reino que para todos preparastes.”(Or. Euc. V)

Nas Catequeses Mistagógicas, de S. Cirilo de Jerusalém (†386), assim ele diz:
“Enfim, também rezamos pelos santos padres e bispos e defuntos e por todos em geral que entre nós viveram; crendo que este será o maior auxílio para aquelas almas, por quem se reza, enquanto jaz diante de nós a santa e tremenda vítima”(Cat. Mist. 5, 9, 10, Ed. Vozes, 1977, pg. 38)

“Da mesma forma, rezando nós a Deus pelos defuntos, ainda que pecadores, não lhe tecemos uma coroa, mas apresentamos Cristo morto pelos nossos pecados, procurando merecer e alcançar propiação junto a Deus clemente, tanto por eles como por nós mesmos.”
Desde os seus primórdios a Igreja acredita e ensina a eficácia da oração de uns pelos outros, membros do mesmo corpo de Cristo.

Santo Ambrósio ( 340´397), bispo e doutor da Igreja de Milão, que batizou S.Agostinho, no século IV já dava este testemunho: “... assim como é redimido do pecado e purificado no homem interior, por algumas obras de todo o povo, aquele que é lavado pelas lágrimas do povo. Pois concedeu Cristo à sua Igreja, que por todos resgatasse um, ela que mereceu o advento do Senhor, para que por um só, todos fossem remidos” ( DI, ref. 29). Não só a Igreja ora pelos mortos, como também ensina que eles intercedem por nós.

O nosso Catecismo afirma que: “A nossa oração por eles [no Purgatório] pode não somente ajudá´los, mas também torna eficaz a sua intercessão por nós”. (CIC, § 958) Os santos, especialmente os místicos, invocavam as almas do purgatório. Que elas “nos obtenham a graça de voltar à amizade do Coração de Jesus...”.

Escreve Santa Margarida Maria Alacoque (Carta 480); e ainda:
“E a estas [almas] rogareis... que empreguem seu poder para nos conseguir a graça de viver e morrer no amor e fidelidade ao Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo...”(desafio, 58).

Muitos teólogos, como o próprio São Roberto Belarmino ( lib. 2 de Purgat. c. 4), de renome na Igreja, afirmam que a invocação das almas do purgatório é utilíssima.
Em 1700, o Papa Clemente XI erigiu uma Confraria “Sub invocatione animarum purgatorii” (Sob a invocação das almas do purgatório).

Também o Papa João Paulo II confirma com o seu ensinamento esta verdade: “... Igreja do Céu, Igreja da Terra e Igreja do Purgatório estão misteriosamente unidas nesta cooperação com Cristo para reconciliar o mundo com Deus.”(Reconciliatio et poenitentia, 12).

Falando da Confissão o Papa diz: “... é inegável a dimensão social deste sacramento, no qual é toda a Igreja militante (na terra), a padecente (no Purgatório), e a triunfante ( no Céu) ´ que intervém em auxílio do penitente e o acollhe de novo em seu seio, tanto mais que toda a Igreja fora ofendida e ferida pelo seu pecado”. (RP, 31, IV).

Em outra ocasião o Papa ensinou que: “Numa misteriosa troca de dons, eles [no purgatório] intercedem por nós e nós oferecemos por eles a nossa oração de sufrágio “ ( LR de 08/11/92, p. 11).

E reafirmou em 02/11/94, que: “... os vínculos de amor que unem pais e filhos, esposas e esposos, irmãos e irmãs, assim como os ligames de verdadeira amizade entre as pessoas, não se perdem nem terminam com o indiscutível evento da morte. Os nossos defuntos continuam a viver entre nós, não só porque os seus restos mortais repousam no cemitério e a sua recordação faz parte da nossa existência, mas sobretudo porque as suas almas intercedem por nós junto de Deus”.